O último Beijo escrita por andy_1993


Capítulo 6
Os Amantes - Parte 6




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Já estava anoitecendo, estávamos todos do lado de fora da casa, olhando aquele ar quente, nos aquecendo do frio que a noite fazia.


Todos estavam atentos as histórias de terror que Pedro e Gabriel contavam, Yuka parecia mais achar aquilo tudo uma história de comédia, não parava de dar gargalhadas altas a cada vez que acontecia uma coisa horrenda com um dos personagens, já Sophie estava quase debruçada em cima de Rod, fingindo está morrendo de medo, porque eu sabia que não estava, e pelo jeito ele também sabia. Já que em seus lábios se escondia um sorriso safado.


Daniela se mantinha inclinada pra frente observando Gabriel atentamente, de vez em quando eu percebia o piscar de olhos dos dois.


Will estava do meu lado, passara a tarde toda assim, de repente sentir o toque de seus dedos em cima dos meus, mas eu retirei minha mão bem devagar a colocando em meu colo, eu não estava com raiva do que me dissera ontem, mas no momento não queria esse tipo de atenção, eu estava pensando na madrugada passada, a mulher... A voz pedindo perdão, perdão pelo o que? – Eu me perguntava.


Notei que Will não se pôs a desistir, pois logo pegou minha mão de cima do meu colo e entrelaçou meus dedos nos seus, meus olhos procuraram seu rosto, e ele estava com um sorriso leve, talvez eu me deixasse ficar assim apenas por alguns minutos, por mais que eu não quisesse, eu gostava de sua companhia, gostava de tê-lo tão perto de mim, eu queria me aproximar.


Senti uma pontada na cabeça, como se fosse espetada por uma agulha, me fazendo soltar a mão debaixo da sua e botando ela na minha cabeça.


- Tudo bem Anne? – Perguntou Will com o olhar preocupado.


- Sim, foi apenas uma dor rápida que senti na cabeça, mas agora já passou.


- Não quer entrar?


- Não, eu estou bem


Tentei dar meu melhor sorriso para ele e isso o fez retribui com um sorriso mais largo que antes.


Ele ia me contar a verdade hoje, não sabia que horas ele resolveria fazer isso, mas minha curiosidade já estava me matando. Do dia pro outro finalmente descobriria, eu teria todas minhas respostas para tudo que estava acontecendo.


Um de seus amigos apontou em nossa direção.


- Sua vez Will, tente pelo menos, nos fazer urinar nas calças de tanto medo.


Ele se levantou e andou ao redor da fogueira, rindo para si mesmo, suspirou e agora olhava apenas para mim.


- Há muitos anos atrás, um grupo de vampiros morou aqui e aterrorizou quem morasse pelas redondezas, esse grupo matou, espalhou sangue por todos os cantos, matavam sem piedade, não importando se fossem mulheres, jovens ou até crianças... Alias eram suas favoritas por terem o sangue mais puro que os dos adultos e jovens.


“Enquanto havia toda essa matança uma família acabara de se mudar, um nobre e suas duas filhas belíssimas, Isabel e Olivia.”


“Até que um dia, um dos vampiros, o segundo mais novo depois da irmã, acabou se apaixonando por uma das filhas do tal nobre, seus cabelos dourados e pele branca o encantaram, deixando-o louco de desejo, de amor que nunca havia sentido durante anos de existência, Isabel, se viram pela primeira vez em uma festa que seu pai estava dando, ele e seus irmãos foram como outras pessoas qualquer, e ninguém os reconheceram na verdade ficaram deslumbrados por causa de sua beleza.”


“Ele olhava pra ela de um jeito profundo difícil descrever, e ela como podem imaginar caiu de amores, desde esse dia, ele nunca a esquecera, nem ela a ele, nos pensamentos da pequena Isabel sempre vinha à imagem de seu rosto, ela fez de tudo para ficar longe dele, pois tinha descoberto o que ele era verdadeiramente, quis negar o que sentia, mas foi inútil, descobriu que o amava mais que a própria vida. Por ela, ele era capaz de renegar o que era e do que necessitava.”


