Night Troopers escrita por loliveira


Capítulo 18
Escuridão Familiar


Notas iniciais do capítulo

meio triste meio bonitinho esse capítulo gente aksjdaksjhaksjhkasjhd



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"We,
We only know, what we see
Cause we're always fast asleep
Cause it's so hard not to believe
That we'll never know

Oh hold, hold, hold, hold me close
I've never been this far from home
Hold, hold, hold me close"

Sleep Alone - Two Doors Cinema Club

Chego em casa do trabalho pra achar Melody e Ruby sentadas uma na frente da outra, com um monte de papelada em cima da mesa. Eu deixo minha bolsa na bancada da cozinha, pego um copo de água, depois eu vou até elas.

–O que vocês estão fazendo? -Melody parece nervosa, mas Ruby só parece hesitante em me contar. Eu me preparo para alguma bomba, já que coisa boa não deve ser. Tento descobrir o que são os papéis, mas as palavras parecem ser de outra língua, já que eu não entendo NADA. -Vocês não vão me contar? -Eu cruzo os braços, começando a ficar irritada.

–Jazz, escute, O.K? Não se desespere nem nada assim... -Melody começa a falar.

–Nós não temos dinheiro pra pagar a casa... da mamãe.

Apesar de ter escutado, eu ainda não entendi o problema disso. A gente já passou por várias situações assim, mas sempre dávamos um jeito. Às vezes eu trabalhava com alguém da cidade, e às vezes Ruby tinha dois empregos, mas a gente sempre deu um jeito. Até quando a minha mãe estava viva. POR QUE todo esse nervosismo?

Quando eles veem que eu não demonstro reação, elas continuam.

–E já faz um tempo que ela está em más condições, e é longe do meu trabalho ou da universidade... -Ruby continua, olha pra mim e respira fundo. -Jazz, a gente vai se mudar pra cá e vender a antiga casa.

Eu paro de pensar. Não. Não. Não. Eu devo ter escutado errado. Só isso é possível. Não pode ser. Elas não podem simplesmente fazer isso comigo. É da nossa mãe que nós estamos falando.

–Do que vocês estão falando? Vender a casa da nossa mãe? A gente não pode. -Eu quase grito, desesperada e sentindo meu coração bater mais forte. Melody olha pra baixo e suspira, como se ela já esperasse essa reação de mim.

–Nós não temos escolha, Jazmine. Não é fácil pagar sua escola, a casa, a universidade da Ruby e depois a sua.

–Você está tentando botar a culpa em mim?

–É claro que não! Eu só estou falando que nós não temos esse tipo de dinheiro pra pagar tudo. É demais. E eu tenho um bebê no caminho, você quer o quê? Eu não posso abrir mão das coisas dele só porque você quer continuar naquela casa.

–Eu NÃO estou pedindo pra você escolher entre eu e o seu bebê. Mas nós não podemos. Aquela casa foi aonde a gente cresceu, Melody. Onde eu cresci pelo menos. Vocês acham que é fácil simplesmente se livrar dela? Como vocês PODEM fazer isso? Aquilo era tudo que a mamãe tinha! -Eu grita, ignorando o fato de que era tudo que eu tinha também.

–E ela morreu! -Melody grita de volta, enterrando o rosto nas mãos. -Ela morreu, Jazz. Hora de seguir em frente.

–Ela é a nossa MÃE. -Por que elas não conseguem entender? -Nós não podemos vender a casa. Isso seria errado e ela não queria que a gente vendesse.

–Mamãe não sabia o que ela queria em quase toda a vida dela. -Melody diz, agora mais calma, mas com a voz seca e sem emoção. -Então me venha com essa.

–Ruby! Como você pode concordar com isso? Você viveu lá a sua vida toda! -Eu me viro para ela. Ela levanta, respira fundo e diz:

–Eu não posso mais, Jazz. Eu não aguento mais. Se a gente se mudar para cá, nós não vamos ter que se preocupar com a hipoteca, com a conta de luz, ou água ou nada. Nós vamos ajudar Melody com as despesas, e você vai poder comprar um carro. -Meus olhos ardem pelas lágrimas.

–Eu não quero um carro.

–Não há nada que a gente possa fazer. Vai ser o melhor pra todo mundo. E você vai poder morar do lado da casa de Morgan... -Melody diz.

–PAREM DE TENTAR ME CONVENCER, OK? -Elas levam um susto com a minha explosão repentina. -Isso é errado e eu não vou mudar de ideia.

