A Fênix 2: The Girl On Fire escrita por potterlovegood


Capítulo 2
O Caldeirão Furado


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, mas esse capítulo está mais longo que o normal kkk
Espero que gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/333236/chapter/2

Ainda não amanhecera quando ela sobrevoou Londres, com vários pontos iluminados por postes de luz, tornando a visão magnífica. Procurou pelo beco onde se encontrava o Caldeirão Furado, o que não foi difícil. Pousou delicadamente e entrou no estabelecimento escuro de aparência suspeita.

  Era um lugar pouco iluminado, parecendo as antigas tabernas, a diferença era que o Caldeirão Furado era um pouco mais limpo. “Ao menos isso...” resmungou Cindy. Havia várias mesas vazias e um bar, onde alguns bruxos estavam reunidos, com copos nas mãos e vestes escuras, que tapavam os seus rostos, e riam de um jeito estranho - rouco e frio... Era assustador.

 Ela aproximou-se lentamente, insegura, chamando a atenção de todos.

 - Está perdida, querida? – perguntou uma deles, usava um vestido violeta escuro e seu rosto estava escondido por um chapéu esquisito, mesmo assim, parecia estar sorrindo, um sorriso nada amistoso, um sorriso maligno.

   A menina engoliu seco, estufou o peito e disse, tentando manter a voz estável:

  - Eu vim falar com o dono daqui.

  - Sim, o que a senhorita deseja? – disse uma voz amarga de trás do balcão. Ele saiu das sombras, revelando um homem não muito alto, pois era corcunda, não tinha muitos dentes, assim como cabelo, e o seu rosto estampava-se um sorriso desdenhoso.

  - Meu nome é Cindy Collins e... – começou, quando foi bruscamente interrompida.

  - Cindy Collins? – repetiu, surpreso e saiu de trás do balcão – Desculpe, senhorita – disse, agora numa voz educada – O seu quarto está a sua espera.

  O homem pôs-se em sua frente e fez sinal para segui-lo. Eles subiram as escadas para um corredor cheio de portas enumeradas que ela supôs que fossem quartos, até que pararam em uma porta com o número 18.

  No quarto havia uma cama confortável com uma colcha cinza desbotada, uma mobília de carvalho lustroso e uma lareira onde o fogo crepitava alegremente. Ele entregou-lhe a chave e saiu. Automaticamente, Cindy afundou-se na cama e adormeceu.

  Acordou com uma dor esquisita. Abriu os olhos lentamente, cheia de preguiça. Enxergou um borrão vermelho parado ao seu lado na cama, e ao poucos, reconheceu ser Fawkes beliscando sua mão.

  - Já acordei... – murmurou.

 A ave sorriu. A menina sabia que pássaros não sorriam, porém, de algum modo, aquele sorria para ela. A fênix empurrou um saco pesado para perto dela - dentro havia várias moedas bruxas, os galeões.

  - O quê...? – perguntou-se, ainda estava meio sonolenta – Não posso aceitar isso – e empurrou o saco de volta para a ave.

  “Aceite, o dono disse que você irá precisar.” piou ela.

  - Não, não aceito. Dumbledore já fez muito por mim.

  “Então, como pretende comprar seus materiais escolares?”

   Era impressionante, mas Cindy podia jurar ter sentido ironia nos pios dela.

   - Tá... – resmungou – Você me convenceu. – e fechou os olhos, estava exausta.

  Entretanto, o pássaro voltou a bicar sua mão.

  - A minha mão vai comer a sangrar daqui a pouco... – disse, abrindo os olhos lentamente.

  “Não tem problema. Curei sua testa uma vez, e era um corte feio, curar sua mão será fácil.”. Isso era verdade, lágrimas de fênix tem poder curativo.

  Cindy revirou os olhos, queria dormir. O animal olhou-a de um jeito pidão, deixando óbvio o que ele queria: um gostoso cafuné. E foi o que ela fez. Às vezes, tinha a impressão que Dumbledore não acariciava muito Fawkes, pois ela ficava realmente muito alegre quando a garota fazia isso.

  “Tenho que ir, sinto que o dono precisa de mim.” Beliscou uma última vez a mão da menina, que já sangrava e partiu.

  Já que estava acordada, resolveu ir tomar café da manhã, não comia nada desde ontem à tarde. Tirou o malão da mochila, trocou de roupa e saiu para o corredor. Ele praticamente lotado, vários bruxos andavam de um lado para o outro, deixando quase impossível a passagem. Ela desviou e continuou a andar, dando apenas alguns passos, entretanto, quando parou para olhar em volta, o corredor era bem diferente do seu e estava vazio.

   Arregalou os olhos assustada.

  - Realmente, desisto de tentar entender... – resmungou.

  Resolveu correr, sair daqueles corredores intermináveis e comer. Não estava tão veloz, porém distraída, não demorando muito para se chocar em algo. Com o impacto, desequilibrou-se e caiu. Em vez de cair direto no chão, algo, ou melhor, alguém amorteceu sua queda.

  - Ei! – resmungou uma voz masculina – Olha por onde anda! – a menina engoliu seco. - Cindy?

  - Eu... – respondeu automaticamente, levantou a cabeça e abriu um largo sorriso– Fred!

  O ruivo sorriu. Ele estava deitado no chão embaixo dela, seus cabelos mais estavam compridos, mesmo que combinasse com ele, não podia deixar de rir. Rolou até encontrar o chão, pedra fria e dura, mas não se incomodou, estava muito cansada.

  - Que feio... – disse lentamente ela, sorrindo. O garoto levantou-se e estendeu a mão, oferecendo-lhe ajuda. – Se não fosse eu, você estaria insultando o pobre coitado. – e pegou na mão dele.

