Acordei em meu chalé, o sol estava brilhando lá fora. Meus irmãos ainda dormiam quando eu me levantei e fui treinar. Lutar me ajudava a ficar calma e eu precisava disso, precisava muito.

  Hoje à noite, eu me tornaria a senhora Cabeça de Alga. Eu e Percy estaríamos, enfim, casados. O nervosismo fazia minhas mãos tremerem a ponto de minha adaga cair.

  Eu detestava mudanças, e essa era enorme. Mas, ao mesmo tempo, meu coração ansiava por isso. Meu nome agora seria Annabeth Jackson. Eu seria do Cabeça de Alga e ele pertenceria a mim, oficialmente. Estaríamos juntos, unidos pelo matrimônio e por nosso amor.

  Olhei para o céu e soltei um gemido de desgosto. Estava na hora. As filhas de Afrodite deviam estar me esperando.

  Cheguei à Casa Grande e meu queixo caiu. O lugar estava parecendo um salão de beleza de última geração, todas as crianças da deusa do amor me olhavam com expectativa, como se fossem me usar como boneca de teste para suas maquiagens e produtos.

  Na frente de uma capa preta (onde estava meu vestido), a própria Afrodite me esperava. Ela viera pessoalmente para me deixar “perfeita”.

  Observação: meu casamento seria no Anfiteatro, no Acampamento Meio-Sangue. Os deuses não gostaram muito, eles queriam que a festa fosse no Olimpo, mas se isso ocorresse, nossas famílias mortais não poderiam aparecer. Então, Dionísio e Quíron abririam uma exceção para elas. Hoje, mortais teriam permissão para entrar no acampamento.

  - Finalmente! – Afrodite sorriu – Vamos comemorar o casamento do meu casal preferido! Está pronta, querida?

  Olhei para todos aqueles produtos, perfumes, maquiagens... Meu pânico só foi crescendo. Mas lembrei que estaria com o Percy essa noite, olharia em seus olhos verdes, sentiria sua pele quente na minha, seu cheiro de mar, eu o escutaria dizendo “sim”. Minha respiração foi ficando lenta e calma.

  - Pronta. – Respondi, abrindo os olhos.

  Afrodite deu um risinho, ela estava muito animada mesmo. Sentei-me e deixei que me arrumassem.

  Demorou horas para que eu completasse o chamado “primeiro estágio”, meu cabelo foi lavado mais de três vezes, depilaram todas as partes do meu corpo, prepararam um banho maravilhoso, com sais e espuma, passaram vários cremes em meu rosto. Na hora do almoço, eu pensei que teria descanso, mas as minhas madrinhas apareceram para ver como eu estava.

 Mais tarde, mais uma surpresa... Minha mãe veio me ver. Afrodite detestou, ela não queria ninguém atrapalhando a sua obra, mas Atena insistiu em falar comigo.

  - Annabeth, eu... Eu vim lhe trazer algo. – Ela disse olhando em meus olhos.

  Uma tiara de brilhantes azuis apareceu em sua mão, era linda.

  - Dizem que a noiva deve usar algo azul e emprestado no casamento. É uma tradição americana, não é? Bem, essa é uma de minhas favoritas.  

  Eu estava chocada. Claro que eu conhecia essa tradição, mas nunca imaginei que minha mãe... Bem, nunca pensei que ela fosse fazer algo assim.

  - Obrigada – Eu sorri.

  Atena retribuiu meu sorriso e me abraçou. Era tão bom abraçar minha mãe, algo raro.

  - Eu concordei com o casamento, mas se aquele peixe te magoar, minha filha, ele irá sofrer o poder da minha ira.

  Com esse comentário feliz ela se afastou e começou a brilhar, desviei os olhos para não virar cinzas.

  - O que ela queria? – Perguntou Afrodite.

  - Me dar isso – Respondi emocionada.

  A deusa do amor olhou a tiara de vários ângulos diferentes, exibia uma expressão pensativa. Tive medo de que ela não me deixasse usar a coroa, eu não aceitaria isso. Mas, no fim, ela disse:

  - Eu gostei.

