Te Amar Ou Te Odiar? escrita por Dani25962


Capítulo 48
A verdade II


Notas iniciais do capítulo

Oie. E aí povo?


Eu sei, quase dois meses sem atualização, mas eu tive um bom motivo, minhas provas, eu não podia me concentrar em mais nada (Nem nos livros que eu queria estar lendo). :´(

Enfim, antes de vocês lerem, só quero avisar que esse é um capítulo que acabou de ser feito, eu me sentei aqui no computador às dez horas e só estou saindo agora, quase três e meia da manhã. Me desculpem se tiver algum erro, mas eu queria mesmo postar logo alguma coisa.

AVISO: Talvez tenha algumas cenas que vocês considerem fortes, mas tentei deixar o mais leve possível, sem tirar a dramatização. Espero que gostem ;)



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Pov. Henry

“... Ganhei uma moral com os valentões e voltei a me encontrar com os antigos amigos com a ajuda de Evangeline, que tinha feito amizade com eles.

Até meus quinze anos, minha vida se resumia em trabalho, família, escola e amigos. Mamãe saiu um pouco da depressão pela perda do pai e felizmente, arrumou um emprego. Ela sempre foi muito elogiada por cuidar bem do próprio jardim, então, ela tornou isso um negócio. Agora ela é a paisagista mais talentosa da cidade e todos querem um quintal cuidado e enfeitado por ela. Sorte que ela sabe cuidar muito bem de plantas, o que não é o meu caso. Sou tão desatento que provavelmente deixaria um cacto morrer de sede.

Os anos se passaram, e logo cheguei ao ensino médio. No começo pareceu assustador, pessoal mais velho, matérias novas, novos professores, entre outras coisas. Felizmente, Evangeline e os outros estavam lá sofrendo o trauma junto comigo.

Isso era o que eu pensava no começo, mas eu não imaginava que aqueles seriam os três melhores anos da minha vida. Durante esse tempo, participei de campeonatos de futebol de basebol, fiz inúmeros trabalhos escolares cansativos tanto quanto as provas, fiz novos amigos, experimentei cerveja pela primeira vez, isso foi no segundo grau, participei de uma corrida de cavalos e quase venci, beijei algumas moças, entretanto, não a que eu mais desejava.

No primeiro ano descobri que estava apaixonado por Evangeline, foi muito de repente. Um dia, ela teve que viajar, pois uma tia havia ficado doente e ela se ofereceu para cuidar dela ao invés da mãe, que era a irmã dessa tia. Pensei que ela voltaria em uma semana, mas os dias se tornaram quase um mês.

Nesse mês eu me pegava várias vezes pensando nela, sua doçura, carisma e teimosia, uma mistura maravilhosa dentro uma linda garota com olhos castanhos. Na época, eu tinha começado a trabalhar em uma floricultura, um dia, como qualquer outro, a Srta. Hodney (sobrenome do marido) me pediu para regar as flores e plantas da loja, eu prontamente fiz o que ela mandou. Estava de costas para a entrada da loja quando ouvi o sininho da porta tocar, mas agi com a mesma educação.

“Bom dia, entre, seja...” – Se tudo não tivesse acontecido tão rápido eu teria derrubado o regador. A melhor forma de explicar o que senti era como se estivesse vendo Evangeline pela primeira vez e como nas histórias melosas com o final feliz, eu me apaixonei à primeira vista por ela. Ou talvez, falando de um jeito menos meloso, meu coração parou, assim como todo o meu corpo, apenas tentando digerir a informação e os sentimentos que vieram de repente.

“Henry!” – Ela sorriu maravilhosamente, correu em minha direção e me abraçou. – “Que saudades!” – Nesse momento me senti feliz e completo, retribuí ao abraço, sorrindo que nem um idiota, provavelmente. – “O que foi? Que cara é essa? Não está feliz em me ver?” – Eita, minha expressão estava pior do que pensava.

“Eu estou surpreso, isso sim! Por onde você andou todo esse tempo?” – Perguntei, desfazendo o abraço.

“Minha tia ficou doente por mais tempo do que pensei, mas está tudo melhor agora, graças à Deus ela está bem.”

“Isso é ótimo.”

“Vim o mais rápido que pude, principalmente quando me disseram que você estava trabalhando aqui.” – Vi o sorriso debochado dela começando a tomar forma.