  - Provavelmente. – disse, e aproveitou-se do impulso, puxando-a direto para seus braços – Pensei que talvez não visse você nunca mais... – e passou a alisar os cabelos negros encaracolados que cobriam as costas dela.

 - Eu também achei ruivinho... – ela sussurrou no seu ouvido, abraçando-o forte.

 - Tá né, acho que perdi alguma coisa – disse uma voz conhecida. Ela soltou Fred e viu outro igual a ele, uma cópia quase perfeita.

  - Jorge! – exclamou Cindy, jogando-se em cima do garoto.

  - Ei, calminha... – disse ele, abraçando-a – Isso tudo é saudade?

   Eles riram. Fred encarou o irmão de um jeito estranho, e este assentiu. A garota pôs suas mãos na cintura, fazendo uma expressão séria e esperou que eles a notassem.

  - Cindy? – perguntou Jorge, não conseguindo não rir.

  - Nós sabemos que você é irritadinha, mas nós acabamos de nos reencontrar! –zombou Fred.

  - O que vocês estão aprontando?

  - O quê? – perguntaram uníssono, parecendo ofendidos.

  - Podem começar a contar. – disse, impaciente.

  - Não estamos fazendo nada... – disse Jorge, seriamente.

  - Poxa, porque você e a mamãe sempre acham que estamos aprontando algo? – disse Fred, fazendo uma belíssima atuação de quem é inocente.

  - Isso é muito injusto... – resmungou Jorge, fazendo uma carinha triste.

  - Por que será, hein santos? – perguntou ela ironicamente e soltou uma risada, eles também. Depois de um tempo acrescentou: – Eu conheço bem vocês e... leio mentes. – e ergue uma sobrancelha, com um sorrisinho vitorioso.

  - Não podemos contra isso, Jorge. – disse Fred

  - Bem... Temos que dar graças a Merlin por nossa mãe não lê também! – exclamou Jorge, trazendo mais risos.

  - Vamos, é melhor não estarmos quando o nosso querido monitor chefe sair do banho. – disse Fred.

  - Monitor chefe? – perguntou ela confusa, mas os gêmeos puxaram-na para começar a caminhar.

  - Como você não sabe quem é o novo monitor chefe de Hogwarts? – perguntou Jorge, indignado.

  - Ele não contou para você? – disse Fred, imitando a cara do irmão.

  - Claro que não... – disse a menina sem entender.

  - Ele não ficou falando isso... – começou Jorge, com uma cara pensativa.

  - 24 horas por dia...

  - Todos os dias...

  - O verão todo...

  - Capaz. – finalizou Fred, com um sorriso irônico.

  - Seus bobos, desculpe se eu não passei o verão todo com ele! – disse Cindy, já entendera quem era o mais novo monitor chefe de Hogwarts. Percy Weasley, irmão dos gêmeos e totalmente seu oposto, era estudioso, responsável, e não perdia uma oportunidade de mostrar como era um ótimo aluno... Um tanto entediante às vezes, mas um bom amigo.

  - Sortuda! – exclamou Fred, rindo.

  - Não perdeu nada – completou Jorge, rindo.

  - Ah não ser, é claro, a nossa ótima companhia... – disse Fred, com um sorrisinho.

  - Isso eu passo... – brincou Cindy.

  Assim desceram as escadas – rindo muito, como nos tempos de Hogwarts.

  Eles chegaram à sala de entrada do lugar, onde havia as várias mesas e o bar. Ao contrário de ontem à noite, o local estava cheio de bruxos. Logo o aroma de café atingiu-a, despertando seu estômago faminto que soltou um ronco.

  - Para que alguém está com fome... – cantarolou Jorge, dando uma risadinha que não demorou muito para contagiar o irmão.

  - É porque não foram vocês que não comem nada a amais de 8 horas. – disse a menina, emburrada.

  - Oh, pobre coitada... – Jorge fingiu-se comovido.

  - Venha, Cindy. – disse Fred, apoiando um de seus braços nos ombros dela, envolvendo-a – Vamos deixar esse idiota de lado e comer. – e conduziu-a pelo salão.

  Jorge soltou uma risada debochada e seguiu-os. Não foi difícil encontrar a mesa dos Weasleys, era a única mesa composta por várias cabeças ruivas.

  Gina, a filha mais nova, estava mais próxima, sentada de costas para eles, ao seu lado estava Rony que comia deliciosas panquecas. Ao vê-los, uma mulher não muito alta, cabelos ruivos e bagunçados, usava um vestido comprido de estampa florida azul e tinha um olhar desconfiado, levantou-se. Era a mesma Sra. Weasley que ela vira há algum tempo.

  - Fred, Jorge, onde estavam mocinhos? – indagou ela.

  - Nós estávamos resgatando nossa amiga – disse Jorge com um sorriso travesso.

  - Somos praticamente heróis – completou Fred com um sorriso orgulhoso.

  A senhora a frente apenas olhou torto para eles. Neste momento, Cindy soube que era melhor se afastar dos ruivos, ou seja, soltou-se de Fred.

  - Vocês? Heróis? – disse Gina, irônica, fazendo todos da mesa rir. Ela virou-se para eles, soltava uma risada gostosa, estava corada, com seus cabelos ruivos soltos, a não ser pela franja presa. Parecia muito melhor do que da última fez que a morena a vira. Soltou um enorme sorriso ao perceber que a amiga dos gêmeos a recebia com os braços abertos – Cindy!

  - Gina! – e as meninas se abraçaram.

  Ela fora cumprimentar Rony e Molly Weasley ainda os encarava, daquele cheio estranho, como se analisasse a situação.

