A viagem foi bastante silenciosa como eu previra, o único som que se podia ouvir dentro daquele avião era das respirações ofegantes dos guardas que seguravam suas enormes armas juntas ao peito. Nenhuma instrução fora dita até agora, então a cada segundo eu estava ficando mais nervosa.

Eu não era uma pessoa inexperiente em relações a lutas, mas agora o inimigo era outro bem diferente dos que eu já enfrentara em toda minha vida. Jamais me imaginei em uma batalha contra meus amigos e invadindo um lugar que já chamara de segundo lar. Soava de maneira totalmente surreal aos meus pensamentos que eu me estremecia ao pensar nisso.

Ouvi um ruído de um radio dentro da cabine do piloto, por isso aprimorei minha audição para entender melhor sobre o que falavam. Era mais complicado conseguir ouvir tudo claramente com o barulho alto do motor do avião, mas mesmo assim prossegui disfarçadamente para que nenhum dos meus “colegas” percebesse que eu estava bisbilhotando.

–Negativo. Abortar ataque à base localizada na cidade de New York, o Agente Fury e nem os Vingadores se encontram nesse local. – Falou uma voz do outro lado da linha. Senti meu coração palpitar ao escutar aquilo, desejei mais do que tudo que aquele homem continuasse a dar mais informações.

–Onde devera ser efetuado? Quais são as coordenadas? – Perguntou o piloto do avião.

–Eles estão no Avião que pertence a SHIELD. Mandarei em seguida as a localização exata de onde e encontram.

Então o ataque iria ocorrer no famoso avião da SHIELD que eu não cheguei a conhecer quando era uma agente. Isso era mais um dos pontos negativos que eu teria de enfrentar, já que não conhecia como esse lugar era internamente. Esse era somente mais uma das dificuldades que eu iria encontrar pelo caminho. Loki quer que eu prove minha fidelidade a ele de alguma maneira, porem eu não conseguia pensar como iria conseguir fazer isso ao mesmo tempo em que estarei tentando fugir desse lugar.

–O combinado é o seguinte... Vamos atacar a ala leste do avião, é a mais vulnerável por não conter muita segurança nesse local. Cada um de vocês irá ter um parceiro e a questão principal de tudo isso é destruir tudo e todos que virem pelo caminho. Se alguém for capturado, abandonem seu parceiro imediatamente e retornem ao lugar onde nosso avião está esperando. – Explicou com um tom de superioridade o homem que estava em pé e mantinha o peito estufado, como se fosse um general ou algo do tipo.

–Abandonar o parceiro? Ah, é mesmo, me esqueci que aqui ninguém se importa com o próximo, apenas com seus próprios traseiros. – Alfinetei-os com toda ironia que conseguia reunir com aquele nervosismo que embrulhava meu estomago. O guarda se aproximou de mim e levantou a mão mencionando me dar um tapa. Mantive uma expressão engraçada no rosto. – Faça isso e meu rosto será a ultima coisa que você verá em sua vida.

Uma leve dose de adrenalina era meu antidoto para acalmar os nervos e me motivar a reunir a coragem que parecia ter sumido a alguns segundos atrás. Ele abaixou a mão calmamente e voltou ao seu posto com silenciosamente. Eu era a única mulher entre eles e todos me temiam pela maneira que me observavam. Parecia que eu já estava com uma boa fama entre essas pessoas.

Mais alguns minutos de uma silenciosa viagem e parecia que o momento se aproximava cada vez mais até que recebi a confirmação de que havíamos chegado. A grande porta de carga do avião se abriu e permitiu que tivéssemos uma visão privilegiada do gigantesco veiculo da SHIELD. Era algo tão inacreditável e majestoso que assustava por tamanha tecnologia. Steve me contara que eles já foram atacados pelos capangas de Loki, então obviamente a segurança da nave iria estar bem mais reforçada. A altura que estava o nosso avião do deles eram uma diferença enorme, o que não me permitia entender como chegaríamos até lá sem sermos mortos no ar.

