O Chamado das Borboletas escrita por Ryskalla


Capítulo 24
Capítulo 23 - O Estranho Pirata


Notas iniciais do capítulo

AMÉM, MOROS SEJA LOUVADO, AMÉM! CARA! Tipo, esse capítulo foi MUITO difícil de sair. Não por preguiça e bloqueio (mentira, teve um pouco de preguiça), mas por causa da pesquisa. Eu tive que virar o mundo pra aprender sobre piratas e como deixar o Send (vocês irão conhecê-lo) bem excêntrico. Foi difícil, mas está aí o Boa leitura e espero que gostem ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/333339/chapter/24

A brisa noturna acalmava seus pensamentos, mesmo com todo o barulho que sua tripulação fazia. O navio estava em festa e o rum controlava a mente de quase todos.

O que iremos fazer com um marinheiro bêbado? O que iremos fazer com um marinheiro bêbado? — Os piratas cantavam animadamente enquanto batiam suas mãos em barris para ditar o ritmo. Era a segunda semana em que o navio estava atracado no porto e beber parecia ser a única coisa que aqueles homens sabiam fazer.

Coloque-o em um barco até que esteja sóbrio... — O capitão cantarolou em um baixo tom infeliz, seus olhos perdidos na quietude do porto. O que Moros queria dele? Havia algo dentro de si que o alertava para não partir... ao menos não ainda, como se algo de importante estivesse para acontecer e ele fosse fazer parte disso. Seus homens o julgavam superticioso, mas Sendulum apenas se julgava um fiel.

— O rum faz coisas incríveis, não é, capitão? — O rapaz da pólvora se aproximou silenciosamente como sempre fazia. Sendulum entendia o motivo para o jovem estar afastado dos demais. Afinal, ele era constante alvo de chacotas por parte dos tripulantes mais velhos. Os homens continuavam bradando a música, o que fez o garoto sorrir e murmurar: — Coloque-o na cama com a filha do Capitão.

— Talvez eu me importasse com essa parte, se possuísse uma filha. — riu brevemente, agora olhando para o rapaz da pólvora. O vento balançava graciosamente a pena que ele mantinha presa a uma mecha de seu cabelo dourado. — Se você me falar o motivo para essa pena ser tão importante para você, irei dar uma ordem aos meus homens para que eles parem de tentar cortá-la.

— Não é necessário, capitão, sei me proteger das espadas deles. — Sua risada infantil ecoou pela imensidão do mar e seus olhos de um azul profundo contemplavam algum ponto perdido. Sendulum se perguntava qual seria o passado daquele misterioso garoto. Mesmo o seu verdadeiro nome era desconhecido. — E eu sempre durmo com um olho aberto.

Vejam bem, meus caros companheiros, devido ao seu passado excêntrico, o capitão Sendulum tem o hábito de ensinar lições aos seus tripulantes. Sempre resolvia qualquer desentendimento com uma boa conversa. Ele possuía o dom das palavras, muito embora não temesse usar sua espada sempre que necessário. E, naquele momento, Sendulum queria ensinar ao rapaz da pólvora o quão errado era subestimar um oponente.

Em um movimento rápido e inesperado, o capitão prendeu o corpo do pequeno rapaz contra a amurada e colocou um canivete contra a preciosa pena. Pode sentir a pele dele, dourada pelo Sol, esfriar subitamente.

— Nunca é bom subestimar um oponente, caro Enzo Faísca. — Certamente ele havia levado um belo susto, entretanto, ele conseguiu escapar do capitão com um movimento rápido e sutil. A pena ainda estava presa em seu cabelo e isso fez com que ele desse um sorriso doce. Os olhos escuros de Sendulum contemplavam Enzo com grande surpresa.

