The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Depois de algum tempo, aqui estou, espero que curtam o capítulo! E caso esse seja o último do ano (pretendo escrever mais um antes do dia 31, mas não sei se vai dar), desejo a todos que acompanham a fic um ótimo ano novo o/ E espero vê-los acompanhando a fic em 2014 u.u



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POV – Claire

Avaliei minhas opções. Com certeza, sair gritando do carro igual uma doida desequilibrada não seria de grande ajuda. A solução, provisoriamente, era apenas ficar ali.

O que até seria possível, não fosse minha maldita falta de sorte. A frequência do rádio, até então sem dar qualquer sinal de “vida”, preencheu-se com um som que, para minha surpresa, não era estática. Eram vozes humanas. Sobreviventes.

Uma parte de mim nunca esperara encontrar nada enquanto vasculhava as estações de rádio, o que só aumentou a minha surpresa ao ouvir aquele repentino surto de sons. Era bom ouvir outra voz além da minha, para variar – embora o momento não fosse dos melhores para aquilo.

– Em primeiro lugar, me desculpem por não ter aparecido na semana passada, realmente não deu para transmitir. – Uma voz masculina levemente rouca se pronunciou.

Mas que merda!, gritei comigo mesma em pensamento. Deixar o rádio ligado fora uma grande besteira e agora aquilo provavelmente custaria minha vida. Pude sentir claramente o efeito do som sobre os infectados; alguns dos mais próximos tinham congelado onde estavam, como se estivessem se concentrando no som – o que, obviamente não estavam fazendo, pois não possuíam inteligência para tanto. Eles eram apenas predadores que tinham recebido um estímulo.

– Bom... – O homem se preparava para dizer algo.

– Você está ficando sem ter o que falar aqui – percebeu uma mulher, interrompendo o que quer que ele tivesse planejado dizer.

Ele rebateu, embora eu não tenha entendido as palavras. Estava alarmada demais pensando freneticamente em um modo de desligar o rádio sem ser notada.

Um infectado bateu as mãos contra o vidro onde meus joelhos estavam dobrados e meu coração quase escapou pela boca. Eles estavam me notando. Agora era só um, mas logo outros viriam.

–... E esse é meu pedido pra vocês. O pedido de um cara tentando unir o que restou da raça humana. Eu só peço que se mantenham vivos.

O cara sabia convencer, admiti, talvez fosse vendedor ou algo do tipo antes do apocalipse.

Silenciosamente, levantei uma parte do tronco, dolorido pelos agonizantes minutos em que estivera ali, tensa em uma posição desconfortável no banco de trás do carro. Cessava o movimento a todo instante, olhando ao redor para ver se estava indo bem na tarefa de ser discreta e aparentemente, a resposta era sim. Estava um tanto frio, mas eu conseguia a proeza de suar. Logo um segundo e terceiro zumbis se separaram do restante e grudaram os corpos ao vidro; a situação só piorava a cada instante.

Na verdade nem fui eu que ferrei a situação, pois estava sendo suficientemente discreta em meus movimentos, mas sim os outros infectados do lado de fora que esmurravam as janelas e acabaram por atrair também os outros. Quando vi que não havia mais jeito, abandonei a estratégia atual.

Juntei minhas coisas o mais rápido possível e pulei para fora do veículo, lançada em uma adrenalina fria, um último impulso de sobrevivência. Os infectados estavam por toda parte, grunhindo de modo horrível, mas não me intimidei. Avancei vários metros, buscando me afastar do veículo onde estive alguns poucos minutos atrás. Tentei, por um tempo, desviar daquelas coisas ou empurrá-las para fora do caminho; tratá-las como obstáculos, pois não dispunha do tempo necessário para entrar em corpo a corpo com uma delas. Assim caminhei por alguns metros, mas à medida que mais e mais infectados notavam minha presença, as opções de fuga se tornaram escassas.

Meu campo de visão já estava tomado pelos corpos pútridos e percebi que tinha cada vez menos tempo para respirar e planejar meu próximo movimento.

Foi quando realmente comecei a combatê-los. Sem remorsos, pois não importava se aquelas coisas tinham sido humanas um dia ou não (o que importava naquele momento é que elas tentavam me devorar!, e quando alguém faz isso, é natural que eu me defenda) comecei a combater as criaturas.

