Te Amar Ou Te Odiar? escrita por Dani25962


Capítulo 46
Confissão


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal


Queria agradecer aos comentários que enviaram, continuem assim, eles ajudam mesmo ;)


O capítulo ficou um pouco maior do que eu esperava, mas acho que vão gostar. Boa leitura.



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Pov. Autora

Cebola estava em casa, dormindo. Havia se passado dias desde a perseguição do FBI com os bandidos que tinham sequestrado Mônica. Ele não fazia muita coisa além de ficar quieto em seu quarto.

De repente o relógio no criado mudo começou a tocar, marcando nove da manhã. Cebola acordou na hora com o barulho, mas voltou a deitar a cabeça no travesseiro, xingando o maldito objeto mentalmente. Se esticou para poder alcançar o relógio e desligá-lo. Nunca lembrava de reajustar a hora.

Fechou os olhos e tentou voltar a dormir. Dez minutos depois desistiu de tentar, aos poucos se sentou na cama e ficou desse jeito, olhando para o quarto sem pensar em nada.

Olhou para a porta do banheiro, decidiu tomar um banho para depois descer e tomar café. Ele se despiu, foi até o banheiro e entrou de baixo do chuveiro.

Depois do que aconteceu, relacionado à perseguição, Cebola fez de tudo para conseguir participar de alguma outra operação de busca do FBI, mas Larry o barrou e disse para ele voltar para casa e descansar, esperar por alguma notícia. Cebola não concordou, mas Larry teve pulso firme, nada restou para ele a não ser concordar e ir pra casa.

Quando chegou, Carla o encheu de perguntas, e ele as respondeu o máximo que pôde. Ela mencionou que seus amigos foram até lá avisar o que tinham "descoberto", Cebola apenas disse que iria falar com eles mais tarde.

Desde que a polícia confirmou de que Mônica não estava no caminhão só lhe restou soltar a imaginação, pensando onde ela poderia estar, se estava bem ou sofrendo algum perigo maior.

Quem dera a água pudesse lavar também os pensamentos impuros, pensou ele, viria bem a calhar agora.

Assim que terminou o banho se vestiu e saiu do quarto. A casa parecia abandonada, tirando o jardineiro cuidando do gramado. Cebola foi até a cozinha, pensou que iria encontrar Carla lá, mas o lugar estava como o resto da casa, vazio.

Verificou a jarra de café, tinha apenas um pouco de café frio, decidiu fazer um novo. Pegou o pó, o açúcar e uma caneca com água para esquentar. Após dez minutos, o café ficou pronto.

— Que cheiro bom. - Disse Carla aparecendo na cozinha.

— Bom dia. - Cebola a cumprimentou. - Um pouco de café?

— Bom dia, quero sim, obrigada. - Carla escolheu uma cadeira para se sentar junto à mesa da cozinha.

Cebola foi até o armário e pegou duas xícaras, colocou-as sobre a mesa antes de pegar a jarra de café e se juntar à Carla. Os dois não começaram a conversar de imediato, talvez não soubessem o que dizer um ao outro, ou simplesmente não estavam a fim de conversar, mas Carla decidiu tomar a dianteira.

— Você está bem?

—Já estive melhor. - Respondeu Cebola bebericando um pouco do café. - Só não tenho vontade de fazer nada.

— E a escola? Pelo que sei o ano letivo ainda não acabou.

— Sim, estamos no último trimestre, mas eu consegui nota suficiente nos dois primeiros para não me preocupar com este.

— E suas faltas?

— Posso passar na escola e me justificar, acho que vão entender que não pude ir porque um assassino estava na minha cola. - Falou irônico.

— Cebola você... - Carla pensou no que iria dizer. - Eu sei que está passando por um momento difícil, eu também estou, mas estou continuando a viver. Você não pode ficar em casa trancado no quarto o tempo todo.

— Posso tentar.

— Estou falando sério. Porque... Você não tenta fazer algo?

— Por exemplo?

