The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 30
EXTRA: Loucura (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, aí está a primeira parte dos capítulos extras que contam um pouco mais sobre o momento em que a Infecção começou.



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- Olhe só pra ela – Sasha resmungou, olhando com raiva para uma mesa na outra extremidade do refeitório. – Aquela garota consegue me tirar do sério apenas estando viva.

Não era surpresa Sasha odiar alguém, ela gostava de manter uma extensa lista de inimigos, afirmava que aquilo a motivava a viver e Claire ria sempre da amiga, mas não daquela vez. Era obrigada a concordar que Edith tirava qualquer um do sério.

A princípio, ambas nada tiveram contra Edith, era uma garota nojenta e insuportável, mas tanto Claire quanto Sasha ignoravam sua existência, até o dia do incidente na fila do refeitório.

Claire e Sasha se apressavam pelo corredor, Sasha fora obrigada a ficar dois minutos a mais na sala com o professor de história, discutindo a respeito da nota dela na prova. Aquilo atrasara as duas amigas, que corriam pelos corredores onde o fluxo de alunos diminuía, em direção ao pátio do refeitório.

- Droga, desse jeito a gente vai pegar o pior da fila e ter que comer com uma pressa absurda antes que o maldito sinal toque de novo. – previu Sasha.

Na aula de ciências, diziam que comer apressadamente era minimamente melhor do que não comer e Claire precisava comer, tanto pelo seu próprio benefício, quanto para usufruir da parceria entre o orfanato e o colégio. Aquela maldita parceria! Claire e Sasha odiavam a parceria, que era de conhecimento geral, espalhando o fato de elas e todos os outros jovens do orfanato estarem ali numa espécie de favor.

Os outros adolescentes que pagavam a mensalidade regularmente olhavam torto para elas e evitavam interagir, a exceção de um ou dois que as tratavam como qualquer outra pessoa. Até os professores pareciam pegar mais no pé das duas.

A distância entre orfanato e colégio era de alguns quarteirões, então Donna deixava que “os jovens se virassem”. As duas não eram as únicas do orfanato a estudar no colégio, mas em geral andavam juntas e não se encontravam muito com os outros.

- Isso não vai acontecer, estamos quase no refeitório – declarou Claire. As duas atravessaram as portas com pressa e contornavam a fila para pegar o copo de plástico descartável que abrigaria o suco, quando a pior coisa que podia acontecer, aconteceu. Sasha se apressou e acabou atropelando Edith, que transportava sua bandeja cheia ao lado de duas amigas.

A bandeja ficou entre as duas enquanto Edith se afastava, mas o estrago já havia sido feito. A camiseta de malha quadriculada estava manchada de vermelho. O prato do dia era espaguete.

- Ai meu Deus! Claire busque um pano ou alguma coisa assim! – Sasha alarmou, chamando a atenção da metade do refeitório que ainda não as encarava. As próximas palavras (ou gritos) foram dirigidas a Edith. – Tudo bem com você?

- Suas idiotas! Só porque não têm família, pensam que podem aprontar o que quiserem por aí! – Claire já estava deixando o ambiente à procura do zelador quando ouviu as palavras e fincou o pé onde estava.

- O que você disse?

Mas ela não repetiu, bufava em um canto, irritada.

- Não vou pegar mais merda nenhuma! – exclamou irritada. – Espero que essa mancha não saia da sua camiseta estúpida. – Provavelmente, poderia pensar em um xingamento melhor do que “estúpida”, mas resolveu deixar para lá, puxando o braço de Sasha até os últimos lugares da fila, como se nada tivesse acontecido.

Depois daquele dia, as duas seguiam a garota com o olhar pelo refeitório, procurando por um deslize, uma chance de se vingarem.

- Sabe... Eu fiquei sabendo que as quartas, a mãe dela faz um curso ou alguma coisa assim e não pode vir buscá-la – comentou Sasha. – Você por acaso sabe que dia é hoje? – Ela perguntou com inocência, mas o sorriso em seu rosto demonstrava malícia.

Era quarta-feira.

Edith seguia à frente. Levava o celular caro na mão direita e sorria com o som que indicava a chegada de um novo SMS. Sua mochila estava pendurada por uma das alças, enquanto a outra flutuava ao lado de seu braço.

Sua imagem era como se a própria arrogância se materializasse em um único ser e Claire gostaria de poder matá-la, apesar de aquele não ser o objetivo, e sim, ensinar a ela uma lição.

Edith pegou um atalho muito conveniente, um beco entre uma pizzaria (fechada durante o dia) e uma agência de publicidade com vários andares em sua construção.

- Edith! – Sasha gritou e a menina parou por um momento.

Ela bufou e continuou andando. Claire pode ver o quanto aquilo irritou Sasha, entre muitas outras coisas, ela odiava ser ignorada. Os próximos minutos se sucederam de modo confuso.

Sasha agarrou a menina pelo ombro e a empurrou contra a parede de modo um tanto brusco e seu celular caiu com a tela touch screen virada para baixo. Claire temeu que aquela loucura acabasse em merda para as duas. E por isso, tentou parar Sasha antes que ela deixasse marcas no rosto da menina.

- QUAL É CLAIRE? Não lembra do que ela falou da gente?!

- Eu lembro, sim, mas isso vai acabar passando dos limites e só vamos nos ferrar mais!

Então, Edith tentou nos empurrar para o lado, com uma motivação renovada pela visão de um  homem de cabelos grisalhos vindo em seu auxílio.

- Vamos! – gritou Claire enquanto seus pensamentos mais pessimistas se concretizavam.

Sasha acenou com a cabeça a após um último empurrão em Edith, apressou-se em sair dali.

- Mas que merda! Ela vai nos dedurar para os...

Ambas as garotas congelaram onde estavam, pois o berro de Edith não parecia com o de uma garota sendo ajudada.

- Devemos voltar? – Sasha indagou, mas Claire já fazia o caminho de volta, pisando em uma poça de água suspeita e esbarrando em uma lixeira que deixou uma marca roxa na sua coxa.

Sasha arfava quando alcançou uma Claire totalmente chocada encarando a cena de filme de terror.

Edith estava presa entre o homem que pensara que iria ajudá-la e a parede de tijolos, sua mão que era visível às garotas se apertava em volta do celular caro e o cabelo preto liso começava a se sujar de sangue enquanto o homem mastigava o seu pescoço. Claire e Sasha não entenderam a cena, mas entenderam que Edith já estava além dos seus esforços. Mas foi quando o canibal virou a cabeça branca e os olhos vermelhos na direção das duas que elas correram.

Sasha estava mais controlada, porém Claire gritava como nunca antes em toda a vida. A cena sangrenta voltava a sua mente, desviando a atenção do trajeto que elas faziam desesperadas. Ao alcançar a rua, atravessaram sem nem esperar que os carros parassem.

- Meu Deus... O QUE... FOI A-A-AQUILO? – Sasha apertava o pulso de Claire com força, como que para se certificar de que tudo não foi um terrível pesadelo.

Antes tivesse sido, pois aquilo era, o começo do Apocalipse. 


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Notas finais do capítulo

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