“Ninguém chegava a desconfiar de seu romance, até que a irmã mais velha, Olivia descobriu, Olivia sempre seria apaixonada por ele desde a primeira vez que o viu na festa, não importava se ele matava e do que se alimentava, era capaz de sacrificar o que fosse para tê-lo. Entre os rapazes sempre foi considerada a mais bela das duas, a mais inteligente, a mais desejada, era mais alta e seus cabelos loiros queimados, seu perfume de rosa, seu corpo perfeito, deixou-se dominar pela inveja, ela sabia que o romance deles era proibido, que se alguma das famílias descobrisse, seria o caos, haveria mais mortes do que nunca, mas não importava, ela o queria pra si, por que ele escolheria Isabel? Se ele não seria dela, não seria de mais ninguém.”


“Seu pai já estava planejando o casamento de Isabel com seu primo, que se apaixonara loucamente por ela, no inicio ela se encantara com ele, mas logo seus sentimentos pelo vampiro despertaram, e soube que não poderia se casar com nenhum outro, não poderia amar nenhum outro rapaz que não fosse ele.”


“Em uma noite, Olivia confessou a Isabel que sabia de tudo, que ajudaria a ficar com ele, não importa o que isso custasse, ajudaria sua irmã tão amada.


Antes de tudo, ela e a irmã sempre foram unidas, sempre confessando segredos uma pra outra. Melhores amigas.”


“Olivia queria a qualquer custo apenas tê-lo por perto, por isso o procurou em uma noite, ela contara tudo que falou para a irmã, ele era gentil com ela, gostava dela por ajudá-los”


“Em uma tarde, disse para Isabel encontrá-lo na floresta, a 00h00min, já que o pai já estaria adormecido. Quando Isabel finalmente se mantinha ausente, Olivia foi até seu quarto e pegou um de seus vestidos, o mais bonito que achou, pegou tudo que pertencia à irmã, perfume, sapatos, jóias, e levou para o seu quarto, escondendo, planejando com todo o cuidado, teria que ajustar o tamanho do vestido por causa do tamanho, Isabel era mais magra e era menor que Olivia, por isso se pôs a trabalhar a noite toda.”


“Na tarde que veio, Olivia decidira se declarar para o vampiro, e até ousara a tentar beijá-lo, mas foi rejeitada, rejeitada pelo homem por quem se apaixonara, mas ela já sabia que isso aconteceria, mas não conteve suas lagrimas de ódio. À noite, Olivia disse para ele que Isabel viria uma hora mais cedo para vê-lo, mas a verdade era que Isabel não poderia sair do quarto, porque teria acabado de brigando com o pai por causa de seu casamento arranjado. Olivia vestiu seu vestido, soltou seus longos cabelos, porque era como Isabel sempre ia encontrá-lo, de cabelos soltos, e botou uma capa negra, fazendo com que escondesse seu rosto, e entrou na floresta, eram 23h00min. O mesmo horário que ela havia dito, quando chegou ele já estava lá, olhando para ela de um jeito que nunca olharia para mais ninguém, ao abaixar seu capuz, ela o olhou sorrindo, triunfante, engatado em seu vestido estava um punhal, ela o segurou firme, disse que se ele não a beijasse cortaria o próprio pescoço, e em seguida o encostou-se a seu pescoço. Ele perguntara por Isabel, mas Olivia se recusou a responder, e repetiu a mesma ameaça, ele a olhava sem entender nada, ela apertou mais a ponta do punhal em seu pescoço, que vez gotas de sangue escorrerem pela sua pele branca, ele se aproximou dela a tomando em seus braços e a beijou, a beijou com mais intensidade quando sentiu o cheiro do seu sangue, mas ele se controlou a afastando, ela disse para ficar com ela, mas ele não podia, estava condenado aquele amor que sentia por Isabel, e aquilo doeu, e então suas ultimas palavras foram: “Eu sempre te amei, se você não pode ser meu, não será de dela”. Ele não entendera aquelas palavras, mas em seguida ela colocou a punhal afiado em seu pescoço e o cortou, um corte profundo porque sua dor era profunda, não sentia medo da morte, pois morreu quando ele a rejeitou, não sentia a dor do corte, porque a dor emocional era mais dolorosa.”


