Mais uma noite perdida em meio a tantos sonhos com meus pais. Meu pai sempre aparecia em meus sonhos mesmo sem nunca ter me conhecido ou vice-versa. Ele faleceu em um acidente na Marinha dois meses antes de eu nascer. E desde então, sempre fomos eu e minha doce mãe. Seu nome era Michel e de minha mãe era Rechen, eles tinham apenas dezoito anos quando se conheceram e o resto é apenas história. Sempre cresci acreditando no amor puro que minha mãe passava para mim cada vez que ela contava sobre seu romance com Michel. Mas agora, pelo meu ponto de vista, sei que não existe a menor chance de tal coisa acontecer comigo. 

Sempre sonhei em ser uma grande atriz de Hollywood. Sonhos ingênuos de uma menina ingênua. Nada parecida com a mulher que precisei me tornar nessas ultimas semanas. Já fazia três semanas desde a primeira vez que pus meus pés nessa boate e me arrependo amargamente de tal coisa. 

Edward, meu cafetão, tirou minha virgindade com uma brutalidade horrível. Nem em meus sonhos mais sórdidos imaginei isso acontecendo comigo. 

Por ser novata aqui, uma das, acabei ficando no mesmo quarto com Rosalie, uma loura bastante bonita e que assim como eu, e metade das outras meninas daqui, sonhava em ser atriz. Ingênuas. Todas ingenuas. E junto conosco ficou Alice. Uma baixa menina, com seus 19 anos que perdeu os pais e se mudou para a Califórnia ano passado. Por não achar trabalho algum, acabou aceitando, com muito custo, ficar trabalhando aqui. 

- Novata. - Uma voz rouca entrou em meus ouvidos. Levantei meu olhar e era Edward. - Pare de escrever e vem. 

Guardei meu diário rosa em minha mala marrom e levantei em um pulo. 

- Outro cliente ?

- Sim. - Um sorriso malicioso brotou em seus lábios rosados e carnudos. Ainda sinto nojo cada vez que esse sorriso aparece. Foi o mesmo sorriso que tirou minha inocência. - Harold Cartman. Um velho mas um velho que paga muito bem. 

- Ah Edward, você sabe que...

- Cale a boca! - Ele sabia o quanto eu tinha nojo de velhos assim. Eram os que melhor pagavam mas os mais nojentos. Revirei os olhos e respirei fundo.

- Em qual quarto ?

- É isso ai. - Ele sorriu novamente. - 234. 

Mordi meu lábio inferior de nervosismo. 

Esse era de longe, para mim, o pior quarto da casa.

Ali se encontrava alguns aparelhos para a prática do sadomasoquismo.

E bem, para mim, uma menina que acabará de perder a virgindade a menos de três semanas, aquele sim, era o pior de todos.

Respirei fundo antes de esticar minha mão e pegar a chave de sua mão.

- E depois que acabar. - Ele rodou sobre mim e parou atrás de mim. Seus braços circundaram meu quadril e senti seus lábios em minha nuca.

Eca.

Senti meu café da manhã voltando com toda força.

- Espero você em meu escritório.

- Tudo bem. - Ele virou meu corpo 360 graus ficando de frente para ele. Baixei meu olhar e senti sua mão circundando meu queixo. Nossos olhares se encontraram.

- Não quero esse lindo rosto assim. Sorria. - Sua voz era sarcasmo puro.

Forcei um sorriso apenas para ele me deixar ir até o quarto onde o cliente me esperava. 

- Me deixe ir.

- Claro, claro. - Ele me soltou. Obrigado, senhor. - Um cliente como o Senhor Cartman não pode ficar esperando. Vá.

Mordi meu lábio inferior e antes de sair, indo de encontro ao meu mais temido medo, senti uma mão estalar em meu traseiro. 

Legal.

Essa é a vida que eu sempre sonhei.