O último Beijo escrita por andy_1993


Capítulo 4
A Morte - Parte 4




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O medico que estava cuidando de mim disse que eu teria de ficar em observação.


Apenas um dia – Ele disse.


Em um dia eu já estaria das cabeças aos pés só mofo naquela cama! Já podia sentir as pequenas aranhas transparentes subindo por minha barriga. Dizer que eu estava bem, que aquilo era desnecessário, que não precisava daquilo, foi o mesmo que nada.


No mesmo dia, depois de mofa a manhã inteira. Acabei recebendo uma inesperada visita de um policial, minha mãe quis evitar que ele me visse, acho que pelo fato de ele ser um grandalhão robusto com uma voz grave que a assustava, mas garanti que iria ficar bem. Depois de ser atacada e quase violentada – se não fosse pelo garoto do avião – iria encarar um grandalhão daqueles como se fosse apenas uma criança perguntando se eu havia encontrado seu bonequinho perdido.


O policial que entrou no meu quarto foi bastante gentil, pelo visto seu jeito “grosseiro” e “valentão” estava apenas em sua aparência, dissera pra mim que eu poderia chamá-lo de S., vieram alguns nomes possíveis na minha cabeça, e sinceramente nenhum agradável, devia ser por isso que não gostava que o chamassem pelo nome todo.


S. sentou em uma cadeira que havia no canto da sala branca e começou a me interrogar. Toda vez antes de começar uma nova pergunta, fazia uma pausa, me olhava bem nos olhos e espremia os lábios fazendo um bico e balançava a cabeça devagar assentindo a todas as minhas respostas. Pelo o que ele contou. O “tal bandido” já era conhecido, seu nome: Carlos Mondraque.


Já era fichado por violentação e assassinato apenas a mulheres.


- Seu amigo botou mesmo o cara pra comer grama – Falou ele rindo da própria piada que acabara de fazer - Havia algumas gotas de sangue no lugar, mas pela a análise dos policias, não era o seu sangue nem o do seu amigo.


Ele não era meu amigo, mas não fiz questão de mencionar isso.


Fiquei surpresa.


Não era meu? Eu me lembro perfeitamente que eu estava sangrando muito, lembro-me de sangrar parece um chafariz. Como o sangue não poderia ser meu?


S. pareceu perceber minha surpresa por isso continuou:


- Interrogamos seu amigo e como já disse ele botou o bandido pra comer grama e deve ter dado uns bons bofetes nele, o que deve ter resultado nas gotas de sangue que encontramos. Infelizmente, o bandido conseguiu escapar, mas como eu já disse pra sua mãe: não tem com o que se preocupar a policia já esta fazendo a ronda, a procura de Carlos.


S. colocou no meu colo uma foto, se eu o julgasse pela aparência, não diria nem acreditaria se viessem me falando que ele era um assassino com um coração de pedra.


Seus olhos eram passivos bem puxadinhos, em sua boca um sorriso escondido nos cantos, não tinha muito cabelo, apenas poucos fios acinzentados, na sua sobrancelha esquerda a marca de uma cicatriz, era gordinho e me lembrava a um cara que eu vi no filme “O amor é cego” com Jack Black, que o nome no momento não conseguia recordar.


Suas vitimas jovens e belas, de 17 á 18 anos de idade. Cheguei a me senti por um lado lisonjeada, era bom saber – por um assassino – que eu era bonitinha.


Quando a sessão de perguntas acabou, S. me deu o número do seu celular e disse que qualquer coisa era pra ligar pra ele.


Na hora que se retirou, lembrei do meu “amigo”, me olhando, seu olhar sedutor, os olhos verdes estreitos. O garoto do avião, com o mesmo verde, mas não com o mesmo olhar. Fuzilando-me com eles, sua imagem do avião me dava arrepios.


Sorte eu ter um amigo desses pra me salvar quando estiver em perigo, ainda mais aparecendo do nada enquanto a rua estava completamente deserta, eu sabia, e lembrava claramente de não haver ninguém, nem a longe e não daria tempo de ele estar o mais longe dali e chegar a onde eu e o meu caro assassino estávamos. Não a tempo.