–Já está feito, Jazmine. -Ruby fala. -Eu já falei com a corretora, e ela vai se encontrar comigo amanhã pra resolver a papelada.

–Isso não é JUSTO. -Eu digo, e é a última coisa que eu falo antes de pegar minha bicicleta jogada no quintal, e sair pedalando. Eu quero gritar e quero gritar por muito tempo e muito alto. Eu só quero desaparecer, sumir ou dormir pra sempre. Depois de um tempo, eu escuto meus próprios soluços ecoarem e minha cabeça doer.

Ao contrário de muitos outros dias, dessa vez eu sei para onde eu estou indo. Pra casa que eu acabei de perder.

Eu nunca tinha pensado no que aconteceria quando o verão acabasse, e eu tivesse que voltar pra escola, e pra minha cidade natal. Eu nunca cheguei a pensar no que aconteceria comigo e com Morgan ou com o meu emprego na rádio da Olívia. Eu tenho que admitir que eu achava que o verão duraria pra sempre, e que todos os dias seriam como aqueles dias, da praia ou do festival de música. Aqueles foram dias felizes e só Deus sabe o quanto eu preciso de dias felizes pra sobreviver. É um conto de fadas. Mas então, a realidade bate na porta, e você tem que acordar. Uma hora o verão acabaria e eu seria obrigada a pensar nisso.

Eu deveria ter prevido que Ruby e Melody fariam alguma coisa assim. Era óbvio que as coisas iam mudar depois do verão. Mas eu não estava preparada. Eu não posso perder a casa da minha mãe. Eu não posso perder a minha casa.

Eu continuo pedalando, por alguns bons quilômetros e por algumas horas, sentindo o vento no meu rosto e o meu cabelo voando, mas isso hoje só está me deprimindo.

Quando eu chego, as coisas estão como nós deixamos. O portão está fechado, mas a chave ainda está no fundo falso da caixa de correio. A tinta da casa está descascando e a grama do jardim já está alta, porque mesmo quando nós estávamos aqui, ninguém vinha pra aparar. Tudo parece silencioso e calmo, mas só eu consigo ver o furacão de lembranças que olhar para isso me faz lembrar. Eu começo a chorar de novo. Chorar loucamente e bem alto, não me importando se os meus vizinhos vão ouvir. Pela primeira vez, não é só o meu corpo que dói, por causa da viagem, mas o meu coração dói pra caramba também. E meus olhos estão tão embaçados de lágrimas que eu tenho que apertar eles repetidamente pra tirar elas do caminho.

A primeira coisa que eu escuto são os gritos da minha mãe, falando comigo e com a Ruby quando nós éramos menores. Depois eu escuto a ambulância e a Ruby chorando. E então eu abro os olhos e escuto só o silêncio, que é como as coisas estão agora. Bem, exceto pelo meu choro.

Eu abro a casa, e sem olhar para nada, eu vou para o meu quarto. Parece tão familiar e parece que se passou uma eternidade desde a última vez que eu estive aqui, quase dois meses atrás. Meu instinto é pegar o cobertor de cima da escrivaninha e me enterrar na cama, que é o que eu faço.

Eu sinto falta da minha mãe. Eu. Sinto. Falta. Dela. Mesmo ela sendo uma merda de mãe, ela é minha mãe e eu quero ela de volta. Por favor, é a única coisa que eu consigo pensar. Eu sinto falta dela gritando com a gente, eu sinto falta da comida horrível dela e de cuidar dela quando ela passava do limite. Ninguém devia viver sem uma mãe, por mais ruim que ela seja, e eu amava a minha e quero ela de volta.

Ao mesmo tempo em que eu sinto essa tristeza avassaladora, eu sinto raiva.

Raiva do que ela fez. Raiva por ela ser do jeito que ela era, mesmo que esse seja o mesmo motivo pelo qual eu ame a minha mãe. Eu odeio ela por beber demais. Eu odeio ela por nunca contar os seus problemas, mas eu amo ela mais do que tudo isso. Eu não acho que as minhas irmãs conseguem entender isso. Eu não sei nem se elas sentem falta dela. Por isso elas não entendem, que se eu perder essa casa, eu perto tudo que eu já tive relacionado a minha mãe. Vão ser como memórias apagadas e dói pensar nisso. Eu só quero ela de volta.