— Você poderia começar um estágio na empresa do Sr. Marcio, que Deus o tenha.

— Não, sinceramente, não estou com cabeça pra isso.

— Você não está com cabeça para nada, é uma boa ideia, confie em mim. Ter algo pra fazer vai te fazer esquecer um pouco do que aconteceu.

— Só que eu não quero esquecer. - Disse Cebola, firme.

— Cebola, querido, pensar no que houve não vai te ajudar em nada, só vai te fazer entrar em um estado mais mórbido de depressão. - Cebola suspirou. - Por favor, pense, é o melhor a se fazer agora.

— O melhor a se fazer? - Ele olhou para ela. - O melhor a se fazer agora seria ir atrás da Mônica e encontrá-la.

— O FBI já está encarregado disso.

— Ah, que grande alívio. - Ele riu sarcástico. - Eles também estavam encarregados de protegê-la e não deixar que nada acontecesse à ninguém naquela noite, mas aconteceu.

— Cebola, ninguém esperava que...

— Pois é, ninguém esperava. Mas aconteceu. E eles deveriam ter previsto algo assim, é o trabalho deles não?

Cebola se levantou e começou a andar pela cozinha, sempre fazia isso quando estava nervoso de raiva.

— Pare com isso, não pode culpá-los pelo que aconteceu.

— Posso sim, eles eram os responsáveis pela nossa segurança e enquanto ela era levada, eles estavam fazendo sei lá o quê na vigilância. Talvez tenham parado para comer um donut. - Fez piada.

— Está sendo ridículo e sabe disso.

— Nem sei mais o que estou fazendo. - Disse ele. - Sinceramente, não sei o que estou fazendo aqui. Deveria estar lá fora procurando por ela. - Ele parou de andar. - É, isso mesmo, é isso que vou fazer.

Cebola andou rápido até a sala. Carla se levantou da cadeira e tentou alcançá-lo.

— Cebola! Espere! O que vai fazer?

— Procurar por Mônica.

— Não! Você não pode fazer isso.

— Tanto posso como já estou indo. - Cebola abriu a porta de entrada, mas Carla o alcançou e fechou a porta antes dele passar. Ficou ali, entre o Cebola e a porta. - Saia da frente.

— Não.

— Carla, pare com isso. Agora você que está agindo feito criança.

— Que ótimo! É melhor agir como criança, do que ser comparada à alguém tentando se matar. Não percebe a loucura que está querendo cometer? - Disse.

— Por favor, me abra os olhos.

— Está mesmo querendo encontrar um assassino? Por que se você encontrar Mônica, vai acabar achando a pessoa que fez isso.

— Ótimo, acabo com dois problemas de uma vez, encontro Mônica e boto o outro cara atrás das grades, simples.

— Simples? Ah, claro, é muito simples, antes dele provavelmente te matar.

— Ninguém vai me matar.

— É claro que vão. Pense Cebola, quem quer que seja, sequestrou Mônica, não a mandou matar, então podemos constatar que ela esteja viva. - Carla falou, vendo que Cebola acompanhava seu raciocínio, continuou. - Se você tentar salvá-la ele ou ela vai te matar por isso.

— Sei muito bem dos riscos Carla, mas estou disposto a corrê-los. - Cebola tentou abrir a porta novamente, mas Carla interveio, não iria sair dali. - Argh! Me deixe sair! Tenho que salvá-la!

— Não, eu tenho que salvá-lo. - Ela foi firme. - De cometer uma loucura.

Cebola voltou até o meio da sala e começou a andar, ficando nervoso de novo.

— Alguma hora você vai ter que sair daí. Sabe disso.

— Isso não é um jogo, estou tentando salvar a sua vida.

— E eu quero salvar a de Mônica! - Ele explodiu. - Saia da frente e me deixe passar! O FBI não vai encontrá-la, e até encontrarem será tarde demais.

— Você tem que confiar neles.

— Eu já confiei e olha no que deu! Minha esposa foi sequestrada e o resto das pessoas que moravam aqui estão mortas. - Cebola parou de andar e se aproximou da porta. - Saia da frente.