“Manchando o vestido de vermelho e desabando no chão, ela o olhava, sorrindo, e como seu sorriso era bonito e vitorioso, ela respirava com dificuldade, seus lábios estavam pintados de seu sangue, ele a olhava, e seus olhos de verdes ficaram rubros, ele já não conseguia se controlar, por isso ele lutou, em todos esses dias viveria de sangue de animais, que não o satisfazia do mesmo jeito do sangue de humanos, ele se aproximou do corpo indefeso no chão, se agachou ao seu lado, levantando seu corpo, olhando seu sangue. Se sentindo fraca, Olivia segurou sua nuca, aproximando mais sua boca com seus dentes afiados de seu pescoço ensangüentado, ele finalmente a mordeu, fazendo dá um grito baixo e cheio de prazer, e finalmente adormeceu para a eternidade”


“Ele apertava mais seus lábios em seu pescoço, perdendo totalmente o controle, depois de alguns minutos, finalmente havia drenado todo o sangue de Olivia, agora a sua frente tinha apenas um corpo pálido e sem vida.”


“Ele a olhou, e sentiu raiva de si mesmo, queria morrer, acabara de matar a irmã querida de sua amada, o que ele fizera? Quando levantou carregando seu corpo, e finalmente olhou pra frente, Isabel estava parada. Imóvel olhando ele carregar o corpo de sua irmã, ela não conseguia acreditar no que via seus olhos, só podiam estar a enganando, já que eram traiçoeiros, mas não, ele estava ali, e sua irmã em seus braços, branca como a neve, não era um sonho como queria que fosse. Seu amado matara sua irmã porque era um monstro e jamais mudaria, ela saiu correndo, não olhando pra trás o ouvindo chamar seu nome, aquela voz que muitas vezes lhe havia feito promessas, tudo acabara, tudo se perdera no tempo, ela não conseguiria viver com aquilo, não pensava em mais nada, ao chegar a casa onde vivia, com o trabalho de ter conseguido fugir de seu pai, ela chorou, quebrando tudo o que via pela frente, ele olhou pra cama, e refletiu por poucos segundos. Pegou o lençol que estava em sua cama, o lançou em um gancho que havia no teto, transformando aquele lençol rosado e bonito em uma forca, subiu em uma cadeira, olhando para o nada. Ela só via aquela imagem dele e nada mais, enrolou o lençol em seu pescoço, fechou os olhos e disse para si mesma que aquilo tudo não passara de um sonho ruim, e que logo, esqueceria de tudo, suspirou pela ultima vez e empurrou a cadeira que estava a sustentando e logo tudo ficou escuro em sua visão, seus olhos se tornaram vazios.”


“Quando o pai soube da noticia que sua filha mais velha havia desaparecido e que sua filha mais nova havia se suicidado, entrou em uma grande depressão, só queria sabe a verdade e o porquê aquela desgraça caíra sobre sua cabeça, passou dias isolado na enorme casa e mandou os empregados embora, porque não queria mais vê rostos. Primeiro a esposa, agora suas filhas. Por quê? Depois de alguns dias ele rondava o quarto das filhas, sem parar, imaginando que a qualquer momento uma delas apareceria talvez, Olivia, mas não Isabel. Um dia algumas pessoas vieram procurá-lo, claro que não quis receber ninguém, mas certo garoto conseguiu convencê-lo a pelo menos escutá-lo, devia ter uns 12 ou 13, ele pensara melhor, e depois mandou o menino embora, mas quando o menino mencionara o nome de suas filhas, ele escutou, o menino contara a lenda da cidade, e o que tinha visto em uma noite estrelada, Isabel com o mostro.


“Sabendo agora de tudo, não sabia se acreditava ou não na palavra do menino, mas que havia um responsável naquilo tudo, um culpado, ele ia achá-lo e acabar com ele, fazê-lo sofrer a cada segundo.”


