The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 23
Curando-se na Cabana (parte 3)


Notas iniciais do capítulo

Capítulo inteira e totalmente dedicado a "Domitilla Angel" que fez a 2ª recomendação da história!!
Muito obrigado mesmo! ~le eu pulando pela casa igual doido quando vi a Recomendação *-*
Espero que achem o capítulo legal, meu povo!
~Até as notas finais



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POV – Carla

Ainda deveria lutar?

Àquela altura, eu já achava a ideia de sobreviver no mínimo absurda. Steve havia me abandonado e Bruno provavelmente não sabia de nada, ou talvez soubesse e não desse a mínima. De qualquer forma, eu só podia contar comigo mesma.

Passara a noite passada abrigada no carro semidestruído, o cheiro de fumaça que, por fim, impregnara em minhas roupas, talvez tivesse mascarado o meu próprio cheiro, de forma que quase nada me incomodou. Está certo que a noite havia sido pouco movimentada, não mais que cinco infectados haviam cruzado a estrada e apenas um me notara, vigilante e atenta como uma ave noturna, dentro do carro. Qualquer um que tivesse passado durante o resto da noite poderia ter visto facilmente, o infectado morto do lado de fora da janela do passageiro.

Mesmo que fisicamente, o período de escuridão não tivesse sido tão exaustivo, emocionalmente falando, fora uma tortura.

Quando a escuridão havia caído, deixando-me completamente arrepiada com o aspecto daquele lugar à noite, o único e predominante sentimento dentro de mim era a raiva. Tinha raiva do mundo. Tinha raiva de mim mesma. E acima de tudo: Fervilhava de raiva de Steve. Aquela raiva me motivou a mesmo sem fome alguma, ingerir alguns pãezinhos simples, de presunto e queijo, pois, precisava me manter forte e – na medida do possível – saudável, para quando cruzasse novamente com Steve.

Prometi que iria me vingar. E por mais ou menos meia hora, estive determinada, até tentar mudar de posição, no banco traseiro do carro, para ficar mais confortável, e sentir a dor lancinante na perna. Como iria caçar alguém com a perna daquele jeito? Era simplesmente impossível!

Então, a metade seguinte da noite, foi passada em profunda tristeza. Ainda não havia tido muito tempo para chorar pela morte dos meus pais e muito menos pelo que acontecera com o filho de Selena, então as lágrimas que visitaram meu rosto naquele momento foram por eles.

Quando amanheceu o novo dia, soube que era o momento de deixar meu esconderijo. Amarrei o cabelo em um coque apertado e firmei-o com uma caneta achada no porta-luvas do carro. Decidida, impulsionei primeiro a perna ferida para fora do carro, e quando encontrei apoio, passei o resto do corpo para fora do veículo. Por um instante fiquei parada, tentando me acostumar à nova dor na perna direita, quando senti que estava razoavelmente estabilizada, coloquei-me em movimento.

Não poderia arriscar mais nenhum minuto ali, seria suicídio, já havia tido muita sorte por uma noite e senti que aquilo não se repetiria.

Tinha um plano? Não. Ponto de partida? Não. Vontade de sobreviver? Sim. Muita. Ainda iria provar a Steve...!

Mas, o destino não parecia estar do meu lado – como sempre – e logo nos primeiros passos, senti um caco de vidro perfurando meu pé, no esforço para desembaraçar-me dele, acabei apoiando peso demais na perna direita, que fraquejou. O impacto entre minha testa e o asfalto parecia ecoar ao meu redor, abafando tudo e preenchendo os muitos espaços vazios da minha mente.

Permiti-me um grito. Pouco ligava se fosse atrair mortos ou não. Estava tudo acabado mesmo, não havia volta; a escuridão já tapava minha visão.

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- Acha que ela vai ficar bem? – indagou uma voz desconhecida. Parecia com a de um garoto que eu dera aula antes da Infecção, apesar de saber que era impossível que fosse ele. O mais provável é que fosse apenas alguém na mesma faixa etária.

- Provavelmente. Ela é dura na queda! – respondeu um homem.

- Não é com elogios que vai reconquistar minha confiança. – falei, abrindo os olhos e desafiando as duas pessoas a minha frente. Sabia que não tinha errado no diagnóstico da segunda voz, era mesmo ele. Steve.

- Ah! Graças a Deus! – comemorou o garoto. Era robusto e estava com o rosto vermelho, não parecia ser um grande matador de zumbis. – Achamos que você estava...

- Quieto. – ordenei, por um momento desrespeitando tudo o que aprendera na faculdade, enquanto treinava para lidar com adolescentes em sala de aula.