— Cebola, por favor, me escute, você não está pensando direito. Só está com raiva e frustrado, acredite, eu sei como é sentir assim.

— Você me disse uma vez que seu marido e sua filha morreram em um acidente. - Esse assunto pegou Carla de surpresa. - O que faria se eles estivessem desaparecidos, correndo risco de vida, e não mortos? O que faria.

— Eu... - Aquele assunto ainda era delicado para Carla, mas tentou responder. - Eu faria qualquer coisa, os protegeria como pudesse, eu zelaria pela segurança deles.

— Então você me entende e sabe que deve me deixar ir.

— Não, não devo. - Ela continuou firme. - Você é uma pessoa que eu me importo muito Cebola, não vou deixar que cometa uma loucura. Você quer proteger Mônica, mas não vai fazer isso botando a sua vida e a dela em risco.

— Saia da frente Carla, caso contrário Mônica vai morrer se ficarmos parados.

— Não fale desse jeito. E eu não vou sair.

— Então você não se importa o bastante com ela.

— Já disse para parar de falar desse jeito, é claro que eu me importo.

— Não, não se importa. - Cebola continuou. - Se tivesse mesmo algum apreço por ela, estaria fazendo alguma coisa.

— Pare com isso.

— Vamos, confesse. Você não quer que eu vá por que quer que ela morra nas mãos do psicopata que a sequestrou. - Cebola disse isso e Carla arregalou os olhos, atônita.
— Vamos! Diga! Sei que estou sozinho nessa, o FBI fez sua cabeça, lhe dando esperanças de iriam voltar com boas notícias, você vai ficar aqui de braços cruzados sem fazer nada. - Ele se aproximou dela. - Você não vai sair da frente por que confia em pessoas que não estão nem aí com a vida dela, concluindo, você não dá a mínima para ela, é uma covarde que tem medo de agir e tomar uma atitude, você quer que a Mônica morr...

PAF!!!

Cebola parou de falar, surpreso com o forte tapa que havia levado de Carla, ele tropeçou na escada que ficava entre a sala e a porta e caiu sentado. Carla agora o olhava com fúria, como se fosse bater nele.

— Nunca esperei ouvir esse tipo de coisa de você. - Ela falou, decepcionada. - Está tão cego de frustração e raiva que nem consegue ouvir o que diz.

— Carla...

— Cale a boca! - Ela gritou. - Nem mais um palavra, você não sabe o que disse. Eu me importo muito com a Mônica, provavelmente muito mais do que você já se importou com ela a vida toda. - Continuou. - Eu respondi o que faria se minha filha estivesse correndo perigo, que a protegeria. E é o que estou fazendo agora, Mônica é minha filha e está correndo perigo e se ela ainda estiver viva eu não vou deixar que ninguém ponha a própria vida e a dela em risco, muito menos você.

Depois disso, nenhum dos dois falou mais nada, mas depois que as palavras de Carla assimilaram na cabeça de Cebola, ele ficou confuso.

— Mônica é sua filha? - Ele perguntou.

Carla parou de olhar feio para ele e começou a pensar no que havia dito, seu coração congelou, não acreditando no que tinha confessado.

— Os pais de Mônica morreram em um acidente e você, também perdeu o marido e a filha em um... - Pela primeira vez em dias as engrenagens dentro da cabeça de Cebola começavam a funcionar. Assim que ele assimilou a "coincidência" ele se levantou devagar com os olhos arregalados ainda tentando entender.

— E-Espera um pouco, você realmente é a mãe de... Mas, como isso aconteceu? Por quê guardou segredo todos esses anos? Do que estava se escondendo?

— Chega. Foi conversa demais para um dia. - Carla passou por Cebola, indo em direção às escadas.

— Carla! Espere! Por que mentiu?

— Não vou responder nada! Me deixe em paz!

Ela subiu correndo as escadas, Cebola tentou acompanhar, mas ela foi rápida e se trancou no quarto antes que ele pudesse alcançá-la.

