Flawz escrita por ChocolateQuente


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

*-* Espero que gostem.



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                                         Mel

Ok. Eu. Gabriel Johnson. Saindo. Juntos. Pensei antes de abrir o guarda-roupa. Porque eu aceitei sair com ele? Que droga.

- Para de drama, Mel. – Sale falou jogando-se de costas em minha cama. Virei para encará-lo.

- Eu sei que estou sendo dramática, afinal é apenas o cara da escola que eu dei um fora no semestre passado.

- Isso mesmo. – ele disse enquanto pegava alguma coisa em cima do criado-mudo.

- O que devo vestir?

- Ele disse pra onde vai te levar?

- Não. – eu disse passando os cabides.

- O que? Não vou deixar o maior safado da escola te levar pra um lugar que eu não sei onde é? – ele disse sem me olhar.

- Ele não é safado, Samuel Levi.

- Você não sabe. Ele faz tudo escondido, fica debaixo daquela pose de garoto certinho, mas no fundo é um safado. – ele disse e eu ri.

- Tá bom. – eu disse enquanto estendia um vestido em cima da cama. Desenrolei-me da toalha, ficando apenas de calcinha e sutiã. Sale e eu não tínhamos problemas em ficar apenas de roupas íntimas na frente um do outro. Era normal, nos vimos assim desde pequenos. Isso agora não fazia diferença alguma. – O que acha? – perguntei depois de vestir-me. – Estou brega? Acha que devia colocar um salto alto? – perguntei e ele gargalhou. – Eu estou brincando idiota. Estou bem ou não estou?

- Está linda como sempre. – ele disse me olhando.

- Obrigada. – eu disse forçando um sorriso, ele riu. – O-Oque você está fazendo Samuel Levi? – perguntei quando me dei conta de que ele estava lendo meu caderno de anotações.

- Não seja idiota, eu sempre leio isso. – ele disse desviando de mim.

- O que?

- Eu te vejo de calcinha e sutiã, porque não posso ler o que você escreve?

- Po-Porque é muito mais íntimo. – berrei.

- Você vai amassar o vestido dondoca, aí o gatão não vai te querer mais. – ele disse enquanto fugia de mim.

- Para a sua informação eu não quero absolutamente nada com ele. – eu disse voltando a me arrumar. – Só não quero que ele pense que sou uma má humorada chata. Quero tirar a má impressão. Depois de hoje, vamos ser bons... Amigos e pronto. Está bom até demais. - eu disse e ele sorriu.

- Lá fora tá congelando. – ele disse encostando-se na janela. Assenti e peguei um cardigã e o vesti.

- Pronto. – falei pegando a bolsa.

- Vou pra casa também. - ele disse pegando a mochila.

- Você vai me levar lá não é? – perguntei quando saímos de casa.

- Não. – ele disse como se aquela pergunta fosse estúpida.

- É claro que vai. – eu disse puxando-o pelo braço. – Vem logo. – ele bufou, mas foi comigo.

Quando chegamos perto da sorveteria, vi de longe que Gabriel já estava lá.

- Ele tá lá. – Sale apontou. – Vou voltar. – ele disse e eu meneei o corpo. – Qualquer coisa liga pra mim, mas se não der tempo tem um spray de pimenta na bolsa.

- Sério? – perguntei puxando a bolsa.

- Claro que não idiota. – ele disse dando um tapa em minha mão. Eu ri. – Te amo. – ele disse depois de me dar um beijo na bochecha e sorrir.

- Também te amo. – falei. E ele foi embora. Andei devagar até Gabriel que olhava para os lados. Acho que desde que chegara à escola, ainda não tinha reparado nele. Ele era bonito. Tinha olhos castanhos claros, quase amarelos. E os cabelos, tão negros quanto aquela noite, estavam sempre bagunçados propositalmente. Ele era forte, do seu jeito. – Gabe? – chamei baixinho e sorri. Ele se virou e me observou. Naquele momento eu não sabia que aquele era um passo para as coisas mudarem em minha vida. Ou voltarem a ser como antes.

                                                                Gabriel

- Gabe? – a voz suave fez-me virar rapidamente. Deparei-me com uma Amélia diferente. Pelo menos aparentemente falando. Ela usava um vestido floral e um casaco branco, com tênis. Os cabelos castanhos caíam em ondas na altura da cintura. Não ia ser um sacrifício ficar com ela.

- O-Oi Mel. Você está linda. – eu disse esperando deixá-la envergonhada.

- Obrigada. Você também está lindo. – ela disse naturalmente. Sorri. Eu não esperava que ela dissesse aquilo.

- Obrigado. – disse e a olhei por um momento. – Vamos? Não é muito longe daqui.

- Espera só um pouco. – ela disse antes de se virar e entrar na sorveteria. Alguns minutos depois ela voltou com uma sacola. – Agora podemos ir. – ela disse e eu sorri mostrando-lhe o caminho.

 Andamos em silêncio. Vez ou outra eu parava pra segurar sua mão e ajudava a subir algum degrau. Atravessamos a rua, e andamos alguns minutos. Fiquei com medo que ela desistisse de ir. Afinal estávamos em um lugar pouco iluminado e pouco movimentado. Muitas árvores começavam a surgir na paisagem que nos rodeava, tornando o lugar mais escuro. Relaxei quando chegamos onde eu queria. Ajudei-a subir, e andamos mais um pouco até a parte mais alta.

- Fecha os olhos? – pedi. Ela sorriu e fechou. Segurei sua mão e a posicionei. – Pode abrir. – disse e ela abriu os olhos.

- Deus do céu. – ela disse boquiaberta. – Isso é incrível.

