Acordamos naquela manhã um pouco perdidos, meio que com medo de dar o próximo passo. Sabíamos o que deveria ser feito, mas a idéia de termos que deixar um lugar onde estávamos seguros e partir para um lugar que não tínhamos nenhuma noção do que nos esperava estava nos assustando para cacete.

Tomamos o café da manhã juntos e tentamos conversar bastante para descontrair o clima meio pesado. Todos estávamos cansados disso, tudo bem, fazia pouco tempo que estávamos naquela situação, mas o que nos apavorava era a idéia de que talvez teríamos que viver mais anos de nossas vidas naquela situação.

Era para termos recebido uma ligação do outro grupo a meia hora, eles provavelmente ainda não tinham conhecimento do plano de resgate que aconteceria a aproximadamente um mês. E assim se passou mais meia hora e nenhum sinal deles, a tensão tomava conta da cozinha, se é que podemos chamar aquilo de cozinha.

–Pessoal. - Gritou Fred correndo em nossa direção. - É o Blasio.

– Graças a Deus. - Disse Gina correndo feito louca e roubando o celular do imão.

Gina colocou imediatamente no viva voz e já começou a conversa perguntando pelo Harry. Dei uma risada quando ouvi Jorge resmungando algo sobre ele ser o irmão e ela nem pergunta por ele. Quando a gritaria finalmente deu uma diminuída pudemos explicar para eles sobre o tal plano militar de resgate. Não foi uma grande surpresa quando a Lilá falou que eles já sabiam. Nos contou que no dia em que nos separamos eles encontraram um grupo que estava se deslocando para o abrigo, mas não mudaram seus objetivos que era procurar por seus familiares.

–Tudo bem. Que bom que vocês já estão por dentro. - Disse Theo.

– Sim, mas de qualquer jeito não sabemos o caminho. - Disse Dino com um certo tom de preocupação.

– Não se preocupe com isso. - Disse Malfoy. - Assim que descobrirmos o lugar nós avisamos à vocês.

– Nós estamos a vinte minutos da casa dos pais da Lilá. Quando resgatarmos os pais dela iremos atrás dos de Pansy, e depois de lá decidiremos o próximo passo. - Disse Blasio e logo depois se despediu.

– Então pessoal, estão prontos? - Perguntou Malfoy.

– Meu querido eu nasci pronta. - Respondeu Gina pegando a pistola que estava em cima da mesa.

Não sei se já comentei mas ontem, antes de dormirmos, Gina resolveu que seria muito legal se decorássemos nossas armas com uns decalques que tinham no caderno dela. O resultado foi uma arma super gay.

O plano era bem simples, iríamos para o próximo SP e de lá decidiríamos o próximo passo. Tudo que precisávamos era que tivesse um mapa assim como tinha no anterior, e que também seguisse a ordem que estávamos esperando. Só assim teríamos a certeza de que estávamos no caminho certo.

Estávamos nos dirigindo para a MDM quando Malfoy me puxou para um canto mais afastado do abrigo.

– Espero que dê certo. - Disse ele mantendo seus olhos fixos nos meus.

– Também. Mas algo me diz que nós estamos certos.

– Por favor Hermione, sempre tem algo dentro de você que diz que você está certa.

Não sei porque, mas naquele momento me deixei levar pela piadinha de mal gosto dele. E assim ficamos, rindo igual dois retardados até uma cabeleira ruiva chegar gritando como uma pata choca e começou a nos abraçar como se o mundo fosse acabar.

– Achei que vocês tinham sido abduzidos. - Gina estava chorando muito, sério.

– Que ideia louca ruiva. - Disse Malfoy retribuindo seu abraço. - Estamos em pleno apocalipse zumbi, se algo tivesse acontecido provavelmente seríamos apenas mais dois cadáveres querendo seu cérebro.

Dito isso Draco se separou de Gina e nos chamou para entrar na MDM, onde todos nos esperavam com olhares preocupados. Todos nós estávamos com um arma nas mãos, umas melhores do que outras, mas nenhuma desnecessária.

Pela primeira vez decidimos fazer uma coisa diferente, começamos a cantar canções de crianças para nos distrairmos. Eu diria que aquele foi o dia mais divertido que passamos juntos, nem todos estávamos presentes mas mesmo assim conta. Perdi a conta de quantas vezes eu roubei o pão da casa do joão. Em menos de uma hora todos viramos ladrões.

A cada minuto que passava nós ficávamos mais aliviados, realmente era um milagre não termos encontrado nenhum cadáver pelo caminho. Conversávamos sobre as coisas mais absurdas e me impressionei em descobrir coisas sobre meus amigos que eu nunca tinha imaginado. Fazia tempo que eu não falava com o Rony sobre alguns assuntos, eu passava mais tempo com ele e com o Harry mas os nossos assuntos foram ficando um pouco diferente. Naquele dia nós dois ficamos conversando na MDM sobre partes de nossas vidas que tinham sido esquecidas a tempos, mas eu posso dizer que gostei muito daquilo, gostei de passar um tempo com o meu amigo como fazíamos quando tínhamos uns onze anos e gostei de fingir por um momento que nada daquilo estava acontecendo.