— Carla? Abra a porta. - Ela não respondeu. - Vamos conversar, por favor, me desculpe. - Ainda nada. - Carla?

Cebola ficou em frente à porta por uns cinco minutos, depois concluiu que Carla precisava de privacidade, falaria com ela mais tarde. Desceu as escadas e se sentou em um dos sofás da casa.

Ele suspirou cansado. Mônica está desaparecida, o FBI não deu notícia nenhuma, Carla é a mãe de Mônica - ainda teria que confirmar essa história – e ele não podia fazer nada sobre essas coisas, apenas sentar e esperar para que tudo se esclareça.

Sabia que ficar olhando para o relógio não ia fazer o tempo passar mais rápido, decidiu dar uma volta, retornaria à noite, quando Carla estivesse mais tranquila. Foi até a garagem, pegou a chave da moto, montou na mesma e saiu.

...

O som do mar, das ondas se quebrando, era ótimo. Por que quando se está na praia você só precisa escutar e ficar atento ao mar para que todos os seus pensamentos vão embora. Nada mais o perturba, pelo menos, era assim que Cebola se sentia agora. A beleza do mar com seu horizonte, junto com sua fúria no quebrar de ondas refletem o tipo de conforto que precisava. Serenidade e turbulência, tudo no mesmo lugar.

Riu de si mesmo, parecia uma adolescente apaixonada com o coração quebrado pensando desta maneira. Carla tinha razão, após dias trancado no quarto ele tinha se embriagado de medo e culpa. Medo por Mônica, por não saber como ela está ou o que está passando e culpa por deixar tudo isso acontecer.

Se arrependeu ainda mais por ter falado aquelas coisas do FBI, Larry o ajudou muito, até deixou que dois civis participassem de uma operação de busca, pelo que sabia, ele podia ter sido punido por isso. Sorte que não tiveram mais complicações.

Carla... Deveria pedir desculpas assim que a visse, não tinha direito, muito menos desculpa para ter falado com ela daquela maneira. Mas, depois que se desculpasse, imploraria por respostas e explicações sobre ela ser mãe de Mônica. Por que esconder um segredo assim? Por que mentiu para todos?

Rodou por duas horas para chegar até a praia mais distante de Miami e só tem essas três coisas para pensar. Bem que poderia morar em um lugar mais silencioso, assim não precisaria viajar tanto para conseguir silêncio.

...

No caminho de volta pra casa, Cebola parou em uma cafeteria no centro da cidade. Era um lugar agradável, talvez o único que não tivesse surfistas por todo o lado.

— Boa tarde senhor, em que posso servi-lo? – Perguntou o funcionário chamado Martin. Era o que dizia o crachá.

— Um café normal com açúcar e leite. Por favor.

— Um instante e já vou levar para o senhor.

— Obrigado.

Cebola saiu de perto da bancada e escolheu um sofá para se sentar, havia um no canto com vista para a rua. Se sentou ali e esperou seu pedido. O lugar estava tranqüilo, apenas com mais alguns dez ou doze clientes. Três minutos depois o homem que o atendeu trouxe o seu café, junto com a conta.

— Cebola? – Ele escutou depois que tomou seu primeiro gole da bebida. Eram Magali e Cascão, haviam acabado de entrar.

Cebola sorriu e se levantou para cumprimentá-los.

— Ei cara! Tudo bem? – Falou Cascão, abraçando o amigo. – Você parece cansado.

— E estou mesmo, obrigado. – Ele sorriu. – Como vai Magali? – Ele a cumprimentou com um beijo na bochecha, ela retribuiu.

— Estou bem.

— Sentem-se. – Os três se sentaram no sofá onde Cebola estava. Um funcionário veio atender os novos clientes. Cascão pediu um capussino e Magali um chá com mel. – Como passaram os últimos dias?

— Voltados com a vida normal, escola, deveres, ajudar a mãe com a casa, essas coisas. – Disse Magali.

