The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 4
Necessidades


Notas iniciais do capítulo

Enfim, consegui um tempo para escrever e postar o capítulo 4!
Deixem comentários sobre o que acharam da história, da maneira como tudo está acontecendo, deixem sugestões e críticas construtivas se quiserem.
Desde já, obrigado a todos por lerem!



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POV – Claire

Definitivamente, aquela foi a pior noite da minha vida. Como a maioria das crianças, não tive a capacidade de dormir um pouco que fosse. Os grunhidos dos monstros abaixo de nós eram uma lembrança perpétua de nossa situação. Agradeci por não termos energia elétrica, pois senão eu teria acendido as luzes e delatado aos zumbis nossa localização. Eu sabia que eles estavam se guiando pelos nossos rastros, mas não sabiam exatamente onde estávamos, apenas que estávamos próximos.

Ana pela primeira vez demonstrava estar aterrorizada, tinha a cabeça de Peter, um garotinho de apenas sete anos apoiada em seu colo e parecia estar reconfortando-o, mas ela mesma não parecia estar reconfortada.

Eu rezava para que amanhecesse logo, pois os zumbis provavelmente perderiam interesse na caça, que no caso éramos nós.

Um som terrível de vidro se estilhaçando aterrorizou todos nós e principalmente me tirou do torpor no qual me encontrava. Também arrancou alguns gritos e gemidos das crianças e um garotinho de aproximadamente cinco anos tremia e soluçava.

-Quietos! – Ana sibilou.

E não só as crianças ficaram quietas, como os zumbis lá em baixo também. Ana me olhou alarmada e confusa, várias hipóteses passando por nossas cabeças. Uma em especial se confirmou; em poucos segundos ouvimos batidas no acesso entre o primeiro e o segundo andar e percebemos que os zumbis haviam nos achado.

- Não, não, não, não. – Peter agora estava em desespero, as lágrimas descendo pelo seu rosto.

- Calma Peter, calma! – Ana tentava empregar um tom ameno à voz.

Mas Peter estava tomado pelo medo, recuando até a extremidade do cômodo principal em que estávamos. Outra batida, dessa vez mais intensa. Foi quando Peter soltou um grito agudo que certamente pôde ser ouvido por vários quarteirões, um grito do mais puro e cego terror.

Ainda atordoada, porém ágil, avancei em sua direção e tapei sua boca, tentando sem muito sucesso abafar seus gritos.

- Eles vão entrar aqui! – afirmou uma menininha de tranças longas que correu em direção a Ana e a abraçou.

Um tumulto começou, tanto no andar de baixo quanto no andar de cima, os zumbis agora tendo certeza de nossa localização e as crianças entendendo que poderiam morrer a qualquer momento.

- Por favor. Calem as bocas! – disse com minha voz saindo esganiçada.

Ana, então me surpreendeu ao desenroscar a garotinha de seus braços e sacar uma faca escondida em sua bota preta. Ela apontava-a na direção da porta de acesso logo aos seus pés; era uma faca boa e afiada, com um cabo preto que Ana manejava muito bem. Ela mantinha uma expressão concentrada e um sorriso feroz no rosto.

- Onde. Conseguiu. Isso? – perguntei, dando ênfase a cada palavra para demonstrar minha incredulidade.

- Na cozinha, no primeiro dia. – respondeu ela simplesmente.

Agora os zumbis empunhavam mais força as batidas, fazendo a portinhola tremer e o cadeado que a bloqueava pular inúmeras vezes no ritmo dos socos, tapas e arranhões desengonçados.

Alguns minutos depois, os monstros pararam de tentar penetrar em nosso esconderijo e todos podemos relaxar nem que fosse somente um pouco. A luz suave do nascer do sol penetrou no cômodo e pude me ouvir um suspiro de alívio coletivo.

- Isso foi por pouco. – disse-me Ana mais tarde, ela ainda empunhava a faca, apesar da leve tremedeira que assolava suas mãos.

- Sim, foi... E você agiu muito bem, Ana. – admiti, por mais que me custasse dizer aquelas palavras.

Ela não respondeu.

- Pode guardar a faca agora. – afirmei, mudando de assunto.