  - Então você é a famosa Cindy Collins – disse ela, sorrindo e fez algo que surpreendeu a menina muito - já que a segundos atrás aparentava estar muito brava -, abriu os braços para  garota abraçá-la – É bom ver você de novo, querida.

  - Mãe, assim você vai sufocar ela! – exclamou Fred, rindo e a mulher largou a criança.

  - Srta. Collins – cumprimentou o Sr. Weasley – Venha, sente-se conosco. – e apontou para uma cadeira vaga.

  Na mesa havia pãezinhos e um prato das cheirosas panquecas. Do seu lado, sentaram-se Fred e Jorge.

  - Onde está Percy? – perguntou Molly, inquieta.

  - Ainda não tinha saído do banho quando encontramos Cindy no corredor – disse Jorge mais intertido com a comida. Fred soltou uma risada abafada. Aquilo era suspeito, vindo deles, pensava a menina, quando foi interrompida pela pergunta que mais temia.

  - Por falar nisso, onde estão seus pais? Trouxas, não? – perguntou o Arthur Weasley.

  Ela parou de comer, o que diria? Poderia mentir, dizendo que eles a largaram aqui, porém seria injusto fazer isso com o Sr. e a Sra. Weasley. Os gêmeos encaravam-na, esperando para concordar com sua resposta, não importasse qual fosse.

  - Não liga para o papai, ele é fascinado por trouxas – disse Gina, provavelmente preocupa com a cara de assustada da morena.

  - Bem... – começou a dizer, respirando fundo. – Eles não sabem que eu estou aqui...

  A cara da Sra. Weasley fechou-se novamente, e virou-se diretamente para seus filhos idênticos, com uma cara realmente braba.

  - Que? Não podíamos deixar Cindy naquela casa... – disse Fred, bem confiante para alguém que estava sendo encarado daquele jeito.

  - Eles não queriam deixar ela voltar para Hogwarts! – exclamou Jorge.

  - E o que vocês usaram desta vez? – perguntou a mulher, rispidamente – Um sofá voador?

  - Sofá voador... – disse Fred, pensativo– Confortável e útil, gostei. O que acha Jorge?

  - Ótimo. Será que você consegue fazer um, pai? – perguntou Jorge, olhando para o homem, que tinha uma cara inexpressiva.

  - Bem... – começou ele, mas sua esposa logo o repreendeu com os olhos e ele calou-se.

  - Eles não tiveram culpa, eu vim sozinha. – disse Cindy, recuperando a atenção de Molly.

  - Eles nunca têm culpa... – disse Molly, a menina pode sentir um leve tom de ironia, depois sua voz ficou doce - É claro que a culpa não é sua, querida... – e então, voltou-se para os gêmeos, com a voz ríspida – E quanto a vocês dois, eu...

  E, quando todos estavam preparados para ouvir um belo e longo sermão, ela simplesmente ficou imóvel e respirou fundo.

  Estaria tentando se acalmar? Isso passava na mente de Cindy no momento que o delicioso aroma de café fora substituído por aquele cheiro horrível, uma mistura de ovo podre com estrume de cavalo mergulhada em esgoto. E ainda conseguia ser pior.

  O cheiro foi ficando pior e possivelmente insuportável. Rony estava mais verde do que daquela vez que vomitara lesmas no campo de quadribol no ano passado – longa história -; Gina voltou a ficar pálida, com as mãos no nariz numa tentativa de amenizar o fedor, em vão. Porém os mais estranhos eram Fred e Jorge, que, por mais enjoados que aparentassem, pareciam se conter para não rir.

  Os bruxos que ali tomaram café iam se afastando, abrindo assim um espaço onde se encontrava Percy Weasley, confuso, como se não entendesse por que todos a sua volta o encaravam ou apontavam com cara de nojo. Ele foi caminhando lentamente, olhando para os lados, e aos poucos foi entendendo que era dele que as pessoas tinham nojo. Quando estava a mais de um metro da mesa, os membros desta não conseguiram aguentar, se levantaram e recuaram.

  - Percy, que-querido, que cheiro é este? – perguntou a Sra. Weasley, num tom anasalado devido à mão que tapava seu nariz.

  - Cheiro? – perguntou o garoto, desentendido. Ele procurou ajuda de sei pai, mas este fingiu estar ocupado olhando para o lado. E assim fez o mesmo com os outros familiares até chegarem aos gêmeos, que fizeram a mesma coisa - só que rindo, e isto os dedurou.

  É claro que a Sra. Weasley já estava acostumada com seus filhos, por isso virou-se com um olhar ríspido para eles, apenas dizendo:

   - Cuido de vocês mais tarde. – e voltou-se para Percy, ainda com certa distância – Vamos querido, você precisa de um banho.

   Eles sumiram de vista, porém o odor continuava impregnado no local, fazendo um dos empregados do lugar lançar o feitiço de lavanda instantâneo várias vezes e, nem assim, Cindy conseguiu terminar seu café da manhã. Por mais faminta que estivesse, tudo que via dava-lhe nojo. Precisava sair daquele lugar.

  Convidou seus amigos silenciosamente para dar um volta, e eles assentiram, aliviados. Eles saíram tão silenciosamente que o Sr. Weasley mal percebeu que fora deixado falando sozinho.

  Eles se dirigiram para o pátio dos fundos, Fred puxou a varinha, bateu no terceiro tijolo a contar da esquerda, acima do latão de lixo, e todos se afastaram enquanto se abria na parede o arco para o Beco Diagonal.