Refleti até perceber que meu instinto e meu entusiasmo de mistério começavam a apitar.


No inicio da noite, Will, Fernando e Yuka vieram me visitar. Fernando trazendo uma rosa branca e Yuka uma caixa de chocolates.


Os dois se desculparam muitas vezes por terem me deixado sozinha, principalmente Yuka ainda mais depois que receberam uma conversação com minha mãe, o que eu achei irritante e péssimo já que a culpa não tinha sido deles, ninguém conseguiria prevê que um doido estaria esperando por mim em um beco escuro.


- Me desculpa de novo, Anne. – Desculpou-se Yuka novamente segurando minha mão, com o canto dos lábios pra baixo e o olhar triste e preocupado.


- Eu já disse que ta tudo bem, eu me distrair e devia ter ido atrás de vocês ao invés de ficar no mundo da lua.


- Não está tudo bem! – Interveio Fernando. – Eu vou achar esse cara e pegar ele pra você! Eu juro!


- Fernando, cala a boca que você não pega nem o mosquito que morde a sua bunda. – Retrucou Yuka.


Começamos a rir até a enfermeira que veio checar se estava tudo em sua perfeita ordem, claro menos Fernando que durante o restante da visita, ficou de cara fechada para todo mundo inclusive a enfermeira que ele chegou a chamar de jalecuda enxerida


 


Ele não voltou. Durante toda a noite que se seguiu, eu não consegui dormir, às vezes eu apenas fechava os olhos, dizendo para esquecer e tentar pensar no amanhã ou simplesmente no meu sono. Mas como esquecer?


Eu sabia que se eu não dormisse naquele instante amanheceria igual a uma bruxa, mas não conseguia mante-los nem 10 segundos fechados e relaxados, sentia que estava sendo observada, não me senti em perigo, eu estava em um hospital, minha mãe e minha tia estavam lá fora, eu estava no 3° andar, não havia como alguém estar me observando ou escondido em algum lugar do lado de fora, de vez em quando sentia ate uns arrepios, não de medo, mas de alguma coisa que eu ainda não sabia, mas queria descobrir assim que saísse daquela cama.


Não conseguia daquele jeito, levantei e permaneci sentada ate senti que conseguia levantar, tanto tempo deitada acabou me deixando meio lerda. Quando comecei a andar, eu ia da janela ate a cama, era uma distancia curta, mas o motivo de eu ter me levantado não era para dar um passeio legal por aquele quarto branco e pequeno.


Chegando perto da janela, eu ficava olhando pra fora: o estacionamento e a rua escura iluminada apenas por um lampião antigo.


As coisas estavam acontecendo tão rápido que eu mal parara pra pensar em tudo o que acontecia ao meu redor. Talvez fosse apenas meu instinto aventureiro. Agora eu sabia, não conseguia ter certeza de nada!


Eu estava enganada, eu estava pior que uma bruxa, a comparação mais adequada em relação ao meu estado naquela manhã era com o monstro do pântano.


Quem nos levou para casa foi Will em seu carro que acabara de sair do mecânico, um Palio prateado. Havia pouco tempo que havia tirado sua carteira de motorista, mas até antes disso ele não se preocupava em dirigir sem ela. O caminho foi curto, meu primo em todo o percurso chegou a se desculpar inúmeras vezes por não cuidar direito de mim – Como se eu precisasse de uma babá – isso depois de levar uma bronca da minha mãe e minha tia, tentei abrir a boca pra fazer uma objeção aquilo tudo, mas minha mãe foi mais rápida.


- Não fale nenhuma palavra se quer Dona Molly Anne. Se abrir a boca ficara de castigo por uma semana. – Ameaçou.


Minha mãe nunca se dirigia a mim pelo nome todo a menos que fosse realmente sério. Achava meu nome ridículo e fora do comum, não que coisas diferentes fossem ruins, mas Molly Anne?  De que desenho animado da TV ela tirou esse nome horrendo? Ficar de castigo não era a pior coisa, não pra mim, falar meu nome em voz alta. Talvez. Por isso me pus a abrir a boca novamente, mas antes de sair qualquer som da minha voz olhei para o retrovisor e vi Will balançar a cabeça como negativo.


