Mel

- MÃÃÃÃÃÃE, JÁ ASSINOU O PAPEL? – gritei do meu quarto.

- JÁ, TÁ AQUI NA ESTANTE. – ela gritou de volta. Assenti e encarei a mochila, tentando lembrar se havia colocado tudo. Uma mochila de costas e uma bolsa de mão. Ok. Desci as escadas e peguei a autorização na estante. – Tchau mamãe. – eu disse beijando o topo de sua cabeça.

- Se cuida. – ela gritou quando eu fechei a porta da frente. Tia Dinah estava na porta da minha casa com o carro do marido. Sale acenou do banco do carona e eu sorri, abrindo a porta.

- Boa noite tia. – eu cumprimentei quando ela deu a partida.

- Boa noite meu amor.

- Boa noite pra você também, mal educada. – Sale berrou e eu dei de ombros.

- Vocês estão brigados? – Dinah perguntou me encarando pelo espelho. Dei de ombros cruzando os braços e Sale bufou.

- Só porque eu fiz uma coisa que eu não fiz. – ele disse e eu arqueei uma sobrancelha.

- Não fale comigo. – eu disse e ele riu.

- Você que está falando comigo.

- Muito engraçado, Samuel. Muito engraçado. – eu disse fazendo careta. Ele me encarou e nós começamos a rir. – Idiota. – eu disse bagunçando seus cabelos.

- Vocês dois, não sei não. – Tia Dinah riu sacudindo a cabeça.

Quando descemos em frente à escola, gargalhamos ao ver a disposição da multidão de alunos que conversava e ria com suas malas gigantescas esperando os ônibus saírem. A diretora chamou nossa atenção mandando-nos ver as listas com os nomes para sabermos em que ônibus e com quais monitores iríamos. Despedimo-nos de Dinah e seguimos olhando as listas em meio a empurrões. Nossos nomes estavam no ônibus B, coincidentemente. Andamos até ele e entramos. Briguei com Sale pela janela e vi Gabe passar pelo ônibus sorrindo. Ele e John entraram no ônibus C.

- Porque não acaba com isso de uma vez? – Sale perguntou me cutucando e eu dei de ombros. – Você sabe que gosta dele, porque não admite?

- Nunca omiti isso, Sale. – eu encarei-o. – Gosto de Gabe, sou apaixonada por ele e não escondo isso. Mas não posso mais. Não posso ficar com ele. Não posso confiar nele. Amor sem confiança é a maior roubada.

- Dá uma chance. – Sale disse recostando a cabeça no banco.

- Eu queria poder fazer isso, mas...

- É desconfiada demais. – ele completou e eu balancei a cabeça, recostando-a também.

- É. Isso faz parte de quem sou. – eu disse fechando os olhos. Sale sorriu e pegou minha mão puxando-me para perto dele.

- Quando tem que acontecer nem você pode impedir, Mel. – ele disse e eu abri os olhos para olhá-lo.

- Do que está falando? – perguntei e ele riu de olhos fechados, sacudindo a cabeça.

- Nada. Só curte o acampamento e esquece isso, ok? – ele disse me puxando novamente.

Nota mental: Esquecer Gabe.

Gabriel

- Sejam bem vindos ao Acampamento North Valley. – Uma garota baixinha nos cumprimentou quando passamos por um arco florido. John me cutucou e arqueou as sobrancelhas maliciosamente. Balancei a cabeça negativamente e olhei ao redor. – Por favor, se dirijam a sala de reuniões logo ali a frente. – a garota falou e nós andamos até a sala enorme com paredes de vidro e madeira. Sentamos em pufes verdes e ela começou a falar alguma coisa sobre ecologia e preservação do meio ambiente que eu não ouvi por estar ocupado demais analisando cada centímetro da sala.

- Ela veio. – John sussurrou ainda encarando a garota palestrante. Olhei-o e dei de ombros.

- Eu não perguntei nada sobre Mel.

- E eu também não falei nada sobre ela. – ele disse rindo e eu bufei.

- Cala a boca John. – eu disse focando-me na garrota baixinha.

- Cada cabana tem três quartos com três camas cada. Vocês foram separados pela Sra. Phillips em grupos de nove para cada cabana, então dentro dos seus grupos vocês podem escolher em que quarto ficarão. - a garota falou.

- Lembrando que garotas ficam com garotas e garotos com garotos, ok? – Sra. Phillips fez questão de lembrar fazendo todos revirarem os olhos.

- Vocês têm trinta minutos para encontrarem suas cabanas e se instalarem nos quartos, depois podem ir para o salão número quatro, lá no topo do Monte Three que temos uma surpresa pra vocês. Seus monitores os guiarão. Obrigada pela atenção. – a garota disse com um sorriso. Os alunos começaram a se levantar e andar em direção as cabanas.

- Essa Jane é uma gatinha não é? – John sussurrou do meu lado e eu arquei uma sobrancelha. – Jane. A garota baixinha que estava falando lá na sala? – ele disse e eu sacudi a cabeça. - Cara, você tá louco mesmo. – ele riu. Olhamos quase todas as cabanas até encontrar nossos nomes na cabana Lilás. – Lilás é cor de mulherzinha. – John reclamou entrando em um dos quartos.

- Quanto machismo. – Alguém falou de dentro do quarto e eu me apressei para ver. Samuel.

- Tá fazendo o que aqui? – John perguntou e Samuel o encarou como se aquela fosse uma pergunta estúpida.

- O mesmo que você. – ele respondeu e John revirou os olhos.

- Oi Samuel. – eu o cumprimentei estendendo a mão. Ele encarou minha mão e me olhou.

- Oi Gabriel. – ele respondeu e sorriu fraco. Abaixei a mão e senti uma vontade quase incontrolável formigar meu corpo e então acabei perguntando.

- A Mel... Veio? – perguntei e depois dei de ombros me jogando em uma das camas de madeira. Samuel sorriu.

- Sabe, quando vi você entrar por essa porta pensei: “Se ele perguntar sobre Mel, dou uma chance a ele.”. – Ele disse e eu o encarei pensando se isso era bom ou ruim. – Minhas intuições sobre relacionamentos e pessoas nunca falharam. De algum jeito sempre soube que você ia dar mancada com Mel. – ele disse e eu suspirei.

- Vou deixar Amélia em paz, ok? Não vou mais tentar nada...

– Mas, de algum jeito, também senti que... Você não é má pessoa e que talvez, só talvez tenha mudado. – ele me interrompeu e eu o encarei confuso. – O que sente por Mel, Gabriel? De verdade. Seja objetivo, sucinto, por favor. – Samuel pediu e eu respirei fundo tentando entender o que eu ainda sentia. Abri a boca umas dez vezes em um minuto, mas nenhuma palavra saiu dela. O que eu sentia pela Mel? Sinceramente falando. Objetivamente falando.

- Eu estou... Eu sou completamente apaixonado por ela. – eu admiti em uma arfada. Como se aquela declaração tirasse todo o meu ar. – Estou arrependido de ter mentido, e jamais a machucaria. - Samuel sorriu largamente e me estendeu a mão.

- Que bom saber disso, Gabe. – ele sorriu e eu apertei sua mão. - Soube que vai ter uma festa lá no Monte Three, quem vai? – Sale disse antes de sair do quarto. Encarei John que deu de ombros e o seguiu.

O que foi aquilo? Samuel agora era meu amigo? O que ele estava querendo? Ele pergunta essas coisas e depois sai assim?  Doido. Só tem doidos aqui. Eu sacudi a cabeça e saí do quarto os seguindo.