“Ele saíra atrás de pistas. Algumas pessoas chegaram a dizer que os vampiros fizeram isso tudo, mas quando foram à procura deles, já haviam sumido da casa, abandonado, e então finalmente, essa cidade conseguiu ficar em paz, o pai não viveu muito depois daquilo, morreu sozinho e solitário.”


 


Todos não desviavam o olhar de Will, ouviam com atenção tudo que ele falaria ali, até que Gabriel, seu amigo acabou com todo o silêncio ali:


 - Sou mais a minha história do fantasma do pântano mesmo...


- Cala a boca! – Disse Yuka.


Will agora já estava sentado do meu lado outra vez, e por algum motivo, tive vontade de abraço, mas não ali na frente de todo mundo, tudo aquela história mexeu comigo de um jeito estranho. Eles decidiram que ficariam por ali por mais algumas horas e Will dissera que depois iria me procurar – Ele prometeu –, e que para enquanto isso eu fosse descansar, a verdade era que eu realmente estava bastante cansada então segui sua sugestão.


Foi um alivio deitar na cama e fechar os olhos, o dia havia sido tão longo, foi então que me lembrei do livro, olhei para o lado e lá estava ele, acho que meu sono conseguiria esperar um pouco.


Soltei um sopro quando eu o abri e uma brisa de poeira surgiu no ar, fazendo com que eu espirrasse, odiava espirrar. Tive que revirar aquelas folhas com todo o cuidado, porque estavam muito velhas, a ponto de se despedaçar a qualquer momento, Olhei todas as palavras sem lê-las, analisei tudo, em algumas, desenhos mostrando torturas, sangue e mortes, a que mais me chamou atenção foi a de um homem com caninos afiados debruçado em cima do corpo de uma mulher morta, passei meus dedos de leve sobre aqueles desenhos, e por um momento foi como se imagens rápidas de coisas que nunca havia visto passassem por minha cabeça.


 


“Vampiros são criaturas místicas que vencem a morte sugando o sangue das suas vitimas humanas. A variação mais comum retrata o vampiro como um morto que se ergue do tumulo à noite para procurar as suas vitimas adormecidas.


“O vampiro é também um tema literário popular. Existem numerosas descrições da origem, natureza, dos poderes dos vampiros. O que parece ser universal é a sua ligação com o medo da morte e o desejo de imortalidade. O ritual de beber sangue para vencer a morte foi praticado por muitos povos. Os Astecas e outros. Comiam o coração e bebiam o sangue dos cativos em cerimônias rituais para satisfazer os deuses e ganharem para eles fertilidade e imortalidade. Também nos ritos de Dionísio e Miras, em que o beber sangue de animais era requerido para a busca da imortalidade.”


“Suas características são bastante evidentes, são como um corpo sem vida, frios e pálidos, seus olhos são bastante claros, a cores variam de azul claro quase branco, dourado e rubi.”


 


Estava tão concentrada no que lia que dei um pulo ao ver a porta do quarto se abrindo, e derrubei o livro no chão, olhei bem e lá estava Sophie parada me olhando com estranheza, e logo depois sua expressão foi mudando, abrindo um sorriso e junto com ele um riso baixinho.


- O que você está fazendo? – Perguntou ela ainda rindo e se aproximando mais de mim.


- Nada... – Quando me abaixei para pegar o livro que estava aberto no chão, Sophie foi mais rápida que eu.


- Sophie me dá! – Disse tentando recuperar o livro.


- Calma só to dando uma olhadinha!


Ficamos nisso durante muitos minutos, por ser mais alta que eu, acabei desistindo, me joguei na cama, olhando pro teto, bufando de raiva, de braços cruzados esperando a sua boa vontade de me devolver o livro, não queria que ela tivesse visto o assunto, mas agora já era tarde demais.


Ela estava em pé, andando devagar de um lado pro outro, com os cabelos longos amarrados em uma trança, com o livro aberto lendo atentamente, ate que finalmente parou, e olhou para mim sem falar nada, fechou o livro e o colocou em cima da minha barriga.


