The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 31
Tudo Acaba Em Sangue


Notas iniciais do capítulo

Bom, espero que não tenham abandonado a história >< Sei que demorei a postar, mas tem um motivo. Esse foi o cap mais difícil de escrever até agora. E falo sério, fiz 3 versões diferentes dele até que uma finalmente conseguiu não ficar tão forçada e melhorzinha, com um ou dois momentos de ação e.e E ainda tem o fato de que esse mês de volta as aulas está tenso, entrar no ritmo sempre é complicado...
Mas, para compensar os senhores e senhoras que leem a fic :3 Eu decidi postar um capítulo extra até o final da semana. Ele contará a história dos primeiros dias da Infecção para Claire e as outras crianças do orfanato e também apresentará um personagem novo/antigo. Em breve, pessoas u.u



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POV – Victor


Ana caía. Morta. Finalmente de boca fechada. Os zumbis se precipitavam para a carne nova e fresca.

Ou pelo menos era assim que deveria ter acontecido.

Pisquei continuamente, mal podendo acreditar. Pensei que minha visão estava prejudicada, pois a cena a minha frente era impossível. A garota continuava intacta, enquanto o zumbi ao seu lado recebia o disparo no peito.

Minha única e definitiva chance de encerrar o problema com Ana e acabei errando o tiro. Nem quando recebi a notícia da morte de Candice, anos atrás, sentira tamanha frustração quanto agora.

Preparei a arma para um segundo disparo. Ana olhava estarrecida para mim, como se o fato de ela ainda estar viva fosse uma surpresa para ambos. Deve ter notado, então, a fúria e determinação em meus olhos, pois finalmente saiu do entorpecimento e correu na direção oposta.

Desviando do aglomerado de infectados, a pirralha alcançou a porta de uma residência comercial. Sumiu de vista e por um instante pensei em segui-la, mas no momento seguinte já havia mortos-vivos demais entre mim e ela para que pudesse fazer qualquer coisa. Notei alguns deles adentrando a mesma porta que Ana largou aberta e sorri, ela estava ferrada de qualquer jeito. Não precisava que eu apresasse sua morte.

O mais importante agora era sair dali intacto. De que adiantaria matar a garota e morrer logo em seguida? Minha filha precisava de alguém que cuidasse dela, não, não, ela não precisava de alguém, ela precisava de mim. E agora sem nada que nos impedisse!

Estava delirando de alegria enquanto corria na direção oposta aos zumbis. Minha perna não atrapalhava tanto quanto eu fingia para Ana e Claire, mas mesmo assim, ela incomodava. Encontrei consolo no pensamento de que ela iria ter tempo para se curar totalmente enquanto Claire e eu desfrutássemos dos mantimentos da mochila nas próximas semanas.

Atirei uma, duas, três vezes para trás antes de conseguir uma distância considerável dos infectados. Era impressão minha ou aquelas coisas estavam ficando mais ousadas e difíceis de matar?


POV – Claire


Eu tinha de fazer alguma coisa. Sim, eu tinha, óbvio, mas fazer o quê? A única coisa da qual tinha certeza absoluta era de que aquela situação não poderia ficar assim. Morar com um assassino não era apenas perigoso, era doentio. Podia garantir o hoje, mas e quando houvesse uma briga ou alguma discussão? Victor poderia perder a calma e algo de pior, muito pior acontecer.

Ouso dizer que estava totalmente fora de mim naquele momento, cogitando possibilidades absurdas. Poderia abrir as portas a deixar os zumbis virem aos montes, Victor não sobreviveria. Ou então, simplesmente desmascará-lo assim que entrasse pela porta; e depois sair com Ana. Não. Ele não me deixaria fugir, disso eu tinha certeza. Então fui obrigada a tomar uma decisão mais pensada. Agiria com cautela e esperaria o momento certo para sair com Ana dali. Talvez durante aquela noite. Precisava, mais do que nunca, ser inteligente.

Mas ainda conseguiria olhar para a cara de Victor depois de tudo? Lembrei-me da sua voz, cruel e ríspida, indagando as últimas palavras de Danilo e estremeci. Minha reação não poderia ser ensaiada, era algo que eu só descobriria no momento em que eles cruzassem a porta. Pelo bem de Ana, minha reação teria de ser o mais normal possível.

Esparramei-me no sofá, mas não consegui relaxar. A aura daquele apartamento agora era sinistra, enquanto a manhã avançava.