A maneira como eles se moviam em grupo era perturbadora e, em alguns aspectos, bem diferente do modo como os zumbis individuais agiam. Eles eram uma unidade, um grupo, e no momento, aqueles serem que agiam como um só viam em mim o objetivo em comum.

Um deles, ousadamente, me agarrou pelo braço direito, e foi o momento daquele dia em que mais temi pela minha vida. Ele se inclinou para morder meu braço e, por um instante, toda a multidão de infectados desapareceu para mim. Éramos somente eu e o Segurador – como o apelidei em minha mente depois – em uma luta desesperada, ambos famintos. Ele pela morte e eu pela vida.

Soltei a faca em minha mão esquerda e soquei o rosto do Segurador. Ele recuou um pouco, mas não largou meu braço totalmente. Sua saliva, escura e com um odor que ninguém nesse mundo deveria ser obrigado a sentir, pingou e escorreu sobre minha pele, ressaltando a urgência da situação. Esmurrei-o outra vez, sentindo, além da dor nos nós dos meus dedos, algo em seu rosto se partindo.

Eu havia depositado tanta força na tarefa de puxar meu braço que, quando o morto finalmente me largou, não pude evitar o tropeço sobre os próprios pés e o choque contra a lataria de um veículo vermelho que se seguiram.

Ao invés de gritar de dor, engasguei com o gosto de sangue e ferrugem. Estava próxima demais do chão para levantar agora. E infectados já se ajoelhavam lentamente para mordiscar-me, se é que sobrara algo de mim para ser mordiscado. A única não tão brilhante assim – mas melhor opção no momento – ideia que pude ter, foi arrastar-me mais um pouco até ficar sob a lataria do veículo vermelho, e mais um pouco até chegar ao outro lado.

Havia chegado à uma calçada. Esta, por sua vez, não estava isenta da presença de zumbis, mas ainda assim, era mais fácil me equilibrar alo.

Era um milagre que a bolsa com todas as minhas coisas ainda se pendurasse precariamente as minhas costas, embora tivesse perdido algumas boas armas lá atrás.

Tudo se tornou confuso depois que me arrastei para longe do carro vermelho, mas lembro de, com uma última centelha de energia talvez, conseguir entrar em uma casa com ar brega, repleta de símbolos religiosos espalhados por toda parte e móveis mal organizados. Fechei a porta após entrar, o que na verdade não dava toda a segurança que o gesto parecia oferecer, mas era o melhor no momento.

POV – Paula

Os grunhidos tinham ficado para trás, o que representava um alivio gigantesco. Bruno seguia a minha frente e não parecia se importar com o fato de eu estar segurando seu braço freneticamente, em busca de um apoio na escuridão. Meu tornozelo direito apitava de dor e acho que sem a ajuda de Bruno, eu já teria ficado para trás há muito. Carla e Steve também se encontravam nas proximidades, embora eu não conseguisse definir bem, naquele momento, se à frente ou atrás de nós.

Carla deu um gritinho e logo em seguida podemos ouvi-la caindo. Bruno se distanciou de mim para ver o que se passava e encontrou a mulher frustrada, se levantando de cima de uma fogueira ainda meio acesa enquanto soltava uma dezena de palavrões.

– Que beleza, uma fogueira. – ironizou ela, os joelhos ralados.

A expressão de Steve mudou, como se algo de repente ocorresse a ele.

– O que foi? – Bruno também notou.

– Acho que essa fogueira, ou melhor, as pessoas que fizeram essa fogueira, atraíram os monstros para cá.

– Pessoas? – perguntei, tentando não soar muito alarmada, embora estivesse.

– Vamos tomar cuidado redobrado a partir de agora – sentenciou Bruno. – Recuem imediatamente caso vejam alguém. Não podemos nos arriscar a outro grupo hostil.

Carla, Steve e Bruno já se preparavam para continuar andando, mas eu não. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, lágrimas de aflição brotavam de meus olhos.

Steve pareceu perceber meu nervosismo, embora não conseguisse ver as lágrimas, na escuridão, e surgiu ao meu lado, incitando-me a seguir em frente.

– Nós nem vamos encontrar com eles, Paula.

