The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 35
EXTRA: Loucura (parte 3)




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Willa encontrou a nona criança na cozinha. Ela estava evidentemente com pressa e a cozinheira não teria pegado-a ali se tivesse chego um momento depois.

- Que inferno está fazendo aqui, garota?

A menina baixou a cabeça timidamente, de modo que os óculos caíram um pouco para frente. Ela mexeu nos cabelos encaracolados antes de responder, sem olhar nos olhos da mulher mais velha.

- Eu tive fome e... Vim pegar uma maçã.

- Vim pegar uma maçã, senhora. – corrigiu rispidamente enquanto analisava a garota. – E onde está a maçã?

- Eu... Eu não achei nenhuma maçã. Senhora. E por isso já estava indo embora.

Após um instante de silêncio, Willa deixou a garota ir, por mais que algo na postura da menina a incomodasse.

- Achou a última criança? – Sasha assustou-a.

- Ah sim, era só aquela peste da Ana. Mais tarde vou verificar o que ela está aprontando.

Para variar, Willa estava sendo paranoica, ou seja, estava sendo apenas Willa.

- Então... Vamos? – apressou Sasha, pois começava a sentir frio naquele cômodo esquecido do orfanato. Vestiria um casaco depois da conversa com os outros.

- Só um minuto, quero lhe mostrar uma coisa.

Willa se dirigiu na direção de uma das repartições do armário branco e abriu um dos lados da porta dupla – parecia saber o que estava fazendo, o que não espantava Sasha, afinal, era seu dever conhecer cada canto daquela cozinha –, e encarou o interior por alguns momentos.

- Estranho... Eu podia jurar que eram três facas!

Paranoia. De novo.

- Pra que precisamos de facas? – E o que importa quantas temos?, ficou tentada a acrescentar.

- Ah é mesmo, esqueci que não foi você a ir ao mercado. Se visse como estão as coisas lá fora, ia me implorar por uma arma qualquer – suspirou. – Aqui. Uma para mim e outra para você. Use naquelas coisas, não em si mesma ou em outros.

- Desnecessário dizer. – Sasha olhou admirada para a lâmina por alguns instantes, até que Willa começou a olhá-la.

- Você não é tipo de criança que obedece ordens, não é?

- Não desde que comecei a entender o mundo.

Ao ver que a faca estava deixando os demais apreensivos, Sasha tirou-a do campo de visão deles, escondendo-a por trás do corpo. Willa pigarreou impaciente e quando todos se calaram, ela começou o discurso ao qual Sasha não deu muita atenção. Era fácil deixar a mente vagar; pensar no quanto os próximos dias seriam difíceis e, muito provavelmente, entediantes também, mas Sasha não acreditava que aquele clima todo de fim do mundo continuaria por muito tempo. O exército ou alguma daquelas organizações secretas que ela sempre via nos filmes alugados – quando lhes permitiam aquele luxo – daria um jeito nos doentes assassinos, pensou ela.

Willa tinha terminado de explicar a situação e passava ao próximo item, como se lendo a mente de Sasha, ela começou a tagarelar a respeito dos tempos vindouros; a maior parte da comida seria dada aos mais novos, obviamente, e seria bom economizar nas velas e coisas do tipo. Todos estavam terminantemente proibidos de deixar o orfanato.

Ela estava no meio da explicação do porque queria que levássemos toda a comida disponível em caixas lá para cima, quando todos ouviram um estrondo potente. Willa afirmou não haver motivos para preocupação, embora tenha ido verificar o estrondo após dar ordens para os jovens levarem as caixas.

Sasha quis ir com ela, mas Willa mandou que ela ajudasse os outros.

- Temos de ser rápidos – justificou.

Sasha agarrou a primeira caixa que viu pela frente, continha diversos enlatados e era um pouco pesada, não hesitou em levá-la para cima. Repetiu aquilo mais algumas vezes, ignorando o olhar apreensivo de Claire sempre que tinha de subir lá em cima. Começava a suar e sentia uma incômoda dorzinha no pescoço, pensou estar delirando quando escutou o grito de Willa que foi logo ecoado por duas meninas desesperadas.

- Shhhhhhh! Quietas! Agora!

Willa tinha parado de gritar, percebeu, no mesmo momento em que desviava de uma caixa arrebentada que, no tumulto, tinha caído e esparramado frutas para tudo quanto é lado.

Aqueles jovens, incluindo Sasha, estavam mortos de medo. Claire agarrava uma das crianças menores e balançava-a no seu colo no ritmo de uma canção. Uma das meninas que gritara antes anunciava, baixinho, que eles iam todos morrer, o que também não ajudava. Todos aqueles corações apreensivos saíram pelas bocas quando Willa adentrou o cômodo correndo.

- Mas que merda, Willa, quase me mata do coração! – gritou alguém.

- Menina – ela agarrou os dedos de Sasha, ignorando o fato de um deles ter estalado com a força do gesto. – aquelas coisas invadiram a cozinha... E-e-eu os tranquei lá, mas, meu Deus, precisamos ir lá pra cima. Agora.

- Mas e as caix...

- Agora!

A menina não compreendeu o porquê de tudo aquilo, a cozinheira chegava a deixar lágrimas escorrerem pela face horrorizada. Parecia quase em estado de choque.

Mal a primeira pessoa tinha passado pela escadinha quando aqueles doentes chegaram aos montes contra a porta de vidro do outro lado da sala. A porta de vidro cedeu quase imediatamente.

Gritos preencheram o cômodo. Alguns jovens arrancaram os outros da escadinha, enquanto dois se esqueciam do que Willa dissera sobre os zumbis na cozinha e abriam a porta que separava os cômodos. Era incrível como 9 jovens – mais Sasha e Willa – conseguiam causar tanto tumulto.

Sasha só pode gritar enquanto corria até onde largara a faca, empurrando para longe um garoto loiro chamado Chester em algum momento no caminho.

Em um minuto, seus dedos se fecharam sobre a faca e, no instante seguinte, ela já aplicara o primeiro golpe, direto no coração de um daqueles monstros – pois agora que os via de perto, não conseguia mais chamar de “doentes”. Constatou, horrorizada, que ele nem sequer se incomodou com a lâmina profundamente enterrada em sua carne, apenas continuou andando mecanicamente na sua direção. Sasha correu. Agora gritava de verdade. Eles não podiam ser mortos!


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Notas finais do capítulo

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