–Como entraremos lá? – Gritei para que alguém me ouvisse já que a grande ventania e o motor eram absurdamente altos. Um deles me passou uma arma de pequeno porte que não parecia ser recarregada por balas convencionais.

–Você é a magnifica Fera aqui. Sua mira é praticamente impecável. Vamos testar isso. – Falou o homem mais magro a minha direita com um sorriso malicioso no rosto. Ele colocou um capuz semelhante aos que bandidos utilizavam da mesma cor do uniforme e foi imitado pelos outros. – Essa arma contem explosivos tão pequenos e poderosos que são capazes de destruir o motor desse avião...

–Eu entendi. – Falei impacientemente. Mirei paralelamente ao motor da área oeste para que uma distração se criasse do outro lado onde iriamos invadir. O vento retirava totalmente minha concentração e isso me fez lembrar de que se eu atirasse daquela maneira o explosivo se desviaria no ar, então girei meus braços alguns graus e apertei o gatilho. Acertei em cheio. Uma explosão descomunal seguiu-se com um grande volume de chamas se espalhando pelas nuvens.

–Agora! – Berrou o “general”. Jogaram uma corda até uma espécie de guilhotina no alto da lataria do avião que permitiria acesso ao interior. Deslizamos até a entrada onde meus pés bateram no solo metálico em formato de grade que possui aquele avião. A luz forte iluminava cada canto daquele lugar mostrando sua perfeição monumental.

–Separem-se. – Ordenou um deles, então todos se dispersaram em duplas para cada lugar que podiam. O homem mais magro me acompanhou segurando firmemente sua arma nas mãos e andando cautelosamente. Aprimorei minha audição para ficar atenta a qualquer barulho que fosse suspeito.

Passos leves e lentos estavam ao corredor ao lado do nosso, então sinalizei para que a minha dupla parasse de andar. De forma brusca ele colidiu em mim por não estar prestando atenção por onde andava. Virei e lancei um olhar zangado ao garoto que não parecia ter completado seus vinte anos de idade.

Um agente da SHIELD apareceu na minha frente apontando uma arma para nós dois. Eu agi muito mais rapidamente ao pegar seu pulso que segurava o objeto e quebrar seus ossos da mão até fazer que se contorcesse de dor permitindo que eu lhe desse um golpe forte na cabeça, caindo inconsciente no chão. Erros assim não poderiam acontecer novamente, teríamos de agir muito mais rápido para evitar uma captura.

Deixei que meus instintos de Fera me guiassem pelo caminho mais seguro possível, confiando plenamente neles e torcendo para que eles estivessem mais uma vez certos. Acelerei meu passo sem me importar em verificar se meu colega estava me acompanhando ou indo por outra direção. Outra vez me vi obrigada a parar quando um numero maior de passos estava se aproximando. Pelos meus rápidos cálculos eram cinco agentes muito mais apressados que seu companheiro anterior. Saquei meu par de Sai que estavam presos nas costas, em um formato de X.

–Qual o seu nome?- Sussurrei para a minha dupla. Ele me olhou através daquele capuz escuro e respondeu.

–Falls.- Respondeu ele no mesmo tom que eu havia usado.

–Eu vou precisar da sua ajuda agora, Falls. Fiquei naquele canto e espere o meu sinal. – Apontei para a parede branca e limpa que estava ao meu lado direito. Apertei minhas facas ainda mais na mão, até sentir perfeitamente o metal se fundir a minha pele. Concentrei no corredor a minha frente ignorando meus lados ou minha retaguarda, o que foi um erro enorme.

–Uniforme novo?- A voz de Natasha soou em minhas costas e eu me virei rapidamente deparando com a ruiva de braços cruzados. O grupo de agentes da SHIELD chegou ao lugar onde eu imaginava e não nos atacaram, apenas ficaram na retaguarda caso eu quisesse fugir. Era uma emboscada. Obviamente a SHIELD estava prevendo um outro ataque em seu magnifico avião, então não deixaria qualquer parte desprotegida.

Olhei para Falls, ou para onde ele deveria estar. Uma parede vazia era a única coisa que eu observava depois do homem ter fugido como um cachorro com seu rabo entre as pernas. Voltei a encarar Natasha, que já havia sacado suas duas pistolas automáticas.

