As Cores da Liberdade escrita por Ryskalla


Capítulo 4
Quarta Carta - Um Garoto Ingênuo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Estou aqui para postar mais um capítulo da história do Cedric. Nesse capítulo respondo um dos "mistérios", mas ainda tem muita coisa para acontecer. Bem, queria agradecer os comentários/reviews (ainda irei me acostumar, haha), pois eles são muito especiais para mim! Vocês não sabem o quanto me deixam feliz com isso. Acho que é tudo, espero que continuem gostando da história! Beijos!



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Caro Charles,

Hoje foi o grande dia. O dia que ganhei os céus e pude finalmente ver seu maravilhoso tom de azul. Devo dizer, Charles, que nada havia me preparado para o que eu iria ver. Tudo foi muito mais maravilhoso do que eu havia sonhado.

Todos pareceram realmente assustados com minha decisão, os guardiões da cidade tentaram me impedir, porém eles jamais conseguiriam. Além disso, Alice parecia determinada em me ajudar.

Deu um pouco de trabalho colocar minha cadeira de rodas dentro da cesta, afinal, ela é mais pesada que uma cadeira normal. O fato é, Charles, que fiz diversas alterações nessa cadeira, já que eu estava condenado a viver eternamente preso à ela, quis deixá-la o mais... confortável possível.

— Logo estaremos partindo, o balão está quase cheio. — Alice avisara alegremente enquanto pulava para dentro da cesta. — Logo você irá realizar seu sonho, loirinho.

— Loirinho? — Franzi o cenho, não conseguia me lembrar quando havíamos adquirido um grau de intimidade tão alto.

— Sim, por causa do seu cabelo loiro. Prefere branquelo? — Havia algo no sorriso dela que me impedia de ficar bravo. Não era como ela quisesse me irritar, ela queria me divertir. Entretanto, devo dizer que ela não parecia ter muita experiência no assunto.

— Eu não sou branquelo. E eu tenho um nome, sabe? Eu gosto desse nome, então, por favor me chame de Cedric. — Sinto muito, Charles, por não ter conseguido ouvir a resposta dela.

Naquele momento, a presença de Hexabelle me distraiu. Ela me encarava não muito distante do balão. Seu olhar era tão... triste. Queria poder abraçá-la, mesmo sabendo que não era possível.

— Você é muito ingênuo, Cedric... Correr atrás de seus sonhos sempre tem um preço, sabia? Eu... eu me preocupo com você. Você não deveria ir lá para cima, sabe... foi lá que eu morri. — Eu não sabia o que responder, abri e fechei a boca diversas vezes, no entanto as palavras simplesmente não vieram. Fiquei mudo, assistindo Hexabelle desaparecer e sentir o balão começar a se afastar do chão. Ouvia vagamente Alice gritando um animado “Adeus” para meus antigos vizinhos. Não consegui desviar os olhos do lugar onde Hexabelle desaparecera.

Em algum momento, senti a mão de Alice no meu ombro. Foi como se eu houvesse saído de um transe.

— Olha. — Estávamos quase saindo da Fenda. Em uma questão de segundos...

Sinto lhe dizer, Charles, mas esqueci completamente de Hexabelle.

Porque, como eu disse inicialmente, eu não estava preparado para a beleza daquilo.

Passei todo o dia observando o céu, vez ou outra conversava com Alice, porém ela parecia respeitar o meu encantamento. Era quase como se ela soubesse o que eu estava sentindo.

— Fica melhor quando o dia termina, geralmente é o momento favorito da maioria das pessoas. — Veja bem, Charles, não é que eu não tenha gostado do pôr do sol. Aquilo foi uma das coisas mais belas que eu já presenciara. Naquele balão, diferentemente da Fenda, o entardecer era maravilhoso. Pergunto-me se havia alguma coisa que parecesse maravilhosa naquele lugar... Desculpe, creio que tenha me perdido, o que eu quero dizer é que: eu prefiro a cor do céu durante o dia. Azul sempre foi minha cor favorita e sempre foi uma cor difícil de encontrar na Fenda.