Ela observava, demoradamente, cada canto do cenário que via a sua frente. Seus olhos analisaram a altura em que estávamos. A altura era a mesma da roda gigante velha a nossa frente. Estávamos em um parque de diversões desativado. Eu sempre ia lá. Além da roda gigante, havia outros brinquedos enferrujados, mas ainda coloridos. Tinha dois ou três postes de luz acesos, o que não iluminava quase nada. A iluminação estava por conta da lua enorme sobre nossas cabeças. Depois de analisar, absolutamente tudo, ela se sentou ao meu lado.

- Como descobriu esse lugar? – ela perguntou abrindo a sacola sem tirar os olhos da paisagem.

- Foi sem querer. Estava andando em um dia ruim e vim parar aqui. – eu disse dando de ombros. Lembrava-me exatamente daquele dia. Fiquei tão boquiaberto quanto ela. O lugar era mesmo incrível.

- Hum. – ela murmurou. – Toma. – ela disse passando-me uma colher. Peguei e a encarei confuso. – Sorvete! – ela sorriu mostrando o pote médio de sorvete. – Espero que goste de limão com calda de chocolate. É meu preferido. – eu sorri involuntariamente. Ela me passou o pote depois de pegar uma colherada. Fiz o mesmo.

- Porque limão com chocolate? – perguntei.

- Só chocolate fica doce demais, e só limão fica azedo demais. – ela disse naturalmente e eu ri. – Agridoce é melhor.

- Faz sentido. – eu disse comendo. – Estamos tomando sorvete nesse frio. – eu disse depois de algum tempo.

- Isso é o que torna o sorvete mais gostoso. – ela disse e eu sorri.

- Você é engraçada. – eu disse e ela deu de ombros.

- Esse lugar é tão incrível. – ela disse com os olhos perdidos. – Quer dizer, olha pra isso. O céu, a lua, as estrelas, esse parque, mesmo enferrujado ele tem seu charme. Parece que foi tudo milimetricamente pensado. - ela disse gesticulando as mãos. – Observe como a lua preenche os espaços que as luzes dos postes não alcançam. – ela disse e eu observei, ela tinha razão. – A luz prateada reluzindo na ferragem desgastada ali no canto. Como que de propósito. Como se alguém tivesse colocado ali pra que criasse todo esse efeito. Isso é tão... Incrível. – ela fez uma pausa e suspirou. – Deus é incrível. – ela se corrigiu e eu a encarei.

- Acha que ele é o responsável por isso? – perguntei.

- Quem mais seria?

- Sei lá, há tantas teorias, às vezes me perco. – eu disse. – Apaguei a possibilidade de vir dos macacos. Se eles evoluíram até chegarem à forma que somos hoje, porque ainda existem macacos? – ela riu assentindo. – Só me resta a teoria do Big Bang.

- Eu também tinha dúvidas até ler um livro alguns anos atrás. O autor usou o personagem pra esboçar uma opinião interessante. Ele disse algo mais ou menos assim. – ela disse e respirou fundo se endireitando e gesticulando as mãos. – O que é mais fácil de crer, na verdade o que é mais lógico, a crença em Deus ou a crença de que um dia todo o universo, cada átomo e toda molécula, estiveram condensados em uma circunferência aproximadamente do tamanho de uma bola de tênis? – ela disse e eu parei.

- Nunca havia pensado dessa forma. – eu disse. – Mas, crer em Deus... Quer dizer, crer em algo que nunca se viu. – eu relutei e ela sorriu.

- É onde entra a fé. A fé é pra poucos e pra muitos. – ela disse e eu arqueei uma sobrancelha. – Todos tem acesso à fé, ela está dentro de você, mas apenas poucos a usam. – ela disse e eu assenti.

- São muitas perguntas sem respostas.

- Sim, são. – ela disse. – Mas, acredito que... Se não temos acesso a essas respostas, digo, não concretamente, é porque não devemos saber. – ela falou me olhando agora. – Os seres humanos tendem a transformar tudo que ganham. Nunca estão contentes, sabe? Acho que prefiro ficar assim, sem saber. Ou então acreditando na teoria mais crível, pra mim. Acho que não devemos saber tudo. – ela disse voltando a ficar com os olhos perdidos. Olhei-a de soslaio. Nunca havia percebido o quanto seu rosto lembrava o de uma menininha. Os cabelos castanhos balançavam-se com a brisa fraca e ela fechou os olhos inspirando profundamente.

Conversamos o resto da noite e antes das onze estávamos na porta da sua casa.

- Obrigada por esta noite. Foi incrível. – ela disse e riu. – Acho que nunca disse tanto a palavra incrível como hoje. – ri também. – Tenha uma boa noite e tenha cuidado por essas ruas escuras tá? – ela disse seriamente. Sorri.

- Vou ter. – disse. Ela se aproximou pra me abraçar e só então eu me lembrei da aposta. Droga, eu preciso beijá-la. Inclinei-me no mesmo momento que ela me abraçou. Ela se afastou e sorriu.

- Boa noite Gabe. – depois se virou e entrou na casa. Fiquei parado vendo-a fechar a porta.

- Droga, droga, droga Gabriel. Como você se esqueceu de beijá-la? – berrei indo pra casa.

Quando cheguei em casa, peguei o celular e mandei uma mensagem pra John. Depois me joguei de costas na cama. Mel. Pensei. Ela não era tão esquisita quanto eu pensava. Era inteligente e até divertida. Ótimo, não vai ser tão difícil. Sorri antes de virar-me para o lado e dormir.  


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Notas finais do capítulo

Deixem comentários por favorzinho. Eu preciso. *-*