O cansaço já estava quase me vencendo, mas eu deveria permanecer acordada e esperar pacientemente que Misha abrisse os olhos e me deixasse explicar o que estava acontecendo. Uma onda de explicações invadia a minha mente e algo me dizia que eu deveria ser sincera e contar tudo a ele. Mesmo que ele se assustasse e me gritasse que sou uma louca, eu faria com que Misha me ouvisse até o final. Nem que para isso fosse necessário que eu o amordaça-se e o conte-se na maca hospitalar que havia naquele quarto.

Eu estava dando meu máximo para continuar de olhos abertos, sem me dar vencida pelo sono que estava gigantesco. Concentrei-me em qualquer barulho que ocorria no corredor e fiquei atenta para ver se alguém se aproximava de nós dois. Eu não poderia dizer que estava totalmente concentrada nisso, pois o rosto de Steve aparecia constantemente em meus pensamentos. Encostei minha cabeça na parede, deixando que algumas lágrimas escorressem por minha face. Um choro silencioso, repleto de saudade que comprimia meu coração causando uma dor insuportável.

Queria tanto estar em seu abraço, com suas mãos grandes e fortes acariciando minha pele e cabelos, de forma tão carinhosa e doce possível. Aqueles olhos azuis e inocentes que me observavam atentamente enquanto eu dormia ou estava lendo algum dos meus livros prediletos. Um pequeno sorriso se abriu em meus lábios ao me recordar de diversos momentos em que estive com Steve, mas um em especial me fez desejar profundamente estar com ele.

Macbeth era um livro interessante, mas estava se tornando cada vez mais complicado concentrar-me na história, com Steve acariciando meus tornozelos tão delicadamente, causando arrepios em todo meu corpo. Estávamos deitados no sofá que havia no apartamento dele, um de frente para o outro e ele apenas me olhava.

-Porque você está me observando tanto? – Perguntei enquanto virava a página do livro.

-Você é linda, sabia disso? – Respondeu ele sorrindo para mim. Senti minhas bochechas ficarem coradas.

-Claro que eu sabia, você falou isso mais de vinte vezes em apenas uma hora. – Tentei continuar lendo a obra de Shakespeare, porém eu sabia que Steve ainda estava me assistindo, por isso comecei a rir e fechei o livro. – Você é terrível, sabia?

-O que eu fiz? – Indagou inocentemente.

-Sabia que uma hora ou outra eu iria desistir de ler o livro e voltar minha atenção somente para você. – Falei sorrindo para ele. Rogers inclinou a cabeça para trás e riu gostosamente. Levantei-me do sofá e peguei a caneca com o restinho de café e levei até a pia da cozinha. Lavei minha xicara e alguns pratos que estavam ali, mas logo senti os braços de Steve me envolverem a cintura em um abraço apertado enquanto seus lábios percorriam meu pescoço.

-Case comigo? – Perguntou ele em meu ouvido. Deixei um prato escorregar entre meus dedos e bater com violência nos outros objetos que restavam para serem lavados. Por sorte eles não se quebraram com a colisão, mas meu coração ainda estava pulando devido ao susto ao escutar aquelas palavras. Não que eu não quisesse me casar algum dia, mas era tão cedo para se falar em matrimonio. Nós dois não tínhamos nem ao menos completado dois meses de namoro, então seria cedo demais para e falar em casório.

Virei meu corpo para ficar de frente a Steve que estava impressionado com o meu súbito choque.

-Não acha que está cedo demais para falarmos nisso? Afinal, recém começamos a ter um relacionamento mais sério e além do mais... – Disse, mas fui interrompida por um beijo rápido que me calou.

-Nunca disse que precisava me responder agora. Só queria mostrar que sempre vou querer estar com você e seria maravilhoso poder te chamar de Senhora Rogers. – Eu abri um largo sorriso e coloquei meus braços em torno de seu pescoço, puxando-o para um beijo longo e quente que demorou um tempo. Separamo-nos ofegantes e mais cheios de desejo do que nunca. Éramos jovens e só havíamos tido relações apenas um com o outro, então era de se esperar que nos desejávamos o tempo inteiro.

-Eu tenho uma surpresa para você. Vem comigo. – Eu o puxei pela mão levando seu corpo até o quarto, onde Steve se sentou na beirada da cama. Fui até o banheiro e coloquei uma camisola sensual de seda que marcava minhas curvas e deixava meus seios muito mais fartos com os detalhes em renda. Eu havia comprado naquela tarde para comemorar nosso aniversário de dois meses de namoro, mas para que esperar tanto?

Quando voltei para onde Steve estava, ele me olhou com tanta admiração que não pareceu caber em si. Minha tentativa de seduzi-lo estava funcionando perfeitamente, como eu havia planejado.  Ele podia ter aquele jeito tímido e fofo, mas ele antes de tudo era um homem com suas necessidades. Além do mais, quando estávamos juntos, não havia motivo para ele se sentir envergonhado, diferentemente de nossa primeira vez onde ele estava nervoso e com medo de me machucar. Tão amável.

Passei minhas pernas ao redor de sua cintura, sentando em seu colo. Suas mãos pousaram em minhas costas, levantando levemente minha roupa.

-Sim. Eu diria sim. – Falei olhando profundamente em seus olhos azuis. Por um breve momento ele não pareceu entender o que eu queria dizer com aquilo.

-Sim o que?

-Se fosse para responder agora, se eu quisesse me casar com você. Eu diria Sim, mas ainda é muito cedo. Então me pergunte isso novamente dentro de alguns dias, veremos se eu continuo com a mesma ideia na cabeça.