O próximo SP, diferentemente do outro, ficava em um dos lugares mais horríveis que já vi em toda minha vida. Pelo que parece o dono da casa resolveu deixá-la de lado séculos antes do apocalipse começar. O mato parecia que ia tomar conta da casa para poder habitar o Tarzan, e o cheiro era um dos piores do mundo, o que me deu uma sensação de medo, já que a gente pode rapidamente associar o mau cheiro a um cadáver.

– Vamos logo.- Disse Theo. - É tudo ou nada agora.

Adentramos a casa pela porta dos fundos, já que a principal era praticamente pedir para sofrer um acidente. A sala principal era realmente minúscula, e é melhor dizer que nem cozinha tinha, pois não considerava relativamente grande o espaço que continha um fogão e uma geladeira. Para quem reclamou da última vez pode ficar satisfeito agora, pois só temos um quarto com quatro camas. O que mais nos preocupava era o mapa, procuramos por todos os cômodos da casa e não achamos nem um sinal dele.

– Pronto, agora sim estamos ferrados. - Gritou Rony.

– O que faremos agora?- Perguntou Luna com as bochechas vermelhas.

– Calma pessoal, a gente vai achar, a gente têm que achar. - Disse Theo voltando procurar.

– Pelas minhas contas, é seguro gastarmos no máximo três dias em cada SP.- Disse Draco. - Acho que conseguirmos dar conta.

E foi assim que seguimos. Fred e Rony foram pegar as malas com os suprimentos da outra casa que trouxemos na MDM, nunca se sabe se todos esses lugares têm comida, e depois os meninos trouxeram nossas mochilas. Ficamos por mais uma hora procurando o mapa pela casa. Olhamos em todos os lugares possíveis, até em baixo do tapete olhamos.

Após todos se sentirem derrotados paramos para comer algo, ja era tarde levamos umas três horas para chegar até lá, e também não estávamos contando com o atraso da ligação do B team. Foi uma discussão enorme para decidirmos o esquema dos quartos, só haviam quatro camas e nós éramos sete, três mulheres e quatro homens. Theo querendo dar uma de engraçadinho começou anunciando que queria dormir com a Gina, usando essas mesmas palavras.

– Weasley vou te dar o privilégio de dormir comigo, agora me resta saber se a ruivinha é boa de cama.

– Olha a sua boca seu merdinha. Na minha irmã você não encosta. - Rony gritou segurando o Theo pela gola da camisa.

– Não se preocupe Rony, eu posso me defender de caras babacas sozinha.

– Parem com isso. Estão agindo como crianças.- Disse na tentativa de pará-los.

– Vai com calma Weasley, foi só uma piada.- Nott tirou as mãos de Rony dele e seguiu andando para o quarto.

Depois de continuarmos discutindo chegamos ao seguinte acordo, Gina dividiria uma cama com o Theo, eu dividiria uma com o Malfoy, Luna dividiria outra com o Rony e Fred dormiria sozinho.

Já estavam todos deitados enquanto eu estava sentada em uma escrivaninha escrevendo no meu diário o que tínhamos feito hoje quando percebo uma presença atrás de mim.

– Ei, você prometeu que não escreveria sem mim. - Disse Drcao sinalizando que iria dividir a cadeira comigo.

– Foi mal. Achei que você só tinha falado por falar.

– Claro que não. Eu espero que um dia, quando tudo isso tiver terminado, a gente possa divulgar nossa história. Quero que todos saibam como foi que conseguimos sobreviver.

– Você falando assim até parece que a gente têm uma chance.

– Hermione, claro que nós temos. Sabe, naquele dia que estávamos no colégio, quando tudo aconteceu, eu pensei por um minuto em largar você e a Gina sozinhas, pensei que apenas eu, Theo, Pansy e Blás teríamos mais chances sozinhos. Mas eu estou realmente feliz por vocês estarem aqui com a gente.

– Pode apostar que nós também estamos felizes em ter vocês aqui. - Foi a única coisa que pensei em responder.

– Mas então, já está terminando de escrever o que a gente fez hoje?

– Praticamente terminado.

– Espero que você tenha incluído que eu estou gato como sempre. - Disse passando a mão no cabelo e rindo.

– Porra Nott para de ficar me agarrando. - Escutamos Gina resmungar lá atrás.

– Ah ruivinha eu sei que você gosta.

Começamos a rir quando ouvimos o som de um soco vindo da cama deles. Logo em seguida pudemos ver Theo correndo com uma Gina feito louca atrás dele. Voltamos a rir, mas de repente a única coisa que ouvimos foi um estrondo enorme vindo da sala. Todos que estavam dormindo acordaram com um olhar assustado, e foi aí que Theo e Gina vieram voando em nossa direção.

– Pessoal, acho que achamos o mapa.