Steve desviava o olhar, apesar de eu estar aconchegada em seu colo, nossa relação obviamente não estava nada boa.

- Carla... Er... Eu...

- COMO PÔDE?! – berrei.

- Olha, Bruno estava ferido e...

- Eu sei muito bem como ele estava – Fechei os olhos e cerrei os punhos, tentando controlar a raiva, mas por fim desisti. – Quem parece não saber e nem se importar nada sobre como eu estava, é você!

- Entendo como está se sent...

- Entende uma ova! – interrompi mais uma vez, enquanto me afastava dele. Mal podia me aguentar em pé, mas fazia o possível para assim permanecer, desafiando-o a me fazer ficar quieta. – Você simplesmente não pensou em mim. Aposto que não hesitou em sair correndo com seu amiguinho daqui. Sabe, gostaria de ter algo mais eficiente em mãos do que uma régua de madeira, no dia em que nos conhecemos!

- Ninguém te obrigou a ir salvar o filho daquela vadia! Você foi porque você quis! Sabe que não podemos manter nem ao menos nosso trio a salvo e você ainda fica querendo ajudar o mundo!

Aquelas palavras me calaram, não acreditava no que estava ouvindo. Steve queria mesmo que eu abandonasse a criança?

- Ninguém te obrigou – repetiu ele, agora mais calmo.

- Eu odeio você!  – declarei e então me voltei para o garoto que observava, incomodado, a discussão. – Você... Você está com esse verme, certo? – ele assentiu, com os olhos arregalados. – Pode me levar até onde está Bruno?

Novamente, ele assentiu e sem uma palavra, começou a marchar pela floresta. Steve ainda me chamava, quando comecei a seguir o garoto pela trilha.  

A certa altura, alguns minutos depois, ele agarrou meu braço e pediu um tempo para conversarmos. Dispensei-o com um gesto nada amigável e ele resolveu me deixar em paz.

Prosseguimos em nossa caminhada tensa, onde ninguém confiava em ninguém, por mais alguns demorados minutos. Não apenas demorados, como dolorosos também. Cada passo cobrava um preço da minha perna e senti esse preço aumentando até se tornar quase insuportável.

- Minha avó... pode cuidar da sua perna – informou o garoto, fraquejando ao falar comigo.

- Obrigada – disse, fazendo de tudo para empregar um tom gentil e agradecido à voz.

Senti que ele sorria, mas esse sorriso logo se desmanchou.

- Droga!

- O que foi? – Steve passou por mim para se posicionar ao lado do garoto. – O que aconteceu?

- Eles vierem cobrar – respondeu, sombrio. – Olha, não posso deixar minha avó lá, sozinha com eles. Além do mais, eles podem desconfiar se eu não estiver por perto. Por favor, escondam-se. Não precisam morrer antes da hora.

“Antes da hora” Aquilo me provocou um arrepio, mas não comentei.

- Vai ficar bem, Daniel? – Steve perguntou e por incrível que pareça, soou sincero.

- Preocupem-se com vocês mesmos. E... E não interfiram, por favor.

Daniel seguiu em frente, naturalmente, e me aproximei mais do tronco que impedia que nossa presença fosse denunciada, para acompanhá-lo com o olhar. Ele corria na direção de uma cabana, simples, porém bela. Do lado de fora do imóvel, contei cinco homens, com os cabelos cortados rentes e carregando grandes escopetas de assalto.

- Olha só, não é que o nosso grande lutador apareceu! – debochou um dos homens, e pelo visto era uma piada antiga, pois todos riram.

Daniel não se deu ao trabalho de responder, estava se precipitando para entrar na casa.

- Opa! Calminha aí, garoto, onde pensa que vai?

- Se tiverem feito algum mal a ela eu juro que... – As palavras que se seguiram foram baixas demais para que eu compreendesse.

Mas pelo visto as palavras irritaram o guarda que atingiu o estômago de Daniel com o punho. Steve que já estava tenso, ao meu lado, começou a se levantar, pronto para interferir.

- Não. Steve, só vai piorar as coisas. – respondi, quebrando o silêncio por um tempo.

Ele soltou um palavrão e em seguida murmurou:

- Eu vou acabar com eles.

- Nós vamos acabar com eles. – declarei, com um pouco de relutância. 


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Notas finais do capítulo

Fazia tempo que eu não escrevia um capítulo inteiramente narrado por apenas um personagem, mas acho que não esqueci como se faz e.e
E aí, gostaram? Reviews? *-*