- Não sabia que você gostava de historinhas desse gênero. Essa é nova pra mim.


- Eu não gosto...


Ela riu.


- Estou vendo, mas... Até que é interessante esse livro, a onde o achou?


- Na biblioteca, lá em baixo... Mas eu vou devolver


- Ah, leva, ele não pertence a ninguém mesmo.


Após Sophie ter saído do quarto, passei as mãos em sua capa, e o apertei contra meu peito.


Pensei seriamente em levá-lo, não era meu, mas ainda queria analisar mais ele.


Eu vou levar e depois devolvo – Pensei.


O coloquei em minha bolsa, e logo em seguida fui me trocar, me sentia pouca a vontade vendo aquela meia janela aberta, sentia sempre que alguém me olhava, sempre sentia isso, desde que era pequena.


Virei de costas para a janela e puxei com a ponta dos dedos minha blusa pra cima, tirando-a pela cabeça. Botei minhas mãos nas costas ate alcançar o feixe do meu sutiã e solta-lo, não tinha seios grandes, mas também não eram pequenos, era um das poucas coisas que eu gostava em mim fisicamente. Sem seguida tirei minha saia e a joguei na cama, pegando dentro da minha mochila uma blusa velha e uma calça. Os vesti sem demora e fui até a janela, pude ver os garotos com a fogueira ainda em chamas, e eles rindo e torrando alguma coisa que não consegui identificar o que seria, olhei mais adiante entre as árvores e a lua... Era lua cheia naquela noite.


Suspirei ao olhá-la, eu a amava, era linda de todas as fases, sempre que a observava fechava os olhos e esticava as mãos para tentar alcançá-la, imaginava tocando-a com todo o cuidado do mundo para não quebrá-la, parecia tão frágil, parecia feita do vidro.


Eu estava sorrindo e rindo baixinho para mim mesma, de olhos fechados e com as mãos esticadas no ar foi então que toquei algo gelado, me assustei, mas não senti medo, não quis abrir meus olhos então permaneci na escuridão, fui o tocando o que parecia ser duas mãos, escorregando a pontinha dos meus dedos pelas suas palmas, até seus pulsos, gelados que nem pedras de gelo, até que senti aquelas mãos agarrarem meus pulsos com força.


Abri os olhos rapidamente, mas nada vi além da lua.


Olhei para minhas mãos. Estaria eu imaginando tudo aquilo? Não, foi de verdade, eu senti, não estava apenas imaginando ou sonhando!


Olhei para meus pulsos e meus olhos se arregalaram ao ver marcas vermelhas de mãos, andei para trás pasma até bater com a costa na parede.


Desabei totalmente.


Pensei que estava ficando louca, passei a mão pela minha testa, minha respiração estava descontrolada. Era ele.


Olhei mais uma vez pela janela, e lá estava minha lua... Linda, ela me daria coragem para o que eu estava prestes a fazer.


 


*****


 


Will veio até o quarto onde eu estava como havia prometido, eu estava sentada na cama, olhando para ele, não olhava pra mim, estava de cabeça baixa como se estivesse sem graça.


Cruzei os braços a altura do peito.


- Quem é ele, Will? – Perguntei.


- Você prestou atenção na história que eu contei?


- Sim...


- Era tudo verdade, todas aquelas coisas aconteceram...


- Como assim? – Percebi que meus pulsos ainda estavam com aquelas marcas, por isso meti as mãos dentro da minha blusa para Will não perceber, o que eu menos queria agora é ser interrogada.


- Era nossa família! – Disse ele quase gritando, levantando os olhos e achando os meus.


Eu fiquei calada, com os olhos arregalados.


– Eu omiti uma parte Anne... – Continuou. – O pai de Isabel e Olivia saiu em busca do tal culpado, caçando-o como se fosse um animal, ele vendera a casa e continuou sozinho vagando pelas estradas escuras a procura dele. Do vampiro que matara suas filhas, ele chegou a matar algumas pessoas por causa de seus físicos, por ele achar, por ele deduzir. E mesmo depois de se passarem 10 anos ele continuou, acho que iria passar até seu ultimo suspiro daquela maneira absurda... Matando pessoas inocentes...


