Misha me seguia enquanto eu andava pelo corredor a procura do salão principal, onde Loki estava me aguardando. Eu não conseguia pensar em nenhum motivo para que ele me chamasse, já que tecnicamente eu estava me comportando muito bem nessas ultimas horas. Sem nenhuma tentativa de fuga, agredir algum de seus guardas ou me infiltrar em alguma saída de ar. Podia-se dizer que eu estava sendo uma prisioneira de exemplo, infelizmente minha pena não iria diminuir por isso. Se depender de Loki e seus planos, ela jamais acabaria. Por esse motivo, eu não estava deixando que dependesse apenas dele.

Eu sabia que Misha deveria estar se segurando para não soltar as milhares de perguntas que possuía, mas sabia que aquele momento não era o mais apropriado. Não era seguro falar sobre o que havia acontecido, até as paredes daquele lugar eram suspeitas. Se aquilo estava sendo um exagero? É claro que não, era apenas uma precaução, pois tudo deveria ser feito com muita cautela e sigilo. Se Loki desconfiasse de alguma coisa que estava sendo planejada por mim, minha morte ou de algum familiar meu era algo garantido.

Apenas conseguia ouvir o som do meu sapato em contato com o chão e a respiração ofegante do cientista que me seguia, aparentemente assustado. Tudo deveria estar sendo uma surpresa nada agradável para ele. Comecei a achar que havia sido rápida demais ao falar tudo para Misha, mas não tínhamos tanto tempo. Considerava-me totalmente impulsiva, permitindo-me fazer qualquer coisa que minha mente achasse que fosse certo. Não que eu não pensasse nas consequências, mas tentava ao máximo, evita-las. Novamente uma simples frase, me fez, com um breve sorriso no rosto, recordar de Steve, no dia do meu aniversário, em uma época que ainda não estávamos juntos.

Eu estava radiante, podia ser notado isso de longe. Hoje eu estava completando Vinte e Um anos de idade e várias pessoas queridas vieram me parabenizar pela data especial. Apenas certa pessoa ainda não havia me desejado felicidades e muitos anos de vida... Steve. Não nos esbarramos pelos corredores como aconteceu com os outros Vingadores. E também não havia razões para ele me evitar, já que nos últimos dias nos tornamos muito amigos, muito mais do que já éramos antes.

Sentia-me uma verdadeira adolescente tendo sua primeira paixão, pois não conseguia tirar da minha cabeça aqueles olhos tão lindos, sua voz grave e adocicada, seu cheiro delicioso e seu jeito inocente e gentil. Como eu podia estar tão apaixonada por uma pessoa que conhecia há tão pouco tempo? O coração é totalmente imprevisível quando o assunto é amor.

Estava na academia treinando para mais uma luta contra Natasha que se tornara diária. Conseguia me divertir e aprender vários golpes novos quando estava no ringue com ela. Romanoff havia me avisado que iria se atrasar essa tarde, por isso cheguei mais cedo para estar alongada e com o sangue fervendo quando ela chegasse.

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Peguei minha bolsa e um CD caiu de dentro dela. Percebi que era o presente que John e Gabrielle haviam feito para mim, já que ambos gostavam de diversas músicas. Coloquei o objeto no rádio e a música “Good Time – Owl City feat. Carly Rae Jepsen” começou a tocar por toda academia, em alto e bom som. Era sem dúvida uma música animada e que me dava uma sensação de alto astral, por isso comecei a dançar despreocupadamente. Hoje era meu aniversário, tudo estava bem, eu estava me apaixonando inocentemente por um homem lindo, então porque não poderia comemorar de um jeito alegre?

Subi no ringue e continuei a dançar como se não houvesse um amanhã, como se tudo dependesse da música que estava tocando no rádio nesse momento. Meus longos e lisos cabelos balançavam de um lado para o outro, acompanhando as notas musicais. Com uma grande rapidez, consegui decorar o refrão e pude cantar juntamente com a canção.

Devido ao som muito alto não fui capaz de perceber os passos de alguém se aproximando da academia e abrindo a porta do elevador, então apenas continuei dançando freneticamente como estava fazendo. Quando virei meu corpo parei bruscamente de me movimentar ao ver Steve me observando. Desejei ardentemente poder me esconder em um buraco no chão qualquer.

–Você dança muito bem. – Elogiou ele com um sorriso no canto da boca.

–Engraçadinho. – Falei ironicamente colocando as duas mãos na cintura. – Vamos lá, pode rir o quanto quiser.

–Eu não vou rir de você, estou falando sério. – Disse ele me olhando de forma encantadora. Como ele podia ser tão bonito?

–Bom, então, o que você quer?- Perguntei rispidamente. Ele ergueu a sobrancelha, surpreso com minha recepção. – Desculpe, é que você me assustou.

–Tudo bem, também ficaria nervoso se alguém me pegasse cantando no chuveiro.

–Você canta no chuveiro?- Desci do ringue e fiquei face a face com Steve.

–Não, claro que não.- Respondeu não muito convincentemente. Não pude evitar e comecei a gargalhar imaginando Steve cantando no chuveiro, com o cabelo ensaboado e usando uma escova de cabelo como microfone. Minha imaginação era tão fértil que chegava a me assustar. – Porque está rindo?

–Por nada não.

