Entrei em minha cela e fechei a porta com força. Como Loki podia ser tão medíocre ao ponto de ameaçar uma criança tão pequena quanto aquela garotinha, para simplesmente me obrigar a levar um recado aos Vingadores. Por mais que eu quisesse ser capaz de pensar em uma solução para aquele problema, minha cabeça estava em outro lugar.

O que eu mais queria naquele mundo era voltar para SHIELD e para os braços do homem que eu amo. Agora eu estava voltando para a agencia, mas não da maneira que eu desejava. O nervosismo me bateu ao pensar nas expressões de todos a me ver viva e trabalhando para o vilão da história. Como Steve iria reagir quando me visse lutar contra os homens que querem salvar a Terra dos ataques? Eu não poderia contar a nenhum dos meus amigos o que realmente estava acontecendo, pois se não uma inocente garotinha poderia sair gravemente ferida. Sacudi a cabeça para tentar tirar esse horrível pensamento da minha mente.

Sobressaltei-me quando a porta se abriu e Misha entrou correndo, sua testa molhada pelo suor e o desespero aparente em seu rosto jovem.

-Como ele soube que eu tinha uma filha? – Perguntou ele assustado.

-Loki deve ter feito uma pesquisa sobre onde você morava e encontrado coisas sobre sua família. – Expliquei cruzando os braços e encarando o chão. – Sua esposa...

-Eu sou viúvo. Minha filha passa a maior parte do tempo com uma velha babá. – Eu até teria dito um “lamento” ao saber que sua esposa estava morta, mas permaneci calada onde estava. – O que faremos?

-Estou pensando, acalme-se! – Pedi gesticulando com as mãos. – A última coisa nesse mundo que eu quero é que a sua filha saia machucada, mas também não quero enfrentar os meus amigos e passar por traidora.

-Não pode simplesmente levar esse maldito recado e voltar?

-É tudo muito mais complicado que isso, Misha. Você não entenderia a gravidade da situação se eu entrasse na SHIELD como uma pessoa que está trabalhando para aquele que está planejando a aniquilação da Terra! – Eu estava controlando minha voz o máximo que podia.

-Já percebeu que tudo que está acontecendo é culpa sua? – Falou ele. Arregalei os olhos, incrédula. Como havíamos chegado a essa conclusão? – Aquele tal de Loki está completamente obcecado por você.

-O que? – Meu tom subiu alguns oitavos pela surpresa.

-Ele poderia pedir isso a qualquer outro guarda, muito mais forte, ágil, habilidoso e experiente, mas acabou pedindo para uma garota que parece estar a beira da loucura! – Misha estava indo longe demais com aquelas palavras.

-Loki me escolheu porque não sou como nenhum outro guarda que ele tem. Agora senta nessa cadeira que eu vou contar a minha história. – O empurrei com força para que se sentasse em uma poltrona no canto da sala. O cientista estava muito assustado com a expressão ameaçadora que eu havia tomado. – Eu era um cientista igual a você, trabalhava em um zoológico no centro da cidade. Criei uma experiência que misturava o DNA de diversos animais, tudo com a ajuda de um assistente. Houve um incêndio em uma noite e meu querido amigo Kent injetou uma seringa em mim, essa que continha a experiência que fizemos. Absorvi as habilidades de cada um deles, até que houve um pequeno problema.

-Que problema foi esse? – Indagou ele interessado.

-Meus genes humano começaram a se regenerar. Estava reagindo de uma forma estranha e me levaria a morte dentro de algumas semanas. Então meu amigo Bruce Banner...

-Você conhece Bruce Banner?

-Sim. Ele descobriu que se meu DNA humano se tornasse mais forte, poderia conviver perfeitamente com os de animais.

-Como ele seria capaz de reforçar um DNA?

-Você como cientista já deve ter ouvido claramente sobre a história de um soldado que durante a segunda guerra se tornou um herói americano. Tudo isso graças a um soro.

-Obviamente. Quem nunca ouviu falar sobre o Capitão América? – Ouvir aquilo me causou uma profunda tristeza e um aperto no coração, mas prossegui com a minha história intrigante. Misha pareceu finalmente compreender. – Você usou o mesmo soro que ele?

-Não, claro que não. O soro jamais conseguiu ser reproduzido novamente, então usei uma coisa que chegasse perto do resultado.

-O sangue dele... – Raciocinou ele rapidamente.

-Isso mesmo, mas tudo isso fez com que minhas habilidades já existentes se aprimorassem muito mais. Sou muito rápida, posso enxergar através das coisas solidas, sou capaz de ouvir barulhos que nenhum humano normal pode e o melhor de tudo... – Peguei uma das agulhas das seringas que estavam sobre a bandeja de alumínio e me virei de costas. – Tudo isso me ajuda a ter uma mira... – Atirei a agulha em uma mosca que rondava o quarto, assim prendendo suas asas contra a parede. - ... Perfeita.

Misha estava realmente impressionado com a minha habilidade de ser uma Fera e ter uma mira tão boa. Seu rosto estava nesse momento transparecendo uma grande curiosidade para saber sobre mais coisas que eu possuía de diferente de um ser humano normal. Nosso tempo estava limitado e ele sabia disso, então logo se levantou da cadeira e ajoelhou-se aos meus pés.

-Agora entendo porque Loki quer que seja você vá até a SHIELD, mas por favor, Abbe eu te imploro! Seja convincente e volte antes das 72 horas acabarem, pois se não a minha filha vai sofrer. Ela é tudo o que eu tenho, por favor! – Ele se agarrou em minha cintura e a abraçou, pude sentir minha roupa ficar molhada por causa de suas lágrimas.