  Era uma rua comprida cheia de lojas e bruxos andando de um lado para o outro. Por mais que tivesse indo para seu segundo ano em Hogwarts, Cindy nunca estivera ali, já que no seu primeiro ano seus materiais apareceram acidentalmente –ou não- na porta da sua casa. Seus amigos saíram a mostrar o lugar, onde se compravam as varinhas, os uniformes, livros, ingredientes para poções, vassouras e a melhor parte, a sorveteria – porém só tomariam sorvete mais tarde.

   A Sra. Weasley passou sumida o dia todo, aparecendo finalmente na hora do jantar. Gina e Cindy foram as primeiras a notar Molly se aproximando furtivamente da mesa deles – já que estavam sentadas de frente para a escada – e assim não ficaram tão surpresas quando ela pegou uma orelha de cada um dos gêmeos, que soltaram grunhidos.

  Enquanto eles desapareciam de vista, Rony e Gina riam. Cindy sabia que se fosse ao contrário, Fred e Jorge estariam fazendo mesma coisa, mas não deixou de sentir pena dos amigos e parecia ser a única da mesa a sentir-se assim.

  No outro dia, os gêmeos não vieram para o café. E isso se repetiu na hora do almoço.

  - Mamãe não deixa eles saírem, ela está furiosa, também desta vez eles se superaram! – contava Gina, enquanto as duas estavam sentadas na Sorveteria Florean Fortescue, fazendo o dever de Transfiguração.

  - E isso vai durar muito? – perguntou a morena, tentando não parecer preocupada.

  - Acho que não, isso nunca dura muito, pois mamãe sabe que não adianta muito também – disse a ruiva, dando os ombros e depois voltaram a se concentrar em como transformar animais em coisas úteis.

  À noite, Hermione finalmente chegou acompanhada de seus pais e estes deixaram a filha passar o resto das férias no Caldeirão Furado. Quem também apareceu para o jantar fora Percy, que agora tinha exalava um cheiro forte de rosas e jasmim.

   Quando finalmente Fred e Jorge saíram do castigo – três dias depois do acontecido- pareciam mais felizes que nunca, é claro que tinham outra travessura em mente. Todos decidiram comprar seus materiais naquela tarde, a Sra. Weasley acompanhou-os, por mais que seus filhos afirmassem que não era necessário.

   Eles começaram indo a Floreios e Borrões, assim, se separam em grupos: Rony e Hermione estavam em volta de uma gaiola que prendia livros realmente muito agressivos – O Livro Monstruoso dos Monstros - enquanto o gerente da livraria resmungava algo sobre ter sido mordido cindo vezes só naquele dia; Fred e Jorge subiram ao segundo andar acompanhados de Percy – “Isso não vai dar boa coisa” pensou Cindy.

   - Olha, esse ano teremos uma matéria nova! – exclamou a morena, percebendo que na sua lista de materiais havia um livro a mais: Esclarecendo o Futuro, de Cassandra Vablatsky.

  - Como? – indagou Gina, surpresa.

  Cindy mostrou sua lista para a amiga, e esta olhou para a sua, com a mesma cara de confusa. Logo a morena entendeu o porquê, na lista de Gina não constava este livro, o que era realmente estranho, já que as duas estavam no seu segundo ano de Hogwarts.

  - Que estranho, será que eles se esqueceram de colocar na minha lista? – perguntou a ruiva, dava para sentir que ela estava chateada.

  - Não sei, deve ser... – disse Cindy, ainda encarando a lista.

  - Estão aqui os dois exemplares de Como se defender de Monstros, volume II... – disse o atendente, entregando-lhes dois livros pesados.  – Precisam de mais alguma coisa?

  - Sim, tem esse livro aqui, Esclarecendo o Futuro... – começou Cindy, porém se calou ao receber os olhares repreensivos da amiga.

  O atendente percebeu o clima, por isso hesitou em pedir para que as duas lhe acompanhassem até os fundos da loja. Lá, Rony e Mione rodeavam uma prateleira enquanto o gerente lhes alcançava um livro.

   - Está aqui, Esclarecendo o Futuro, de Cassandra Vablatsky – disse o gerente, polidamente – Desejam mais alguma coisa?

  - Sim – disse Mione, decididamente – Preciso de Decifrando Runas Antigas, de Edgar Wellec...

  - Acompanhe-me, senhorita – disse o gerente, porém antes que ele pudesse seguir andando, Cindy interveio.

  - Espera ai – disse a menina, pondo-se no caminho – Na minha lista tem também esse livro de adivinhação.

  - Adivinhação? Na sua lista? – disse Hermione, com um pouco de desdém – Por favor né Cindy.

  - Pois olhe aqui, então – disse a morena, um pouco irritada com Mione e colocou o papel na cara dela.

  Hermione leu a carta, erguendo levemente a sobrancelha e concluiu:

   - Dever ser um simples engano, só isso.

   - Não sei, Mione... – disse Cindy- Não acho que a Prof. McGonagall é de trocar as listas.

   - São milhares de alunos, é claro que ela pode ter confundido – disse Hermione, num tom superior.

   - Mas... – a morena tentou retrucar.

   - No segundo ano não tem essas matérias extras, só no terceiro! – argumentou a castanha e olhou para Rony, e este assentiu, com um sorriso fraco.  

  Eles seguiram para o outro lado da loja, deixando as meninas sozinhas. O funcionário olhou-as, como se perguntasse se ela levaria o livro ou não.

  Adivinhação sempre fora algo que chamara a sua atenção e isso a fez pensar duas vezes. Talvez Hermione até tivesse certa, talvez ela estivesse fazendo isso por pura birra, porém, quando chegaram ao Caldeirão Furado após todas as compras, Cindy Collins carregava um novo exemplar de Esclarecendo o Futuro.