— E eu nunca subestimo, capitão. Estou sempre pensando no que as pessoas são capazes... e, afinal de contas, meu nome é Vinccenzo. Moros quis que eu sempre vencesse, lembra? Ao menos foi isso que o senhor falou para mim... — O audacioso Enzo encarava seu capitão. O fato era que havia muitas histórias ao seu respeito. Os homens do navio, quando não estavam importunando o garoto, gostavam de falar sobre como Sendulum se tornaria uma lenda. As mais diversas teorias eram criadas para justificar o motivo para o capitão sempre manter sua barba impecavelmente feita e, acima de tudo, para justificar a razão pela qual Sendulum sempre usava o Manto de Moros. — Capitão, posso lhe fazer algumas perguntas?

— Poder sempre pode, porém eu irei decidir se irei respondê-las ou não. — Passou a mão pelo seu cabelo, pensativo sobre como ele era parecido com uma madeira bruta, desde a cor até a sua textura ressecada. A vida no mar castigava a boa aparência. — Embora não seja de todo justo. Sabe que se eu fosse outro capitão já teria te mandado andar na prancha, não é? Mas respeito seu silêncio...

— Justo. E agradeço por me respeitar. — Havia algo de divertido em seu tom que fazia Sendulum questionar se aquela seria uma piada interna, misteriosa como o próprio garoto. — Capitão, por que o senhor usa esse manto? E por que sempre faz a barba?

— Ninguém contou o motivo? — indagou o capitão, surpreso.

— Contaram, mas queria saber sua versão. — explicou enquanto brincava distraídamente com sua pena. — A verdade pode muitas vezes se perder quando se afasta de sua origem

— Às vezes gostaria que fosse meu filho, Enzo. Outras vezes agradeço por não ser... — Sendulum recordava-se do dia em que se tornou um pirata... foi o único sobrevivente da pequena vila portuária devido a sua covardia. E porque eles precisavam de um criado de bordo. Se tivesse uma família, talvez ela estivesse morta agora. — Antes de viver na pirataria, eu era exclusivamente responsável por levar os desejos de Moros para aqueles que precisavam. Como você sabiamente disse, a verdade se perde quando se afasta demais... esse é o caso de Moros. Ainda me considero um Seguidor, por isso continuarei usando o manto e levando os desejos do meu deus. Quanto a barba... Não há uma razão específica, acho que isso é culpa da minha mãe. Ela odiava quando meu pai não fazia a barba.

— Capitão! Há um grupo no cais querendo falar com o senhor! — E eis que chega a parte que todos aguardavam, queridos amigos! Pois o grupo que aguardava no cais não era ninguém mais e ninguém menos que Leharuin, Seamus, Richard, Henry e Lillith. Tenho certeza de que era uma constatação óbvia, veja pelo modo que conto essa história. Não sou de guardar segredos como nossa triste Liese, mesmo quando tento fazer algum suspense... no fim, sempre irei revelar tudo a vocês. Ao menos mais cedo do que eu realmente desejava.

Voltando para a história e fugindo de minhas divagações (afinal, estas nem são tão importantes!), quão surpreso ficou Sendulum ao ver Seamus em seu navio! Se uma festa já não estivesse ocorrendo, o capitão certamente a iniciaria. Doces lembranças de quando aquele rapaz era apenas um garoto afloraram na mente do homem.

— Seamus! A última vez que eu o vi você era apenas um garoto. — Pela expressão que Seamus fez, vocês diriam que não é exatamente assim. Porque a última vez que o filho de sereia encontrou o capitão foi quando ele acabara de completar dezessete anos. Foi com essa idade que o ruivo descobriu porque as borboletas o perseguiam e pediu a ajuda de Sendulum para encontrar sua mãe.

Embora, é claro, houvessem lembranças de quando Seamus era de fato uma criança. Quando Sendulum ainda atendia pelo nome de Caleb e toda aquela loucura de pirataria jamais passara por sua cabeça... naquela época, o capitão ajudava a tomar conta do pequeno Seamus.

— Acho que dezessete já passa da idade que um garoto teria, Send. — Ambos riram, no entanto o pequeno Enzo parecia ligeiramente irritado.