“Sem preconceitos e muito menos comentários, a Srta. Hodney precisava de alguém para ajudá-la enquanto o sobrinho que a ajudava aqui na loja precisou viajar para cuidar de alguma coisa.” – Disse, terminei de molhar uma planta sem flores qualquer e devolvi o regador à bancada.

“Claro, o Henry de sempre, trabalhador e prestativo.” – Ela se aproximou de uma rosa vermelha e a cheirou. – “Às vezes me sinto uma sedentária perto de você, não tenho tanta disposição para trabalhar, prefiro cumprir as tarefas do dia e terminar lendo um bom livro.”

“A Evangeline de sempre, atarefada e culta.” – Sorri para ela quando me olhou e notou meu pequeno plágio. – “O que está lendo no momento?”

“Na verdade, vou começar a ler, é um romance estrangeiro, acho que é do Brasil, o livro se chama ‘Cinco minutos`, de José de Alencar.”

“Um romance?” – Fiz uma careta.

“Ah! Deixa de ser chato. Desde que leu Sherlock Holmes você acha qualquer outra coisa leitura desnecessária.”

“O que eu posso fazer? É uma obra prima, você deveria ler.”

“Já li. É muito bom, mas não abro mãos de outros autores e novas histórias.” – Ela falou. De repente ela virou o rosto para o balcão e sorriu. – “Boa tarde Srta. Hodney.” – Disse gentil.

“Boa tarde, querida Evangeline.” – A senhora a cumprimentou, também devolvendo um sorriso gentil. – “Veio em busca de algum buque?”

“Hum... A princípio não, mas é uma boa ideia chegar em casa e presentear minha mãe, faz algumas semanas que não a vejo.” – Ela falou. – “Por acaso você teria lírios? São os favoritos dela.”

“Oh! Claro que sim, me acompanhe.”

Cinco minutos depois, Evangeline estava pagando um buque de lírios brancos à Srta. Hodney. Se despediu de nós dois e foi embora pra casa. Não vou mentir, estar com ela era uma sensação muito boa, eu me sentia incondicionalmente feliz e também, um pouco dependente para segurar a mão dela, ou simplesmente abraçá-la com um braço sobre os ombros...”

...

Pov. Autora

— Dias perfeitos... Como sinto falta desses tempos. – Disse Henry. – Ela estava lá comigo, todos os dias, sempre, era minha melhor amiga, a pessoa que eu amava, tudo muito perfeito. – Esse foi o ponto em que Mônica percebeu o álcool agindo no organismo do velho, ele estava ficando um pouco alterado e estava quase na metade da garrafa. – A partir daí eu nunca me senti infeliz, ao descobrir que Evangeline habitava grande parte do meu coração, sensações ruins do passado se apagaram. Eu estava feliz... Pelo menos, até aquele dia.

...

Pov. Henry

“... Anos depois tivemos nossa formatura do colegial, com cerimônia e tudo. Mais tarde uma festa no ginásio. Todos estavam lá para se divertir, mas eu só pensava em me “embebedar” de suco de uva para tentar ter coragem para chamar Evangeline para dançar. Ela estava dançando com o Tom, um de nossos colegas. De repente, ela me achou no meio da barulheira e me convidou pra dançar, meu impulso foi recusar, mas ela me puxou para a pista de dança.

Não sou lá um bom dançarino, mas fiz o melhor que pude. Era ótimo vê-la rir e se divertir, melhor ainda quando eu era o causador das risadas, ela estava reparando no meu jeito de dançar e achou muito engraçado. A diretora da escola parou a música e falou algumas palavras, nos parabenizando. Quando a música voltou, era uma música calma, melodiosa.

As pessoas do salão começaram a se formar em casais, quando estava pensando em sair dali para não atrapalhar, Evangeline pôs as mãos em meus ombros e disse: “Se importa em dançar comigo?”, mexi a cabeça que não, meio sem jeito coloquei minhas mãos na cintura dela e começamos a dançar a música lenta.

Deve ter sido o momento mais feliz da minha vida desde que nos conhecemos, lembro-me que ela cheirava a morango. Dançamos por algum tempo, ela sim sabia dançar, seus passos eram ágeis e não tinham nenhuma dúvida de não iria pisar nos meus pés mesmo sem olhar para o chão. Senti uma pontada de inveja por isso.