Cindy estava prestes a pedir mais um sorvete. Definitivamente o sorvete bruxo era melhor que o trouxa, embora tivesse sabores estranhos.

  Ela costumava passar horas na Sorveteria Florean Fortescue, era um ótimo lugar para fazer dever de casa. E era lá que ela estava, acompanhada de Gina, logo de manhã um dia antes do regresso a Hogwarts.

  Cindy gostava de olhar os bruxos que passavam, vestindo suas roupas estranhas, entretanto um casal chamou a sua atenção. Primeiro, eles estavam vestidos como trouxas descentemente, e isso é realmente algo surpreendente quando se está no Beco Diagonal. Porém o que mais lhe chamou atenção foi a menina que estava com eles, estatura média, cabelos encaracolados nas pontas, rosto conhecido...

   - Stella! – gritou a morena para chamar da amiga.

   Stella olhou para os lados e, quando encontrou as duas meninas sentadas, abriu um sorriso de orelha a orelha.

   - Por que não avisou que viria, Stell? – disse Gina, convidando-a para sentar.

   Stella sentou, receosa e olhou para trás, onde o casal – provavelmente seus pais – estavam.

  - É que meus pais não deixaram eu ficar... – disse a menina, voltando-se para as outras, com um olhar tenso – Com toda essa história de Sirius Black foragido... Meu pai é auror, e bem, ele conhece o que Black é capaz...

  - Seu pai é auror? – perguntou Gina, curiosa – Por que você nunca disse isso?

  Ignorando a ruiva, Stella virou-se para trás, o homem fazia um sinal com a cabeça.

  - Eu tenho que ir agora... – disse a menina, levantando-se – Você vocês amanhã, ok?

  As duas garotas assentiram e depois acompanharam a família Coltranne sumir na multidão.

  - Nossa, isso foi estranho... – disse a ruiva, concentrando-se no seu sorvete de cerveja amanteigada.

  - Gina, quem é Sirius Black? – perguntou a morena.

  - Quê? – Gina quase se engasgou com o sorvete – Você está brincando né? – Cindy balançou a cabeça, negando seriamente – Por favor né Cindy, você é muito distraída! Vai dizer que não percebeu nesses vários cartazes de Procurado por todos os lados?

  Cindy negou mais uma vez e depois olhos para os lados. Não muito longe dali, na parede da sorveteria, havia um cartaz intitulado “Procurado”, logo abaixo uma foto que lhe deu arrepios. Era um homem seco, cabelos compridos que deveriam ter sido cacheados algum dia, porém agora eram um enredo só; mais pior de tudo era sua expressão, ele gritava e sacudia, e seu olhar era ódio puro. Embaixo da foto, um nome: Sirius Black.

— Harry! HARRY!

 Harry Potter reconheceu as vozes. Ele estava caminhando pelo Beco Diagonal, terminando de comprar as suas coisas. Havia chegado a pouco e precisava se apressar, amanhã ele embarcaria para Hogwarts.

 Sentados na calçada da Sorveteria Florean Fortescue, estavam Rony - parecendo incrivelmente sardento –, Hermione - muito bronzeada – e Cindy – mexendo distraidamente no seu sorvete, intacto.

  - Finalmente! – exclamou Rony enquanto o amigo se sentava – Pensei que não viria nos encontrar mais.

  - Eu tive... alguns problemas em casa... – Harry explicou.

  - O pai de Rony nos contou, então é verdade? – perguntou Hermione.

  - O que é verdade? – perguntou Cindy, só agora percebendo quem estava ali.

  - Oi para você também, Cindy. – disse Harry, rindo da garota.

  - Desculpe Harry, eu só estava... pensando... – completou ela, ainda muito distraída.

  - É, pensando... – repetiu Rony, desinteressado e depois voltou-se para o moreno – Então Harry?

  - Ah sim, é verdade, eu transformei minha tia num balão... – nesse momento, Mione arregalou os olhos – Mas eu não tive intenção, foi um acidente!

  - Um acidente? – disse Mione, indignada.

  O menino contou-lhe resumidamente, disse como Tia Guida sempre o odiou, como ela o tratou ele aquela noite, como ela humilhou sua mãe e seu pai...

  - E simplesmente não consegui me controlar! – completou Harry enquanto Rony rolava de rir.

  - Pois eu teria feito o mesmo! – exclamou Cindy, rindo também.

  - Isso não tem a menor graça, gente! — disse Hermione rispidamente. — Francamente, fico admirada que Harry não tenha sido expulso.

  - Eu também — admitiu Harry. — E nem expulso, pensei que ia ser preso. — E olhou para Rony. — Seu pai não sabe por que Fudge não me castigou, sabe?

  - Provavelmente porque era você, não é? — Rony sacudiu os ombros ainda rindo. — O famoso Harry Potter e tudo o mais. Eu nem gostaria de ver o que o Ministério faria comigo se eu transformasse minha tia em balão. Mas não se esqueça, eles teriam que me desenterrar primeiro, porque mamãe já teria me matado antes.  Em todo o caso, pode perguntar ao papai hoje à noite. Estamos hospedados no Caldeirão Furado, também! Assim você pode ir para a estação de King’s Cross conosco amanhã!  Hermione e Cindy também estão lá!

  As garotas assentiram.

  - Fantástico! — exclamou Harry feliz. — Então você já comprou os livros e todo o resto?

  - Harry, estamos aqui há duas semanas ou mais! – disse Cindy, brincando.

  - Olha só para isso! – disse Rony e tirou uma varinha do seu bolso - Uma varinha nova em folha. Trinta e cinco centímetros e meio, salgueiro, contendo um fio de cauda de unicórnio.

