Burra, burra, burra, mil vezes burra Alice! Agora você inventou um namorado! E se ele pedir pra conhecer esse Pedro? E por que Pedro? É tão parecido com Pietro! Idiota Alice.

–Pedro?

–É... Pedro.

–Ah... Um caro de sorte,claro.

Pietro me deu um sorriso amarelo e eu vi, por um segundo o brilho daqueles olhos azuis falhar, mas fingi não tinha percebido.

–Ah... Maiara também.

–É. Falando nela, deve estar me esperando. Ela adora compras.

–Hehe... Então tá Pietro. Foi muito bom te reencontrar!

–Claro! Eu te ligo! Ou você me liga, tanto faz. Vamos nos encontrar de novo, dai.

–Isso!

Como sou consideravelmente mais baixa que Pietro (tenho lamentáveis 1,57, e minha relutância em usar saltos não ajuda em nada) me ponho na pontinha dos pés, o máximo que meus dois anos de balé quando menor me permitem, e lhe dou um beijo estalado na bochecha.

2 dias depois

Tinha acabado de chegar da escola e estava muito concentrada no meu livro quando ouvi os primeiros acordes de Snow- RHCP. Olhei no visor e vi o nome de Pietro. Me abri num sorriso sem que eu pudesse me controlar.

–Oi?

–Oi Alice!

–Tudo bom?

–Sim, e com você?

–To bem sim!

–Desculpa ter demorado pra ligar, tive uns probleminhas...

–Sim, sim. Eu não liguei porque teve prova no colégio e eu tive que estudar.

–Você? Estudar? Acho que fez só de vontade, já é tão inteligente!

Corei imediatamente. Ainda bem que ele não podia me ver.

–Haha, preciso sim!

–Okay! Mas então, que tal sairmos hoje a noite? Se Pedro deixar?

Pietro nem se deu ao trabalho de esconder a dificuldade que tinha de dizer a última frase.

–Claro! Ele deixa sim, e se não deixasse também!

–Ótimo.

–Onde vamos?

–Hm... Balada não. Nunca!

Rimos juntos.

–É, balada não.

–Que tal eu apenas te devolver o sorvete de outro dia?

–Seria ótimo!

–Ta marcado então. Posso passar pra te pegar?

–Não precisa. Só me diz onde que eu vou. Gosto de caminhar.

–Tá certo. Por que não no Gasômetro?

–Gosto de caminhar, mas nem tanto. Você pode passar pra me pegar.

Pietro riu me deixando ainda mais vermelha.

–Claro! As 20:00 que tal?

–Perfeito! O endereço é: Moinhos de Vento...

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–Alice! Cê tá pronta? Aquele rapaz bonito já tá aqui na sala!

Minha mãe tem o dom de me deixar envergonhada.

–Já vou!

Decidi por fim prender meu cabelo num coque desajeitado e desci as escadas.

Pietro estava lindo. Usava a mesma camiseta da noite na balada, com um casaco por cima. Seu cabelo castanho escuro estava na mais perfeita harmonia com os olhos azuis.

–Uau.- Ele deixou escapar.

–O que?

–Você está linda!

Não era totalmente mentira. A roupa pelo menos era linda (http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/2051218/gd/135889112381/SAIA-DE-TULE-3.jpg), mas eu não.

–Obrigada! Você também está muito bem. Lembro dessa blusa.

Como Pietro tinha 18 anos ele já tinha tirado a carteira de motorista. O carro dele era extremamente arrumado e cheiroso. Eu esperava algo mais jogado e sujo.

Depois de alguns minutos Pietro estacionou na frente de um prediozinho de tijolinhos laranja na Duque de Caxias, que fica na frente do Gasômetro.

O por do Sol mais lindo do Brasil já tinha passado, mas as luzem vindas dos postes deixavam tudo muito bonito.

–Sorvete ou água de coco?

–Água de coco!

–Ótimo, eu também.

Pietro pagou o moço e eu não fiz birra para pagar, apenas agradeci.

Me pegando pela mão o menino me levou até a plataforma com a melhor vista do Guaíba. Estava vazia e silenciosa. Como não tenho medo de altura sentei nas grandes da porta da plataforma e Pietro sentou ao meu lado.

–Bela Lua.

–Verdade. Já passeou de barco?

–Não. Não venho muito pra cá. É legal?

–Muito! Quer dar uma volta? Não demora muito, é uma hora acho. Ele vai até a ponte e depois volta. Tem o do meio dia, que para numa ilha pra almoçar, mas agora já é de noite né...

–Jura? Eu quero!

Era um barco grandinho. No passeio das 20:30 não tinha muita gente, no máximo 10 pessoas.

O apito soou e o barco começou a se mover lentamente.

–Me fale sobre Pedro...

–Não!

–Por que?

–Desculpe, não foi minha intenção. Eu só não quero falar sobre ele.

Nesse momento Pietro olhou diretamente nos meus olhos. Fiz o mesmo. Depois do que podem ter sido horas, minutos ou até mesmo dias olhando para os olhos de Pietro percebi que não em canso daquilo. Percebi que poderia olha-los pela vida toda. Eram tão bonitos ,tão expressivos.

A troca de olhares se aprofundava cada vez mais quando o barco chegou na ponte e começou a virar para nos levar de volta até o parque. O comandante fez isso de um modo tão brusco que o impulso me jogou nos braços de Pietro.

–Opa baixinha! Tá bem?

–Sim! Obrigada.

–Esse cara devia tomar mais cuidado.- Pietro disse com um tom duro, mas não me soltou do abraço.

Eu particularmente estava mais a fim de agradecer o condutor, mas aí lembrei de uma coisa: Maiara. Assim que esse nome me apareceu eu me desvencilhei do abraço de Pietro e virei a cara.

–Tá okay Alice?

–Sim. Só um pouco enjoada.- Respondi num tom frio.

Chegamos na areia/grama ainda em silencio mortal.

Trocamos algumas palavras e atravessamos a ruazinha até o carro. No trajeto Pietro ligou o rádio e eu me fiz de muito interessada na música que nem sabia o nome.

–Foi ótimo Pietro! Sério mesmo. Andar de barco é incrível!

–Eu adorei também. Pode ter certeza que agora que tenho seu celular vou te ligar mais vezes para sairmos.

–Ótimo...

Eu ia dizer mais alguma coisa mas minha mãe abriu a porta de robe e cabelo preso.

–Alice, porque você não entram? Eu fiz um bolo...!

–Você deixa Alice?

O que eu podia dizer? -Não!? Então apenas concordei.

O bolo estava mesmo bom e a conversa mais ainda. Até que...

–Então dona Marieta-Pietro começou- Você aprova Pedro?

–Pedro? Que Pedro?

–O namorado da Alice!

–Alice tem namorado?