The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 24
O Passado Se Repete


Notas iniciais do capítulo

Duas coisas importantes pra falar nessa nota:
— Fiquei meio em dúvida quanto a postar esse flashback, me avisem nos comentários, caso ele esteja meio absurdo demais.
— CAPÍTULO DEDICADO a Alana Corá, que fez a 3ª Recomendação da história, muito obrigado mesmo o/

Espero que gostem...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/331373/chapter/24

POV – Victor

Os sonhos febris apenas remetiam àquela noite.

- Como gostaria de ainda poder contar com você. – murmurei para a foto no porta-retratos a minha frente. 

Era um daqueles dias em que eu me sentia solitário, antes de ir para o trabalho.

Dias como aquele vinham se tornando cada vez mais comuns desde a morte de Candice, a bela mulher de cabelos loiros e sorriso fácil que me conquistara e fizera feliz, mesmo que por tão pouco tempo.

Se não fosse pela minha filha, jamais teria superado aquilo. A tragédia realmente me consumira na época; em um momento, Candice estava ali, cuidando da pequena Cris e no outro, havia perdido minha mulher para o mar.

“Apenas um verão. Você precisa relaxar. A praia é um bom destino para isso” dissera ela com o sorriso no rosto que impossibilitava uma negativa da minha parte.

Um verão do qual nunca mais voltou. A água salgada a matara antes que eu pudesse fazer qualquer coisa e quase cinco anos depois, uma tragédia tão ou mais grave que essa, aconteceu.

Ao dirigir para a varanda da mansão Hefson, pensei que as coisas ainda estariam normais quando eu voltasse para casa. Não podia estar mais enganado.

- Olá, chefe! – brincou Pablo, referindo-se a minha recente promoção de segurança a Chefe da Segurança. Obviamente, ele e os demais colegas de trabalho não sabiam o verdadeiro motivo da promoção; não sabiam o que fora necessário fazer para conseguir aquilo.

Os Hefson eram uma família poderosa, talvez não exuberantemente rica, mas eram donos de um patrimônio importante e consideravam-se acima da lei... Tão acima da lei que mantinham um assassino profissional empregado em casa, para o caso de precisarem tirar alguém do jogo.

Eu era esse assassino. E dois meses atrás, recebera uma oferta irrecusável, e tudo o que precisava fazer era eliminar alguém. Não seria o primeiro e nem o último.

De fato, os Hefson estavam acima da lei e da justiça, mas eu não.

Nunca havia considerado, de fato, os riscos daquela profissão. Não precisava temer, fingia e recebia o salário de um simples segurança, apenas isso. Confiava na qualidade do meu serviço e achava que nunca seria descoberto, mas isso aconteceu.

Voltava devagar para casa, sem pressa, pensando em passar em uma lanchonete fast-food e comprar algo, quando um pensamento desesperador me tomou de assalto. A garganta secou enquanto os punhos se cerravam, involuntariamente, ao redor do volante; pisei fundo, já com gotas de suor frio descendo pelo rosto.

“É um medo irracional” repetia para mim mesmo em pensamento, mas no fundo sabia, finalmente entendia a verdade.

Parei o carro, cantando pneu, em frente à varanda decorada com samambaias que serpenteavam ao longo das janelas.

O ambiente estava mais escuro do que era comum, não deixei de notar, tanto que a primeira coisa que fiz ao adentrar a casa foi pressionar o interruptor.

Uma garra fria se fechou ao redor do meu peito quando as lâmpadas não acenderam. Ao invés disso, ouvi um inconfundível clic próximo.

Eu reconheceria aquele som em qualquer lugar. Uma arma fora engatilhada.

Ouvi clara e discretamente, a tentativa de Ana de arrancar Claire de mim. Tentativa que fora falha, mas por quanto tempo? Quem garante que um dia Claire não vai passar a acreditar na baboseira dita por Ana e se afastar de mim?

- Surpreso, Victor? – disse uma voz imersa na escuridão, em tom provocativo.

- Júlia? – perguntei, a voz tremia, indicando meu nervosismo e incertezas.

Um vulto ganhou forma diante dos meus olhos, conforme Júlia avançava até o fraco brilho da lua que gerava a única luz do ambiente.