— Eu estou treinando para um campeonato de skate para daqui dois meses, se seguir com o mesmo treino toda semana, o primeiro lugar é garantido. – Falou Cascão com orgulho. – E você careca? O que tem feito?
— Bom, desde àquele dia não fiz nada além de não sair do quarto. – Foi sincero. – Mas, tirando isso, fui à praia, sabe, relaxar um pouco.

— Tem alguma notícia? – Perguntou Magali.

— Não... Nada. Nem uma ligação.

— Não desanime, só se passaram alguns dias, não vamos conseguir achá-la de um dia para o outro, mas uma hora ela vai aparecer. – Disse Cascão.

— Valeu o apoio. – O funcionário chegou com os pedidos de Magali e Cascão, ele deixou a conta e voltou para os seus afazeres.

— Cebola, toda essa situação é muito difícil pra todo mundo, mas você não pode continuar assim. – Falou Magali. – Ficar parado de braços cruzados não vai te ajudar em nada.

— Eu sei Magali, até tive a ideia de ir atrás da Mônica e...

— O quê?! Ficou maluco? – Os dois exclamaram quase na mesma hora.

— Eita, ensaiaram essa?

— Cebola, velho amigo, você está brincando, certo? – Disse Cascão.

— Não, eu realmente iria fazer isso.

— Iria. Não vai mais, espero. – Magali falou. – Cebola, toda essa situação é muito perigosa, se o FBI está atrás desses caras, eles não são pessoas muito amigáveis e pacíficas. – Continuou. – O melhor a se fazer agora é seguir com a vida, e não se torturar mentalmente entre quatro paredes, assim você ficará louco. – Ela pegou na mão de Cebola e olhou dentro dos seus olhos. – Eu sei que ama a Mônica, eu também a amo, ela é minha melhor amiga e de vez em quando demoro a dormir pensando no que ela está passando naquele momento, se está bem ou não, mas um novo dia nasce, e ainda tenho esperanças de que Larry irá conseguir resgatá-la de seja lá quem for.

— Eu sei... – Cebola disse. – Já refleti muito sobre tudo isso hoje, você e Carla estão certas, não adianta ficar na cama o dia todo, faz muito mal em muitos sentidos.

— Ei careca, você pode vir andar de skate com a galera, vai ser divertido. – Cascão sugeriu.

— Obrigado pela oferta, mas eu já tenho planos. – Ele falou e os dois o olharam confusos.

...

Estava escurecendo quando voltou pra casa. Guardou a moto na garagem e entrou, para sua surpresa, encontrou Carla sentada junto à mesa, ela apenas olhou para ele, sem dizer nada. Cebola jogou as chaves em cima da mesa e com passos lentos andou até a cadeira de frente à de Carla e se apoiou nela. Pensou um pouco antes de falar, mesmo sabendo o que iria dizer.

— Me desculpe. – Falou. – Carla, me desculpe pela maneira como falei com você. Tinha razão, eu estava... Cego de raiva e frustração. Passei tanto tempo naquele quarto que acabei perdendo qualquer noção de controle ou limite. – Ela não disse nada, então continuou. – Se não quiser falar mais falar comigo eu entendo, vou respeitar os limites agora.

— Não. – Disse ela pela primeira vez. – Se afastar de tudo e de todos não foi uma solução, continua não sendo. – Ela olhou para ele. – Não preocupe Cebola, eu te perdôo. Só não faça de novo, caso contrário tem outro tapa de onde o primeiro veio.

— Você tem uma mão pesada. – Ele sorriu. – E, Ahn... Sobre aquilo que me contou. É verdade?

Carla não disse nada, fez um sinal para que ele se sentasse.
— Esse é um segredo que venho guardando há anos, nunca contei a ninguém, a não ser àqueles que me ajudaram na época. – Ela olhou para Cebola. – Acho que está na hora de contar, bem, começou...

...