Bufei violentamente.


Você que manda. – Pensei inconformada.


E durante toda a viagem se permaneceu em silêncio.


 


Já haviam se passado algumas semanas desde meu lamentável acidente com o homem de preto e pela primeira vez desde que cheguei a esse lugar desconhecido, via a luz do sol, mal havia parado pra pensar nela e o quanto já estava com saudades, agora eu já a amava, e a desejava, quando a luz tocou meu rosto consegui sentir uma “liberdade”, uma liberdade de poder finalmente respirar porque tudo estava me sufocando de um jeito que nem eu mesma sabia como eu ainda estava com o coração batendo dentro do meu peito.


Tudo isso estava me transformando, e eu não sabia se era pra bom ou pra ruim, mas de qualquer maneira, não queria mudanças, queria minha vida de volta.


Desde que sai de São Paulo, vivo com um pressentimento que tudo vai mudar, não apenas a minha vida, mas como eu também, minha irmã, minha mãe, tudo.


Eu estava sentada no galho grosso na varanda do meu quarto, relendo pela milésima vez Orgulho e Preconceito, mas a verdade é que eu lia as palavras sem ao menos entendê-las, ele ainda não tinha saído dos meus pensamentos.


- Você é muito corajosa em subir ai. – Comentou Will.


- Me simpatizei com ela desde que cheguei, não tenho medo. – Falei olhando ainda para o livro.


- Perdi as contas de quantas vezes já cai dela. – Ele se aproximava passando seus dedos pelo galho subindo na grade da varanda. Logo de surpresa já estava sentado ao meu lado. – Não sei como não morri.


Olhei para ele.


Em seus lábios havia um sorriso debochado de si mesmo.


- Mesmo tendo caído dela muitas vezes ainda tem coragem de subir? – Perguntei fechando o livro.


- Não tenho medo. – Ele riu e virou seu rosto para me olhar e a luz do pôr-do-sol batia no lado direito de seu rosto fazendo o seu olho direito ficar mais claro que o outro, em um verde brilhante como se houvesse um diamante dentro dele. Pela primeira vez eu notara a cor de seus olhos, castanhos claros que mudavam para aquele verde brilhante. Senti vontade de sorrir, mas me segurei enquanto ele abria a boca para falar novamente. – Escuta, eu e alguns amigos vamos sair nesse fim de semana, se você quiser ir...


- Vamos pra onde?


- Não sei. Ainda estamos vendo, talvez em um restaurante italiano, disseram que era muito bom.


- Eu posso chamar alguns amigos? – desviei o olhar para a capa do meu livro.


- Ah claro se quiser.


Senti seus dedos grossos se enroscarem nos meus, com seu polegar já acariciando a parte de cima da minha mão, não o vi desviar o olhar com medo da minha reação, ouvia sua respiração lenta e decidida deixei minha mão ali.


Admito que senti uma atração forte quando eu o vi parado sem camisa na porta da frente nos recebendo, mas por que deixar minha mão ali me parecia tão errado?


- Eu preciso ir, marquei de sair com uma amiga. – Devagar fui tirando minha mão debaixo da sua.


- Ah, Tudo bem.


Quando levantei o rosto para olhá-lo de novo, me deparei com uma imagem de um rosto que parecia tão sereno que me lembrou a um anjo. Tentei ainda mais conter meu sorriso.


 


Yuka chegou bem na hora marcada, ela se oferecera para me mostrar a cidade. Na verdade a parte dela que eu devia saber por onde andar, minha tia comentou que eu devia aprender a não me perder mais, ali costumava ser bastante perigoso, por isso minha mãe insistiu que eu devesse pedir para uma amiga me ensinar os caminhos.


Yuka me contara que não era a primeira vez dela ali, que sempre vinha visitar o pai na época de julho e com o tempo aprendeu a andar por essa cidade estranha, ela parecia apreciar tanto Belém que devia ter contados os dias quando a mãe decidiu mandá-la para os cuidados do pai.