“Ele chegou a uma cidade, eu não me lembro bem o nome agora, onde conheceu uma mulher, Katharine, ela era bonita. E eles se apaixonaram, e chegaram a se casar, teve outros milhares de filhos, mas... Como esquecer o que aconteceu as suas duas filhas amadas? Ele queria tudo o que um pai poderia querer depois disso... Vingança”


“Ele deixou Katharine em boas mãos juntos com seus outros filhos e prometeu voltar... Mas não aconteceu.”


“Ele procurou-os na Amazônia, e do mesmo jeito que antes ele matou sem piedade, depois vinha o arrependimento claro, mas nada que pudesse fazer pra mudar, ele poderia mudar, mas não queria.”


“Ele chegou a uma casa isolada onde achou uma família onde apenas vivia uma mulher idosa e dois rapazes, e como os impulsos foram mais fortes, ele os matou a tiros. O fato... É que não era uma simples senhora indefesa.”


“Ela por fim, já que a morte passava pela sua porta para levá-la, amaldiçoou, ela de algum jeito paranormal sabia toda a história como se fosse ela quem tivesse vivido aquilo.”


Ele parou de falar e encarava o chão.


- Will que maldição é essa? – Perguntei em uma voz baixa.


- Que tudo aconteceria de novo...


- Quem é o Victor? – Perguntei, mas eu sabia a resposta.


- É o maldito vampiro que vive para nos assombrar! – Falou com raiva. – E você! – Ele apontou seu dedo em minha direção se aproximando de mim. – É sua outra metade...


Eu o olhava sem entender.


Ele sorriu de leve pra mim e acariciou meu rosto.


- Anne, sua mãe, ou sua irmã não sabem dessa história... Escolha ficar comigo.


- O que?


- Fique comigo antes que seja tarde demais e não permita que a história se repita! Nós podemos evitar mortes!


Eu o olhava dentro de seus olhos, uma parte de mim dizia para fazer o que parecia ser certo, ficar com Will e parte de mim também o queria, mas a outra dizia para ir atrás de Victor agora que eu sabia o que ele era, e sabia que estava perto de mim.


Ele me salvara de cair da árvore, de ser estuprada e morta por um assassino, porque se preocupava, porque me amava...


- Sophie não é que nem Olivia, ela não faria nada pra me prejudicar e nada por egoísmo e obsessão! – Falei isso para ele e para mim mesma.


Ela que sempre cuidara de mim, me protegeu, sempre me apoiando... Ela não faria isso.


- Não é uma coisa que podemos controlar... Ela não tem escolha. Mas você sim! Fique comigo! Eu amo você!


- Eu... – Parei – O que você disse?


- Eu amo você! Eu sempre a amei, desde pequeno, eu sempre a quis, meus olhares por você eram de amor!


- Will... Eu preciso pensar, é muita coisa de uma só vez...


- Eu sei... Eu pretendia ir conquistando-a, mas não imaginei que ele viesse com você.


Eu o encarei.


- Ele sabe? Ele sabe dessa maldição? De tudo?


- Não... Ele não sabe de nada, a única que sabia até agora era a minha mãe o nosso “avô” tinha um diário... E lá contava tudo até sua morte, eu fiquei sabendo no dia em que você foi atacada por aquele cara. Também precisei de tempo, mas logo vi que tudo fazia sentido.


- Por que eu?


- Porque você tem o cheiro dela, e ele reconheceu.


- Mas eu não sou ela!


- Eu sei... Mas acho que ele não sabe, acho que ele a vê como uma reencarnação de Isabel.


- Will, poderia me deixar sozinha? Eu preciso pensar...


- Tudo bem...


 


Esperei que todos já estivessem dentro da casa, dormindo profundamente em suas camas, olhei no relógio e já era exatamente 02h00min. Levantei com todo o cuidado para não acordar ninguém, mas acabei causando um ruído no chão, olhei rapidamente para trás vendo se tinha despertado alguém, mas apenas uma mexida debaixo dos lençóis de Yuka que roncava.