“Começou à quase dezoito anos atrás. Eu estava junto com meu marido e Mônica, ainda com poucos meses, estávamos na estrada indo para a mansão de Marcio, ele nos convidou para um jantar de fim de semana, além disso, ele não cansava de olhar para a neta.

Mônica estava dormindo na cadeirinha no banco de trás do carro, estava tudo indo muito bem e tranqüilo, até colocamos uma música da rádio pra tocar. De repente, sentimos alguém bater no nosso carro. Meu marido quase perdeu a direção, mas conseguiu controlar o carro. Ele olhou no retrovisor, era um motoqueiro. Mais uma batida, dessa vez ele não teve escolha se não acelerar o carro para tentar se livrar dele.

Nós conseguimos escapar por alguns quilômetros, mas, infelizmente, o cara estava armado, ele começou a atirar e conseguiu atingir um dos pneus. Perdemos o controle do carro, saímos da estrada e o carro atingiu um poste.

Não sei exatamente o que aconteceu depois disso, eu desmaiei. Quando acordei, estava no hospital, havia uma enfermeira, ela acabou me explicando tudo. Após a batida, uma mulher que estava dirigindo nos viu e chamou socorro. A ambulância chegou quinze minutos depois, felizmente, a cadeirinha protegeu Mônica, ela estava bem, sem nenhum arranhão, eu bati a cabeça e sofri alguns arranhões pelo vidro quebrado, nada muito grave.

Mas foi meu marido que sofreu mais, tinha vários arranhões também, uma perna quebrada, braço quebrado e... Um tiro de bala na cabeça. Provavelmente o motoqueiro queria nos matar, mas não sei por que ele só atirou nele e não em nós, talvez pensou que estávamos mortas, ou não éramos o “alvo”.

Só sei que, depois disso, Marcio ficou arrasado, perdeu seu único filho. E eles eram muito próximos. Não tive forças para ir ao enterro, fiquei em casa olhando pra Mônica dormindo no berço. Foi aí que tive a ideia mais maluca do mundo.

Alguns dias após o enterro consegui conversar com Marcio, ele parecia mais calmo. Contei a ele o que havia acontecido, ficou confuso, assim como a polícia que havia me interrogado, mas por medo pedi para eles manterem minha identidade em sigilo. Eu estava morrendo de medo de morrer, um assassino matou meu marido naquela noite, por que ele não faria o mesmo comigo, caso algo a mais acontecesse?

Estava com medo de tudo e de todos, mas o meu maior temor era deixar Mônica sozinha. Ela já não iria conhecer o pai, detestaria a ideia de não vê-la crescer. Por isso, pedi a ajuda de Marcio, queria que ele se tornasse o responsável legal de Mônica, enquanto eu mudaria meu nome e aparência e trabalharia na mansão como empregada. Ele achou uma loucura, mas eu estava desesperada e morrendo de medo.

De tanto insistir ele não teve como recusar, cuidamos de toda a papelada. Naquele dia, Luísa Path Sousa se foi e Carla Soares nasceu. Sorte que eu era boa em arrumar a casa, consegui fazer um bom trabalho por todos esses anos e ver meu anjo crescer, apesar dela me chamar de babá na maioria das vezes ao invés de mãe. Me cortava o coração quando ela era pequena e perguntava sobre os seus pais, e eu tinha que explicar à ela todas as vezes que eles não tinham partido por culpa dela, que tinha sido tudo um acidente e que onde quer que eles estivessem, ela deveria ter certeza de que eles a amavam muito.”

...

Cebola ainda estava bestificado com a história. Quanta loucura! Nunca pensou que alguém seria capaz de fazer isso por um filho. Carla, ahn, quer dizer, Luísa, teve muita coragem.

— Carla... Quer dizer, Luísa. Ah, nem sei mais como te chamo.

— Pode continuar a me chamar de Carla, Luísa morreu há muito tempo.

— Eu não sei o que dizer. Você realmente fez uma loucura.

— Eu sei, mas não tive escolha. Era isso ou enlouquecer de medo.