–É bom revê-la, agente Romanoff. Infelizmente minha visita aqui, é breve.- Anunciei enquanto atirava uma das minhas facas no alto do teto, acertando o encanamento de agua, que produziu uma forte enxurrada de seu liquido sobre Natasha. Aproveitei o breve momento de distração da ruiva e me atirei sobre ela, prendendo seus braços em suas costas.

Recebi uma cabeçada forte que me fez soltar a mulher contra minha vontade. Natasha deferiu um forte chute em meu estomago, mas quando ela ia repetir o golpe segurei sua perna no ar e a puxei para um forte soco no rosto que também foi impedido com um movimento impressionante da mulher.

–Eu te ensinei tudo que você sabe. – Falou Natasha. Sorri de maneira intimidadora, mesmo sabendo que com ela não funcionaria.

–Então vamos ver se eu fui uma boa aluna. – Respondi. Dessa vez foi a agente que investiu contra mim. Seus chutes e socos eram interferidos antes de conseguirem me acertar. Eu estava agindo mecanicamente e agradecia profundamente por isso. Foi quando a Romanoff tentou me dar uma rasteira que eu percebi que mais um pouco, minhas mãos iriam alcançar os canos que ficavam no teto do corredor onde estávamos. Um plano surgiu em minha mente.

Os outros agentes não estavam mais nos observando, pois provavelmente haviam recebido ordens de capturar o Falls. Era somente Natasha e Eu, nada a mais que isso. Um segundo de distração minha e um braço envolveu meu pescoço, impedindo minha respiração. Eu me sacudia de todas as maneiras, mas Natasha era mais forte do que a minha pessoa. Impulsionei meu corpo em direção à parede, onde a agente colidiu com violência contra o vidro espelhado que havia como decoração. Cotovelei seu estomago, fazendo a mulher se contorcer de dor.

Natasha se recompôs e voltou a tentar me acertar, mas como ela mesma me disse: Ela havia me ensinado tudo, tanto que eu estava sendo tão ágil como a ruiva era. Quando a mulher se abaixou para aplicar mais uma tentativa de rasteira, pulei o mais alto que meu corpo cansado e dolorido permitia e me segurei no encanamento. Coloquei todo o meu peso nas pernas e acertei o rosto da agente que apenas caiu desmaiada no chão molhado. Torci mentalmente para que ela estivesse bem.

Uma nova sensação de euforia cresceu ao meu corpo ao analisar melhor a situação. Eu havia ganhado em uma luta contra a melhor agente da SHIELD, Natasha Romanoff. Adoraria poder ficar ali apenas pensando sobre isso, mas meu tempo estava limitado. Corri até o corredor mais claro, olhando para todos os lados a procura de alguma coisa que pudesse provar minha fidelidade.

Depois de algum tempo correndo, comecei a estranhar o fato de ainda não ter encontrado ninguém que pudesse me impedir. Uma forte ventania me indicava que eu havia chegado à ala oeste, onde um buraco havia sido feito no avião. Ao chegar próxima a uma sala suspeita, ouvi passos pesados e diminui o ritmo de minha corrida. O alvo se aproximava cada vez mais e eu estava pronta para quem quer que fosse.

Foi então que olhei para minha frente e percebi que um grande tonel refletia minha imagem retorcida, mas o meu “inimigo” poderia perceber que eu estava ali. Senti alguém segurar meu braço e me encostar com força nesse tonel. Lutei contra o homem grande e forte que me segurava, até me vislumbrar com aqueles olhos azuis.

–Abbe? – Chamou aquela voz doce e suave que eu tanto amava. Seria totalmente impossível não me derreter ao ouvir ele pronunciar meu nome.

–Steve. – Falei com a maior vontade que pude. Senti uma ponta afiada ser fincada em meu pescoço e meus sentidos logo se enfraquecerem. Adormeci nos braços de meu Capitão, com uma ultima visão de Fury segurando uma seringa, ao lado de Steve com seu olhar preocupado e apaixonado. Eu teria de acabar com isso.