Dessa vez não iria pela janela, já que todos dormiam, preferia ir agora pela porta da frente para evitar atrapalhadas minhas, outro buraco no telhado e barulhos que pudessem acordá-los.


Desci com todo o cuidado na ponta dos pés aquela escada velha, passei por uma brecha da porta, que estava aberta, e ao está fora finalmente olhei ao redor, apenas aquelas mesmas árvores que de noite pareciam mais assustadoras, mas que agora não me davam mais medo.


Fui caminhando até me meter entre aquelas árvores.


Eu me abraçava e esfregava minhas mãos nos braços, estava bem fria aquela noite.


Não me preocupei em escolher alguma roupa “atraente” que afinal eu não tinha, estava com os cabelos soltos, uma blusa sem mangas e a mesma saia que eu tinha usado algumas horas atrás, mas cheguei a me arrepender de pelo menos não ter trazido algum casaco para me aquecer.


Eu caminhava sem ter certeza da onde queria chegar, eu queria apenas achá-lo e explicar tudo o que Will me dissera. Não era justo com ele, na verdade não era justo com ninguém. Por que justamente eu?


Lembrei das palavras que Will usara: Ele é sua metade...


Essas palavras ecoavam em meus pensamentos, eu não acreditava em almas gêmeas...


Eu iria encontrá-lo, não importa quanto tempo durasse.


A Cada vez que eu dava um passo para frente, um arrepio vinha. Eu estava realmente nervosa, e dessa vez eu não conseguia me acalmar.


Olhei um pouco mais adiante, e consegui avistar uma clareira, fui andando até ela, estava sendo iluminada pela lua.


Fiquei parada lá, sozinha, cercada por árvores, e dentro delas a escuridão, eu me abraçava com mais força, apertando meus braços.


Eu não sabia o que fazer... E se ele tiver ido embora? – Imaginei.


Não, ele estava ali, eu conseguia sentir isso. De repente começava a escurecer, olhei pra cima e uma nuvem negra engolia aos poucos minha lua, e lá tirando minha luz me deixando no escuro.


Fui abaixando minhas mãos bem devagar, transformando elas em um punho.


- APAREÇA! EU SEI QUE ESTÁ AI! – Gritei. – Em algum lugar... – Falei baixinho agora para mim mesma.


Nada aconteceu apenas silêncio.


Levantei meus braços para cima, deixa-os a altura do ombro, e fechei meus olhos, suspirei fundo e esperei. Longos minutos pareciam ter se passado e nada, eu já conseguiria ficar calma, esperando, não importa se durasse a noite toda, eu esperaria.


- Eu estou aqui... – Falei baixinho.


Então ouvi um barulho entre as árvores, que fez minha respiração acelerar um pouco.


Ouvi passos caminhando em minha direção bem devagar.


Queria abri os olhos, mas não conseguia, sentia meus braços cansados e trêmulos, foi quando eu os abaixei, tentando deixar minha respiração leve. Abaixei a cabeça


Fui abrindo os olhos devagar, alguém estava parado em minha frente, notei que a luz da lua já havia retornado, eu olhava para seus pés, estava usando um tênis preto, e eu apenas uma sandália, fui subindo meus olhos, ele usava jeans e uma blusa preta, suas mãos eram muito brancas e pálidas, assim como seu pescoço, sua boca era de um vermelho escuro, seus cabelos claros ate o pescoço e seus olhos vermelhos, não conseguia olhar por inteiro, senti a ponta de seus dedos gelados subirem por meus braços até chegarem passando por meus ombros até chegarem ao meu pescoço, eu olhava dentro de seus olhos, que me hipnotizaram, e dentro deles vi um ar de dor e agonia.


- Victor... – Sussurrei.


Levantei minhas mãos para tocar seu rosto, mas em um movimento brusco ele se afastou de mim.


Naquele instante eu já teria esquecido o que devia contar a ele.


- Volte para casa. – Disse ele me dando as costas. Sua voz parecia diferente, era mais grossa e roca.


- Não!


