"So, bless my heart and bless yours too

I don't know where i'm gonna go don't what

What i'm gonna do

Must be somebody up above sayin':

"come on brittany,

You got to come on up."

"you got to hold on..."

Hold On - Alabama Shakes

A rádio fica no último andar de um prédio do outro lado da rua, onde a gente estacionou o carro e eu e Morgan fizemos uma competição pra ver quem chegava primeiro, e eu ganhei, o que quer dizer que ele está me devendo cinco pratas. Então, quando a gente chegou, tudo estava em silêncio. Os corredores têm janelas pretas que dão para as salas do estúdio, mas não dá pra ver lá dentro, o que aumenta minha ansiedade. Morgan me leva até uma sala normal, com uma porta de vidro e abre.

–Hey, Morgan! -Um garoto negro, da nossa idade provavelmente, fala e joga uma bola de futebol americano pra ele. Tem mais seis pessoas na sala, todas olhando para nós. Quatro garotos e duas garotas. A da ponta da mesa, de cabelos azuis, roupas Pin-Up e maquiagem de filme levanta e diz:

–Morgan! Você trouxe sua amiga! Bem na hora, sentem vocês dois. Estávamos fazendo nossa reunião semanal.

–Diga por você. Eu estava dormindo. -Um garoto loiro diz

–Claro, teve que ficar a noite acordando consolando a irmã porque o John deu o fora nela. -A outra menina replica. Eu e Morgan sentamos nas cadeiras vagas ao redor da mesa, ele do meu lado.

–Ei! Ela era nova demais para mim. -O garoto negro diz.

–Fala isso pra ela, filho da mãe. -Eu já interpretei que o garoto negro andou se pegando com a irmã do loiro então eu só rio. -Eu falei pra você não dar em cima dela, mas o canalha tem que ir agarrar a porra da minha irmã! -Ele diz, mas agora olhando para mim, como se me explicasse. Eu rio.

–Agradeça que ele não agarrou você. -Eu replico e todo mundo ri, até a de cabelo azul. Ela parece a mais velha, provavelmente trinta anos, e a com maior personalidade daqui.

–Gostei. -Ela diz. -Meu nome é Olivia, aliás. Esses são Max, -Ela aponta para o loiro. -Jessica, Will -Aponta para o negro. -Caleb e Hunter.

Quando ela termina, todos me dão um aceno de longe e "oi".

–Jazmine.

–Muito prazer, Jazmine. Pessoal?

–Muito prazer, Jazmine. -Eles repetem, algum com tom monótono, mas outros rindo e se dando tapas.

–Por que você precisa de um trabalho?

–Eu quero pagar minha universidade e um carro.

–Não compra nenhum carro nessa cidade, os caras só vão te passar a perna. -Caleb me diz.

–Vou me lembrar disso.

–Você tem as tardes livres? -Olívia pergunta, ignorando o comentário dele. Apesar das roupas esquisitas ela está totalmente séria agora.

–Sim.

–Qual foi o primeiro single dos Beatles? -Eu não preciso pensar pra responder.

–Love Me Do.

–Quem canta Every Breath You Take?

–Sting.

–Com qual banda?

–The Police.

–Qual o nome da banda Pink Floyd? -Jessica pergunta. Qualquer um acharia essa pergunta a mais babaca de todos os tempos. Mas não eu.

–The Pink Floyd Sound. -Então todos ficam em silêncio, esperando Olívia falar alguma coisa. E eu também.

–Está contratada. -Uma onda de felicidade passa por mim. Eu nunca trabalhei na minha vida, mas acho que aqui vai ser legal. -Você não vai trabalhar no estúdio, fazendo algum programa, mas vai ajudar eles a fazerem a programação entre outras coisas. Vem comigo, eu te mostro o lugar. Morgan, você pode ajudar Max a trazer as caixas lá de baixo? -Morgan assente, me lança um olhar rápido e depois vai com Max pelas escadas a baixo. Os outros ainda estão na sala, mas não nos seguem quando a gente sai. Ela me leva pelos corredores e abre uma porta. O ar condicionado está ligado, fazendo o vento gelado atingir meu rosto e eu tremo um pouco, mas ela não parece perceber. 

–Aqui é onde Jessica e Max fazem o programa diário. -Ela indica, apontando para dentro. 

–Até no horário escolar?-Eu pergunto, curiosa. 

–Sim, eles são determinados, isso é bom. Me lembram eu mesma quando eu era menor. -Olívia balança a cabeça várias vezes. 

–Você é... dona da companhia? -A sala é revestida por espuma preta nas paredes, e no centro tem só uma mesa com aparelhos e microfones. Colados ou presos nas espumas tem um monte de posteres de bandas legais, e no chão uma pilha de CDs. Olívia acende a luz.

–Eu era uma assistente do presidente, que nem você. Mas eu fui evoluindo. Não foi fácil. Você acha que alguém me levava a sério com meu cabelo e as roupas que eu uso? Achavam que eu era só uma pirada a procura de boa música alternativa. Mas eu provei para eles que eles estavam errados, então, dez anos depois, aqui eu estou. -Nossa.

–Deve ser uma história. -Ela desliga a luz e nós vamos andando pelos corredores outra vez, com o barulho dos nossos pés pra acompanhar. Ela abre várias salas para eu ver, só que nenhuma tão legal quanto a de Jessica e Max. Eles me lembram Chick e a banda...

–Às vezes. Mas a maioria não gosta de ouvir as piores partes. Ninguém quer saber como a sociedade pode ser má, até isso acontecer com você. -Ela ri seca e com uma voz ressentida e eu não faço mais comentários. -Mas e você? Está aqui de férias?

–Sim, eu estou na casa da minha irmã. -Eu digo, botando uma mecha de cabelo para trás. 

–Legal! Como você conheceu Morgan? -Ela parece genuinamente curiosa.

–Nós compartilhamos uma insônia meio esquisita, nenhum dos dois consegue dormir a noite então nós andamos por aí... ele é meu vizinho.

–Ah... espera, você é irmã da Melody? -É impressão minha ou todo mundo conhece a minha irmã? Meu Deus. O que será que as pessoas acham dela por aqui? 

–Eu mesma.

–Ela foi minha irmã de fraternidade, legal. -Ela comenta, mas eu não digo mais nada. Meu sonho ficar falando com minha nova chefe sobre minha irmã...

Ela também não fala mais nada, e então nós descemos as escadas, para encontrar os outros, que estão na rua. Mas o que eu vejo é completamente inédito. Eu vejo Jessica dando um tapa no rosto de Morgan.