A música começou a tocar. Ai, meus deuses, estava na hora. Minhas mãos estavam molhadas de suor, eu pensei que não conseguiria segurar o buquê. Meu pai me olhou, emocionado, lágrimas escapavam e deslizavam por suas bochechas.

  - É agora, Annie. Eu nem acredito que estamos aqui, que eu estou levando minha menininha ao altar. – Ele engasgou – Temi por esse dia, o dia em que te entregaria a outro.

  Eu estava surpresa, meu pai não costumava falar sobre sentimentos, éramos bem parecidos nesse aspecto, mas seu discurso fez meu coração se encher de calor.

  - Pai, eu não estou indo embora para sempre. Estou apenas me casando com aquele que amo e que me fará feliz.

  - Em pensar que todos aqueles anos eu vivi sem ser seu pai, me convencendo de que você estava melhor sem mim, sozinha pelo mundo.

  - Eu encontrei meu caminho, e já o perdoei por tudo.

  Meu pai segurou minha mão por um instante, depois ele me deu o braço.

  - Eu te amo, Annabeth. – Ele disse, beijando a minha testa.

  - Também te amo. – Sussurrei.

  Outra música tocava agora, era a marcha nupcial, minha deixa.

  Respirei fundo três vezes e comecei a andar. O casamento estava acontecendo no anfiteatro do Acampamento Meio-Sangue, mas o lugar estava completamente transformado. A decoração era simples, linda, delicada... Perfeita, eu não devia ter duvidado de Afrodite. Cadeiras confortáveis estavam enfileiradas, nelas estavam os nossos amigos do acampamento, parentes mais próximos, alguns deuses menores, ninfas, nereidas e sátiros. Os deuses estavam sentados na frente, em filas especiais, até Hades comparecera. Minha mãe e Afrodite sorriram para mim, Poseidon fez um aceno, aprovando. Apolo piscou de um jeito provocante (pouco adequado para um casamento, mas esse era Apolo).

  Do outro lado estavam os padrinhos e as madrinhas, Thalia fora obrigada por Afrodite a abandonar o preto, mas ela não parecia estar se importando com isso. Quíron também estava ali, uma lágrima escorreu quando eu olhei para o centauro que sempre me tratara como filha.

  Então tudo perdeu a importância. Só o que eu via, agora, era aquele verde lindo, o verde dos olhos dele. Percy estava deslumbrante em seu terno negro, eu tive que lembrar como se respirava. Ele parecia aliviado em me ver, abriu um sorriso gigante, que espelhava o meu. Deuses, como eu amava aquele Cabeça de Alga.

  Percy veio até mim, andando mais rápido do que devia. Trocou um olhar com o meu pai, que assentiu derrotado. Beijando minha mão, ele me entregou ao meu noivo.

  O Cabeça de Alga parecia radiante, imaginei se eu também estava assim. Olhei para o altar e quem se encontrava lá era ninguém mais, ninguém menos, que Zeus, o grande deus do Olimpo. Ao que parecia ele também era juiz.

  A cerimônia começou, a parte solene foi até rápida. Pode parecer bobagem, mas meu coração quase saltou de ansiedade quando o deus dos céus perguntou ao Percy se ele me aceitava como esposa. Ainda tinha medo de acordar desse sonho. Minhas preocupações terminaram menos de um instante depois, quando o Cabeça de Alga disse um alto e convicto “Sim”. A mesma pergunta foi feita a mim.

  - Sim – A palavra brincou em meus lábios. Percy suspirou, aliviado. Eu não era a única nervosa.

  Rachel trouxe as alianças, elas eram simples, mas eu adorei. Dentro da minha havia algo escrito, eu pensei que fosse ser um clichê como: “Infinito”, “Amor Eterno”, “Minha Vida”. Mas estava enganada, o que havia lá era: “Minha Única Sabidinha”. Eu tive vontade de rir e de chorar, aquele era o Percy. Ele colocou o anel em meu dedo e eu senti o calor de suas mãos. Também enfiei a aliança, delicadamente, em seu dedo. Nossas mãos ficaram entrelaçadas, aguardando a famosa frase “Pode beijar a noiva”.

  - E eu vos declaro marido e mulher. Fim. – Disse Zeus, parecendo entediado.

  - Fim? – Alguém gritou. Era Afrodite. – Como assim Fim? Meu senhor, Zeus, não está esquecendo algo importante?

  - E o que seria mesmo? – Zeus pareceu pensar. Eu tinha certeza de que ele estava curtindo com a nossa cara.

 Thalia se levantou de sua cadeira.

  - Anda, Percy, beija logo! – Ela gritou.

  O Cabeça de Alga riu e me beijou. Seus lábios me tocaram, e me envolveram. Tudo deixou de existir, menos nós dois. Eu teria ficado ali para sempre, não fossem as pessoas que chegaram para nos cumprimentar.

  Era hora da festa. As cadeiras foram deslocadas pelos deuses, mesas surgiram com todos os tipos de comida, uma enorme pista de dança e um palanque ocuparam o centro do lugar.

  Afrodite subiu no palco e pegou o microfone. “Essa não”, pensei.

  - Bem, antes de começarmos a festa, temos os discursos. Primeiro os noivos, é claro. Percy...

  O Cabeça de Alga congelou ao meu lado, ele ficou branco como papel, eu já imaginava o porquê... Tinha se esquecido de escrever o discurso. Para minha surpresa, ele trocou um olhar com seu pai, Poseidon, e pareceu calmo e decidido. Andou até Afrodite e pegou o microfone.

  - Boa noite – Ele disse rindo – Eu não sou tão bom falando em público, a maioria de vocês sabe disso. Bem, a ideia aqui era eu escrever um discurso sobre os meus sentimentos pela minha esposa, Annabeth – Piscou para mim – Mas eu decidi fazer diferente.