— Capitão. — disse, em um tom atrevido enquanto encarava Seamus.

— O que deseja, Enzo Faísca? — perguntou, com a voz carregada de bom humor. Adorava tirar sarro do ruivo, fazendo-o parecer mais novo do que realmente era, mesmo que a diferença de idade entre eles não chegasse nem a dez anos.

— Quando se referir ao Capitão Sendulum, você deve chamá-lo de Capitão. Não de Send. — Seamus lançou um olhar surpreso ao homem, que apenas fez um gesto para que desconsiderasse as palavras do garoto.

— Ele é novo no navio, não ligue para o que ele diz. Ainda não sabe como as coisas funcionam por aqui. — Não haveria palavras para dizer o quão ofendido Enzo se sentiu naquele momento. O garoto abriu a boca para revidar, no entanto, Sendulum o cortou com um olhar sério. — Não se preocupem, pois ele irá aprender.

— Não creio que devemos irritar o garoto, capitão Sendulum. — Pela voz melódica, Sendulum não saberia dizer quem era. No entanto, nós sim. Leharuin deu um sorriso carregado de sarcasmo. — Imagino que ele tenha mais respeito pelo senhor do que você por si mesmo, capitão.

— Leharuin... — murmurou Seamus, numa tentativa de controlar a língua ferina do irmão. Deu um breve suspiro e voltou sua atenção para o velho amigo. — Send, precisamos que nos leve até a Ilha Real.

Capitão Sendulum.— O ladrão corrigiu com seu divertido tom que era capaz de irritar qualquer um. Até mesmo Seamus. Enzo olhava para o estranho rapaz de cabelos azuis completamente admirado. Quando Leharuin percebeu isso lhe mandou uma piscadela carregada de bom humor. Nenhum deles possuía o conhecimento do quanto se odiariam com o passar dos anos.

— Pelo amor de Moros, Leharuin! — Apesar da irritação, Seamus não gritava. Seu tom era controlado e, se não fosse o aumento de intensidade, ninguém saberia que o rapaz estava irritado.

— Vejo que encontrou seu irmão, Seamus. Espero que ele não o tenha atrapalhado em seu dever. — E, ao julgar pelo olhar frio do ladrão e o olhar infeliz do ruivo, viu que havia verdade em suas palavras. Suspirou enquanto bagunçava os cabelos sempre tão organizados de Seamus e deu um breve sorriso. — Sei que você fez seu melhor, garoto. Moros está orgulhoso de seu servo, apesar de tudo

Leharuin teria soltado mais uma de suas piadinhas ácidas se Henry, prevendo o perigo, não houvesse tampado a boca do amigo com a mão. Apenas o gesto teria sido o suficiente para deixar o ladrão mudo de surpresa. O fato era que Henry até achava graça na situação, Rick, por outro lado estava cada vez mais impaciente e preocupado.

— Desculpe, mas sou um homem que não gosta de desperdiçar tempo. Precisamos de um barco que nos leve até a Ilha Real. — Richard, incapaz de se conter por muito mais tempo, foi direto ao ponto. — Há uma amiga que queremos salvar e não seria bom pedirmos ajuda a um total desconhecido. Não que você não seja um desconhecido para mim, mas Seamus disse que você é confiável. Quanto mais tempo desperdiçamos aqui, maior pode ser o perigo que ela corre.

— Compreendo sua urgência e agradeço seu voto de confiança. — Se era daquele modo… olhou para o grupo, não haveria sentido que todos entrassem no barco. Aquilo só atrasaria a viagem. — Quem irá comigo no barco?

Após algum silêncio onde todos se encararam, Lillith resolveu falar.

— Acho que o que faz mais sentido... é que Richard e Leharuin vão com o capitão. Porque eles são os únicos que conhecem Cecille. — E, com aquele plano tão simples em mente, eles decidiram o que fariam no dia seguinte. O que eles não desconfiavam... era que, bem, a boneca não tinha planos tão simples para eles.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!