Usava um vestido vermelho vivo ate os joelhos bem rodado, com um cinto preso na cintura fina com uma flor enorme no meio, ela realmente gostava de cores e roupas que chamassem a atenção das pessoas para uma coisa diferente, contou que ela mesma fazia as próprias roupas que se eu pedisse pra ela, teria o maior prazer de fazer um vestido igual ao que estava usando. Talvez em um futuro distante eu ficasse bem numa roupa daquelas e quando quisesse chamar a atenção das pessoas não pensaria nem duas vezes em que pessoa procurar para me dá dicas.


- Quem é essa tal Vivian mesmo? – Perguntou ela amarrotando a cara.


- É uma aeromoça que estava no nosso vôo.


- Ela é “muito gata” mesmo? – Perguntou, usando as mesmas palavras que Fernando usou para descrevê-la


- É bastante. – Disso eu não tinha duvidas.


- Me responde uma coisa?


Olhei para ela.


- Você me acha bonita?


Essa pergunta obviamente me pegou de surpresa, mas claro que eu sabia e entendia o que se passava dentro dela, nos sentimentos relacionados ao Fernando.


- Acho. – Tentei responder com entusiasmo.


Yuka de um modo diferente era muito bonita, mas queria que ela sentisse isso sem ligar para minha voz seca e morta.


- Você acha que eu chamaria atenção de algum homem?


- Claro que sim.


Ela parou de andar.


- Anne como você consegue?


- Consigo o que? – Parei para olhá-la


- Ficar tão calma. – Ela arregalou os olhos, tentando mostrar o tamanho da gravidade da situação, enquanto esfregava uma mão na outra entrelaçando os próprios dedos uns nos outros.


- Se você gosta do Fernando, porque não fala de uma vez pra ele, ao invés de deixá-lo sair com outras garotas?


Ela abaixou a cabeça.


- Dá pra notar tanto assim que gosto dele?


- Sim e muito! – E isso não era exagero da minha parte.


- Eu sou uma idiota, nem mesmo consigo contar pra ele.


- Você só não encontrou o momento certo para isso... Você quer sair comigo esse fim de semana?


- Pra onde?


- Eu não sei, Will disse que poderia ser um restaurante que acabou de abrir, você e o Fernando querem vir conosco?


- Ah, Tudo bem, eu falo com ele, posso levar uma amiga? – Deu um largo sorriso.


- Claro, acho que quanto mais gente melhor.


Tentei sorri. Um sorriso torto e sem vida. E ela retribuiu com apenas com um riso pela minha tentativa.


 


Estava eu, Will, dois amigos dele chamados Pedro e Gabriel eu os via no intervalo sempre juntos e no primeiro dia de aula me lembro que os dois estavam do lado do meu primo no canto da sala me olhando como se eu fosse algum móvel novo que havia acabado de chegar pra enfeitar a escola, Yuka, Fernando e uma amiga de Yuka chamada Daniela, ela era da mesma sala que nós, mas se mantinha distante por algum motivo, talvez Yuka a tenha convidado pra ela se enturmar e parar de ser tão quietinha, como eu – Pelo o que Yuka comentou.


Estávamos todos no restaurante Italiano, chamado Spoleto que Will havia me falado. Não me lembrava à última vez que eu havia saído com os amigos, talvez na quinta ou sexta série. Não era algo que me fez falta depois, mas era algo que no momento eu estava apreciando.


O garoto alto de cabelos curtos e loiros, Gabriel, contava a engraçada história de como deram uma cuecada no professor de história, que não parecia ser o preferido de todo mundo, mas era o professor da matéria que eu mais gostava. Concluindo a história foram suspensos durante três dias. O mais escandaloso nas risadas era Pedro. Moreno de olhos azuis e cabelos negros cheios de tranças até os ombros, Will ao mesmo tempo em que parecia se divertir sentia-se um pouco envergonhado pelo o escândalo dos amigos. Gabriel deu uma cotovelada em seu braço que o fez olhar com um olhar bem sério para os dois amigos. Que logo contiveram o riso, mas que cochicharam alguma coisa no ouvido um do outro. Yuka é a que parecia estar mais se enturmando no meio de todas aquelas risadas altas e garotos brincalhões. De vez, ela parava e ficava olhando Fernando discretamente, mexia nos cabelos curtos e suspirava. Daniela no começo ficou mais calada que eu, mas logo entrou no assunto quando percebeu que Gabriel a ficava secando. Seu rosto branco cheio de sardinhas ficava vermelho com facilidade quando ficava com vergonha e foi isso que a denunciou.


