The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 26
O Único Jeito


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora, povo, mas tá aí, um cap fresquinho da história, não muito agitado, mas importante para definir os acontecimentos dos próximos capítulos.



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POV – Claire


O que estava acontecendo com os mortos? Eles pareciam, agora, tão determinados... Implacáveis. Nem sequer pareciam as mesmas criaturas de antes. Sim, era noite e eu sabia como os sentidos daquelas coisas se tornavam aguçados àquela hora, mas mesmo assim, eles estavam alertas demais.

Naquela noite a audácia deles me espantara. Os monstros haviam escalado a parte da frente do apartamento. Poderiam ter nos dominado, com facilidade, antes que pudéssemos perceber de onde viera o ataque.

Eles não o fizeram, mas o custo para que isso não acontecesse foi grande. Ana entrara em um corpo a corpo com um zumbi... e vencera. Obviamente eu estava feliz por ela estar bem, mas temia que ela estivesse perdendo os escrúpulos. Passei a maior parte desse tempo, desde que a reencontrei, tentando evitar que algo do tipo acontecesse, mas não creio que pudesse fazer um trabalho melhor, mais cedo ou mais tarde, Ana teria suas próprias experiências traumáticas, isso era inadiável. Ainda mais com os zumbis tornando-se predadores melhores a cada dia.

Procurei por algo que pudesse explicar isso, o fato de eles estarem mais letais, mas deletei todas as teorias. Eram muito improváveis. Mas fosse o que fosse, uma coisa era certa, estava ficando mais difícil sobreviver. Tive aquela sensação, novamente, de estar em meio a um jogo. Em uma rodada de azar. O oponente dominando-me totalmente. Cartas, lançadas em um frenesi desesperado.

Encostei a cabeça nos joelhos, ouvindo os grunhidos ameaçadores, e percebi que estava tremendo de frio, mas não ousava sair dali, largar o lugar desprotegido.

As responsabilidades pareciam acumular-se, havia Ana e seu delírio de um shopping como proteção contra os infectados, Victor e seus ferimentos decorrentes da explosão no túnel e claro, eu mesma precisava manter a sanidade diante dos próprios problemas.

Por que tudo precisava ser tão difícil? Seria tão mais simples se eu simplesmente tivesse fugido com os outros adolescentes, provavelmente estaria morta agora, mas talvez fosse melhor assim. Era um novo mundo, e estava bem claro que os humanos não mandavam nele.

Os primeiros raios de sol iluminaram o aposento e não pude deixar de ficar espantada. Fora uma noite tão cheia que, por um momento, cheguei a imaginar que ela não teria fim.

Aqueles raios de sol traziam a promessa de um novo dia, mas a perspectiva não me deixava animada. A noite trouxera problemas, mas o dia não seria mais tranquilo.

Desci as escadas, quase cambaleando, sentindo dores imensas no pescoço e calcanhar, além de uma incômoda dor de cabeça e sensibilidade à luz.

Ignorei o corpo estirado de Victor e a garota roncando suavemente na outra ponta da sala enquanto atravessava a sala em passos não tão firmes.

– Espero que tenha... – murmurei para mim mesma quando adentrei a cozinha, partindo logo para o armário ao lado da geladeira. – Aqui. Não, esse não me serve – falei, ignorando um primeiro frasco que mal li na verdade, apenas deixei de lado por não ser o que procurava. – Há! – exclamei, erguendo o pequeno pote com comprimidos. Dores de cabeça. Dores musculares. Exatamente o que procurava.

Botei um comprimido para dentro com a ajuda de água e enfiei o restante do frasco no bolso, precisaria em breve.

Mais calma, agora que sabia que o remédio faria seu trabalho, estabilizei-me o suficiente para procurar alguns alimentos e organizar um café da manhã decente. Estava começando a ficar animada, apesar de tudo; Victor estava vivo e na medida do possível, bem; os infectados começavam a se acalmarem do lado de fora e tínhamos comida suficiente...

Suficiente para no máximo dois dias, constatei com espanto ao abrir a porta do armário. Isso se racionássemos corretamente. Adeus café da manhã decente.

