“Proclamavam pelo reino um infortúnio que acontecera com a princesa. Seu tesouro fora saqueado por um desconhecido alguém. Lágrimas de desespero eram visíveis no rosto da jovem, que sofria por sua fortuna desaparecida. Porém, sua determinação e ganância sobejavam junto com o ódio. Ela iria encontrar sua preciosidade, mesmo que, por isso, derramasse gotas de sangue.”

Desespero era o que exalava não só em meu corpo e cabeça, mas em toda a casa. Onde quer que passava, deixava rastros de aflição no ar. Revirava lençóis, abria gavetas, arrastava os móveis... Tudo isso para alcançar de volta em minhas mãos os meus preciosos papéis perdidos.

Porém, nada vale uma mão se movendo sem uma cabeça pensando. Agachei no chão e apoiei meu rosto nas mãos. Franzi a testa para forçar a memória... Onde os coloquei?

-Rogue! – lembrei-me rapidamente da sua presença em meu escritório, lendo os capítulos que, por coincidência, sumiram. Coincidência? Talvez não... Iria procurá-lo, e seria agora!

Saí pela porta sem pensar duas vezes. Peguei um táxi, que me deixou exatamente no local em que Rogue se hospedara.

-Ele não teria feito isso de propósito... Não é? – perguntei a mim mesma. – Não, não... Foi só um engano.

Entrei no hotel pela gigante porta que revestia a fachada. Por dentro, era imenso e bem decorado. Fez-me olhar para cima por alguns instantes observando o teto branco com seus lustres que iluminavam tudo. Despertei-me do encantamento pelo local e logo cheguei à recepção.

-Levy McGarden?! – a funcionária logo reconheceu meu rosto.

-Sim... – tentei sorrir mostrando simpatia. Porém, não era do meu agrado quando me reconhecessem. Isso me fazia lembrar do desprezível Amor Eterno, que criou milhares de leitores com palavras inúteis. Deus, o que diabos têm naquelas páginas que fizeram as pessoas se apegarem tanto?

-Ah, sou uma fã sua! Seu livro é simplesmente perfeito!

-Puxa... Obrigada. – eu ri, contudo, queria chorar.

-Visita?

-Sim. Rogue Cheney.

-Ah, sinto muito. Rogue foi embora faz algumas horas.

-Como? Mas ele só ia voltar na próxima semana.

-Pois é, mas ele arrumou as malas e cancelou as diárias aqui no hotel.

Não estava crendo naquilo! E se ele estivesse com os meus capítulos?!

-Pra onde ele foi? – perguntei

-Ele não disse, mas é bem provável que esteja voltando para sua cidade.

-Vocês têm o número do celular dele ou algum outro contato?

-Sinto muito, mas nada.

-Desgraça! – após dizer isso baixo, mas claramente, saí do hotel. Iria à cafeteria. Recordo-me que Mira conversara com ele algumas vezes. Quem sabe ela não teria seu número? Peguei novamente um táxi, que me deixou bem na porta da cafeteria. Já dentro do local, encontrei Gajeel atrás do balcão, ele parecia entediado, o movimento por lá estava fraco. Quando ouviu o barulho que fiz com o abrir da porta, ele desviou o olhar e me olhou com uma cara de desprezo. Não me importei, ou pelo menos tentei... Apesar de nem conhecer ele muito bem, sentia falta de nossas conversas e das vezes em que compartilhávamos alguns daqueles biscoitos divinos.

-Oi. – eu disse. Precisava mostrar-me uma pessoa que não guarda rancor se quisesse sua amizade de volta.

-Olá... – ele sorriu um pouco, mas não olhou para mim.

-Mira está por aqui?

-Não, ela tirou uma semana de folga.

-Ela está na casa dela?

-Não. Disse que viajaria para a praia com uma pessoa.

-Que pessoa?

-Não sei. – desta vez ele me encarava. – Aconteceu algo?

-Sim... – disse sentando no balcão.

-Quer falar sobre isso?

-Quer ouvir? – disse apoiando minha cabeça nos braços que estavam sobre o balcão.

-Claro.

-Perdi meus capítulos.

-Procure-os.

-Já procurei.

-Então faça outros.

-Não posso simplesmente substituí-los.

-Lembre-se do último lugar que os viu.

-Estavam nas mãos de alguém.

-De quem?

-Ah, apenas alguém.

Um breve silêncio exalou naquele lugar. Eu, triste e frustrada. Já tinha tomado uma decisão enquanto conversava com Gajeel: desistiria da carreira de escritora. Foram ótimos momentos que passei escrevendo e bolando novos contos. Mas não estava com nenhuma vontade de sair por aí em busca desses malditos montes de papéis, que agora, considerava lixo sem nenhuma razão.

-Fala pra mim. – ele aproximou-se de mim. – Quem foi que pegou seus capítulos?

Senti meu rosto corar com a sua proximidade do meu rosto.

-Ninguém importante. – disse levantando-me rapidamente. – Preciso ir.

Saí pela porta principal, deixando a cafeteria sem olhar para trás. Queria chegar em casa e excluir da minha vida, do meu pensamento, os capítulos que sobraram.

A questão é que, talvez eu estivesse enganada. Rogue era uma pessoa muito dócil e gentil. Tinha uma breve certeza de que ele não faria isso comigo. Ou talvez, eu deveria ter me esquecido de procurar em algum lugar. Eu não podia me precipitar. Foi um longo caminho até chegar ao sucesso, e não era o certo desistir tão facilmente por algo que lutei constantemente. Eu nunca estava satisfeita. Por mais glória que minha primeira obra obteve, não conseguia encontrar qualidades nela. Também não sentia mais prazer em escrever como antes, repentinamente, perdera a vontade de sentar e digitar minhas idéias. Mas e o público? Aqueles ingênuos que amaram Amor Eterno... Eles pediam por mais. Porém, deveria lutar pela minha própria vontade. Ah, quem dera ser fácil tomar decisões...

Continua...