- Você se acha tão esperto... – lamentou ela, mas com um sorriso no rosto. Júlia não era mais a estudante que fazia serviços de babá para pagar a faculdade, os óculos de grau estavam abandonados no chão, como se nunca tivessem sido úteis, os cabelos, antes discretamente presos em um rabo de cavalo, pendiam soltos por trás de suas omoplatas e até a postura e energia que emanava dela, mudaram. Sua face estava fria, porém decidida; tinha uma missão e morreria para cumpri-la. Descartando tudo isso, o aspecto mais terrível na mudança, era a criança que esperneava sob seu braço esquerdo.

- Solte-a! – gritei, de repente todo o alto-controle desenvolvido após anos de experiência, desaparecera.

Júlia riu secamente.

- Nem morta. – disse cada palavra pausadamente, e se o objetivo era me assustar, conseguiu. – O destino da garotinha aqui está selado. Você provocou isso ao se aliar aos Hefson.

- Por favor... – clamei, com a voz embargada pelo medo.

- Ah, mas ele também implorou – declarou ela. E logo identifiquei de quem ela estava falando.  – Mas, me diga: Você atendeu aos pedidos dele? 

Fiquei calado por um instante e Júlia prosseguiu:

- Não. A resposta é não. – Um traço de sentimento passou pelo seu rosto, o que me fez pensar que Júlia era mais ligada à vítima do que deixava transparecer.

- Tia... O que está fazendo? – manifestou-se minha filha Cris, inutilmente, tentava se libertar do abraço da babá.

- Seu pai sabe.

- P-Pai? – Cris me encarou, mas não pude sustentar o olhar.

- Anda. Fala. O que estou fazendo aqui, Victor? A resposta é vingança. A única justiça que homens como seu pai entendem.

Nesse momento, ousei olhar na direção das duas, bem a tempo de ver a cena que ficaria gravada para sempre, contra minha vontade, na memória.

- NÃO! – gritei, e com o desespero à flor da pele, joguei-me na direção de Júlia. Mas a lâmina encontrou a garganta de minha filha primeiro.

Júlia desviou, de modo que fui ao encontro apenas do corpo sem vida de Cris.

Antes que pudesse me levantar para uma nova investida, senti uma pontada de dor atravessando a nuca.

- E você ainda me ataca? – perguntou, com uma voz cética. – Você é o único culpado aqui. Nunca devia ter aceitado a oferta dos Hefson.

Desabei, completamente destruído, enquanto encarava Júlia e os homens que surgiram ao seu redor, saídos da escuridão, um deles portando uma arma elétrica.    

Na minha vida, algo sempre está entre mim e alguém que amo. Primeiro fora o mar, arrancando de mim a mulher que definitivamente me completara, em seguida, os assassinos que buscaram sua vingança. Agora, via tudo aquilo acontecer de novo, mas decidi que não ficaria parado vendo as coisas sendo arrancadas de mim. Ana precisava ser eliminada.

POV – Claire

O primeiro cobertor que encontrei pela frente foi usado para abafar as chamas em volta do cadáver fumegante.

- Está tudo bem, Ana? Ele... Ele te mordeu? – perguntei, preocupada.

- Não estou bem – respondeu ela. – Mas pelo menos não fui mordida.

- Mas... O que diabos aconteceu aqui?! Eu ouvi gritos e senti a fumaça...

- Eu disse que eles iam entrar aqui. Era só questão de tempo. Esse lugar não é mais seguro.

- E você acha que uma merda de shopping que nem sabemos se existe mesmo, vai nos salvar? – retruquei já irritada.

- Melhor morrer com esperança do que ficar aqui, esperando pacificamente que eles nos peguem.

- Olha, é melhor você descer – falei, a fim de evitar a discussão que inevitavelmente viria a seguir. – Deixa que eu cuido das coisas por aqui, vá lá pra baixo. Fique com Victor.  

Ela quis objetar, mas o cansaço deve tê-la invadido e assim como eu, evitou uma discussão. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam, sinceramente? Comentem.
Esse capítulo explica muita coisa, como por exemplo as armas que Victor tem e sua experiência que o ajudou a sobreviver até o momento...