The Coldness escrita por Alice Mary


Capítulo 3
Capítulo 3




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-Ah, você deve ser Myrian Kataev. Sente-se.

Ela andou até a cadeira e se ajeitou. Ela já havia lhe enviado uma cópia do CD, mas por precaução ainda trouxe outro. O homem suspirou e a encarou com seus enormes olhos azuis.

-Olha...seu trabalho é realmente excelente, da para notar que você coloca a sua alma naquilo que faz-Ele fez uma pausa

-...Mas?

-Mas não é o que procuramos. Sabe, nosso propósito aquilo é fazer arte para consumo, e para isso essa arte precisa ser...como posso dizer...Semelhante à população em geral. A sua é única demais, específica demais. Não iria fazer sucesso como algumas músicas mais populares e...

-Eu sei – ela o interrompeu – Mas pense um pouco, como você sabe se ela irá ou não fazer sucesso sem ao menos tentar? Sabe, você trabalha com arte, deveria saber mais do ninguém que se estagnarmos o pensamento e não abrirmos a mente, nunca...

Foi a vez dele a interromper, visivelmente irritado por ter sido  enfrentado daquele modo.

-Olha garota, me desculpa, mas nossa função aqui não é mudar a sociedade, o pensamento dela ou nada disso. É lucrar. Vivemos para lucrar, e dificilmente conseguiremos isso com você. Então a resposta é não. – Ele se levantou e entrou por uma porta na lateral da sala. Ela então se dirigiu até o elevador, batendo os pés. Bufou.  Aquela música que tocava no elevador, que teoricamente servia para acalmar, só a irritava ainda mais. Ela passou pela recepcionista sem dizer nada e deixou o prédio.

Estava muito frio. Ela esfregou seus braços, tentando se aquecer, e foi caminhando até a sua casa. A vida não era nada gentil com ela, e muitas vezes ela pensava em desistir. Pensou naquele momento em se jogar na frente de algum carro, ou pular de um viaduto. Morrer seria muito mais fácil. Ou talvez ela só precisasse relaxar um pouco, esquecer-se dos problemas e curtir a vida. Resolveu mudar sua rota e se dirigir até um bar, bem movimentado, que ficava ali perto. Chegando lá, se sentou ao balcão e pediu cerveja. Não estava tão lotado quanto de costume, mas havia alguns grupos de pessoas. Myrian as observou enquanto riam e pareciam felizes. Provavelmente efeito do álcool. Mas em uma mesa ao canto, havia uma mulher, que assim como ela, estava sozinha. Então Myrian, sem acreditar, suspeitou que era ela, então em muitos anos uma lágrima solitária escorreu por sua face.

Anos antes

Já haviam se passado muitos dias desde a cirurgia de Myrian e ela ainda não havia se recuperado totalmente. Andava pelo quarto, cabisbaixa, e chorava muito. Doía para Yulia vê-la assim, mas não havia muito a ser feito. Ela cuidava se sua companheira de quarto como se fosse uma irmã mais nova, como se fosse sua família, o que, em tese, era. Elas só tinham uma a outra ali. Estavam sozinhas. Yulia fez Myrian se sentar e abraçou, deixando-a chorar.

-A gente nunca vai conseguir sair daqui – Ela disse em meio as lágrimas – Vamos morrer aqui e...

-Shhh- Yulia colocou um dedo em sua boca e a calou –Calma né, vai ficar tudo bem. Eu sei que você não acredita, mas eu te prometo, a gente vai um dia ainda conseguir ter uma vida normal e feliz, longe de todo esse inferno – Ela disse num sussurro, com medo de que pudessem a ouvir.

Myrian levantou o rosto e olhou para Yulia –Me promete mesmo? De verdade?

-Prometo. – Ela a apertou em seus braços.

Elas deitaram e dormiram, esquentando uma a outra. Horas depois, acordaram com calor. Estava quente, muito quente. Yulia abriu lentamente os olhos e não enxergava nada a sua frente, só fumaça. Ela tossiu e percebeu o que estava acontecendo. O quarto estava inteiramente vermelho, com as sombras trepidando junto ao fogo. Ela sacodiu Myrian, que acordou assustada. Estavam presas ali, e não iriam conseguir sair vivas, a menos que pensassem rápido.  Yulia olhou para os lados, tentando encontrar uma saída.

-Não saia dai! – disse parar Myrian. Ela andou até a porta e tentou abri-la, mas estava trancada. Havia também barras em todas as janelas. Ela então olhou para o teto e viu o duto de ar. Já havia tentando escapar por ali, mas foi pega no final do duto, que era ligado a cozinha do prédio, mas com o incêndio provavelmente ninguém a impediria. Mas só havia um jeito de alcança-lo.

-Myrian! – Ela gritou e Myrian veio cambaleante até ela – Sobe no meu ombro, agora! Você vai entrar no duto e seguir até a cozinha, e lá dar um jeito de escapar!

-Mas...e como você vai sair?

-Não se preocupe, dou um jeito, tentarei ir pela porta.

Myrian conseguiu subir em Yulia e chegar ao duto, entrando nele. Ela se virou e olhou para a amiga, presa ali. Não queria deixa-la, não queria perdê-la .

-Myrian, corre, anda logo! Você precisa se...

Uma viga desmoronou, caindo em frente a Yulia, que deu um passo para trás bem a tempo.

-Estou bem- Gritou Yulia- mas se você não for logo, vai acabar ficando presa! Vou tentar arrombar a porta, me encontre lá fora!

Myrian então, querendo encontra-la logo, seguiu pelos dutos o mais rápido que pode e acabou na cozinha. Ainda não havia fogo ali. Havia algumas barras nas janelas, mas a porta estava aberta. Alguns bombeiros entravam, e um deles notou Myrian e veio imediatamente socorre-la.  Ela gritava e dizia que Yulia estava presa, mas ninguém dava ouvidos a ela. Agarraram-na e a prenderam em uma maca.  Ela era interna de um hospício, então porque dariam ouvidos a uma louca? Ela chorava e gritava, mas tudo que faziam era pedir pra ela ficar calma, que ela estava a salvo e iria ficar bem. De tanto ela se contorcer, uma das alças que segurava sua mão começou a afrouxar. Myrian então parou de gritar por um momento e começou a afrouxar as outras amarras. Por sorte, todos estavam ocupados demais com o fogo para notar quando ela conseguiu se soltar. Uma mulher, uma das enfermeiras, começou a vir atrás dela. Ela se levantou e correu, tendo a única certeza de que deveria ir para o mais longe possível, sem parar ou olhar para trás. Sua visão estava borrada devido às lágrimas, mas a cada tombo que ela tomava, ela se levantava e corria com ainda mais vontade. Mas apesar de toda essa vontade seus pés estavam congelando e suas pernas não aguentariam muito mais, mas ela já havia se afastado muito e provavelmente não a encontrariam ali. Ela caiu novamente, não tendo mais forças para se levantar. A neve caia em seu rosto, mas o frio não parecia mais queimar sua pele, mas sim acaricia-la.

-Será que termina aqui? – Ela sussurrou para si mesma – É...você tinha razão, fugimos do inferno, não é? Espero te encontrar seja lá onde e te agradecer...

E seus olhos foram lentamente se fechando. Ela apagou, mas não antes de ouvir passos perto dela e alguém lhe cutucar o corpo.


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo o/ Tenho material para +- 5 ou 6 capítulos pronto, só falta a vontade para digitar tudo x_x Mas isso significa que sim, tem muito mais por vir. Enjoy o/



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