Ali, sem expressão, em plena cozinha de Victor, percebi a necessidade de uma incursão em busca de alimentos.

Já extremamente frustrada, desisti de fazer uma refeição, indo me largar na sala de estar, ao lado do sofá de Victor. Olhava pra Ana e o jeito que sua cabeça pendia, nada natural, quando uma voz me sobressaltou.

– Parece preocupada – A voz viera de trás, por isso me virei e descobri Victor totalmente acordado, olhando pra mim com um misto de agradecimento e admiração.

– Graças a Deus, você... você está bem!

– Graças a você também – respondeu ele.

Um silêncio constrangedor reinou por alguns instantes, quebrado por Victor dizendo:
– Obrigado, Claire, salvou minha vida, mas – ele fez uma pausa, como se escolhendo as palavras certas. –, não devia ter saído lá fora, o risco...

– Nesse ponto, sou obrigada a concordar – interpelou Ana, espreguiçando-se. – Ir lá fora foi, sim, um erro.

– Ana! – repreendi e em seguida tornei a olhar para Victor. – Queria que eu o deixasse morrer? Ou, esperasse uma oportunidade melhor de resgatá-lo? – perguntei, com escárnio. – Pois, eu afirmo com toda certeza: Não haveria uma oportunidade melhor. Você não tinha como lutar. Não ia sobreviver. Estaria estirado na calçada, agora, morto, se não fosse por mim!

– Eu reconheço isso! – gritou ele, em resposta. – E sou muito grato, mesmo, mas não deviam ter feito aquilo, vocês se arriscaram demais.

– Não vai adiantar muito tê-lo resgatado se vamos todos morrer logo em seguida. – acrescentou Ana, mordaz.

Victor a ignorou.

– Você não me respondeu Claire, vi que estava preocupada. A questão é: Com o quê?

– Não temos comida suficiente – revelei. – Precisamos dar um jeito de sair numa incursão.

– Não vou deixar que vá lá pra fora Claire, não depois de tudo.

– Você está ferido, também não vai sobreviver sozinho.

– Você pode vir comigo. – respondeu ele.

– Alguém tem que ficar aqui para garantir que os infectados não invadam.

– Eu sou alguém, posso manter o local seguro! – protestou Ana.

– Você viu ontem como essas coisas estão determinadas, não vou deixá-la aqui.

– O que aconteceu ont...? – Victor começou a perguntar quando o interrompi.

– Ana, você pode ir com Victor – sugeri. – Pode ajudá-lo com os ferimentos e ele vai protegê-la dos infectados, enquanto eu me viro por aqui. É o único jeito.

Quando terminei de falar, Ana parecia chocada, talvez pelo fato de ter que voltar a enfrentar os zumbis ou outro motivo desconhecido.

– Não! – ela recuperou a voz.

– Por que não? – A impaciência estava clara em meu tom de voz.

– Por mim está tudo bem. – Victor declarou e, embora Ana aparentasse relutância, dei a questão por encerrada. Era o único jeito.


Mais tarde, quando a noite – bem mais calma que a anterior – já ia avançada, Ana foi até o cômodo em que eu montava guarda enrolada em um cobertor azul marinho. Estava ainda mais frio do que na noite anterior.

– Tudo bem? – perguntei a ela. – Devia estar descansando para amanhã.

– Eu não confio nele. – Ana referia-se a Victor.

– Ana, por favor... – Estava prestes a pedir que ela parasse com paranoia.

– Saiba de uma coisa Claire: Se me deixar sair por aquela porta... Com Victor... Nunca mais me verá com vida.


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Notas finais do capítulo

Vou deixar aqui uma prévia do próximo capítulo(cap 27):

POV - Carla
"- Aqui. Chegamos. anunciou ele, parando na frente de um celeiro que aparentava uma reforma recente. As putas que já estão aí dentro há mais tempo, irão te dar algumas dicas de como agradar, entre outras coisas, tente se enturmar, fazer amizades Agora o tom de sua voz denotava cinismo. , aproveite a estadia!
Ele abriu o cadeado que trancava o local e voltou-se na minha direção, esperando desamarrar as cordas em meu pulso e empurrar-me para dentro. Foi quando ele se surpreendeu. "