  - Assim os professores de Hogwarts podem dormir tranquilos sabendo que não perderão a memória esse ano. – zoou Cindy, o moreno deu risadas abafadas.

  - Muito engraçada, Cindy. – disse o ruivo, fazendo caretas.

  - É, eu sei. – disse a menina, com um sorriso superior.

  Rony abriu a boca para falar quando Mione interrompeu:

  - Ainda tenho dez galeões — disse ela, ignorando-os e examinando a bolsa - É meu aniversário em setembro, e mamãe e papai me deram um dinheiro para eu comprar um presente de aniversário antecipado.

  - Que tal um bom livro? - perguntou Rony inocentemente.

  - Não, acho que não. - disse Hermione controlando-se.

  - Ai meu Deus, isso é um milagre, temos que registrar este momento! – Cindy fingiu estar emocionada, depois riu.

  Os garotos teriam a acompanhado se não fosse o olhar sério de Mione. Esta pigarreou e continuou:

  - O que eu quero mesmo é uma coruja. Quero dizer, Harry tem a Edwiges e Rony tem o Errol...

  - Não tenho, não. - respondeu Rony. - Errol é uma coruja de família. Meu mesmo só tenho o Perebas. - E tirou o rato de estimação do bolso. - Quero mandar examinar ele, -acrescentou, pousando Perebas na mesa a que estavam sentados. - Acho que o Egito não fez bem a ele.

  Perebas estava mais magro do que de costume, e seus bigodes pareciam decididamente caídos.

  - Oh, pobre Perebas... – disse Cindy, acariciando o rato gentilmente e isso fez ele se sentir melhor, pelo menos era o que ela achava - Tem uma loja para criaturas mágicas ali. - acrescentou, agora conhecia o Beco Diagonal como a palma da mão. - Vocês podiam ver se eles têm algum produto para o Perebas, e Mione podia comprar a coruja. Eu... tinha que encontrar alguém, mas... deixa para lá.

  - Hum... amigos misteriosos, Cindy? – disse Rony, com uma sobrancelha erguida.

  - Não, só os seus irmãos. – completou, com um sorriso vencedor.

  Assim, com olhares desconfiados e risadinhas, eles pagaram os sorvetes e atravessaram a rua para ir a Animais Mágicos.

  Não havia muito espaço dentro da loja. Cada centímetro das paredes estava escondido por gaiolas. Era malcheirosa e barulhenta porque os ocupantes das gaiolas guinchavam, gritavam, palravam, sibilavam. A bruxa ao balcão estava ocupada ensinando a um bruxo como cuidar de um tritão com dois rabos, por isso Harry, Rony, Hermione e Cindy aguardaram, examinando as gaiolas.

  Havia dois enormes sapos roxos que engoliam, com um ruído aquoso, um banquete de moscas-varejeiras mortas – “Podia ter dormindo sem ver isso...” pensou Cindy, engolindo seco. Uma tartaruga gigante, o casco incrustado de pedras preciosas, cintilava junto à janela. Lesmas venenosas, cor de laranja, subiam lentamente pela parede do seu aquário, e um coelho branco e gordo não parava de se transformar em cartola de cetim e novamente em coelho, com um grande estalo. Havia ainda gatos de todas as cores, uma gaiola barulhenta de corvos, uma cesta de engraçadas bolas de pelo creme que zuniam alto, e, em cima do balcão, um galoião de ratos negros e luzidios que brincavam de dar saltos se apoiando nos longos rabos lisos.

  O bruxo do tritão de dois rabos saiu, Cindy não conseguia realmente entender os animais mágicos, não era muito mais simples e bonito ter um simples gato ou cachorro ou coruja?

  - É o meu rato - disse Rony, se aproximando do balcão, à bruxa. - Ele tem andado meio indisposto desde que voltamos do Egito.

  - Põe ele aqui no balcão - pediu a bruxa, tirando do bolso um par de pesados óculos de armação preta.

  Rony catou Perebas do bolso interno e depositou-o ao lado da gaiola dos seus companheiros de espécie, que pararam os saltitos e correram para as grades para ver melhor.

  Como todo o resto que Rony possuía, Perebas, o rato, era de segunda mão (pertencera ao irmão de Rony, Percy) e era um pouco maltratado. Ao lado dos reluzentes ratos na gaiola, ele parecia particularmente lastimável.

  - Hum — fez a bruxa, levantando Perebas. — Que idade tem esse rato?

  - Não sei — respondeu Rony. — Ele é bem velho. Foi do meu irmão.

  - Que poderes ele tem? — perguntou a bruxa, examinando Perebas atentamente.

  “Poderes? Desde quando ratos têm poderes?” pensou a morena, mas resolveu não perguntar, provavelmente receberia um discurso de Mione em resposta.

  - Ah... - A verdade é que Perebas jamais revelara o menor vestígio de poderes interessantes, o olhar da bruxa se deslocou da orelha esquerda e esfiapada de Perebas para a pata dianteira, que tinha um dedinho a menos, e deu um muxoxo alto.

  - Este aqui já sofreu muito na vida — disse ela.

  - Já estava assim quando Percy me deu — respondeu Rony se defendendo.

  - Não se pode esperar que um rato comum ou rato de jardim como esse viva mais do que uns três anos — disse a bruxa. — Agora se o senhor estiver procurando alguma coisa mais resistente, talvez goste de um desses...

  Ela indicou os ratos negros, que imediatamente recomeçaram a saltar. Rony resmungou:

 - Exibidos.