-Se você me perguntasse isso daqui a cem anos, eu jamais mudaria de opinião. Sempre serei perdidamente apaixonado por você. – Falou ele em meu ouvido, como se fosse um simples sussurro.

-Isso não é amor demais?

-É o que sinto por você.

Fui acorda de meus devaneios por um sobressalto de Misha que se levantou assustado, olhando para cada canto da sala. Quando seu pescoço se virou e seu rosto se deparou com o meu, ele colocou-se sentado sobre as pernas e tateou o peito a procura de alguma ferida.

-Acalme-se, está tudo bem. Não farei mal a você, então, por favor, me escute com atenção. – Pedi de forma suplica a ele que estava visivelmente transtornado com a situação que se encontrava.

-Quem é você? – Perguntou ele. Visualizei seus olhos que tinham um tom natural escurecido agora. Ele havia voltado ao normal e, é claro, possui muitas perguntas para fazer a mim.

-Meu nome é Abbe Stich, sou uma agente... – Engoli em seco – Sou uma agente da SHIELD e fui sequestrada por esses homens e aposto que você também foi. Precisa me contar a ultima coisa que se lembra.

-Eu fui sequestrado? – Desespero era a palavra mais perfeita para definir a expressão de Misha nesse momento. Passou a mão na cabeça e encostou-se a parede ao meu lado, atordoado com uma lembrança. – Não consigo acreditar, não faz sentido...

-Não faz agora, mas eu juro que irei te ajudar a compreender tudo. Só que para isso você precisa me contar exatamente a última coisa que consegue se recordar. – Implorei com urgência. Tudo estava dependendo da colaboração de Misha. Ele esfregou a garganta e voltou a falar com a voz fraca.

-Apenas consigo me lembrar de estar na minha sala, sou professor em uma faculdade da Carolina do Norte. Eu estava organizando minha pasta para ir embora, quando um homem de cabelos negros e olhos bastante verdes, dizendo que se chamava...

-Loki. – Completei prevendo quem era pela simples descrição que ele fizera.

-Sim, isso mesmo. – Assentiu me olhando surpreso. – Depois disso tudo ficou escuro e sumiu como se vendassem meus olhos. Agora não consigo entender como vim parar nesse lugar.

-Ele colocou você sobre um efeito de hipnose. Esse homem chamado Loki foi o responsável pelos ataques que ocorreram em New York há quase um ano atrás. Lembra-se do episodio dos Vingadores?

-Sim, não se falava sobre outra coisa nos jornais e na televisão.

-Loki está planejando um novo ataque e para isso precisou de sua ajuda. Um cientista como você é algo crucial na tentativa dele de reconstruir um portal através do tesseract.- Falei para Misha que estava mais branco do que já parecia ser.

-Tesseract?

-Eu explico mais tarde, mas agora você precisa me escutar. Terá de continuar ajudando Loki a fazer o que ele mandar.

-Jamais farei uma coisa dessas. Esse homem é um psicopata! – Sibilou baixinho, mas com uma voz decidida.

-Se ele descobrir que você voltou ao normal, saindo daquela hipnose, ele vai matar nós dois! Não existem maneiras de fugir desse local!- Eu também estava começando a ficar desesperada, um fato que não estava ajudando. Deveria me manter calma, pois duas pessoas nervosas não seria muito útil.

-Eu nem ao menos sei o que é um Tesseract, como vou poder ajuda-lo?

-Não vai trabalhar diretamente com o cubo, pois ele não está na Terra. Isso é uma longa história... – Parei de falar ao ouvir passos rápidos e pesados se aproximarem do meu quarto/cela. Peguei Misha pelo braço e o levantei para que nenhum guarda nos visse sentados amigavelmente no chão. – Aja naturalmente e seja rude comigo. Você está do lado do vilão, seja um seguidor malvado dele.

-Porque eu faria isso?

-Faça! – Disse com veemência. Cruzei os dedos nas costas para que Misha se comportasse exatamente como um capanga de Loki, para que tudo ocorresse bem. Um guarda abriu a porta com violência e olhou para nós dois da cabeça aos pés.

-O Deus Loki exige sua presença imediatamente na sala dele. – Falou grossamente. Estranhei o fato dele não ter entrado no quarto e me levado à força pelo braço.

-Não vai me obrigar a ir com você? – Indaguei petulantemente.

-Recebi ordens para não fazer isso, mesmo que eu queira. – Ele se retirou deixando Misha e eu sozinhos novamente. O que Loki estava querendo agora? Teria desconfiado do sumiço de seu cientista enquanto este estava desacordado? E porque havia ordenado a aquele homem para que ele não me tratasse de forma grosseira?

-Porque você está aqui? Porque esse tal de Loki te sequestrou? – Misha estava ainda parado ao meu lado.

-Ele acredita que serei uma ótima aliada. – Cruzei os braços e continuei encarando a porta entreaberta.

-Essa SHIELD que você disse que trabalhava, teve algum movimento com o ataque em New York?- Suspirei ao ouvir esse pergunta.

-Foram eles que organizaram a Iniciativa Vingadores. Unindo os heróis espalhados pelo país e até de outros planetas. – Falei me lembrando subitamente de Thor. Desejei naquele momento saber o que havia acontecido entre ele e minha irmã Kate, depois da festa do Stark. – Fui convidada para fazer parte desse grupo, foi assim que conheci o Loki.

-Você é uma Vingadora? – Ele pareceu bastante impressionado.

-Eu era. – Enfatizei a última palavra enquanto saia pela porta indo de encontro à sala de Loki.