The Coldness escrita por Alice Mary


Capítulo 4
Capítulo 4




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Ela acordou ouvindo o som do fogo queimando. Não se apavorou. Pensou que estivesse perto de Yulia de novo, há que ela havia a deixado no fogo. Mas logo percebeu que não era um fogo ardente, e sim reconfortante. Abriu os olhos e olhou a sua volta. Estava em uma daquelas pequenas cabanas de madeira. Havia uma lareira a sua frente e estava em um sofá, com uma coberta sobre ela. Levantou-se e olhou para trás, onde viu uma pequena cozinha e um homem, de costas para ela. Ela pigarreou e ele se virou. Não era muito alto, mas tinha um porte largo, cabelos grisalhos e já devia ter certa idade. Ele então, percebendo que ela o encarava, sorriu.

-Onde estou?

-Agora está em minha casa. Fica a alguns quilômetros de onde eu te encontrei. Você deu muita sorte garota, estava quase congelada, mais um pouco teria morrido.

-Teria sido melhor... -Ela deitou novamente e se encolheu, segurando as pernas contra o peito

O homem se sentou na poltrona ao lado e encarou o fogo que trepidava na lareira. Por alguns instantes o silêncio se instaurou, enquanto ele pensava em como reconfortar aquela garotinha e ela em como sua vida havia terminado naquele dia.

-Sabe... Não sei o que aconteceu com você, nem nada sobre você, mas já vivi alguns anos, e posso dizer com toda a certeza que, por mais que pareça que é o fim, a vida ainda continua e temos que ser fortes para seguir em frente – ele cerrou os punhos – Todos iremos sofrer perdas significativas durante a vida, mas nunca podemos perder a esperança, até porque, se você perdeu algo importante significa que um dia aquilo foi lhe dado, então porque mais coisas como a que você perdeu não podem ser lhe dadas novamente?

Ela continuou em silencia, ainda observando o fogo e relembrando de tudo que havia passado até chegar ali. O homem podia estar certo, mas ela simplesmente tinha perdido suas esperanças, sua vontade de viver, de seguir em frente. Percebendo que ele não obteria uma resposta, se levantou e foi até a cozinha, e ela adormeceu novamente.

Estava em um campo aberto. O inverno tinha passado e já era primavera. Havia pequenas flores espalhadas pelo chão e algumas árvores resplendiam com suas folhas bem verdes. Fazia sol, mas a temperatura era agradável. Andou até um rio que se encontrava logo à frente e viu uma garota agachada, observando as águas.  Seus cabelos loiros estavam muito bagunçados, mas continuavam bonitos, irradiando a luz do sol. Ela correu até Yulia e a abraçou pelas costas. Ela se virou e retribui o gesto.

-Pensei que havia te perdido...- As lágrimas já ameaçando cair

-Não perdeu, estou aqui, não estou?

-Mas...aqui aonde? Onde estamos?

-Oras, em sua mente, seus sonhos!

-Mas então eu realmente perdi, você não está na minha realidade!- Ela não aguentou mais e deixou as lágrimas rolarem

-Ei calma, você não me perdeu, ainda pode viver nos seus sonhos

Myrian se exaltou - Não! Não quero viver de sonhos! Quero viver uma vida, minha vida!

Tudo então escureceu. Árvores estavam cinza, flores negras e o rio corria vermelho. Yulia ainda estava  a sua frente, encarando-a com um ar frio e sem vida.

-...Yu? – Myrian levou a mão até seu rosto, e ao menor toque ele começou a rachar. Passou então a se quebrar em vários pedaços, como se fosse feita de porcelana. Myrian se desesperou e tentou juntar os pedaços, mas quanto mais ela tentava, mas eles se despedaçavam. Em pouco tempo tudo o que havia sobrado era pó, que foi levado pelo vento. Ela continuou ali, parada, chorando até não poder mais e esperando algum milagre, que ela sabia que não viria.