  Voltei, então, para a minha sessão de tortura. Algumas das crianças de Afrodite arrumavam a minha mala. Trinquei os dentes. Eu não sabia para onde iríamos em nossa Lua de Mel. Como eu odiava surpresas...

  Percy’s POV

  Meu pai, Apolo, Hermes e meus amigos tentavam me acalmar.

  - Mas e se ela desistir? E se detestar o casamento? Ela deve estar odiando se arrumar com a ajuda de Afrodite!

  Se eu estava surtando? Bem, pode-se dizer que sim...

  Meu pai olhou para os outros, sem saber o que fazer. Acho que ele nunca tinha ido ao casamento de um de seus filhos semideuses.  Ele devia estar quase tão nervoso quanto eu.

  - Percy, relaxe, Annabeth te ama, não é? Tudo vai dar certo, filho.

  - É, o que poderia dar errado?  Bem, talvez ela saia correndo, entre em uma das vans do acampamento, dirija até Nova York, pegue um voo para o Peru e se esconda lá até completar cinquenta anos... Mas isso é pouco provável, não é? – Disse Apolo, sorrindo.

  Só sei que, se eu estava nervoso antes, agora eu estava completamente apavorado. Desmontei em um dos beliches do chalé 3.

  Vi meu pai lançar um olhar duro a Apolo, que parecia não entender o problema.

  - Cara, isso nunca iria acontecer. Annabeth e você foram feitos um para o outro. – Grover me deu tapinhas no ombro. Eu estava tão feliz por ele estar ali, meu melhor amigo, sempre.

  - Valeu, cara.

  Meu pai mandou os outros garotos embora, só ficamos eu, ele, Apolo, Hermes e Grover. Melhor assim, eu precisava de espaço. Também queria o meu irmão, Tyson, mas ele só chegaria para o casamento.

  O casamento.

  Nunca pensei que fosse ficar tão nervoso. Mas, ao mesmo tempo, estava muito feliz. Minha Sabidinha viria ao meu encontro e diria “sim”, ou assim eu esperava.

  - Já escreveu seus votos?  – Perguntou Hermes.

  Arregalei os olhos. Eu sabia que estava esquecendo alguma coisa. Essa não...

  Eu podia ter me esquecido de colocar as meias, mas não... Tinha que esquecer os votos!

  - Ah, não, não, não... Como eu esqueci os votos? – Eu coloquei a cabeça entre os joelhos – Mas que idiota!

  Senti alguém segurar meus ombros.

  - Não fique tão preocupado com isso, meu filho. No meu casamento, eu também me esqueci de escrever o discurso. O importante é você falar com o coração. Na hora, você saberá o que fazer...

  Levantei a cabeça e encarei meu pai, seus olhos, idênticos aos meus, eram sinceros.

  - Está dizendo... Que é melhor eu improvisar? – Eu fiquei perplexo.

 Poseidon sorriu.

  - Eu acho mais importante você dizer o que realmente sente, sem se preocupar em ler um pedaço de papel cheio de palavras...

  - Tem razão. – Disse Hermes.

  Senti-me mais confiante. Improvisar... Eu era bom nisso.

  Sorri para todos, estava na hora.

  Meu coração parecia querer sair pela boca, minhas mãos tremiam, e começava a escorrer um suor frio em minha testa.

  Minha mãe chegou bem a tempo. Ela me ajudou a dar o nó na gravata e sussurrou em meu ouvido “Estou muito orgulhosa, meu filho”. Paul ficou na porta, quando eu passei, ele deu tapinhas em meus ombros, me encorajando. Tyson nos encontrou no caminho, é claro que ele me deu um abraço de urso. Tive que alisar o terno algumas vezes para que não parecesse completamente amassado. Era tão bom estar com as pessoas que eu amava. Só faltava uma, e ela viria ao meu encontro logo, logo... Estaria usando um véu e um buquê.