Não sei por quanto tempo eu fico deitada, mas já está escuro quando eu escuto alguém me chamando. Eu não respondo, porque minha cabeça dói ainda, mas alguém me chama de novo.

–Jazmine! -Eu levanto, mas não saio do quarto, porque quem estava me chamando está ali na porta de casa.

Morgan.

Ele arregala os olhos quando vê o meu estado, depois vem na minha direção e me abraça. Eu começo a chorar mais forte ainda, perdendo as forças pra me segurar.

–O que você está fazendo aqui? -Eu pergunto no meio dos soluços.

–Ruby estava ficando preocupada. Ela assumiu que você não queria olhar pra cara dela ainda então me pediu pra vir aqui.

–Ela sabia que eu estava aqui?

–Acho que sim. -Eu enterro meu rosto no peito dele, enquanto nós dois ficamos plantados em pé. Ele pega o cobertor que eu estou segurando e me cobre enquanto eu ainda choro. Ele só mexe no meu cabelo, sem me apressar para falar alguma coisa, e isso me lembra aquele dia que ele chorou no meu ombro no farol da cidade. Eventualmente, eu falo.

–Você sabe o que aconteceu?

–Ruby disse que vocês vão vender essa casa.

–Isso é tão injusto. -Eu digo, e ele, sem me largar, me leva até o sofá da minha sala e a gente senta. -Como elas podem fazer isso comigo?

–Elas não queriam fazer, mas às vezes as pessoas não tem escolha.

–Mas a gente podia dar um jeito. A gente já deu antes.

–Tenta se colocar no lugar dela. Ela só está desesperada. O dinheiro está acabando e uma hora ela iria sufocar.

–Eu não posso perder isso aqui. Eu cresci aqui e... e eu sinto, que se elas vendessem, é como se tudo sobre a nossa mãe fosse esquecido.

–Você ainda pode lembrar dela no seu coração. Essas coisas fazem parte da vida.

–Minhas irmãs não entendem, Morgan. É como se elas não amassem ela. -Eu fecho os olhos e sinto os dedos dele percorrerem meu braço.

–É claro que elas amam.

–Você quer saber como minha mãe morreu? -Eu uso toda minha força para não chorar ou gritar nesse momento. -Ela se matou. No exato momento que eu cheguei em casa. Elas acham que eu não consigo seguir em frente porque eu me sinto culpada. Eu não me sinto culpada. Eu não pude fazer nada pra salvar ela. Ela já estava morta. Mas eu sinto que elas não amam mais ela, porque tem raiva do que ela fez. Do ela fez a gente passar desde criança e por causa do que ela fez agora, quase quatro meses atrás. Eu também tenho raiva, mas eu não consigo simplesmente lidar com essas coisas do jeito que elas conseguem. É como se elas não ligassem.

–A gente nunca escolhe a nossa família. Mas por mais chata que ela seja, nós amamos ela mesmo assim. Meu pai sempre diz que o primeiro amor nunca morre porque nós nos apaixonamos pela nossa família antes de mais nada. Então, elas só devem estar com problemas pra lidar com o próprio amor pela mãe de vocês. Cada um reage de um jeito diferente, e você só tem que esperar, aceitar e ter paciência com elas.

–É como se uma parte de mim fosse embora, se elas vendessem.

–Uma parte de você foi embora, sim. A sua mãe morreu, e eu sinto muito mesmo. -Ele me aperta. -Mas agora, você tem que seguir em frente, e mesmo que eu não conheça a sua mãe, eu acho que ela iria querer que você seguisse em frente, superasse isso e começasse de novo. É sempre bom começar de novo. O difícil é ter coragem pra isso.

Eu não falo mais nada, só fico pensando no que ele disse.

–Lembra aquele dia que você disse que eu sei escutar? -Eu pergunto.

–Sim.

–Com você é o contrário. Não que você não saiba, mas você fala tão bem que eu quase acredito que vai ficar tudo bem. -Ele dá um risinho.

–Quase?

–O.K. -Eu me permito um sorrisinho mínimo, mas pelo menos não é falso. -Vai ficar tudo bem. Algum dia. -Ele ri de novo.

–Algum dia. -E eu já estou consideravelmente melhor.


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Notas finais do capítulo

gente depois vocês *se quiserem, of course* deem uma olhada nos outros capítulos pq eu vou botar a letra das músicas que eu ACABEI ESQUECENDO PELO AMOR DE DEUS KKKKKKKKK
xoxo, L



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