Ana não fez qualquer tentativa de se mover e eu estava desistindo de falar com ela, até que ela voltou a afirmar:

- Ela devia ter morrido em outro lugar.

Ana parecia ter recuperado o auto controle e havia uma sugestão de sorriso brincando em seus lábios.

Aquela era uma boa hora para pedir desculpas pelo tapa, mas mordi o lábio inferior e me obriguei a ficar calada. Estava criando vínculos demais ali.

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Os zumbis voltaram a vasculhar o orfanato e a quebrar as coisas lá em baixo, estavam em nosso rastro, mas pareciam ter perdido o interesse, pois passados alguns dias, eles não voltaram mais.

Porém, Ana me trouxe a par de um novo problema. Os suprimentos que pegamos na cozinha do orfanato estavam escasseando e ficaríamos sem alimentos em pelo menos um dia, dois se tivéssemos sorte e controle. O que parecia pouco provável, pois já estávamos controlando os alimentos a vários dias. Eu havia percebido que Ana mal comia, assim como eu; ambas estávamos deixando os menores com a melhor parte das pobres refeições.

Só que em alguns dias não haveria comida, nem para nós e muito menos para os menores. Precisávamos encontrar suprimentos e aquilo não seria nada fácil.

Pelas janelas, observei as casas da vizinhança, janelas quebradas, portas arrancadas das dobradiças; não seria difícil entrar, mas eu sabia que se não calculasse tudo de maneira correta, seria impossível sair.

Observei pela janela durante todo o dia anterior à busca que faria por comida e, ao fim dele, tracei um roteiro de “visita” em minha mente, com base nas casas mais vulneráveis e aparentemente menos tocadas pelos zumbis.

- Claire, vamos! Você precisa se alimentar se quiser estar disposta para nossa excursão amanhã.

- Minha excursão, já disse que você não vai! E não vou me alimentar agora; que isso seja uma lembrança constante do meu objetivo. Meu objetivo que vou tentar cump...

- NÃO DIGA ISSO! Você vai conseguir Claire. Queria poder te ajudar, mas você não quer minha ajuda.

- Você pode me ajudar. Cuide deles – disse, gesticulando na direção das crianças reunidas no cômodo – e estará me ajudando.

- Claire... quero que fique com isso, vai precisar. – Ana me ofereceu a faca que ela usara na noite anterior. Peguei-a e soube que não podia aceitar.

- Não Ana, não! Essa faca é sua e... E se eu não voltar? – indaguei, ambas percebendo o sentido duplo daquelas palavras.

- Só há uma coisa que pode te atrapalhar... E são os zumbis. Com essa faca você conseguirá vencê-los... Provavelmente... Sei que a trará de volta para mim.

Uma dor se espalhou por meu coração e eu não disse nada. Ainda não havia me decidido se queria ficar ali e morrer com as crianças.

- Volte,Claire!

Ana se afastou e voltou a distribuir os alimentos da nossa última refeição.

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A manhã chegou preguiçosa; ela mesma parecia estar de luto com o mundo e não tomei aquilo como um bom presságio. Mas não tinha escolha, Ana e as outras crianças precisavam de mim.

Coloquei às costas uma mochila que ganhara no Natal Solidário alguns anos atrás e, que até então, eu usara para guardar os materiais escolares.

Eu odiava aquela mochila. Desde que coloquei o olho nela quis atirá-la a algum rio, mas no dia que a ganhei, tentei parecer feliz e surpresa, grata para com a moça que me presenteara. Fiz isso, pois era o que se esperava de mim.

Ana também levantou bem cedo, ela tinha a chave do cadeado que mantinha a portinhola fechada e segura.

Foi combinado que ela observaria pelas janelas durante todo o dia e que só abriria a portinhola novamente quando eu chegasse com os novos suprimentos, isso se não houvessem muitos zumbis por perto, caso no qual eu teria de dar meu jeito de sobreviver.

Enquanto descia as escadas tremendo, de frio – apesar do casaco fino que vestia – e de medo, ainda não havia me decidido. Não sabia se ainda voltaria para ajudar Ana. Meu futuro era um borrão a mais naquela manhã sinistra.

E o olhar que lancei a Ana foi quase um adeus.


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