Avalon escrita por Ninha Harlocchi


Capítulo 2
Avalon


Notas iniciais do capítulo

Divertam-se!



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No dia seguinte acordei imaginando se os veria novamente ou se tudo não tinha passado de um sonho, se eles não faziam parte do universo de Avalon. Contei a Estrela sobre os dois e ela me disse que eu deveria tentar ajudar esse garoto, afinal ele parecia ser uma pessoa cansada demais com apenas 17 anos. Falei que faria o possível.

         Sendo assim, planejei passar à tarde na praia, lendo e tirando fotos, esperando que eles aparecessem. Já fazia uma hora que estava ali e nada. A única pessoa conhecida que vi foi Ludmila e ela resolveu me fazer companhia. Ela era linda, corpo perfeito, morena, olhos de jabuticaba, cabelos negros... Uma perdição para os garotos. Pena que ela não dava a mínima para eles.

- Puta que pariu, você viu aquela loira que acabou de sair da água? – ela me perguntou, atrapalhando a minha leitura de “A cidade do sol”.

- É claro que não – respondi mal humorada.

- Deveria ter visto. Ela era uma delicinha – sorriu e piscou, me provocando.

- Já disse que não adianta você tentar me seduzir.

- Infelizmente. Seria tão excitante transar com uma garota ruiva que parece uma fadinha – ela gargalhou, me deixando puta de verdade.

- Vai se fuder. Aliás, por que você não vai procurar alguém que queira ir pra cama com você ao invés de perder seu tempo comigo?

- Iiih, mas que falta de senso de humor hein. Você fica um cú quando tá lendo sabia? – e graças aos céus ela colocou os fones no ouvido e me deixou ler em paz depois disso.

         Mas minha paz durou pouco. Uns dez minutos depois ela estava me cutucando.

- Puta que pariu, que foi agora? Uma morena?

- Não, um moreno. E mesmo não ligando muito pra isso, é um ÓTIMO moreno – ela olhava para frente e não pude deixar de seguir seu olhar. Para minha surpresa, o cara estava com uma menina no colo. Nickolas e Tutti.

         Acenei para eles, que vieram em minha direção. Lud fez a maior cara de “não estou entendendo nada” e como castigo por ela ter me irritado antes, nem expliquei nada. Ela que descobrisse depois.

- Oi fadinha – ele sorriu tão abertamente para mim que até a minha amiga lésbica ficou de queijo caído.

- Oi. Pensei que não viriam mais.

- Ah desculpa, é que tive que ajudar minha mãe a arrumar a casa antes de sair.

- Tudo bem, pelo menos vocês vieram.

         Apresentei todos eles, ainda sem contar como os havia conhecido e sentei na areia ao lado de Tutti, que brincava com um baldinho. As crianças são tão puras e mágicas apenas por serem crianças.

- O que você estava lendo? – ele me perguntou enquanto eu admirava a sua filha.

- A cidade do sol. Conhece?

- Claro. É um ótimo livro, embora um pouco pesado. Mas ainda prefiro ele ao “O caçador de pipas”, mesmo esse sendo muito mais famoso.

- Concordo. A trama do primeiro é muito mais elaborada que a do segundo. Até hoje não entendo como uma história tão sem graça possa ter filme e ser conhecida mundialmente enquanto a outra que é muito mais interessante, não tem tanto destaque.

- O mundo é estranho e sem sentido. Se bem que se houvesse sentido, não seria tão interessante – ele comentou com um ar de filósofo, como se pensasse muito em tudo. Mais até do que eu.

- Credo gente, que conversa mais ‘blah’ pra um dia lindo como esse na praia – ás vezes me pergunto por que sou amiga dela, na boa mesmo, não faz sentido. Não que precise fazer.

- Acho que sua amiga tem razão. Deveríamos conversar sobre coisas mais banais – ele propôs.

- Por exemplo? – perguntei boladíssima. Eu estava feliz com aquela conversa e por mim poderia ficar ali discutindo sobre o sentido das coisas por horas. Mas a Lud tinha que estragar isso.

- Como é a Mackenzie?

- Você vai estudar lá?? – minha amiga perguntou assustada.

- Sim, começo segunda. Você estuda com a Morgana?

- Aham, desde a quinta série eu sou obrigada a aguentá-la – e ainda teve a cara de pau de sorri para mim. Vadia.