 - Bem, se o senhor não quiser outro, pode experimentar um tônico para ratos — disse a bruxa, levando a mão embaixo do balcão e apanhando um frasquinho vermelho.

 - Está bem. Quanto...

 Rony se encolheu quando uma coisa enorme e laranja saiu voando do teto da gaiola mais alta e aterrissou na cabeça dele, e em seguida avançou e bufou com violência para Perebas.

  - NÃO BICHENTO, NÃO! — gritou a bruxa, mas Perebas escapuliu entre as suas mãos como uma barra de sabão molhado, aterrissou de pernas abertas no chão e disparou para a porta.

  - Perebas! — berrou Rony, correndo atrás do rato; Harry seguiu-o.

  Os dois levaram quase dez minutos para recuperar Perebas, que se refugiara embaixo de um latão de lixo à porta da Artigos de Qualidade para Quadribol. Rony tornou a enfiar o rato trêmulo no bolso e se endireitou, massageando os cabelos.

 - Que foi aquilo?

 - Ou um gato muito grande ou um tigre muito pequeno - disse Harry.

 - Aonde estão a Mione e a Cindy?

 - Provavelmente comprando a coruja.

  Eles refizeram o caminho pela rua apinhada de gente até a Animais Mágicos. Quando iam chegando, viram Hermione e Cindy saírem, animadas, mas ela não trazia coruja alguma. Seus braços envolviam com firmeza um enorme gato laranja.

 - Você comprou aquele monstro? — perguntou Rony, boquiaberto.

 - Ele é lindo, não é? — disse Hermione radiante.

 - Muito lindo! – exclamou Cindy, fazendo cafuné na cabeça do animal.

  Cindy simplesmente adorara aquele gato, se Mione não tivesse comprado, ela teria. É claro que ele decididamente tinha pernas arqueadas e uma cara de poucos amigos, estranhamente amassada, como se tivesse batido de frente numa parede de tijolos. Fora isso, sua pelagem do gato era espessa e fofa, e algo em seus olhos castanhos a fazia pensar que eles se conheciam ou, ao menos, se entendiam. E isso era assustadoramente estranho. Agora que Perebas não estava à vista, porém, o gato ronronava satisfeito nos braços de Hermione com as carícias da morena.

  - Mione, essa coisa quase me escalpelou! — reclamou Rony.

  - Foi sem querer, não foi, Bichento? — perguntou Hermione.

  - E outra, acho que ele fez isso para chamar minha... digo, nossa atenção... – disse Cindy meio enrolada, depois tratou de complementar – O pobre gatinho só queria ser adotado!

  - E o que vai ser do Perebas? — disse o menino apontando para o calombo no bolso do peito. — Ele precisa de descanso e sossego! Como é que vai ter isso com esse bicho por perto?

  - Nossa, como você é dramático. – resmungou Cindy e depois olhou para Mione – Como você aguenta isso?

  A menina hesitou, talvez fosse rir ou algo do tipo. Em vez disso, entregou o gato para Cindy e tirou um frasco vermelho do bolso.

  - Isto me lembra que você esqueceu o seu tônico para ratos — disse, entragando-o na mão de Rony. — E pare de se preocupar, Bichento vai dormir no meu dormitório e Perebas no seu, qual é o problema? Coitado do Bichento, a bruxa disse que ele está na loja há séculos; ninguém quis o gato.

  - Por que será? — perguntou Rony com sarcasmo, a caminho do Caldeirão Furado.

  - Não seja tão malvado, Rony! – repreendeu rudemente Cindy.

  Encontraram o Sr. Weasley sentado no bar, lendo o Profeta Diário.

  - Harry! — exclamou ele, erguendo a cabeça e sorrindo. — Como vai?

  - Bem, obrigado — respondeu o garoto enquanto ele, Rony e Hermione se reuniam ao Sr. Weasley enquanto Cindy rumou para as escadas, lá, dois ruivos a esperavam, com caras nem um pouco alegres.

  O Sr. Weasley pôs o jornal de lado e Harry viu a foto de Sirius Black, agora muito sua conhecida, encarando-o.

   - Então eles ainda não pegaram Sirius Black? — perguntou.

  Este nome chamou-lhe a atenção, fazendo Cindy hesitar. Talvez os gêmeos pudessem esperar mais um pouco...

  - Não - respondeu o Sr. Weasley, parecendo muito sério. — O Ministério nos tirou do nosso trabalho normal para tentar encontrá-lo, mas até agora não tivemos sorte.

  - Nós receberíamos uma recompensa se o apanhássemos? — perguntou Rony. — Seria bom ganhar mais um dinheirinho...

  - Não seja ridículo, Rony — disse o Sr. Weasley, que a um olhar mais atento parecia muito tenso. — Black não vai ser apanhado por um bruxo de treze anos. Os guardas de Azkaban é que vão levá-lo de volta, escreva o que digo.

  Naquele momento a Sra. Weasley entrou no bar, ela gesticulava com Fred e Jorge e logo atrás vinham Percy e Gina.

  Gina pareceu surpresa ao ver Harry, e acabou corando. Cindy sabia o que a menina sentia pelo seu amigo, porém agora estava misturado com gratidão por ele ter salvo ela no ano passado.

   - Belo gato. – disse Fred, se aproximando da garota enquanto todos se cumprimentavam.

  - Não é meu, é da Hermione. – explicou a menina, percebendo que ainda tinha Bichento nos braços.

  - Precisamos conversar... – cochichou Jorge, porém calou-se de repente.

  - Olá, Harry, querido. – disse Sra. Weasley, gentilmente - Suponho que tenha sabido das nossas eletrizantes novidades? — ela apontou para o distintivo de prata novinho em folha no peito de Percy. — É o segundo monitor-chefe na família! – exclamou, inchada de orgulho.