-Eu prometo que nada vai acontecer a você ou a sua filha. – Aquilo era minha palavra final e seria cumprida, nem que para isso eu tivesse que invadir o FBI ou a SHIELD para mostrar a Loki que eu “estava” ao seu lado. Passos pesados se aproximavam do meu quarto, por isso fiz que Misha se levantasse e recompôs-se. Um homem barbudo e com gigantescos músculos me puxou com força quando entrou na minha cela e me guiou até um tipo de galpão que estava repleto de armamentos e roupas especiais. Era tudo muito escuro, mas consegui visualizar rapidamente dezenas de aviões e diversos caixotes que continham carimbos de “Perigo” ou alguns toneis vermelhos com a escrita em preto de “Inflamável”. Fotografei mentalmente cada canto daquele porão, caso algum dia aquilo me fosse útil em meus planos de derrotar o Deus do Trovão e sua quadrilha de seguidores.

-Escolha suas armas e roupas, partiremos dentro de vinte minutos. Essa será a equipe. – Gesticulou para um grupo de quinze homens parados na porta, todos vestidos com o mesmo uniforme azul esverdeado. Carregavam junto ao peito, grandes e grotescas armas de fogo e trajavam coletes a prova de bala. Vislumbrei uma grande coleção de facas e Sais brilhantes em uma estante do outro lado. Peguei uma calça justa, um corset e uma jaqueta da mesma cor preta acompanhado de uma bota de cano longo e saltos.

-Onde posso me trocar? – Perguntei a o guarda que me arrastara a força para aquele lugar. Ele me olhou maliciosamente, avaliando meu corpo de cima a baixo.

-Aqui mesmo. – Respondeu para divertimento dos outros guardas que também me observavam como se eu estivesse despida. Abri a boca para insulta-los furiosamente, mas alguém me impediu.

-Não é dessa maneira que se trata uma jovem donzela. – Disse Loki aproximando-se e parando ao meu lado. O guarda que fez a brincadeira parou imediatamente de rir e fez um breve reverencia ao avistar o Deus. Loki ordenou com apenas um aceno que eles abrissem um dos compartimentos do avião. Os homens obedeceram rapidamente e então o Deus do Trovão indicou para que eu subisse as escadas, acompanhada por ele.

-“Não é dessa maneira que se trata uma jovem donzela”? Disse o homem que horas atrás me deu um tapa no rosto. – Eu sabia que estava brincando demais com a sorte e o bom humor de Loki, mas não conseguia me sentir intimidada por aquele homem.

-Admito que você me pegou em um momento de péssimo humor, minha Cara. Porém não devemos nos tratar com tanta raiva e ódio, já que agora estamos do mesmo lado, não é mesmo?

-Claro. – Menti não muito convincente, mas ele sabia que eu não estava totalmente entregue a essa ideia de trabalhar para ele e jamais estaria. Loki afastou-se e me indicou onde ficava o banheiro de um dos aviões, para que eu pudesse me trocar. Entrei e travei a porta para que ele não me surpreendesse.

-Tenho grandes planos para você. Juntos seremos invencíveis, nada será capaz de nos deter. – Falou ele do lado de fora. Enquanto eu tirava e colocava as roupas, permaneci calada apenas ouvindo a leve respiração de Loki. Apenas conseguia pensar em uma pergunta que me atormentava a todo o momento.

-Eu confiei em você, como pode estar fazendo isso comigo? – Suspirei alarmada, cansada de estar segurando aquela frase por tanto tempo. O Deus não respondeu de imediato, como eu estava esperando.

-Necessitava ganhar essa confiança para continuar com meus planos.

-Sempre assim... nunca passou de planos e utilidades. – Falei quando terminei de colocar minha roupa por completo. Olhei-me no pequeno espelho do banheiro minúsculo e estranhei o que via naquele reflexo. Não consegui me reconhecer vestida daquela maneira, semelhante a uma assassina de aluguel. Por isso comecei a sentir uma profunda falta de meu antigo uniforme de Vingadora. Sai do lugar e encarei aqueles olhos verdes e cruéis de Loki, mas que me encantavam de uma maneira sem explicações. Sentia-me atordoada quando via aquele rosto belo e jovial do Asgardiano, porem tinha uma enorme vontade de pular em seu pescoço e arranca-lo do corpo brutalmente.

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Loki almejou meu corpo como de costume e por seus olhos percebi que ele também notara como eu estava diferente com aquela roupa. Desviei meus olhos para a porta da cabine do avião, ansiosa para sair de perto do Deus. Ele se aproximou de mim e segurou de maneira delicada meu queixo e colocou-me para encarar seus olhos esverdeados e hipnotizantes. Como uma mágica senti-me involuntariamente atraída por aquele homem em minha frente, ignorando o fato de essa pessoa ser um assassino.

-Traga uma prova de sua nova fidelidade. – Falou ele deixando com que seu hálito doce e quente batesse em meu rosto pálido. Abri minha boca para responder, mas um dos guardas apareceu na porta anunciando claramente.

-Estamos prontos, podemos partir imediatamente.  – Loki se afastou de mim e deu espaço para que eu passasse pela porta aberta. Lancei um olhar travesso em sua direção.

-Não vai me desejar boa sorte? – Perguntei.

-Sorte é para aqueles que não possuem poder o suficiente.