Todo o tempo lá, eu olhava para Yuka e Fernando e rindo para mim mesma, acabou que ela não conseguiu dizer ao menos nem uma palavra.


A lembrança do acidente veio tão de repente, que meu riso se silenciou. Depois dele, nunca mais voltei a ter aqueles sonhos, o que era de grande alivio, mas porque continuar a pensar nele? Por que essa lembrança inesperada logo naquele momento de risos e divertimento? Tratei logo de voltar meus pensamentos ao restaurante e a conversa e não pensar mais naquilo.


 


*****


 


 


Ao chegar a casa, vi que não tinha nenhuma luz ligada.


- Mãe? Tia? – Chamei mais ninguém respondeu.


Foi então que lembrei que minha tia havia dito no almoço que iria ter um jantar com uns velhos amigos e que Sophie iria junto com minha mãe pra lá. Isso com certeza iriam distrair a noite toda e Will decidiu que iria ficar com os amigos dele e que talvez até passasse a noite fora. É. Sozinha pela primeira vez. Não me restava muito que fazer. Estava apenas eu em uma casa gigantesca, com vários quartos vazios, uma biblioteca enorme e uma sala de TV.


Subi para meu quarto, decidida a tomar um banho muito demorado e relaxar.


Peguei uma blusa gigantesca que tinha amarrotado na pilha de roupa do meu armário e uma calça de um pijama que eu não usava há um ano.


Cheguei à luxuosa sala, mas não havia nenhuma TV lá.


Procurei mais só havia os controles. Peguei o mais largo e gordo, apertei em todos os botões distraidamente e me assustei dando um pulo quando vi a estante em minha frente se abrir e encontrar lá a TV escondida por trás.


- Tenho que aprender a me acostumar com casa de rico e essas frescurites... – Deduzi.


Ao apertar no botão vermelho, logo foi ligada em um canal de noticiário da região.


Antes de ter tempo de mudar, ouvir um nome conhecido sendo citado no jornal:


Vivian. Uma foto sua com mais três garotas que eu não conhecia, sendo ela o destaque.


 


“O corpo da jovem Vivian, de 29 anos, que havia desaparecido na semana passada, acabou de ser encontrado por policiais da região. Havia marcas de arranhões e cortes profundos em seu corpo e pelo o que os médicos nos disseram, várias mordidas na parte do pescoço, braço e pulso. O corpo foi achado sem sangue. Ainda não há sinal de quem possa ter feito esse massacre. Policiais informaram que pode ser obra de algum tipo animal que devia vagar pela região...”


 


Uma imagem sua foi postada depois de morta. Ao vê-la, meu coração quase pulou, senti meu corpo tremer ao vê-la vestida com o mesmo vestido preto do meu pesadelo, rasgado, a palidez, tudo, sem desligar a televisão, subi correndo até meu quarto, não sabendo o que pensar.


- Com... Como eu poderia ter sonhado com sua morte? – Perguntei a mim mesma, colocando a mão na cabeça.


As lágrimas pulavam dos meus olhos, uma seguida da outra.


“Por quê?”


“Era apenas um sonho” – Dizia a mim mesma por pensamento. – “Não é real!”


Fechando bem os olhos, querendo acordar para a realidade não queria mais estar naquele pesadelo.


Minha atenção foi para um ruído vindo das árvores, olhei, mas nada vi apenas o sinal da noite.


- Eu não tenho medo. – Murmurei para mim mesma, fechando minhas mãos em um punho mandando meu corpo parar de tremer.


Caminhei ate a varanda lentamente, olhando diretamente para a árvore, subi em cima do galho com a mesma facilidade de que a primeira vez vendo se conseguiria ver direito. Entre os diversos galhos e folhas, fui me arredando mais para perto. Senti meu corpo tremer novamente, minha respiração ficou tensa ao conseguir enxergar a sombra de alguém entre as folhas verdes, antes de sair qualquer som da minha boca acabei perdendo o equilíbrio de meu corpo, senti meu estomago se embrulhar, e uma forte pressão do ar, meus cabelos cacheados dançando no vento. Eu estava com medo, um medo profundo do que aconteceria agora. Um medo que eu dissera pra mim mesma que não teria.