— Entendo... – Cebola ainda não tinha uma reação para tudo àquilo, quando o mundo resolveu endoidar?

— Cebola. – Carla começou depois de um momento em silêncio. – Eu cuidei de Mônica a minha vida toda, graças a Deus, e pode acreditar, ela puxou em muito de mim e do meu falecido marido. – Ela sorriu. – Sei que uma das qualidades mais fortes dela é que ela nunca desiste ou se entrega facilmente, você deve saber disso. – Ela viu Cebola acenar com a cabeça. – Onde quer que ela esteja, sei que ela vai voltar, é uma garota de fibra e se ela quiser mesmo voltar pra casa, acredito que conseguirá fazer isto sozinha.

— Acredita mesmo nisso?

— Bom, sim, afinal ela é minha filha, tenho que acreditar nela. – Carla sorriu. – Por saber disso eu tenho forças para levantar todas as manhãs, esperando alguma notícia dela.

— Sim. – Cebola não queria ser chato, mas esse tipo de pensamento é meio mórbido, melhor deixar o comentário morrer e se focar em outras coisas. - Carla, o assunto sobre fazer um estágio na empresa que me falou mais cedo, será que consigo um lugar?

— Ah, sim. – Ela sorriu mais ainda. – Com certeza eles vão te aceitar, talvez tenham criado alguma atividade extracurricular para estudantes do ensino médio que se interessam pela área de administração. – Ela quase riu quando Cebola fez uma cara engraçada de quem não estava entendendo nada. – É outro assunto que eu queria conversar com você. – Carla pegou um envelope que estava de baixo da mesa e o colocou na frente de Cebola.

— O que é isso?

— Você se lembra de que no dia em que o advogado leu o testamento de Marcio ele me deixou esse envelope? – Cebola se lembrava vagamente, mas fez que sim com a cabeça. – Depois do que aconteceu com seu pai, Marcio ficou mais cauteloso, ele desconfiava de algo, mas nunca conversou sobre isso comigo, apenas me deixou isso.

— O que é?

— Aí dentro tem um documento passando a parte dele da empresa e de todas as outras posses no meu nome. Ele também me tornou a tutora legal de vocês dois, claro, enquanto ainda estivessem em menor idade.

— O QUÊ?! E-Então, você é...

— Sim, eu sou a presidente da Restore e de todas as outras. – Ela disse, se segurando para não rir do espanto de Cebola. – Venho trabalhando escondida durante todos esses meses, até que o trabalho é bom, senti saudades de trabalhar em um escritório. Aliás, eu sou formada em administração e já fui funcionária de Marcio, foi assim que conheci o filho dele, no trabalho.

A cabeça de Cebola rodava, era muita informação para um dia só.

— Preciso de água... - Ele foi até a geladeira e tomou água direto da jarra. Quando respirou um pouco, se virou para Carla. – Tem mais alguma coisa que eu deva saber?

— Quebrei seu celular.

— O QUÊ?!

— Haha! Calma, estou brincando. – Carla riu. – Se você confirmar pode começar o estágio na semana que vem mesmo, mas tem que ir à escola explicar suas faltas e garantir a nota para a faculdade.

— Não se preocupe, farei isso. – Ele se aproximou de Carla e estendeu a mão para ela. – Vai ser muito estranho trabalhar com você, sogrinha.

— Tive medo que você me chamasse assim. – Disse Carla fingindo desapontamento, fazendo Cebola rir.


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Notas finais do capítulo

E aí? Vocês esperavam por essa? A mãe verdadeira de Mônica ainda está viva, e ela nem sabe disso :P


O que vocês acham que vai acontecer? Digam nos comentários. Uma pequena prévia: Nada mais de segredos, tudo será revelado na semana que vem. Fiquem atentos ;)



Té+!




Ps: Eu postei uma One-Shot, (É uma história de um capítulo só) se estiverem interessados em ler, o link é esse: https://fanfiction.com.br/historia/673292/Um_dia_com_Lisa_Child_-_One_Short/


Espero que gostem :)