Não sei por quanto tempo dançamos, mas de repente ela parou e olhou pra mim, me pedindo que a seguisse. Sem compreender a segui mesmo assim até uma espécie de sacada que tem duas escadas laterais onde se podia ter acesso até o jardim. Evangeline parou nas grades da sacada que ficavam entre as escadas, ali é um ótimo lugar para parar e observar o jardim. Cheguei ao seu lado caminhando devagar, segui a atitude dela e apenas observei a paisagem.

“Evangeline?” – Iria esperar ela dizer alguma coisa, mas ela parecia nervosa, então tomei a iniciativa. – “Está tudo bem?”

Ela não disse nada, pareceu dar um breve suspiro antes de se virar pra mim com os olhos determinados. – “Sim.” – Ela disse. – “Eu só... Preciso experimentar uma coisa.”

Não fazia ideia do que ela estava falando, até que se aproximou de mim e colocou seus braços em volta do meu pescoço. Eu me assustei de início, não esperava por aquilo. – “O que está fazendo?” – Perguntei.

Ela não disse nada, apenas continuou me olhando daquele jeito. Eu engoli em seco silenciosamente, aproveitando o momento, seus braços eram pequenos e seu toque era gentil, era mais do que eu imaginava. Ela se aproximou um pouco mais de mim, apenas mostrando que não voltaria atrás na sua atitude, bastariam poucos sentimentos para que eu finalmente pudesse beijá-la e foi o que eu fiz.

Começou com um selinho demorado, resultado da nossa timidez, mas quando passamos o desconhecido, buscamos conhecer mais a boca um do outro. A boca dela tinha sabor do ponche da festa, uva. Ela beijava bem, não sei se havia treinado antes com alguém, espero que não, mas era um beijo muito bom, o melhor de todos.

Depois de pouco mais de um minuto nós nos separamos para recuperar o fôlego, eu olhei para ela, mas ela por algum motivo achou minha roupa muito interessante, pois olhava para ela e não pra mim. – “Evangeline?”

Na esperança que ela olhasse pra mim, ela não olhou, mas tirou suas pequenas mãos de meus ombros e segurou minha roupa pelo peito, onde também afundou a cabeça. – “Ei, o que houve?” – Estava um pouco aflito, com medo de que ela não tivesse gostado do beijo ou coisa parecida, mas pouco tempo depois ela me jogou uma bomba.

“Eu vou embora.” – Ela disse, eu fiquei sem entender.

“Agora? Mas ainda tem a festa e...”

“Não.” – Ela finalmente desenterrou a cabeça do meu peito e olhou pra mim. – “Eu vou embora da cidade em alguns dias, e... Provavelmente, nunca mais vou voltar.”

Adoraria ser engolido por um buraco negro, talvez eu sentisse menos dor do que naquele momento. “O quê? Do que está falando?”

“Meu pai conseguiu um novo emprego, um bom emprego, vamos voltar para o Texas ou pra outro lugar, mas de qualquer forma... Nós, nós não vamos nos ver por um bom tempo.”

Nem mesmo eu me lembro o que senti, só sei que é confuso demais pra explicar, minha garota iria embora e eu não poderia fazer nada. – “Mas então, o que foi esse beijo? Uma despedida?”

“Não, eu, me desculpe, eu ando muito confusa e, eu queria... Antes de ir, confirmar os meus sentimentos por você.” – Seu olhar destemido se tornou mais doce, mas não menos obstinado. – “Eu sei o que você sente por mim, sei que me ama, mais do que uma amiga. Já demonstrou isso sem dizer milhares de vezes durante esses anos e eu nunca soube exatamente o que sentia, quer dizer, sim, eu amo você, mas... Não como você gostaria que eu amasse.” – Ela voltou com os braços para os meus ombros. – “Eu o amo como um irmão, pelo menos, se eu tivesse um, acho que seria assim que eu me sentiria. Você é um amigo muito fiel, é meu melhor amigo, meu irmão, mas eu precisava ter certeza. O beijo, era a prova, se eu sentisse algo nele nós poderíamos continuar uma vida juntos de algum jeito, talvez depois da faculdade, mas...”

“Você não sentiu nada.” – Disse. – “Você...” – Perdi a fala, eu estava tão destroçado por dentro, tinha levado o pior golpe da minha vida, pior do que qualquer golpe de contato físico, o golpe da palavra.