Foi então que sentindo tudo isso de uma só vez. Senti um toque de alguém, eu estava de olhos fechados, me perguntando se já estava no céu ou no inferno... Até finalmente criar coragem para abri-los, e vê que estava viva.


Respirei fundo.


A primeira coisa que vi foi uma imagem de um Deus ao meu lado. Olhando-me com olhos preocupados, seus olhos estavam mais verdes do que castanhos, estavam brilhante, não como o de Will naquele fim da tarde, mas um brilho que eu não sabia distinguir de onde viera.


Com um pouco do cabelo caindo em seu rosto, sua pele pálida e seus lábios vermelhos, com a expressão do rosto tensa e aflita. Eu conhecia aquele rosto.


- Victor? – Consegui dizer, seu rosto estava bem perto do meu e conseguia senti sua respiração fria e descontrolada.


- Anne, você está bem? – Sua voz foi como musica em meus ouvidos, algo nela me fez ficar tão calma como se nada de assustador tivesse acontecido.


- O que você está fazendo aqui? – Perguntei surpresa.


- Me responda, por favor!


- Sim. Eu estou bem, só com um pouco... Nervosa. – Sentia imensa dificuldade em pronunciar aquela palavra.


- Não se preocupe, prometo que vai ficar tudo bem – Ele passava a mão nos meus cachos. Tentando me tranqüilizar, pude ver que ainda usava sua luva de couro preto, mas não quis perguntar ou reclamar de nada.


Então pude ver que estava deitada na grama do lado de fora da casa, levantei o olhar e conseguia ver o céu azul escuro cheio de estrelas, nunca conseguiria ver elas em São Paulo...


Ele rapidamente me carregou, passando uma de suas mãos por baixo as minhas pernas e a outra na minha cintura e me levou para dentro. Eu me considerava uma gorda, mas ele me carregava como se tivesse segurando uma formiga comum. Colocou-me delicadamente deitada no sofá. Mas logo tratei de me sentar.


- Fique aqui. Eu vou chamar um medico. – Ele foi em direção a porta de saída.


- Mas eu estou bem. – Insistir.


- Não se preocupe, eu volto.


Antes que pudesse abrir a porta, me pus em sua frente, olhando nos seus olhos, agora mais claros que antes, sua expressão mudou para séria.


Eu não pretendo recuar por causa de uma cara feia. – Pensei.


Nos seus trajes nada tinha mudado, mais preto, e com as luvas.


Meu olhar para ele era sério também. Franzi as sobrancelhas e o fitei.


- Quem é você? – Eu queria respostas e ele as tinha de cor e salteado.


- Alguém que se importa com você! Isso já não basta?


- Não. Por quê?


Meu coração estava mais acelerado do que qualquer outra vez que ele tenha ficado e eu me perguntava:


“Por quê?”


Tinha a estranha impressão que todo o meu corpo se tremia mais que antes.


- Você nem me conhece... – Disse ele me dando as costas, parecendo perder a paciência.


- E você me conhece?


- Mais do que pensa. – Me olhou sobre o ombro.


- Como?


- O que? – Ele se virou de frente pra mim, tentando me deixar confusa.


- Como você me conhece?


- Eu não conheço.


- Mas você acabou de dizer...


- Acho que você deve ter batido a cabeça quando caiu da árvore. – Ele me interrompeu.


Eu tinha absoluta certeza de que tinha o ouvido falar que me conhecia mais do que eu pensava. Mas com a notícia da Vivian morta e ele aparecendo do nada, estava tão confusa que acabei me rendendo aquele jogo de perguntas.


- Acho que deve ter sido isso mesmo.


Senti-me zangada por me deixar ser vencida tão facilmente.


- Eu vou busca um copo de água para você.


Ele sorriu de leve pra mim. Indo direto para a cozinha, eu ainda confusa, fui atrás dele.


Ele já estava com o copo na mão, quando me viu se aproximar. O vi revirar os olhos e pousar o copo na pia. Como se já soubesse o que viria pela frente.