Ela não acreditava no que via. Era impossível. Ela estava morta, deveria estar. Ela ficou presa no incêndio, não havia como ter escapado. Caminhou até a mesa onde estava a suposta Yulia. Deus, ela lembrava tanto ela, tinha que ser ela! Tinha tanto o que contar para ela... Como será que ela estaria vivendo? Como se sustentava? Será que tinha filhos, que era casada?

Ela tocou no ombro da mulher e quando ela se virou...Uma decepção. Não era ela. Myrian só se desculpou e andou para fora do bar. Como foi tão estúpida? Não havia mais esperanças, ela deveria esquecer de tudo isso e seguir em frente, parar de viver do passado.

Continuava frio, mas isso não a incomodava mais. Logo chegaria em sua casa, onde poderia afogar as mágoas na bebida e quem sabe em algo mais. Deveria ligar para Adam, ele talvez conseguisse tirar sua mente daquilo, pelo menos durante algumas horas. Isso se ele não estivesse triste ou chateado com ela, depois dela ter sido tão estúpida com ele. Chegando a seu apartamento, viu que o carro de Adam estava parado na porta, e sorriu com o canto da boca ao perceber que ele estava encostado nele.

-Está frio, você deveria entrar – Ela deu um pequeno sorriso para ele.

-Estava esperando você dizer isso...Olha, me desculpe por hoje, não quis te ofender nem nada disso...

-Eu sei, está tudo bem, só estou num mal dia... Quer passar a noite aqui? Está muito frio para dormir desacompanhado...

-Claro – Ele a abraçou pela cintura e subiram juntos até o apartamento dela.

Yulia estava tendo um péssimo dia. Acordou com uma dor de cabeça massacrante, e já havia tomado alguns (muitos) remédios na noite anterior. Foi até um espelho e viu o cansaço estampado em seu rosto. Olheiras enormes, rosto pálido e sem vida, cabelos extremamente bagunçados. Apesar do cansaço, ela ainda não conseguia ter uma boa noite de sono.

Abriu o armário e vestiu uma calça de moletom larga e um casaco. Iria ficar em casa, não estava com ânimo para ir trabalhar. Desceu as escadas e foi tomar café da manhã. Tomou um susto ao perceber a quão bagunçada estava sua cozinha. A pia transbordava de louças e havia restos de comida e embalagens vazias por todos os lados.  Ela realmente precisava arrumar aquilo, odiava bagunça. Começou lavando as louças, reclamando consigo mesmo quando a água fria quase congelou suas mãos. Logo a água havia esquentado, e quando ela estava começando a gostar de ter suas mãos aquecidas, notou que a louça havia acabado. Fechou a torneira, ainda reclamando, e começou a recolher a sujeira, enquanto refletia em como sua vida havia chegado naquele ponto.

Numa primeira análise, seu corpo e aparência e a falta de oportunidades a levaram àquilo, mas ela sabia que havia muito mais envolvido. Não sabia exatamente o que, mas sentia que havia muito sobre ela que não sabia, principalmente sobre sua infância, e, além disso, muitas vezes sua vida tomava rumos estranhos demais para ser simples obra do destino.

Foi tirada de seus devaneios quando o telefone tocou. Era uma de suas colegas, Anna, uma das poucas com quem mantinha contato fora da esfera profissional. Anna era também uma de suas poucas amigas, ou pessoas em quem confiava.

-Yu, pretende fazer algo hoje?

-Arrumar minha casa, por quê?

-As garotas me chamaram para ir a um bar, no centro, sabe, relaxar um pouco,  e eu acho que você mais do que ninguém precisa disso.

-Não sei...minha casa está muito bagunçada. Odeio isso.

-Ah, para de ser chata e vem logo! Posso dar uma passada aí depois e te ajudar com a bagunça.

Yulia riu pensando em Anna limpando a sua casa. Ela era uma daquelas típicas barbies modernas. Loira, com cabelos batendo no meio de suas costas, olhos de um azul bem claro e unhas compridas, sempre impecavelmente tratadas. Ela realmente era do tipo que não gostava do trabalho braçal, como limpar casas, mas a amizade ou talvez pena que sentia por Yulia a fez topar tal.

-Tudo bem vai, estou realmente precisando me distrair um pouco...


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem o/



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