Aurora tinha em mao uma carta, uma linda carta: estava com algumas manchas de agua, um pouco amassada e um intenso cheiro de papel velho. Era uma das primeiras cartas que recebera de seu "marido" Pietro. Esta dizia: ( em portugues ) 

" Cara Aurora,

esta semana foi muito cansativa. Tivemos de treinar o triplo a mais que antes porque proxima semana faremos testes fisicos e teoricos para ver se conseguimos subir de posiçao. Durante um dos treinamentos minha fadiga venceu minha força de vontade e eu desmaiei. Foi o desmaio mais agradavel que tive em toda a minha vida, porque sonhei com voce meu amor. Eu estava sentado na areia branquinha da Sardegna, olhando o para cima percebi que tinham varios passarinhos no céu, todos juntos como uma familia, talvez estariam imigrando... nao sei. O mar se movia levemente, estava dançando com o vento; a agua estava  demasiadamente transparente, era alma do mar que estava feliz, pura. Tao pura que se viam varios peixinhos, mais uma vez todos juntos, mas desta vez pareciam irmaos, talvez estariam brincando com a areia; porque bem... se eu fosse um peixe eu brincaria o dia todo com a areia, eu e os nossos peixinhos, claro. Estava quase para começar o por-do-sol. De repente eu te vi chegar e sentar-se ao meu lado e fixar o olhar sobre mim, este pobre plebeu diante de sua beleza divina meu amor, os seus olhos estavam brilhando como ouro e seus labios, ah seus labios, delicados como as asas de uma borboleta e graciosos como um cisnei. Eles falavam por si propios. A sua boca rosada se abriu minimamente e me fez ver o por-do-sol, o por-do-sol tao solitario e melancolico quanto uma gota de chuva que evapora e acaba por se juntar à imensidao da atmosfera; voce me fez ve-lo com os olhos de um pintor amante da natureza em todas as suas formas e cores.  Voce enconstou sua cabeça no meu ombro e deixou-se levar pelo mais colorido por-do-sol de nossas vidas. Minha mao nao resistiu e quis sentir a suavidade e extrema maciez daqueles seus fios de seda em forma de cabelo. Entao acabei por acariciar-lhe e logo depois olhamos o por-do-sol, ali, quietinhos e nao mais melancolicos. Ah minha Aurora... nao fazes ideia de como queria passear com voce, poder olhar nos seus olhos à cada dia, sentir-te e ouvir-te. O mau deste seculo é a falta de amor, porque se as pessoas se amassem direito e parassem com esse egoismo, nojento e inutil, e com esse orgulho futil, asqueroso e desnecessario nao existiriam policiais, exercito, FBI ou qualquer coisa relacionada, e nenhum destes pobres homens teriam de abandonar suas familias. Humanidade... porque te maltratastes tanto? Minha querida amada, a unica coisa que lhe peço é para nunca, jamais se juntar a eles, a nunca pensar que um colar de ouro no seu pescoço valha mais que ajudar seu vizinho a ter o que comer. Espero estar ai o mais breve possivel para sermos felizes juntos. 

Com muitas saudades. 

Pietro"

Aurora deu um beijo de leve na carta com lagrimas nos olhos, dobrou-a e colocou de volta na caixinha azul. 

Depois de arrumar tudo Aurora tomou um banho quente, preparou o jantar e logo depois chegou Francesca. Elas conversaram um pouco durante o jantar : 

Aurora - ( em portugues ) E ai como foi la cafeteria? Tudo bem?

Francesca - ( com ar ironico ) ( em portugues ) Ah... tirando o fato de voce ter me abandonado, sim, tudo bem.

Aurora ri com a bricadeira e joga um pouco de macarrao em Francesca.

- Voce nem imagina o estagio de bagunça que essa casa estava!

- Eu imagino sim, quase nao conseguia encontrar meus livros!

- Ah, a proposito, como vai na faculdade? - Francesca mastiga bem o macarrao, olha um pouco os livros organizados perfeitamente na prateleira e logo depois responde : 

- Tudo bem que eu saiba... Os professores estao pegando bastante no meu pé mas eu dou conta. - Aurora sorriu com bastante orgulho de Francesca, vendo o seu empenho na faculdade que acabara de começar -.

Depois de assistir um pouco de TV, foram deitar.

Aurora dormiu observando cada traço de Francesca, seu viso suave com uma pele super macia, seu nariz fino e delicado, seus labios... Ficou ali imaginando que toda aquela beleza estava vagando pelas ruas, sem um rumo e sem esperança. Tambem pensou em quantas meninas e meninos ainda estariam esperando um lar, nesta terrivel situaçao. Ela sentia e realmente sabia como era nao ter nada que comer nem beber e ainda por cima nao poder trabalhar. Aurora chorou, se diluviou de dentro para fora. Chorou por toda humanidade.