- Anne... Saiba que a qualquer momento, em um simples movimento eu posso matá-la.


- Eu sei... – Dei um passo em sua direção. – Mas você não vai fazer isso...


- Não se aproxime!


Parei.


- Você está com medo... – Falou ele baixinho, mas não o bastante para eu não escutar.


- Não...


- Sim, você esta, eu sinto isso em você. – Ele deu uma risada curta e baixa.


Era verdade, por mais que eu tentasse não sentir, não queria ter medo dele.


- O que você é? – Perguntei numa voz baixa.


- Você sabe exatamente o que eu sou...


Eu sabia... Mas queria ouvir dele.


Ele apoiou suas mãos no tronco de uma árvore e abaixou a cabeça, vi suas mãos tremulas se fecharem, e em um piscar de olhos, ele desapareceu.


Olhei para todos os lados, procurando-o, senti um suspiro em meu ouvido, que me fez ficar imóvel.


- Monstro. – Disse ele em meu ouvido.


- Não! – Falei com raiva.


- Sou um demônio que vive para tirar a vida das pessoas.


Fui me virando para encontrar seu olhar, ele me fitava sério, seu olhar era penetrante e a linha de seus lábios era ríspida, levantei minha mão, mas antes que conseguisse tocar seu rosto, ele segurou meu pulso com força.


- O que eu sou Anne?! – Perguntou ele em tom alto.


Seu aperto era frio e forte.


- Vampiro.


Ao falar a palavra, ele soltou meu pulso e caminhar em direção ao meio das árvores.


Era tão estranho esta com ele daquele jeito, sentia um desejo enorme de nem falar mais nada e apenas continuar a ficar perto dele, observando cada movimento que fazia por mais rápido que fosse.


- Venha, logo vai amanhecer e vão se assustar se acordarem e verem que você não está lá.


- Prometa que não vai desaparecer.


Ele não olhou pra mim, apenas fez que sim com a cabeça.


- Diga que promete.


Ele virou e me olhou.


- Eu prometo, agora vamos logo.


- Quando vamos nos ver novamente?


- Em breve...


Ele passou o braço por baixo de minhas pernas, me carregando com aquela mesma facilidade que me carregou quando cai da árvore como se eu fosse uma formiga, e logo ele começou a correr em uma velocidade incrível, que me fez um frio na barriga, botei as mãos no meu rosto, fechando os olhos.


Eu os abri e vi que já estava no quarto, Yuka e Sophie ainda dormiam e eu estava deitada na cama, como se nunca tivesse saído dela, olhei pela janela e o sol já estava nascendo.


 


Naquela manhã Will decidira que voltaríamos mais cedo, por motivos desconhecidos, alguns protestos ali, outros aqui.


- Para os que insistem em ficar, fiquem e voltem andando – Ele falou.


Eu não me importava, se ficasse ou não, eu sabia que ele iria comigo, e era isso que importava para mim.


 


Eu estava morrendo de sono, não teria conseguido dormir nem um pouco depois que voltei para casa da minha tia, não parava de pensar no que havia acontecido.


- Nossa Anne você parece bem acabada, não conseguiu dormir direito à noite? – Perguntou Yuka, sentando ao meu lado na minha cama.


- Eu estava pensando demais naquele simulado que a gente vai ter no próximo sábado ai acabei perdendo o sono.


- Você é bem adiantada nas coisas, nem me preocupo, ainda temos uma semana pra estudar, se estiver com dificuldades eu posso te ajudar, se você quiser é claro.


- Ah, seria ótimo, eu passo na sua casa?


- Se quiser eu posso vir pra cá, sem problemas.


- Na minha não teremos sossego, acredite. – Com três papagaios irritantes não íamos mesmo.


Ela riu.


- Tudo bem, na minha, mas vou logo avisando que minha mãe vai ficar perturbando um pouco.


- Ninguém vence minha mãe, minha tia e a Sophie.


Agora nós duas rimos juntas.


Então olhei para a varanda, as folhas das árvores dançavam por causa do vento, e entro os galhos, eu o procurava.


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