“Henry.” – Ela me abraçou e voltou a enterrar seu rosto no meu peito. – “Me desculpe, me desculpe, me desculpe, eu queria poder fazer qualquer coisa que mudasse isso, para que você não ficasse triste ou decepcionado, mas... Eu não agüentaria ir embora e falar esse assunto com você por carta.” – Ela olhou pra mim, algumas lágrimas surgiram para ela segurar. – “Me perdoa.”

Não disse nada, apenas a abracei novamente. Uma melodia suave que tocava no salão podia ser ouvida da sacada, balancei o corpo recomeçando uma dança lenta com ela. Eu poderia gritar, berrar, negar, mas não podia mudar as coisas assim. Minha garota iria embora, só o que eu posso fazer agora é aproveitar todo o tempo que ainda me resta ao seu lado. Ficamos abraçados um ao outro por um bom tempo. Vez ou outra trocamos olhares, mas só isso já me bastava, não queria dizer nada, por que se dissesse só o que sairia seria algo como: “Não vá.”, “fique comigo”.

O amor é uma coisa muito complicada, às vezes devemos deixar pessoas saírem de nossas vistas, mas nunca de nosso coração. Para onde quer que Evangeline vá, ou com quem ela estiver sempre será minha, para sempre, em meu coração.

...

“Alguns meses se passaram desde que Evangeline foi embora. Eu continuava no mesmo lugar onde sempre estive, na minha cidade natal, trabalhando. Ainda não tinha grana suficiente pra faculdade, mas estava quase lá.

Trabalhava no mercado, consegui um cargo de gerente de alimentação, é um nome bonito pra: “Cara que olha se a comida estiver podre ou vencida e joga fora.” Isso aí, só vencendo na vida. Confesso que senti falta da escola, não só dos amigos, mas um pouco de estudar também, é tão estranho chegar à época de provas e você não ter nada pra fazer por que não faz mais provas, bom, pelo menos enquanto não entrar na faculdade.

Também comecei a sentir falta da minha mãe, ela ultimamente trabalhava muito, eu também, quase não nos vimos ou nos falamos direito por umas semanas. Um dia, resolvi comprar comida e livrar o trabalho de fazer o jantar para que pudéssemos ter um momento juntos. Lembro muito bem daquela noite, o verão estava no meio, a brisa era refrescante, noite perfeita para saborear uma boa comida sob as estrelas.

Chegando em casa notei algo estranho, uma vizinha estava gritando desesperada e correu para os braços do marido, que quando a viu, perguntou logo o que tinha acontecido. Ela mal conseguia falar, parecia que todo o fôlego que ela tinha foi tirado dela, ou tinha visto um fantasma.

“Srta. Foster?” – Me aproximei do casal. – “O que aconteceu?”

“Henry!” – Ela olhou pra mim como se realmente tivesse visto algo horrível, estava ficando preocupado. – “Você... Tem que... r-rápido!”

“O quê? O que foi? O que houve?”

“E-Eu fui até sua casa, pedir uma xícara de açúcar emprestada à sua mãe para uma sobremesa que estava fazendo para o jantar. Bati na porta, ninguém atendeu, mas as luzes estavam acesas.” – Ela tomou um pouco de fôlego antes de continuar, mal respirava. – “Dei a volta na casa em direção à porta dos fundos, m-mas... Quando olhei a janela da cozinha, eu... E-Eu vi...”

“O que você viu?!”

“S-Sua mãe... acho que ela se esfaqueou.”

Após ela me dizer uma das piores frases que já ouvi na minha vida, corri em disparada para dentro de casa, rumo à cozinha. Entretanto, apesar de ter corrido até ali, perdi o chão com a imagem que nunca mais sairia da minha cabeça. Minha mãe, no chão, com uma faca grande de cozinha enfiada no peito. Demorei um pouco pra assimilar toda a cena, mas depois percebi que o nariz dela estava sujo com um pó branco, esse mesmo pó se encontrava pelo chão e também sobre a bancada da cozinha.

Eu já tinha visto coisas bem ruins por aí, e sei dizer que aquilo não era talco. Era cocaína. Minha mãe deveria estar alucinada com a droga, talvez tenha se assustado com a vizinha, ou imaginado alguma coisa, até mesmo sentido algo, mas de qualquer forma, aquela droga a fez enfiar uma faca no próprio peito.

Eu pensei em me aproximar dela, mas não conseguia. Travei. Caí sentado no chão da cozinha e me recostei em um dos armários, devo ter entrado em estado de choque, pois quando voltei à consciência a polícia havia chegado a minha casa.