– Como você pode ter certeza? – perguntei.

– Eu te prometo. É o melhor que posso fazer.

Terá que ser suficiente.

Steve não saiu do meu lado por um minuto, o que, devo admitir, fora bastante reconfortante. A maneira como ele colocava o braço a minha frente sempre que ouvíamos alguma coisa – geralmente algum animal – transmitia uma espécie de segurança que eu não esperava encontrar naquele lugar.

Por fim, emergimos em um ponto da floresta onde as árvores eram mais finas e a visibilidade melhor e parecia que os monstros tinham ficado definitivamente para trás.

Bruno, ofegante, pediu para que parássemos por um momento. Steve aproveitou enquanto o amigo descansava para pensar no próximo passo.

– Devíamos esperar amanhecer e então localizar a rodovia – contou-me ele.

Assenti, de olhos fechados. Daria tudo para estar deitada em uma cama quente agora, enrolada em uma coberta felpuda apenas com a cabeça para fora, pois odiava me sentir sufocada. A chuva caindo contra a janela, esfriando o ar. Como em minha antiga casa. O clima sempre úmido era ótimo para descansar. E Deus sabe como eu precisava de um descanso naquele momento.

Suspirei audivelmente, talvez alto demais.

– Tem alguém aqui! – Uma voz feminina sussurrou, mas foi sufocada por uma mão ainda na metade da frase. Eu queria recuar, mas não sabia para onde, já que a voz podia vir de qualquer lugar.

Steve fixou o corpo ao meu lado. A mão que não segurava o machado, pronta para me arrastar caso as coisas ficassem feias e eles tivessem de correr.

Ficaram em silêncio absoluto, esperando que uma dezena de humanos saltasse do meio da floresta para ferrá-los.

Mas no fim foram as outras pessoas que entregaram a posição. Dois vultos correram na direção oposta a deles, mas não foram muito longe antes que Bruno largasse atrás. Carla o acompanhou, preocupada com Bruno, mas Steve permaneceu comigo.

O que houve com o papo de recuar caso vissem alguém?!

– Por que Bruno foi atrás deles?! Quer dizer, eles correram da gente, não foi?

Mas o pensamento de Steve fora além. Ele me explicou que não podiam deixar que aqueles dois avisassem a outros – caso estivessem com outras pessoas – sobre a presença deles ali.

– Talvez devêssemos ver o que aconteceu mais para frente. – sugeri, sem muita ênfase, esperando que Steve não concordasse.

Mas concordou, então seguimos, cautelosos, a direção que todos haviam tomado. Por fim encontramos Bruno pressionando um garoto, por volta de 15 anos de idade, contra a árvore e perguntando se era parte de um grupo maior. Carla se mantinha ocupada com uma de suas facas contra a garganta do segundo vulto – que não enxerguei muito bem.

– Cara – falou, de um jeito arrastado. – somos só eu e minha irmã!

Bruno se afastou dois passos do garoto, mas ainda mantinha-o sob vigilância.

– E porque eu, supostamente, deveria acreditar nisso?

O garoto não tinha resposta.

– Hein? – pressionou ainda mais.

– Somos só eu e ele! – escandalizou o segundo vulto, que percebi, era uma garota um pouco mais jovem que o outro.

– Quieta – ameaçou Carla e, em seguida encarou Bruno: – E aí? O que fazemos com eles?

– Vamos levá-los com a gente, só para garantir. – suspirou. – Conhecem algum lugar seguro onde podemos esperar até o amanhecer?

O garoto balançou a cabeça em negativa.

– Nada desde que uns malucos em um carro passaram na nossa fazenda e atraíram um bando de zumbis.

– Uns malucos? – Steve perguntou, cauteloso.

– É, uns caras que passavam por lá. O grupo com quem a gente tava, na verdade, que atacou eles. – comentou a garota, mas logo acrescentou: – Nós não fizemos parte do ataque!

– Mas como esse mundo é pequeno... – comentou Carla.

Eu não fazia ideia do que eles estavam falando, mas Bruno, Steve e Carla pareciam ainda mais receosos com relação aos dois irmãos.


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Notas finais do capítulo

Esses dois irmãos, caso ninguém se lembre, aparecem pela primeira vez no cap 15, Fazendeiros :P