O cansaço venceu a tensão, de modo que cochilei por um tempo no sofá, mas mesmo assim, não encontrei paz nos sonhos, num deles, o rosto do estuprador que me usara há algum tempo se transformava no de Victor e a voz terrivelmente distorcida, pedia que eu dissesse minhas últimas palavras.

Foi no final desse pesadelo que a porta bateu suavemente, quase como se alguém estivesse indeciso sobre entrar, ou quisesse fazê-lo o mais sorrateiramente possível.

– V-Victor? – Minha voz saiu esganiçada e senti minha mão direita tremendo junto à coxa, ele perceberia meu medo se continuasse assim. – Victor? – repeti, dessa vez usando um tom de voz mais relaxado, e cerrando as mãos para evitar que esse outro sinal ficasse muito claro.

Ele não respondeu, de modo que me sentei no sofá e girei o rosto. Foi como se uma facada atravessasse meu peito, uma sensação semelhante a de quando encontrara o orfanato acabado.

– ONDE ESTÁ ELA? – berrei, meu autocontrole indo à merda. Raiva e desolação lutavam por um espaço dentro de mim. – Você a matou.

O filho da mãe tinha lágrimas nos olhos, e isso me fez duvidar por um segundo, mas então me lembrei do cômodo e a raiva venceu a disputa.

– Não, Claire, olhe... me perdoe, eu juro que tentei salvá-la, mas fogos pegos pelas criaturas e elas a... – Nesse ponto, ele fungou e baixou os olhos. – Não pude fazer nada, além de voltar com essa péssima notícia.

– Canalha, estúpido, mentiroso filho de uma puta!

– Ei, ei, ei, eu não tive culpa, Claire, juro! Tentei de todas as maneiras...

– Assim como tentou salvar as pessoas a quem foi pago para matar?

– O quê? – Seu disfarce caiu por um momento e isso me deu a certeza de que eu precisava. Victor matara Ana, friamente, como fizera tantas vezes antes. – Do que você está falando?
– Saí dos braços de um maldito estuprador para acabar presa com um assassino. Que merda de mundo é esse?! – berrei inconformada, sempre pensara em Victor como alguém em quem podia confiar, mas vi que o destino apenas brincara comigo novamente.

Ele ficou em silêncio enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto, lágrimas de desespero, tristeza, raiva, frustração.

– Eu nunca teria machucado você! Você é minha filha, Claire, eu nunca te machucaria! Ana estava entre nós, ela iria te levar pra longe de mim!

– Seria melhor que tivesse levado mesmo. Você é louco! Um merda louco e perigoso!

– Claire... Eu fiz isso por você...

Antes que me desse conta, tinha em mãos uma arma de fogo.

– “Quais são suas últimas palavras?” – recitei, minha visão estava turva por conta das lágrimas, mas me obriguei a pensar que aquele não era o mesmo cara que me salvara antes. Até porque, o cara que me salvara nunca existiu.
Não dei chance a Victor de responder, ele estava perto, perto o suficiente, e o tiro arrancou sangue de um ponto logo abaixo do pescoço. Quase não olhei ao disparar o segundo, terceiro e quarto tiros e quase não percebi quando caí no chão do apartamento, empurrando a arma o mais longe possível de mim. Arrisquei um olhar para o corpo inerte e a poça de sangue que se espalhava pelo apartamento quase tocando a ponta do meu pé descalço.

Dei-me conta de que estava sozinha.


POV – Ana


Cada passo era um risco, mas cada momento de hesitação refletindo acerca do próximo passo a ser dado, também era um risco. Por isso apenas corri, rezando para não dar de cara com mais infectados e acabar encurralada.

Percebi que não havia escolhido um lugar muito bom para entrar assim que atravessei a porta, mas claro, eu não podia mais retornar. A calçada suja dava lugar a uma escada negra à partir da porta, pulei dois ou mais degraus de uma só vez e tão logo possível, cheguei ao segundo andar. Uma janela aberta mostrava a calçada dominada (não consegui localizar Victor, o filho da mãe devia ter fugido) além de deixar uma luz poeirenta penetrar a escuridão, uma porta que não parecia muito segura abrigava um cartaz colorido que não tive tempo de ler e no outro canto, mais lance de escadas conduzia ao último andar. Permaneci indecisa por um momento, refletindo sobre qual me daria mais chances de sobreviver. Os grunhidos dos que tentavam me seguir através da escada apressava essa decisão.