  - E o último — resmungou Fred para si mesmo.

  - Não duvido nada — disse a Sra. Weasley, franzindo a testa de repente. — Estou reparando que até hoje vocês dois não foram promovidos a monitores.

  - E para que é que nós queremos ser monitores? — perguntou Jorge, parecendo se indignar até com a própria ideia. — Isso tiraria toda a graça da vida.

  Gina e Cindy abafaram o riso.

   - Vocês deviam dar um exemplo melhor para sua irmã! — ralhou a Sra. Weasley.

  Cindy olhou para os meninos, sua vontade de rir era imensa, Fred apenas murmurou algo como “Cala a boca.”.

  - Gina tem outros irmãos para lhe dar exemplo, mãe — disse Percy com altivez. — Vou mudar de roupa para o jantar...

  - Dessa vez tenha certeza que suas roupas estão limpas! – gritou Fred, o irmão ignorou, sua mãe apenas olhou-o rispidamente e foi conversar com o marido.

  Eles trocaram olhares e riam, apenas Harry – que não estava a parte da história – pareceu confuso.

  O jantar àquela noite foi muito agradável. Tom, o dono do bar-hospedaria, juntou três mesas na sala, e os sete Weasley, Harry, Cindy e Hermione traçaram cinco pratos maravilhosos.

  - Como vamos para a estação de King’s Cross amanhã, papai? — perguntou Fred quando enfiavam a colher em um suntuoso pudim de chocolate.

  - O Ministério vai mandar dois carros — disse o Sr. Weasley. Todos ergueram os olhos para ele.

  - Por quê? — perguntou Percy, curioso.

  - Por sua causa, Percy — disse Jorge, sério. — E vão botar bandeirinhas em cima dos capôs, com as letras TC...

  - ... Significando Tremendo Chefão — completou Fred.

  Todos, à exceção de Percy e da Sra. Weasley, deram risadinhas baixando o rosto para os pudins.

  - Por que é que o Ministério vai mandar carros, pai? — Percy repetiu a pergunta, num tom muito digno.

  - Bem, como não temos mais nenhum — disse o Sr. Weasley —, e como trabalho lá, eles vão me fazer esse favor...

  Sua voz era displicente, mas Cindy não pôde deixar de notar que as orelhas do Sr. Weasley tinham ficado vermelhas, e isso não foi a única coisa que a fez pensar que estava mentindo. Sabia que o motivo era a segurança de Harry, e como sabia? Lera a sua mente. Odiava fazer isso, porém fora quase no automático.

  - E ainda bem — disse a Sra. Weasley, animada. — Vocês fazem ideia de quanta bagagem têm juntos? Que bela figura vocês fariam no metrô dos trouxas... Todo mundo já está de mala pronta ou não?

  - Rony ainda não guardou todas as coisas novas no malão — disse Percy, com voz de sofredor. — Largou tudo em cima da minha cama.

  - É melhor você subir e guardar tudo direito, Rony porque não vamos ter tempo amanhã cedo — disse a Sra. Weasley alto, para o filho sentado mais longe. Rony amarrou a cara para Percy.

  Aos poucos eles foram subindo as escadas. Cindy estava terminando de ajeitar suas coisas, não conseguia para de pensar no que houve hoje de manhã. Como pode ser tão desligada? Havia cartazes de Sirius Black por todos os lugares. E ele estava nas capas dos jornais mágicos...

  Ela ficou observando os bruxos pelo resto do dia, eles evitavam olhar para as fotos, como se tivessem delas, o que realmente ridículo. As pessoas sussurravam coisas, coisas sobre ele, coisas terríveis. Partidário de Você-Sabe-Quem, primeiro a fugir de Azkaban, causador de um grande massacre que matou treze pessoas, doido, e outras coisas que davam arrepios nela só de pensar.

   Tentou não pensar nisso por enquanto. Havia outros problemas, como por que Harry tinha que ter tanta proteção, ou até mesmo seus pais. Pensava neles todos os dias, mesmo não querendo. Os Weasley não insistiram em tocar no assunto, o que fora ótimo, não queria demonstrar para os outros o quanto estava quase arrependida de ter vindo, a única coisa que compensava era saber que amanhã voltaria para Hogwarts.

  Cindy ouviu barulhos na porta, hesitou por uns instantes até ver as caras travessas de Fred e Jorge.

   - Cuidado para não se assustar... – brincou Fred, com um sorrisinho.

   - Tarde demais. – sussurrou a menina.

   Agora que a porta estava entreaberta, Cindy ouvia uns barulhos no corredor de móveis sendo arrastados e pessoas gritando.

   - Mas o que está acontecendo lá fora? – perguntou, curiosa se aproximando da porta.

   - Isto é Percy enlouquecendo... – começou Jorge.

   - Parece que perdeu o distintivo... – continuou Fred.

   - Uma Pena... – e eles fizeram uma carinha triste.

   - Vocês não...? – Cindy não conseguiu terminara a frase, estava boquiaberta.

   - Sim. – assentiu Fred, com um sorriso travesso.

   - E fizemos melhor. – Jorge tirou o distintivo do bolso que agora se lia “Tremendo Chefão”.

   - Vocês são maus! – exclamou a morena, rindo.

   - Vamos devolver e esperar que o monitor o encontre. – disse Fred, e deu um sorriso maligno.

   - Vocês são piores que maus, são perversos! – disse a garota, mas não conseguia parar rir. No corredor, os gritos de Percy ecoavam.

   - Nós sabemos. – disseram os dois uníssonos.

   


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai? O que acharam?