  Todos pareceram um pouco confusos, menos, é claro, Poseidon. Eu fechei os olhos com força, O que o Cabeça de Alga estava tramando?

  - Achei pouco eu simplesmente ler um pedaço de papel, afinal, não expressaria tudo o que eu gostaria, e seria horrível, pois eu tenho dislexia. Então, decidi falar sobre o que sinto de verdade, algo improvisado. Isso é um pouco difícil para mim, pois não sou um expert em falar sobre sentimentos, mas vamos ver. – Ele olhou diretamente em meus olhos. - Annabeth, antes de tudo, quero dizer que te admiro, eu admiro a sua inteligência, sua esperteza e sabedoria, admiro o modo como você vê as coisas, como você sempre busca novos conhecimentos, admiro o seu jeito de ser. Também quero te dizer que te respeito, respeito suas decisões, seus sonhos e seus objetivos... Também respeito seus defeitos, todos temos alguns, não é? Finalmente, preciso dizer que te amo. Você já sabe disso, mas eu não me canso de repetir. Eu te amo por completo. Mesmo quando eu estou te odiando, eu estou te amando. Hoje, finalmente, nos tornamos marido e mulher, eu não posso descrever o quanto isso me deixa feliz. Saiba que você é a pessoa a quem eu confio todos os meus segredos e dúvidas, quem eu escolheria para me dar conselhos e para colocar minha cabeça no lugar. Eu te amo, Sabidinha, e sempre seguraria os céus por você.

  Muitos aplausos irromperam da plateia. Eu devia ter borrado toda a maquiagem, mas pouco me importava. Aquele Cabeça de Alga sabia mesmo me emocionar. Ainda chorava quando ele veio para perto e me abraçou. Era minha vez de falar, eu estava nervosa.

  - Bem, eu escrevi muitas coisas. Prefiro calcular tudo, para minimizar a possibilidade de erros, vocês sabem... Mas devo admitir que o que eu iria falar nem chega perto do discurso do Cabeça de Alga. Por isso, decidi me arriscar. – rasguei o papel que estava em minhas mãos, não precisava mais dele. – Como falar sobre o Percy? Eu poderia começar listando o que amo nele: Seus olhos; seu cheiro; sua risada, que me faz rir mesmo quando a piada é horrível; sua lealdade; seu otimismo... Eu poderia continuar nisso para sempre. Mas acho que o mais importante é falar sobre quando eu comecei a amá-lo. Acredito que nunca tenha dito isso para ele, mas foi quando nos conhecemos. Ele apareceu na varanda da Casa Grande, estava atordoado, segurando um chifre de Minotauro. De algum modo eu senti que aquele garoto ia mudar a minha vida. Eu não entendia na época e, quando ele acordou, não sabia o que dizer. Isso era algo novo, pois eu sempre sei o que dizer. Pois é, Percy tem esse efeito sobre mim. No fim eu acabei falando algo como “Você baba enquanto dorme” e sai. Eu só fui entender de verdade o que sentia pelo Percy quando ele foi me resgatar no monte Tamalpais, percebi que o amava, mas não queria aceitar isso. Tentava me convencer de que o meu verdadeiro amor era Luke... Eu fui tão cega. Depois, ele começou a se interessar por outra garota. Eu vi que poderia perdê-lo e me desesperei, fiquei com ciúmes, raiva... Mas, no final, tudo se ajeitou. Percy se declarou para mim, ou quase isso, – Eu ri. - e nós começamos a namorar. Alguns relacionamentos tendem a se deteriorar com o tempo, mas o nosso apenas se fortalece, isso mostra o quanto o nosso amor é forte. Eu estou muito feliz, pois hoje estamos oficialmente casados. Prontos para crescermos juntos, vivermos juntos, sofrermos juntos, sorrirmos juntos. Somos opostos, Cabeça de Alga, um completa o outro, o que faz da nossa relação algo muito mais especial. Eu te amo.

  Mais aplausos. Eu acho que estava parecendo uma filha de Afrodite, mas isso não importava agora. Era meu casamento, não era?

  Aquele era o fim das formalidades. O microfone estaria aberto para quem quisesse falar, mas a festa já iria começar.

  Apolo e seus filhos estavam responsáveis pela música e, tenho que dizer, eles fizeram um ótimo trabalho, misturaram diversos gostos, todos ficaram satisfeitos. Deuses, semideuses, seres mágicos e mortais dançaram muito. A comida foi providenciada por Dionísio e Deméter, também estava maravilhosa. A festa passou como um borrão. Eu ri, me diverti, dancei, escutei os discursos de nossos amigos e familiares. Acho que devo falar sobre eles:

  Minha mãe disse que concordou com o nosso casamento, mas se o Percy me magoasse ele iria sofrer com a sua ira. Poseidon contou sobre uma visita que fez ao meu marido quando ele era uma criança, foi uma surpresa para todos. Afrodite discursou e chorou, nos chamou de “melhor casal do século” e “meus preferidos”. Hermes se lembrou de Luke, foi a parte mais triste da festa, mas eu não o culpava. Dionísio, é claro, nos chamou de Anna Bell e Peter Johnson. Sally falou sobre várias histórias de “Percy-Bebê”, o que fez o Cabeça de Alga corar e afundar em seu assento. Quíron discursou sobre o sentimento paterno que tinha por nós.

  Aquela estava sendo a melhor noite da minha vida, mas, no final, eu só queria um momento sozinha com meu marido. Eu disse isso para ele, Percy sorriu como se estivesse pensando o mesmo.

  - Isso significa que está na hora de irmos! Você vai amar o lugar...