Alguns meses depois

–Então Alicinha, tudo bem pra você?

–Na verdade não! Não está nada bem Lucas!

Depois daquela noite maravilhosa com Pietro na boate Ana, Marina e Nanda me apresentaram ao tal Lucas-lindo, da balada. Meio que forçadamente a gente começou a namorar. A verdade é que somos completamente diferentes. Lucas gosta de ir pra academia várias horas por dia pra poder mostrar os músculos na balada, eu ficaria surpresa se ele soubesse ler melhor que um aluno da 2ª série, acha poemas idiotas e supervaloriza o corpo. No início eu me esforcei muito pra não ligar, tentar me convencer que amava Lucas, fingir que não me importava quando ele me trocava pela academia cheia de mulheres com a barriga sequinha, os lábios cheios de botox e silicone até não poder mais. Eu suportava por que, ficar com ele me fazia esquecer da noite com Pietro. Só que naquele dia, eu cansei.

–Como assim Alice?

–Cansei Lucas! Você não me dá atenção,nunca está comigo. E quando está a gente nunca faz o que eu gostaria. Você só me arrasta pra balada pra me exibir pros seus amiguinhos bambados da academia, ou pra fazer compras no shopping! Assim não dá!

–Oh Aliinha! Por que não me falou antes? O que você quer fazer? Hoje eu não vou a academia, vamos conversar que tal?

–Ahan. Você não sabe nada sobre mim Lucas!

–Sei sim!

–Qual minha cor preferida?

–Ah... Sei lá Alice... Laranja?

–Não! Quantos anos eu tenho?

–14?

–16 Lucas! 16!

–Quase a mesma coisa amorzinho.

Nesse momento perdi a paciência.

–Chega Lucas! Vamos acabar com isso enquanto ainda tem tempo!

–Não tá mais afim de conversar? Então... Vamos comer um espetinho na praça?

–EU SOU VEGETARIANA! E estava falando do namoro! Pra mim deu Lucas. Acabou okay?

–Mas... Mas...

Nem deixei ele terminar e dai do meu quarto. Logo em seguida voltei.

–A casa é minha, você que vai em bora!

Com a cara mais enfezada que já vi no rosto dele Lucas saiu do meu apartamento, estralando os dedos e vermelho de raiva.

Feliz pelo término daquilo que chamávamos de namoro decidi sair de casa e ir tomar um sorvete na Redenção.

Fui a pé mesmo, era bem longe do meu prédio, mas estava a fim de caminhar.

Tamanha minha felicidade que cumprimentei o jornaleiro, sorri pro gari e acenei pro morador de rua.

A Redenção estava linda, como sempre. A água do chafariz estava limpa e graças a Deus ninguém tomava banho nela. O brique cheio e os bancos ocupados por casais felizes ou amigos. No parque dos cachorros um grupinho tacava violão enquanto os bichinhos corriam soltos de um lado pra o outro, extremamente felizes. Na ponte tinha menos gente e os passarinhos catavam. No final me decidi por comprar o sorvete e dar uma passadinho no zoo do parque.

Estava cheio. Muito cheio. Mas por incrível que pareça não fiquei mal por isso. Pelo contrário.

Estava passando na trilha que separava os macacos do pavão, olhando distraída para o lado. As pessoas desviavam de mim como precaução, de tão concentrada nas belas penas do animal que eu estava.

Sem perceber por onde andava acabei esbarrando em alguém e derrubando meu sorvete de creme. Ergui os olhos pronta pra me desculpar, mas minhas palavras ficaram presas na boca no momento em que encontrei duas piscinas azuis. Duas piscinas azuis que eu já conhecia.

–Alice?

–P-Pietro?

–Meu Deus! Quanto tempo! Que coincidência!

–P-Pietro?

Droga, eu tinha acabado de encontrar o menino que não consegui tirar da cabeça por meses e ficava gaguejando o nome dele.

–É, sou eu! Que saudade!

Ele me puxou prum abraço caloroso, então eu sorri.

–Nossa! Eu já tinha perdido as esperanças de te encontrar! Que ótimo.

–Pois é! Desde que suas amigas te arrastaram de perto de mim... Mas então... Parece que nossos encontros sempre se devem a sua falta de atenção né? Posso pagar outro?

–Sorvete? Não, não precisa! Já estava enjoando mesmo.

Mentira, estava maravilhoso. Mas eu disse a primeira coisa que me veio na cabeça.

–Ah... Então senta aí comigo?

Ele apontou um banco perto de uma preguiça.

–Claro.

Estávamos quase sentando do no banco quando uma menina loira, vestida como se estivesse indo pra uma festa chegou por trás e Pietro e lhe tapou os olhos.

–Adivinha quem é?

–Hm... Seria Maiara?

–Isso!

Então, Pietro se virou e beijou a menina. Não na bochecha. Na boca. Com língua e tudo! Na minha frente!

–Alice... Essa é minha namorada Maiara!

–Tudo bem ALice, você nem gosta do menino, ele tem todo direito de ter uma namorada– pensei

–Ah... Prazer Maiara! Eu sou Alice.

–Prazer.

Depois a loira olhou para Pietro com cara de pidona:

–Me leva no shopping? Quero gastar tuudo hoje babee.

–Claro... Vai indo pro carro, eu já vou, só vou me despedir da Alice.

Maiara andou aos tropeços com os salto de 8 cm até a entrada do parque. Não pude evitar olhar pro meu all star roxo,meu short jeans e minha blusinha surrada e comparar com o vestido curtíssimo e todo colado da namorada de Pietro.

–E você Alice? Namorando?

Não! Eu tinha acabado de terminar meu namoro. Mas não podia dizer iso, claro.

–Sim. O nome dele é... Pedro.

Droga!