Sirenes, confusão, gritaria, perguntas, tudo isso e muito mais passaram como um flash na minha cabeça enquanto eu tentava organizar minha consciência e tentar assimilar tudo o que estava acontecendo.

Tiraram-me de dentro da casa para isolar a área e investigar, eu disse que não tive nada a ver com aquilo, o álibi da Srta. Foster e o do meu chefe, de que eu estava no trabalho na hora em que tudo aconteceu confirmava. Aparentemente, foi suicídio. Ainda assim, sob efeito de drogas.

Eu não entendia. Nada fazia sentido, minha mãe era uma mulher boa e honesta, estava trabalhando bem e era feliz, como tudo foi acabar assim?

Dias depois, quando a polícia liberou o corpo da minha mãe das investigações, pude finalmente enterrá-la. Sem dúvidas, o dia mais triste da minha vida, mais do que a cena de assassinato do meu pai e de Evangeline indo embora.

Infelizmente, eu ainda era menor de idade, mas, felizmente, eu tinha uma tia que aceitou minha guarda legal perante o tribunal. Eu fiquei com a minha casa, entretanto, eu não voltaria a morar lá, não depois de tudo o que aconteceu. Semanas depois minha tia me ajudou a vender a casa, a ajudei a quitar umas dívidas e também outras que minha mãe deixou.

Ainda assim, não sobrou muito, precisei continuar a trabalhar, mesmo não tendo muitas motivações. Eu só queria sair dali, é o que eu quero desde que meu pai morreu. Sair daquela cidade, das memórias, pra sempre.

...

Dois meses depois, eu voltava de mais um turno longo e cansativo do mercado. O dono me botou em um cargo mais importante, mas não menos trabalhoso, pelo menos, ele entendeu minha situação e como sabia que eu trabalhava bem me deu essa oportunidade de ganhar mais dinheiro.

Eram quase nove da noite, eu sei por que sempre que saía do trabalho e andava de volta pra casa os sinos da igreja badalavam em bom e alto som para todos ouvirem e saberem que horas eram. Do nada, dois brutamontes bloquearam meu caminho, eles saíram de um beco escuro, nunca os teria visto se não me barrassem.

“Mas o que...” – Mal tive tempo para fazer nada, eles me calaram e me empurraram para o beco. Eles me prensaram contra a parede, me prendendo ali.

“Escuta garoto, acho que você tem uma coisa que nos pertence.” – Disse um deles, a voz me pareceu familiar. – “E queremos de volta.”

“Do que está falando?” – Eu disse assim que minha boca foi solta, mas recebi um soco no estômago como resposta. Gemi de dor.

“Acho que terei que refrescar sua memória.” – Ele disse. – “A vadiazinha da sua mãe...” – Nesse momento cuspi na cara dele de raiva, se pudesse lhe daria um belo soco por ter dito aquilo. Mas ele só ficou mais zangado e desferiu um soco no meu rosto. – “Não faça isso seu merda, ou matamos você!” – Ele disse sério. – “Continuando, nós tínhamos negócios com a sua mãe, mas ela nos roubou.”

“Mentira!” – Disse com raiva.

“Bem que você queria, mas eu sei que você a viu morta junto a uma carreira de cocaína.” – Ele falou. – “Você pode não estar mesmo a par dos negócios, então me deixe deixá-lo informado. Sua mãe começou um negócio de jardinagem, e ela usava um adubo caseiro, muito bom por sinal. Um dia, eu a barrei e ofereci um trabalhinho pra ela, ela ganharia uma grana muito boa, só precisava usar seus dons de plantio a nosso favor.”

“Vocês fizeram ela plantar maconha seu porco imundo?!” – Outro soco no estômago, esse doeu mais que o outro.

“Mais um grito desses e você não sai daqui vivo.” – Ele ameaçou e depois continuou a história. – “Demorou um pouco, mas ela acabou aceitando o trabalho, correu tudo muito bem, até ela começar a usar a droga e se viciar. Como não podia plantar nada em casa, ela teve a ousadia de roubar parte da mercadoria.”

“O chefe não está nada feliz com isso, se você não devolver a droga, terá que devolver o dinheiro.” – Disse o outro cara pela primeira vez. – “Dez mil dólares.”

“O quê?” – Exclamei, mas não tão alto. Talvez hoje esse dinheiro não pareça grande coisa, mas na época era. Quase como o mesmo que cem mil dólares. – “Não tenho esse dinheiro.”

