Crianças

No meio do pátio eu treinava, sozinho, usando a pequena katana, com toda raiva que eu tinha dentro de mim, girando e tacando esferas de lava para todos os lados. Eu notei que realmente nunca teria um amizade ali dentro. Cheguei a perceber a mudança do Kimimaro, porém nunca imaginei que ele faria isso. No fim das contas, ele não era diferente do Kabuto ou do Orochimaro.

Algum tempo se passara e eu chegara aos meus dez anos, o dia do meu aniversário não era tão feliz ali dentro, só me fazia sentir mais falta da vida que tinha lá fora. Há pouco tempo Orochimaro nos dispensou das aulas, deixando-nos livres pra treinar a qualquer horário, contanto que treinássemos todos os dias (exceto os dias de missões).

Estava terminado meu treinamento diário quando recebi a notícia de que sairia para missão, eu e Kimimaro iríamos encontrar com mais outros dois ninjas que traziam umas crianças para o esconderijo. Fui até meu quarto, que agora não era mais dividido com ninguém, arrumei as coisas e fui até a entrada onde ele já me esperava de braços cruzados.

Lá fora já estava quase totalmente escuro, o céu com poucas estrelas. Usei minhas habilidades sensoriais para encontrar o grupo, eles estavam a uns treze quilômetros de nós. Fomos o caminho todo calados, até quase chegarmos onde queríamos.

– Pelo menos eu estou aqui agora pra poder vigiar se você vai fazer a coisa certa – disse ele, sério.

– Não preciso de babá, Kimimaro – respondi olhando para a frente, mostrando indiferença – estamos quase lá.

Chegando, vimos dois ninjas que eu já havia visto pelos corredores do esconderijo, entre eles havia umas sete crianças.

– Kimimaro, você aqui do meu lado e Yukiyo, lá trás – disse o ninja que estava na frente. Fomos para os nossos devidos lugares. – Bem, levem-nos para o quartel, temos uma missão mais importante.

Atrás deles, notei a variedade de crianças, a maioria deles eram garotos, exceto por duas garotinhas, uma negra de cabelos na altura do ombro e uma de cabelos vermelhos, meio rosados. Tínhamos ali também alguns com aparência bem peculiar, como um garoto que tinha três pares de braços, e um deles tinha uma cabeça saindo da nuca. A maioria das crianças deveria ter uns oito anos. Curioso, foi com aquela idade que eu fui pra lá... naquele momento eu estava, tecnicamente, sendo o maldito e grande vilão que estava tirando eles de seus lares e de suas famílias.

A garotinha de cabelos vermelhos olhou para trás e depois olhou para os meus cabelos que também eram vermelhos, só que bem mais escuros que os dela, olhei para meu cabelo e logo depois olhei pra ela, sorrindo. Rapidamente ela virou para a frente, surpresa.

Passado uns vinte minutos chegamos ao esconderijo levando as crianças até o pátio de entrada, onde as crianças foram enfileiradas viradas para frente enquanto eu e Kimimaru ficamos atrás delas.

Orochimaro chegou e começou na falar aquele mesmo discurso de sempre, que eles seriam seus servos e objetos de pesquisas, querendo eles ou não, e que seria melhor eles não fugirem, ou morreriam. Ao fim do discurso disse:

– Yukiyo, quero que você pegue a garota de cabelo vermelho e esse menino aqui - disse apontando pro menino de duas cabeças – e leve para seu quarto, eles dividirão o quarto com você. Todos treinarão juntos, porém quero que você seja uma espécie de senpai para eles. Kimimaro, faça o mesmo com esses dois garotos, os outro três venham comigo.

Peguei as duas crianças e fui até meu quarto com elas. Ao chegar lá, havia dois colchonetes ao lado da minha cama e, aos pés de cada colchonete, um baú como o meu. Ambos sentaram nos seus colchões, abraçando suas pernas num gesto de defesa.

– Bom, sejam bem vindos ao meu quarto – sentei em minha cama – Olha, nada aqui vai ser fácil pra vocês, podem ter certeza. Eu já passei por isso, sei como é. Até puxaria assunto pra gente conversar um pouco, mas creio que estão assustados demais pra falar. Eu sou uma criança também, posso entendê-los.

Arrumei minha cama e logo depois deitei-me.

–Durmam, isso vai ajudar a amenizar a angústia.

Peguei no sono, apagando minha agonia por algumas horas.