Depois que sair de casa, eu andei, andei e andei ... E após isso fiquei mais ou menos meia hora sentada na calçada apenas pensando na minha vida, no que ia fazer, do que ia viver e onde iria ficar. Alguns hotéis não era caros, mas, para mim que teria que pagar uma escola também ... Não seria fácil. E de repente meu telefone toca. Quem é? Minha mãe. Devo ter recebido umas 200 ligações e mensagens dela, nada retornado. Eu sentia um aperto enorme no coração, mas não poderia desistir, não poderia voltar para a casa e ver meus pais me olhando com cara de desaprovação todos os dias ... 
A primeira pessoa em quem eu pensei foi Cecília, claro. 
- Miga? É a Letícia!
- Ah, oi Lê, tudo bem?
- Não, não tá nada bem! (a essa altura, eu já estava chorando)
- Mas o que aconteceu?
- Eu estou na rua Cecília! Fugi de casa, deixei um bilhete antes de sair e estou até agora na rua
- VOCÊ TÁ LOUCA? Porque saiu?
- Porque acho que meus pais não merecem uma filha assim como eu! Irresponsável! Que arruinou a vida em uma noite!
- Olha, você tem que esfriar a cabeça, voltar para a casa e se explicar aos seus pais! Isso tudo porque o Ricardo não quis conhecer seus pais?
- Não, eu NÃO vou voltar. Mano, ele quer que eu aborte bebê, A-B-O-R-T-A-R! Sabe o que é isso? É tipo matar alguém que nem nasceu direito, sei lá. Olha, faz o seguinte: fala pra sua mãe que eu tô indo ai passar umas noites, inventa algo, diz que eu briguei com a minha mãe e sai de casa pra esfiar a cabeça, te explico tudo quando chegar ai, tô indo ...
E assim foi. Enxuguei as lágrimas e fui para a casa de Cecília. A mãe dela era um amor, minha segunda mãe e eu só não explicava essa situação toda a ela porque sabia que ela contaria para a minha mãe. Ela conversou comigo por uns 20 minutos, conversar típicas, perguntar sobre mim, minha família, escola ... E quando deu 22:00 nós subimos para nos arrumar e dormir. Eu não aguentava mais aquela vida de grávida, não fazia diferença para mim ainda, mas eu j[a me sentia enjoada e tinha desejos, DESEJOS, ah, eram horríveis!
A mãe de Cecília estranhou, perguntou se não íamos a algum barzinho ou balada, já que era sexta feira à noite ... 
- Não mãe, estamos cansadas, vamos dormir.
- Ah, ok então, boa noite meninas
- Boa noite!
Apagamos as luzes e só se ouvia meu choro, baixinho mas ao mesmo tempo alto demais.
- Letícia, o que aconteceu?!
- Foi o que eu te disse, deixei uma carta para meus pais, explicando tudo, e fugi de casa. Não tenho lugar para ficar, não tenho dinheiro para pagar um hotel e muito menos escola! NÃO SEI O QUE VOU FAZER, NÃO SEI! Estraguei tudo! E só sei que não vou seguir o "conselho" do Ricardo: "abortar" ...
E antes que eu terminasse de falar, ouvimos o telefone tocando, e enquanto eu ouvia, eu me sentia o quanto tinha sido burra e estupida, como sempre, eu tinha sido, é claro que era minha mãe! É claro que ela ligaria para a casa da minha melhor amiga, que era minha primeira opção ...