“Isso não é problema meu, tem até o final do mês para pagar, caso contrário nós faremos uma visita a você e à sua tia.” – Me ameaçou novamente. Antes de sair, me jogou no chão junto aos sacos de lixos e os dois começaram a rir, saíram do beco como se nada tivesse acontecido.

A luz do poste iluminou o rosto deles quando saíram e pude reconhecê-los. Eram os mesmos covardes que mataram meu pai anos atrás. Medo e raiva borbulhavam dentro de mim, esses desgraçados acabaram com a minha vida. Naquele momento eu decidi acabar com a deles também.

...

Eu tinha um mês para pagar a dívida, mas só precisei de duas semanas para achar a cabana onde esses miseráveis se escondiam. Era bem longe da cidade, de qualquer coisa. Cheguei até lá com a minha bicicleta, não tinha exatamente um plano, estava mais pra um objetivo. Tudo ia acaba naquela noite.

Quando cheguei ao barraco não havia movimento do lado de fora, ninguém vigiando, nada, mas tinha luz lá dentro. Deixei a bicicleta em qualquer lugar. Antes de entrar travei a mais minha nova pistola que havia conseguido recentemente, eu tinha cinco balas, mais as que estavam no meu bolso, era tudo o que eu precisava. Entrei sorrateiramente por uma das janelas que estavam abertas.

Apenas um cômodo estava iluminado, e lá se encontravam cinco homens, muito concentrados no jogo que parecia ser pôquer. Eles gritavam e praguejavam. Eu tive tempo e treinamento com armas, o cara do açougue me ensinou algumas manhas, além do mais, qualquer homem de verdade tem que saber atirar. E eu sabia. Muito bem, por sinal.

Entretanto, não conseguiria atirar tão rápido a ponto de matar cinco caras de uma vez só, se tivesse sorte, poderia matar dois de vez, e depois teria que me virar com os outros três. Minha mão ameaçava a tremer, mas eu estava tão furioso e determinado que nada me pararia.

Me apoiei à um caixote, eu só precisava mirar na cabeça e o trabalho já estaria feito. O primeiro e o segundo tiro foram certeiros, dois tiros, duas cabeças. O terceiro quase escapou, mas o quarto tiro foi bem na nuca do desgraçado. Só restavam dois.

“MAS QUE MERDA É ESSA?!” – Gritou o que provavelmente deveria ser o cabeça da turma.

“ALI! VEIO DALI!” – O outro gritou.

“MATE ESSE FILHO DA PUTA!” – Gritou de novo.

A partir daí foi uma chuva de balas, eles também sacaram suas armas e começaram a atirar. Eu me movimentei, tentando buscar um novo local pra atirar, ficou meio difícil em alguns momentos, os caras eram bons. Na minha terceira bala da segunda recarga eu consegui atingir um bem no peito, direto no coração.

Só faltava um. Esse era o que eu mais queria matar. Zaqueu Scalera.

Ele continuou a atirar em mim e eu nele. Algum tempo depois, ele gritou: ”MALDIÇÃO!” Logo presumi, as balas dele tinham acabado, era a minha chance. Levantei do meu esconderijo e não desviei a bala da cabeça dele em momento algum.

“Então, é você?” – Ele disse, parecendo achar aquilo engraçado. – “Hahaha, vou te dizer, garoto, você é muito bom de mira.”

“Cale a boca.” – Disse sério. – “Você vai pagar por tudo que fez.”

“E o que eu fiz?” – Ele falou cínico.

“Você destruiu a minha família, matou meu pai, e jogou minha mãe nas drogas.”

“Opa, eu não joguei nada, ela que aceitou o emprego.”

“JÁ DISSE PRA CALAR A MERDA DA BOCA.” – Gritei. Mirei a arma pra mais perto da cabeça dele. – “Você vai pagar por tudo o que fez, de uma vez por todas.” – Movi o dedo e apertei o gatilho, mas o que parecia ser o golpe final foi apenas um clique. Minha arma estava sem balas, eu não tinha mais balas.

“Hehehe, sou macaco velho nesse jogo rapaz, sei reconhecer quando uma arma está vazia.” – Foi tudo muito rápido, ele saiu de trás da mesa e me agarrou, me prensando contra a parede com força, me enforcando. – “Vou lhe ensinar a não matar meus empregados e acabar com o meu negócio.”

