Mel

Entrei em casa, batendo com força a porta dos fundos.

- Mel? – minha mãe chamou da sala e eu apareci na porta para vê-la sentada no sofá com um balde com pipocas na mão.

- O que está fazendo aqui a essa hora?

- Te faço a mesma pergunta. – ela deu de ombros encarando a TV.

- Saí mais cedo. – eu disse, jogando a mochila de lado e me sentando ao seu lado no sofá.

- Eu também. – ela disse. – E porque tá com essa cara? – ela perguntou e deu um tapa em minha mão quando estiquei-me para pegar pipoca.

- Eu odeio o Gabe. – eu disse e ela riu.

- Claro que não odeia. – ela disse rindo.

- Odeio sim. Ele é um falso, mentiroso, fajuto, enganador, impostor...

- Mel, você está falando a mesma coisa. – ela disse rindo. – Todas essas palavras tem tecnicamente o mesmo significado. É só isso que tem contra Gabe? – ela perguntou arqueando uma sobrancelha para mim.

- O que?

- Porque não perdoa ele? – ela perguntou e eu fiquei boquiaberta sem saber o que dizer. – Ele errou filha, mas já passou. – ela disse.

- Não passou não. Porque tá todo mundo defendendo ele? Eu sou a vítima, vocês tem que me defender.

- Mel, vamos combinar que você não precisa que te defendam. Você não precisa dizer quem é e quem não é vitima aqui. Gabe errou, todos nós sabemos, mas as coisas mudam. As pessoas mudam, Mel. Gabe não pode ter mudado depois de te conhecer? – ela arqueou uma sobrancelha.

- Você anda assistindo muito filme da Warner mamãe. – eu dei de ombros.

- E você anda muito rancorosa. Tem que aprender a perdoar. E se fosse você?

- Eu nunca mentiria e o enganaria assim. – eu disse e ela balançou a cabeça.

- Não estou falando apenas de mentir. E se fizesse algo a alguém e depois se arrependesse? Iria querer ser perdoada não é? Então perdoe também. E não estou falando apenas de Gabe. – ela voltou a olhar a TV.

- Moah. – bufei.

- Ele é seu pai. Tá na hora de parar com essa birra de criança mimada. – eu ia responder, mas ela continuou. – Você cresceu Mel. Suas atitudes precisam mudar.

- AGORA EU TENHO QUE SAIR PERDOANDO TODO MUNDO QUE ME FAZ MAL? – eu berrei.

- Basicamente Mel. Você pode dizer que não, mas você sabe que vai se sentir muito melhor quando tiver Moah e Gabe ao seu lado novamente. – ela disse antes de se levantar e ir para a cozinha.

- Isso não é verdade. – dei de ombros, sussurrando para mim mesma. Não é.

Gabriel

- Quem ela pensa que é? Ok eu não fui verdadeiro com ela no início, mas depois eu fui totalmente... Verdadeiro. - Eu berrei pra mim mesmo andando de um lado para o outro no meu quarto. - Garota mal humorada. As pessoas erram. Ela devia me perdoar não é?

- Filho? – minha apareceu no quarto e eu me virei para olhá-la.

- Fala. – eu disse sentando na cama com a bola de vôlei.

- Algum problema?

- Não, nenhum. Só que, acho que perdi minha companhia para o baile. – eu bufei jogando a bola contra a parede.

- Você encontra outra. Garotas nunca foram problema pra você, não é mesmo? – ela disse e tom irônico e eu a encarei.

- Está sendo irônica? – perguntei e ela riu.

- Funcionou? – ela perguntou e eu dei de ombros. – Só estou dizendo que você precisa encontrar uma garota. Apenas uma. Você escolhe tantas por vez que acaba ficando sem nenhuma. – ela riu e eu a encarei boquiaberto.

- Mamãe? – chamei e ela me olhou. – TCHAU. – eu disse fazendo-a rir.

- Não está mais aqui quem falou. – ela saiu com as mãos para o alto. Sacudi a cabeça e joguei-me na cama. Tenho que tirar essa garota da minha cabeça.

****************

- Galera, reunião no auditório agora. – alguém gritou assim que pus meus pés no pátio. Pisquei os olhos com força, tentando afastar o sono, e andei vagarosamente até o auditório. Vi John acenar da primeira fileira e andei até ele. Sentei-me ao seu lado afundando-me na cadeira.

- Bom dia alunos. – o vice-diretor, Sr. James cumprimentou batendo dois dedos no microfone. – Convocamos essa reunião para informa-los que o baile foi adiado. – ele disse e apertou os olhos quando ouviu os gritos de protestos. – Acalmem-se. Acalmem-se, por favor. – ele berrou sem sucesso. A diretora, Sra. Phillips tomou a frente.

- Calados! – ela berrou e o silêncio reinou no auditório.

- Ai, ela é tão imponente. – alguém gritou nos fundos do auditório e risinhos começaram.

- Muito engraçado. – Sra. Phillips disse endireitando o corpo. – O baile foi adiado por que resolvemos fazer outra atividade antes. – ela começou. – Decidimos, eu e o corpo docente, que faremos uma atividade de campo. – ela disse fazendo uma pausa.

- FALA LOGO. – outra pessoa gritou. Sra. Phillips revirou os olhos.

- Faremos um acampamento de última hora. – ela disse e todos começaram a gritar empolgados. John me cutucou e eu dei de ombros. - Calados! – ela berrou de novo tendo o silencio de todos. – O acampamento já é amanhã, e preciso da atenção de todos. Vocês estão liberados para irem para suas casas fazerem suas malas e pegarem a autorização para seus pais assinarem. Sairemos daqui amanhã à noite e voltaremos no sábado de tarde. OK? – ela berrou e todos assentiram sussurrando uns com os outros. – Os professores e inspetores estão lá fora distribuindo as autorizações. Podem ir pegar. – ela disse e antes que acabasse de falar todos já estavam correndo em direção à saída. Ela revirou os olhos. – Animais. – ela deu de ombros virando-se para sair. John e eu rimos.

- Cara, um acampamento. Vai ser demais. – John berrou me empurrando. Eu forcei um sorriso. – Ah qual é cara? Você vai poder ficar perto da Mel. – ele disse e eu me virei para encará-lo.

- Você acha que ela vai? – perguntei, mas depois dei de ombros. – Não que eu me importe.

- Não seja idiota cara, você gosta da Mel e ponto. E tá na cara que não quer desistir dela, então deixa de ser orgulhoso e volta a insistir. – ele disse e eu ri.

- Os lapsos voltaram. – eu revirei os olhos.

- É sério Gabriel. – ele riu. – Mas tá bom, quero ver você resistir quando a vir pertinho de você no acampamento. – ele disse e eu sorri.

- Vamos ver então.

- Outra aposta? – ele arqueou as sobrancelhas.

- Não, já chega de apostas. – eu quase gritei. John riu e nós pegamos as autorizações.

Acampamento. No mesmo lugar que Mel. Quartos perto um do outro. Isso pode, só pode ser interessante.