–Você me perguntou o que eu queria, vim aqui pra dizer... Feliz Aniversário. – Desejou timidamente colocando as mãos no bolso na calça.

–Você lembrou! – Falei radiante de felicidade.

–Eu não conseguiria esquecer, também com Stark me falando para comprar um presente para você a cada vez que passava por mim no corredor....

–Não acredito que ele fez isso. – Falei constrangida. Percebi que Steve tirava uma caixinha preta e aveludada do bolso e entregava a mim que estava com o queixo caído. Abri a caixa e me deparei com um lindo colar de ouro com um pingente da letra A.

–Espero que goste. – Ele não me olhava nos olhos e sim para minhas mãos tremulas que seguravam o presente. Estava gostando da minha reação.

–Steve é lindo, mas eu não posso aceitar, pois deve ter sido caro...

–É seu, não aceito devoluções. Afinal escolhi com muito carinho, não seria legal da sua parte querer devolve-lo. – Ele sem dúvidas sabia me deixar com as pernas bambas.

–Obrigada. – Fiz menção de abraça-lo, mas achei que seria pouco. Coloquei-me na ponta dos pés e apoiei minhas mãos em seu peito para dar-lhe um singelo beijo na bochecha direita. Steve me abraçou fortemente para meu total delírio.

–Que fofinhos, parece até que estou assistindo Ursinhos Carinhosos. – Stark era profissional quando se tratava de quebrar momentos delicados. Soltei-me rapidamente dos braços do Capitão e lancei um olhar mortal para Tony que se aproximou de mim e viu o presente que eu estava segurando. – Ouro? Não podia ter um diamante?

–É perfeito desse jeito, Stark. Nenhum diamante do mundo seria capaz de tornar esse presente mais lindo do que já é. – Defendi o meu presente. Steve olhou para Stark de um jeito que indicasse “Eu avisei”. – E não fale nada, você nem ao menos me deu alguma coisa de aniversário.

–Não sou eu que estou apaixonado por você. Letra A? Com certeza esse A é de América. – Falou dando um tapinha no ombro de Steve e saindo da academia deixando um clima com aquela sua frase “Não sou eu que estou apaixonado por você.”.

Quase bati meu rosto na porta que estava fechada do salão principal. Estava muito distraída com meus pensamentos em Steve, mas por sorte Misha puxou meu braço para evitar que eu quebrasse meu nariz ao bater com o ferro.

–Você está bem? Parece que estava em outro lugar.

–Eu estava onde eu queria estar nesse momento. – Respondi enquanto abria a porta e indicava para que Misha me acompanhasse para conhecer Loki pessoalmente, não apenas por coisas que eu falava. – Deixe que eu falo tudo.

O cientista assentiu e me acompanhou na entrada até onde o Deus da Trapaça estava sentado em uma espécie de trono gigantesco. Loki realmente gostava de ser ofuscado pelo brilho de ser um líder. Era um caminho longo até onde ele estava, por isso acelerei o passo.

–Ajoelhe perante ao seu rei. – Falou ele. Misha obedeceu rapidamente sem hesitar, o que foi perfeito. Eu me mantive de pé.

–Está brincando? – Indaguei ironicamente. Dois guardas com enormes lanças afiadas se aproximaram de mim e apontaram suas armas diretamente para meu pescoço. Imitei o movimento de Misha de forma relutante.

–Assim está bem melhor. – Ele levantou-se e andou ao redor de mim lançando olhares por todo meu corpo. – Eu chamei você aqui por um simples motivo. Preciso que você envie um recado para seus amigos Vingadores.

–E como o Senhor Todo Poderoso quer que eu faça isso?

–Invadindo a SHIELD. – Ele só podia estar brincando. – É claro que teria o auxilio de outros agentes meus e alguns dos que estão infiltrados naquela agência.

–Não farei isso, jamais!

–Como eu já imaginava que você não aceitaria, tomei a liberdade de conseguir uma garantia que você faria isso e continuasse com sua lealdade a mim em todo o momento que ficar naquele lugar. Tragam a garota. – Ordenou a um dos guardas. Garota? Será que Loki havia pego Gabrielle ou alguma de minhas irmãs como refém? Eu não responderia pelos meus atos se tocassem em um único fio de cabelo delas.

Porém uma garotinha de cabelos negros e aparentando seis anos de idade foi trazida pelo guarda. Misha ofegou. Seria ela filha, irmã ou conhecida dele?

–Essa menina é filha do cientista, se esta se perguntando... Caso você não aceite essa “missão” ou vá nela e não retorne em 72h ela sofrera as consequências.

–Como pode ameaçar uma criança? Seu monstro. – Falei incrédula. Até onde a maldade de Loki era capaz de chegar?

–Pela sua preocupação então deduzo que irá aceitar invadir a SHIELD. Esses guardas irão dar a você todo equipamento necessário e as instruções de como realizar. Boa Sorte. – Aquilo era o ponto final da conversa, por isso me levantei e comecei a caminhar furiosamente. Parei ao me lembrar de uma coisa.

–Qual a porcaria de recado que eu tenho que dizer?

–“Começou”. – Aquilo era bastante clichê, até mesmo para alguém como Loki.

Saí pela porta sibilando apenas para mim mesma. “Se começou, então farei questão de terminar”.