Enquanto ele tentava me matar, eu tentava sobreviver contendo a força dele com uma mão, com a outra eu busquei meu canivete na minha cintura. Quando consegui alcançá-la não pensei duas vezes antes de enfiá-la várias e várias vezes no peito de Scalera, eu estava com tanta raiva que não pensava, apenas agia.

Aos poucos ele me soltou e caiu no chão, não parei de esfaqueá-lo, até que eu visse sua maldita alma desaparecer de seus olhos. Quando tudo acabou eu sentei ao lado do cadáver imundo que era do agiota e traficante, Zaqueu Scalera e busquei fôlego.

Enfim, tudo havia terminado. Meus pais estavam vingados. O que aconteceu naquela noite não me trouxe paz, mas minha sede de vingança foi saciada.

...

Algum tempo depois, eu me via finalmente saindo da casa da minha tia, consegui uma bolsa numa faculdade na Califórnia. Todos estavam felizes por mim, inclusive minha tia que dava pulos de alegria. Concertei uma caminhonete que até que não estava de todo mal, mas que poderia me levar nessa difícil viagem.

Me despedi de todos e parti estrada à fora. Sobre o que aconteceu semanas atrás com Scalera e sua turma, tudo foi resolvido. Enterrei aqueles miseráveis onde ninguém poderá jamais encontrá-los. Queimei minhas roupas e tirei qualquer vestígio de que tenha acontecido algo ali, como um tiroteio.

Descobri que aqueles imundos venderam as drogas que minha mãe... Bem, enfim, eles venderam tudo e o fato de estarem tão agitados naquela noite é que estavam mais brincando com a grana que tinham ganhado. Posso dizer que foi bem mais do que dez mil dólares, muito, muito mais. O bastante para viver uma vida de férias sem se preocupas com gastos.

Sim, levei o dinheiro comigo, pensei em construir uma vida totalmente nova, do jeito que eu queria. Horas e horas depois, finalmente cheguei à Califórnia e a minha mais nova faculdade. Claro, eu tinha arrumado um lugar para morar sozinho, mas queria ver como eram as coisas por lá primeiro, estava ansioso.

Estacionei o carro e andei pelo terreno. Era grande, muito. Vários prédios, com salas laboratórios, bibliotecas, tudo o que um aluno poderia pedir para ter um bom ambiente de estudo. Eu andava meio perdido já iria fazer meia hora, até que um estranho se aproximou de mim.

“Oi, você é novo aqui?”

“Ahn? Ah... Sim. Sou sim.” – Olhei a grande praça central onde me encontrava, dali podia pegar qualquer caminho, para qualquer prédio, ou campo. – “Esse lugar é bem grande.”

“Pode apostar, eu cheguei há pouco, mas conheço o lugar, se quiser posso te ajudar.”

“Opa, valeu, estou precisando mesmo de um guia.” – Eu ri, felizmente, ele também. – “Obrigado, ahn, qual é mesmo o seu nome?”

“Sousa, Marcio Sousa.” – Ele falou e nós apertamos a mão em cumprimento.


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Notas finais do capítulo

Primeiro, quero MUITO agradecer à MandyYSz por ter recomendado a história. Muito obrigada mesmo! Dei pulinhos de alegria aqui. (Sigam esse exemplo pessoal, não se acanhem, recomendem a história também :D )


Segundo, MUITO OBRIGADA à todos que estão comentando os capítulos, isso me ajuda muito pessoal, pra valer. E ainda quero que vocês continuem comentando. (Curiosidade: Tenho um grande fraco por comentários grandes, não sei se perceberam, mas eu gosto de ler XD )


Terceiro, Se tudo der certo, posto o próximo capítulo na semana que vem. (Estou de férias! Uhuuuuuuuuuuuu!!! E não é só por uma semana!! XD )


E por último, uma boa noite, bom dia, boa tarde, o que for, estou com sono, meus dedos estão doendo e nem quero me lembrar da minha coluna...


PS: Sim, o livro "Cinco minutos" de José de Alencar existe, foi um dos últimos livros que eu li. Foi primeiro romance dele, ele fez em 1850, ou algo perto dessa data. Eu recomendo muito que leiam essa obra, mesmo que a interpretação pareça difícil no começo, vale a pena. (Ele é pequeno, nem cem páginas deve ter, acho, mas te prende na leitura que é uma beleza).


Té+!



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