POV’ Kate

Quando eu saí da sala, vi Jeremy guardando os livros no armário. O abracei e ele me disse que me levaria para casa. Eu estava de jaqueta, ele segurou minhas mãos e as mangas compridas escorregaram um pouco. Eu puxei rapidamente, mas ele percebeu os curativos.

- Anda se cortando? – ele disse levantando uma manga e verificando o meu braço.

- Não... eu caí e ralei o braço...

- Os dois braços? Não mente...

- Tem uns problemas acontecendo com a minha família e tals – eu abaixei a minha cabeça.

- Isso não vai mudar nada a sua situação. Promete pra mim que não vai mais fazer isso?

- Prometo.

Ele levantou meu queixo levemente com os dedos e me beijou. Mas foi um beijo de verdade – o nosso primeiro beijo de verdade. Nossas línguas travavam um combate maravilhoso e ele segurava os meus cabelos delicadamente. Depois de perdermos todo o ar que tínhamos nos pulmões, resolvemos parar para respirar. Demos gargalhadas e ele pegou a minha mochila.

Saindo, vi Lindsay e Jake tendo uma sessão de amassos em plena escola. Foi bem nojento na verdade, coisa que qualquer casal decente faria entre quatro paredes, e não em um portão de escola.

Jake me viu passando e acelerou o “processo”, se separando – rápido, aliás – da patricinha sem cérebro e correndo até mim. Continuei andando e fingindo que não era comigo, até ele me alcançar e segurar o meu braço.

- Jeremy, hoje ela vai comigo – ele disse em tom de autoridade.

- Ham... a namorada é minha...!

- Eu sei, mas ela tá morando na minha casa e hoje é aniversário dela. Tenho coisas planejadas.

- Na sua casa?

- Uhum.

- Você dorme onde? – ele me encarou severo.

- No meu quarto. Ontem, aliás, nós até dormimos juntos – Jake disse se intrometendo.

- Que maravilha! Agora eu sou corno! – Jeremy jogou a minha mochila no chão.

- Jeremy, não é o que você tá pensando... – eu segurei seu braço.

- Me solta Kate. Não quero mais saber de você – ele saiu me deixando sozinha com aquele idiota. Eu desmoronei na calçada e caí no choro. Jake ofereceu a mão para me levantar, mas eu me levantei em um ímpeto e dei um tapa no rosto dele.

Ele colocou a mão onde estava marcado e eu saí correndo. Cheguei até uma praça deserta e me sentei em um banco. Continuei chorando até perceber que já estava tarde e iria começar a chover. Disquei o número da Rose, que atendeu no terceiro toque.

- Rose...

- Querida. O que aconteceu? Você tá chorando?

- Por favor, me leva pra casa.

- Tudo bem, você tá na escola?

- Não, é uma praça a umas três quadras de lá.

- Eu sei onde é. Tudo bem, estou indo.

Quando ela chegou, a chuva estava começando. Eu contei tudo para ela com um aperto no coração, mas era raiva.

Cheguei no meu prédio, e o Jake estava sentado no portão, tomando chuva, com a minha mochila. Corri até a frente dele e peguei a minha mochila. Entrei correndo para o hall e subi o elevador antes dele. Fui para o quarto e me vi no espelho: cabelo bagunçado e os olhos borrados de lápis e rímel. Como eu sou idiota, eu pensei. Tomei um banho bem quente. Pedi yakisoba por telefone e fiquei vendo TV de pijama no sofá.

Ele chegou e sentou ao meu lado. Não olhei na cara dele e alguns minutos depois – que pareceram horas – o porteiro trouxe a comida. Eu estava com tanta raiva – que foi convertida em fome – que fiquei parecendo aqueles mendigos que nunca viram comida na vida.

Subi para o quarto e fiz as lições de química e física – que eu amo por sinal – até ele chegar e ficar parado na porta. Ficou me encarando de um jeito desconfortável.

- O que você quer? Já não cansou de arruinar a minha vida?

- Não... não era isso. Como é seu aniversário, eu queria te dar um presente...

- Eu não quero nada seu – eu o cortei no meio da frase.

- Kate, aquilo... não foi a minha intenção. Eu não queria que ele terminasse com você...

- Jake! – eu me levantei da cama e fiquei na frente dele. Como ele era mais alto que eu, fiquei na ponta dos pés. - Me esquece! O meu pai falou que o aquecedor vai ficar pronto amanhã, então, vamos fazer um combinado.

- Que combinado?

- Nunca mais vamos nos falar de novo, o.k? Agora, com licença que eu tenho que fazer lição – eu o empurrei para fora e tentei fechar a porta, mas ele colocou o pé. Ele empurrou a porta e segurou meus ombros.

- Olha Kate, eu não gosto do Jeremy, não mesmo. Eu acho ele muito velho pra você, mas essa não é a questão. Eu não sei o que deu em mim, aquelas palavras saíram sem querer. Eu só quero que você aceite o meu presente, depois pode me esquecer pra sempre.

- Eu não sei...

- Por favor.

- Tudo bem. Mas depois não vamos mais nos falar depois, o.k?

- O.k. Agora troca esse pijama e vem comigo.

- Onde vamos?

- Surpresa – ele sorriu.

Ele é um idiota ao quadrado, eu pensei enquanto trocava de roupa.