Amor de irmão

Deixa eu mimar você, adorar você
Agora, só agora
Por que um dia eu sei
Vou ter que deixá-lo ir!

Eu havia jurado que odiaria aquela criança, desde que soube que mamãe estava grávida, pelo fato de ela já nascer um shinobi, em propósito da guerra, pela minha mãe ser usada como propriedade da aldeia para o seu nascimento.

Mas aquele olhar que ele me lançou, e o jeito que ele parecia tão adorável e frágil, mostrando que ele nao tinha culpa de nada que lhe fizeram, me fez desistir dessa estúpida ideia. Eu iria protegê-lo de tudo e tentaria ao máximo impedir que ele fosse uma ferramenta da aldeia.

—Posso pegá-lo mãe

—Claro – disse ela – senta aí.

Eu me sentei e então ela me entregou o pequeno Yukiyo nos braços. Eu sorri acariciando de leve seu rosto.

—Nossas vidas serão diferentes a partir de agora – ela disse, levantei a cabeça e olhei em seus olhos, sua expressão era de seriedade – trabalharemos mais pra poder criá-lo com uma vida digna, assim como você esta tendo.

—Sim, vou me empenhar em ser um ninja, apesar de isso não ser minha vontade. E vou te ajudar na nossa loja – ela sorriu pra mim, daquele jeito que me cativava.

Logo depois que verificaram a saúde do meu pequeno irmão, o ninjas medico, deu algumas recomendações e se retirou.

Era umas seis da tarde então resolvi preparar o jantar, já que minha vó havia saído junto com os ninjas médicos, atras de informações como sempre fazia quando eles iam em casa.

Eu consegui preparar um macarrão com alguns simples legumes e quando terminei o jantar, levei-o para a minha mãe e comi sentado nos pés  da cama, de frente pra ela, enquanto Yukiyo dormia.

O momento que eu mais gostava junto com a minha mãe era o jantar, era o momento sagrado que lembrávamos do meu pai pois era nessa hora que ele entraria por aquela porta, nos beijaria e sentaria para comer. Sem nenhum dos dois dizer nada, sabíamos que estávamos pensando nele, era meio que uma conexão entre mim e a minha mãe.

Quando terminamos de comer levei os pratos para a cozinha, os lavei e então guardei, dei uma arrumada na cozinha, varrendo-a. Então tranquei a porta de casa, verifiquei as janelas e fui para o quarto. Troquei de roupa e então deitei na minha cama, que era ao lado da cama da minha mãe.

—Boa noite mãe

—Boa noite querido – ela estava de costas pra mim, abraçada com Yukiyo, e eu me surpreendi mais uma vez não tendo ciúmes daquela cena: o garotinho de olhos verdes realmente me conquistara.

Eu me deitei na cama e fiquei pensando em tudo que poderia acontecer com o Yukiyo. Ele provavelmente seria tirado da gente logo que crescesse, ou talvez amanhã mesmo isso aconteceria. Não podia deixar isso acontecer com ele, mas eu não conseguiria impedir. Não era forte o suficiente para proteger ele e minha mãe, teria que treinar, me mostrar mais forte. Esse pensamento me causava um pouco de medo.

—Dei-kun? – minha mãe disse, me assustando – quer deitar aqui com a gente?

Não me dei o trabalho de responder, levantei-me e fui ate a cama de casal da minha mãe deitando ao lado de Yukiyo. Fiquei virado para o lado, de frente para minha mãe que já estava dormindo. Yukiyo estava entre nós, de olhos fechados, também dormindo, parecia um anjinho. Daquele momento em diante deixei claro pra mim mesmo que nunca deixaria nada acontecer com ele.

Que mais posso fazer?
Só te olhar dormir
Agora, só agora
Correndo pelo campo
Antes de deixá-lo ir!

—_______________ Três anos depois._____________ 

Havia passado três dias em uma missão com Kurotsuchi, Akatsuchi e nossa sensei. Os dois só brigavam, e eu achava aquilo tudo bem chato e desnecessário. Definitivamente eu não gostava desse negocio de equipe e de "trabalhar pela vila"

A sensei nos liberou e finalmente poderíamos ir pra casa e esquecer dessa coisa de ser ninja. O único motivo por eu continuar com isso era para ajudar minha mãe com a casa, sem falar do meu pequeno Yukiyo. Corri um pouco e rapidamente cheguei em casa.

—Querido, ainda bem que voltou – minha mãe me abraçou fortemente assim que cheguei em casa – como foi a missão?

—Chata como sempre – disse colocando minha mochila em cima do sofá. Coloquei a mão no bolso e tirei um pequeno bolo de dinheiro, entregando para ela – aqui esta o dinheiro da missão

— Toma a metade.

— Não precisa mãe. Eu não preciso –ela sorriu e me abraçou novamente - A senhora não vai abrir a loja?

— Estava esperando você chegar.

Fomos ate uma porta que ficava no fim do nosso quarto, ao abri-la estávamos dentro de um pequeno depósito. Era lá que eu fazia e decorava meus objetos de argila para que minha mãe pudesse vender. Desde que me entendo por gente tínhamos essa loja, argila estava no nosso sangue, literalmente por causa do nosso kekkei genkai que fazia crescer bocas em nossas mãos na puberdade. Essas mãos faziam a argila se tornar explosiva, e as modelavam, mas isso era apenas um detalhe.

Me preparei e fui terminar alguns trabalhos enquanto minha mãe foi cuidar das vendas. Foi quando eu escutei aquela vozinha que amolecia meu coração.

—Onii-chan – Yukiyo veio correndo em minha direção com aqueles cabelos vermelho escuros, quase pretos. Ele usava uma camiseta antiga minha que ficava enorme em seu corpo (ele a adorava) e segurava um urso de pelúcia que minha mãe havia feito pra ele. Abaixei e o abracei.

— Saudade – ele não falava muito bem ainda.

—Eu também. Que tal você me ajudar a fazer uns desenhos? – ele sorriu – aqui.

Entreguei um pedaço de argila seca que não usaríamos e uns pinceis com tinta, ele jogou seu urso para o lado e sentou-se no chão, ao meu lado, pintando no pequeno pedaço de argila.

Eu olhei pra ele e então nós dois sorrimos, um olhando nos olhos do outro, e não acreditei em como pude um dia imaginar que o odiaria.