- Para você ver como ela é um amor de pessoa – falei cinicamente. Ele riu.

- Bem, acho que será divertido conviver com vocês – parecia sincero.

- Garanto que mudará de opinião despois de uma semana – ela disse – Nossa fada aqui é tão entediante quanto os bruxos de Harry Potter – ok, depois dessa, realmente não faz sentido!

- Os bruxos de Harry Potter? Entediantes? Você é mais maluca do que eu pensava – ele falou olhando para a Tutti, que continuava brincando na areia, alheia a toda a nossa conversa.

- Hey, você me deixaria tirar fotos dela? Te passo tudo depois e prometo que não as usarei de forma inescrupulosa – ele riu e assentiu.

         E assim passamos o resto da tarde. Tirando fotos, conversando, rindo. Tive a sensação de que os conhecia há tempos e de que formaremos uma turma muito legal. Além de que as fotos ficaram perfeitas.

         Mas apesar do dia incrível, a noite não foi tão boa assim. Quando cheguei em casa, Estrela estava preparando um macarrão com molho branco, cantando e dançando enquanto Samir tocava violão. Um típico sábado em casa com meus pais.

- Mog, até que enfim você chegou, pensamos que você passaria o resto do dia na praia e se esqueceria de que tem uma casa – Samir disse ao me ver toda cheia de areia e queimada pelo Sol.

- Desculpa, perdi a noção da hora. Estava com a Lud, o Nickolas e a Tutti o dia todo.

- Quem é Nickolas e Tutti? – esqueci que meu pai não sabia deles.

- Um cara de 17 anos e a filhinha deles que deve ter menos de dois anos. Ele vai estudar na Mackenzie – resumi a história.

- E como você os conheceu? – qualquer um poderia pensar que ele estava preocupado comigo, pensando que eu estava me envolvendo com um adolescente que já era pai e que isso não seria bom para mim. Mas qual é, a pergunta tinha vindo do meu pai e ele nunca pensaria isso.

- Ontem, na praia. Não sei, mas eu os vi e me deu a maior vontade de falar com eles. E foi o que eu fiz.

- Almas se reencontrando. Foi isso que aconteceu – mamãe gritou da cozinha.

- Pode ser. Tem fotos deles aqui na câmera se vocês quiserem ver. Vou tomar banho.

         Depois de ter me banhado e comido, resolvi ler mais um pouco na rede na varanda que dava de frente para a praia (sim, minha casa fica praticamente na praia. Pode me invejar). E enquanto lia, acabei vagando para Avalon e já não sabia se estava acordada ou se dormia. De qualquer forma, aquilo foi um pesadelo.

         Estava tudo tão escuro, pensei que o Záion tinha ido ali para descansar um pouco e por isso a escuridão (podemos mudar o tempo quando queremos). Não o encontrei e tentei mudar para dia para com a claridade tentar achá-lo, mas não consegui. Isso nunca havia acontecido antes e fiquei assustada. Tentei me localizar, mas tudo estava encoberto em bruma e eu não conseguia enxergar nada. Ouvi uma coruja piando ao longe e deduzi que estava longe da macieira, já que era ali que as corujas ficavam. Mas também não ouvia a cachoeira, aliás, não ouvia nada e aquele silêncio estava me torturando. Gritei pelo Záion e não obtive nenhuma resposta. Então comecei a ouvir barulhos estranhos, parecia um monte de gente falando junto, tudo misturado, eu não entendia nenhuma palavra. Era como se os pensamentos de todo mundo estivessem ali, entrando em mim, me fazendo querer gritar. E de repente tudo parou, o dia ficou claro. Eu podia ouvir a cachoeira e ver as corujas ao longe. Corri a biblioteca, sentindo que meu amigo estava ali e o encontrei sentado lendo pela milésima vez o mesmo livro e aparentemente ele não tinha ouvido nada.

- Záion? Há quanto tempo você está aqui?

- Há uma meia hora, por quê?

- Você não ouviu nada não é?

- Ouvi o que?

         Então contei a ele sobre a escuridão, as vozes, a bruma. Tudo. No fim ele me abraçou dizendo que estava tudo bem, que eu deveria ter dormido e misturado os pesadelos reais com Avalon. Tomara que ele esteja certo.


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Notas finais do capítulo

Nickolas sera um par romântico? Quem sabe..



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