— Acho que sou diferente da maioria das pessoas. — Deixei que um sorriso se formasse em meu rosto. Imagino que foi a primeira vez que sorri verdadeiramente desde Aquele Dia.

— Isso eu posso ver. — Ficamos nos encarando por um longo momento, podia sentir meu coração batendo contra meu peito. Até que ela desviou o olhar, e então tudo pareceu voltar ao normal. Não consigo entender o que se passou naquela hora, Charles, talvez você ou Hexabelle pudessem me dizer. — Estive me perguntando... O que houve com seus pais?

— Como assim? — Como chegamos nesse assunto, não posso nem imaginar. Contudo, as coisas eram assim com Alice. Perguntas inesperadas em momentos aleatórios. Isso me irritava no início, agora começo a achar que talvez não seja algo difícil de acostumar.

— Você nunca me falou sobre eles. Digo, nos conhecemos há pouco tempo, mas, geralmente as pessoas sempre fazem alguma referência. É como se seus pais nunca tivessem existido. — Ela pegou uma mecha de sua franja e a colocou atrás da orelha, entretanto, não desviou o olhar em nenhum momento. Parecia extremamente concentrada no que quer que eu tivesse para dizer.

— Bom, minha mãe sempre foi uma aventureira, creio. Ela jamais conseguiria viver na Fenda, abandonou meu pai quando eu completei dois anos, mas ele nunca ficou irritado com ela... É como se ele a entendesse. Ele aceitou o fato de que jamais voltaria a vê-la, e eu não sinto essa necessidade de descobrir quem ela é. Foi uma escolha dela, eu talvez fizesse o mesmo. — Encarei o céu por um período, observando as estrelas exibirem seu brilho lentamente. Era uma noite estrelada, exatamente como aquela noite do ataque e isso, por algum estranho motivo, não me deixava triste. — Charles morreu no dia que perdi a capacidade de andar, porém seu corpo nunca foi encontrado. É bem comum, nesses ataques. É uma dor que o inimigo quer impor à família, selecionam alguns corpos e os levam embora.

— Charles? — Pude notar a confusão da voz de Alice. Soltei uma breve risada, lembrando-me do que você sempre me dizia.

— Meu pai, bom, ele nunca gostou que eu o chamasse de pai. Dizia que isso o fazia sentir-se mais velho do que ele realmente era. Então pedia que eu o chamasse de Charles, acabei me acostumando a isso. Talvez eu chamasse minha mãe pelo nome também, mas Charles nunca disse o nome dela. — E eu nunca tive a curiosidade de perguntar, pensei. Provavelmente minha mãe estava morta, ou talvez desistira de se aventurar e montara uma nova família. Graças a você, Charles, não me sinto amargurado com esse tipo de coisa. Não amo minha mãe, mas a respeito. Não nutro nenhum sentimento negativo por ela e isso é menos um peso para meu coração. — E quanto a você?

— Quanto a mim? — Fiquei completamente satisfeito por despertar nela o mesmo tipo de reação que ela despertava em mim com esse tipo de pergunta. Creio que ela percebeu, pois retribuiu meu sorriso e respondeu em um tom distante. — Eu só tenho esse balão... Trabalho como, bem, acho que o termo certo seria correio, porém caçadora de recompensas também se aplica. Tem alguém especial... que está esperando por mim.

Aquela frase de algum modo me incomodou. Certo, não sei dizer a razão, ela poderia estar falando de algum familiar e mesmo que não fosse, bom, não havia motivos para me incomodar com aquilo. Pergunto-me se o ar puro está me enlouquecendo, Charles.

— Amanhã. Amanhã irei lhe mostrar o mar. — Ela fechou os olhos e não falou nenhuma outra palavra durante toda a noite. Fiquei acordado, Charles, escrevendo e observando as estrelas. Li em algum lugar que o Sol é uma estrela também, mas que como está muito próxima, podemos ver sua cor mais intensamente. Particularmente, prefiro as estrelas distantes que exibem um pálido tom de azul... Acredito que tenho uma preferência irracional por tudo aquilo que não posso alcançar ou tudo aquilo que, de certa forma, é capaz de me iludir.

Talvez Hexabelle tenha razão. Acho que sou realmente muito ingênuo.


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