Nesse momento, imergiu detrás da porta um infectado magro, vestia terno e gravata e tinha uma ferida ainda expelindo sangue logo abaixo do ombro esquerdo. Gritei, saindo do seu caminho e ele colidiu contra a parede, não esperei que se levantasse para poder perguntar “Oi, está tudo bem com o senhor? Acho que está sangrando um pouco...”.

Se eu já estava desesperada antes, agora o pulmão deveria estar ajudando o coração a bombear o sangue, porque havia a possibilidade do engravatado não ser o único zumbi por ali.

Subi as escadas num frenesi, onde todo o mundo parecia se resumir ao gosto de sangue em minha boca. Havia mordido a língua.

O último andar seguia o mesmo estilo dos anteriores, percorri-o com os olhos até declarar uma espécie de sala de aula como o cômodo mais seguro, já que duas das outras portas tinham sinais de arrombamento.

Dentro da sala, empurrei duas carteiras para bloquear a porta e, em seguida, inspecionei o local que era minha última esperança. Carteiras como as de uma sala de aula se colocavam em um semicírculo, seguindo a parede de gesso azul escura, e no canto mais oposto a porta, uma grande mesa de madeira indicava onde um professor deveria ficar durante suas aulas. Não havia saída. As janelas com certeza não eram uma opção.

Recuperei parte do fôlego antes que ele se fosse novamente com a chegada dos infectados ao lado de fora da sala, podia ver seus rostos ex-humanos através da janelinha de vidro inclusa na madeira da porta.

Abaixei-me, fazendo algo que nunca dera a devida importância, talvez por falta de fé ou outro motivo qualquer, eu rezava.

Os monstros do outro lado se tornavam mais ferozes, não adiantava muita coisa ficar encolhida, eu sabia da existência deles e eles da minha. O desespero tomava conta do meu espírito, as carteiras agrupadas contra a porta ameaçavam ceder e desejei ter minha faca ali, não sabia exatamente onde a perdera, mas ela não estava comigo.

Visualizei a única maneira de prolongar minha vida na mesa do professor, ainda meio abaixada, corri naquela direção e, como pensei, ela tinha um espaço entre as gavetas e a madeira da estrutura onde eu poderia me esconder com certo esforço. Uma vantagem de ser pequena.

Meus joelhos não se encaixaram perfeitamente, mas pelo menos eu tinha uma chance de adiar minha morte, ou talvez não. Prendi a respiração quase por instinto enquanto as carteiras agrupadas despencavam para fora do caminho e um grupo de mortos-vivos entrava. Pude senti-los usando os sentidos e habilidades dos predadores que eram, tentando entender porque sua caça não estava ali, ou pelo menos, não estava visível. Ouvi os passos de um deles bem ao lado da minha mesa e percebi o quão perto estava da morte, bastava que ele olhasse para o lado e veria parte da minha coxa desprotegida; sabia que faria barulho e entregaria meu esconderijo se tentasse me ajeitar, então fiquei naquela mesma posição apreensiva.

A barra da calça jeans do infectado já roçava em mim e seus passos lentos enchiam meu corpo de agonia e levantavam a poeira depositada na sala. Coloco toda a culpa dos próximos instantes naquela poeira desgraçada que irritou minha garganta e me fez tossir, um único ruído que abafei imediatamente, mas não a tempo de reparar o irreparável. O infectado olhou na minha direção e reconheceu a carne fresca.

Encolho-me mais ainda, lágrimas de pavor estão as voltas com meus olhos, implorando para serem liberadas. Minha visão torna-se embaçada quando aquela coisa estende um dos braços e agarra minha garganta.

Não posso resistir, a força de um homem e os instintos de um morto-vivo estão contra mim, mas essa é a ordem das coisas, não é? O mais forte é aquele que consegue sobreviver. E o mais forte depende da situação. Aquela situação era totalmente desfavorável a mim.

Resisto e tento me soltar, mas não consigo, e aquela coisa me arrasta para fora de meu esconderijo, seus companheiros de caça o observam, ávidos, prontos para se banquetear também. Então tudo acaba. Em sangue.


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Notas finais do capítulo

Como fim correndo postar, acabei não revisando o capítulo, então me avisem se estiver tão lixo quanto eu tô pensando eheueheu