- De onde você veio?


- Eu estava andando por aqui por perto, e vi você no chão.


- Eu não me lembro de nada disso...


- Talvez, porque você devia está inconsciente.


- Eu acho que não estava inconsciente. E se eu realmente cai de cima de uma árvore tão alta por que não estou com nenhum arranhão?


- Sorte.


- Por que não conta logo a verdade?


- E qual é a verdade? – Falou ele levantando um pouco o tom de voz, se aproximando mais de mim.


- Que você me segurou para que eu não caísse no chão!


- E você tem como provar?


- Não!


Ele riu.


- Então não tem mais porque discutir esse assunto sem finalidade.


- Porque você esta fazendo isso?


Ele bufou.


- Você é teimosa, eu já disse que você estava consciente, eu vi você.


- E como você entrou aqui?


- Você estava com as chaves da porta da frente no seu bolso.


- Não estava eu as deixei na minha mesa no meu quarto assim que eu... – Não queria continuar aquela discussão, ele podia ser bonito como um Deus que eu nunca mais encontraria em toda minha vida, mas era irritante, o bastante pra me tirar do sério.


- O que? – Perguntou parecendo curioso.


- Nada. – respondi mal humorada


Comecei a marchar direto para meu quarto e vi por sobre o ombro que ele vinha logo atrás de mim, em toda a trajetória viemos em silêncio. Chegando lá me posicionei ao lado da mesa, mas não havia nenhuma chave. Fiquei de boca aberta. Como... – Balancei a cabeça tentando expulsar todas aquelas idéias confusas.


- Eu tenho certeza que tinha deixado elas aqui!


- Mas parece que não.


- Certo. Você venceu... – Falei olhando pela varanda.


Ele sorriu triunfante.


Não agüentaria olhar para aquele sorriso, o sorriso da vitória que eu queria que estivesse pregado em meu rosto ao invés do dele.


- Por enquanto. – Lancei um olhar desafiador para ele que pareceu ignorar.


- Eu acho melhor eu ir, sua tia e seu primo já devem está voltando, e garanto que não vão gostar nem um pouco de me ver por aqui.


- Por quê?


- Coisas de família.


Preferi não manifestar nenhuma pergunta. Duas derrotas no mesmo dia eram de mais pra mim.


Tudo aquilo ainda parecia muito estranho, tudo tão rápido, tão... Acho que nem eu tinha palavras para descrever o que eu sentia. Parecia que tudo ao meu redor rodava.


Eu o acompanhei ate a porta e a luz da lua bateu em sua pele, não tinha visto nada igual era tão... Lindo. Como se ele e a lua fossem a combinação perfeita. Era como de algum modo ele fizesse parte dela. Sua metade. Uma combinação extraordinária. Era a melhor palavra pra definir para o que meus olhos viam.


Em uma coisa eu estava certa, em toda minha vida não encontraria nada igual.


 


Não tinha se passado nem 5 minutos que ele havia ido embora e minha tia passou pela porta desesperada, entrou na sala fazendo varias perguntas, algumas estranhas, como se estivesse aqui o tempo todo.


- Anne você esta bem? Alguém veio pra cá com você? – Questionou ela parecendo pálida, como se tivesse visto um fantasma.


- Eu estou ótima. Não tia, por quê?


- Não havia ninguém aqui? Anne não quero que traga garotos pra cá sem meu consentimento, me entendeu? – Ela apontada o dedo em minha direção.


- Sim... Tia está tudo bem?


Minha mãe e Sophie atrás delas ficaram nos olhando, principalmente me olhando sem entender.


- Sim, sim. Foi só uma impressão minha. Pensei que tivesse trazido um rapaz pra cá – Terminou com “uma boa noite”, mas ao sair pude ver seu rosto, estava coberta desconfiança, minha mãe foi atrás dela, com certeza para perguntar o que teria sido aquilo.


Sophie ficou me olhando e aos sussurros perguntou:


- O que aconteceu?


E meus lábios se movimentaram em resposta:


- Não faço a mínima idéia.


Estava tão distraída que nem me deixei importar com aquilo por muito tempo.


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