The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 21
Curando-se Na Cabana (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!!



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POV – Bruno


Estava em um local fechado e mal iluminado onde podia sentir levemente o cheiro de mofo, misturado a uma outra fragrância de cheiro azedo. Deitado sobre uma cama de solteiro, quase macia, não tinha certeza se acordara naturalmente ou se a dor latejante em minha cabeça o fizera.

Por um momento, fitei o teto através da escuridão, pensando. Lembrava-me dos pais de Carla; de uma senhora impondo ordens; do olhar enlouquecido de uma mulher e o filho berrando em seus braços; porém, não conseguia definir como tudo aquilo se encaixa. Toda minha vida parecia resumida a breves vislumbres confusos.

Rapidamente cheguei à conclusão de que não descobriria nada se continuasse deitado ali, devia explorar e definir de uma vez onde estava, se corria perigo ou se estava seguro.

Instintivamente, tentei usar o cotovelo como alavanca para conseguir ficar sentado, porém, uma dor inesperada no lado direito do corpo forçou-me a voltar a afundar ruidosamente no colchão.

A estrutura de madeira da cama estalou sob mim, ao mesmo tempo em que, um grito de dor escapava pelos meus lábios. Todo o lado direito do tronco parecia em chamas e a cabeça não estava nem um pouco melhor.

De repente, amaldiçoando-me por não ter lembrado logo, tive a mais vaga lembrança de ter levado uma facada enquanto dirigia. Meus pensamentos estavam desordenados, impedindo que me concentrasse nos detalhes, mas tinha certeza quanto àquilo, pelo menos.

Uma senhora, provavelmente alertada pelo meu grito, adentrou o cômodo escuro. Carregava uma xícara da qual escapulia uma fumaça fina.

- Quem é você? – perguntei, com a voz estranhamente áspera.

- Meu nome é Alana. Seu amigo, Steve, deixou você aos meus cuidados – respondeu ela, sem emoção alguma.

- E onde está ele agora?

- Andando por aí com meu neto, provavelmente.

- Preciso vê-lo.

- O que você precisa é beber esse chá – declarou ela, com a voz firme de quem não aceita um “não” como resposta. 

- O que tem nisso aí?

- Um veneno – declarou impassível. – Que vai lhe causar uma morte agonizante.

- Como é? – perguntei, alarmado.

A velha deu um pequeno sorriso.

- Beba, Bruno, isso não irá te matar. E acredite em mim, se eu fosse envenená-lo você não perceberia... Até que fosse tarde demais.

Cautelosamente provei um gole da bebida, tinha um gosto amargo de ervas e parecia que algo havia morrido dentro da chaleira, mas fiz força para engolir tudo.

Quase imediatamente percebi meu raciocínio ficando mais lento e os pensamentos vagueando, mas era um preço pequeno a pagar pelo alívio que veio a seguir, quando tanto a facada quanto a cabeça paravam gradualmente de me torturar.

- Obrigado. – murmurei, sonolento.

- Não precisa agradecer, querido! – disse Alana, em um tom de voz que não me agradou. – Esse é um favor pequeno em vista do que seu amigo vai prestar para nós!

Como não respondi nada, ela anunciou:

- Agora descanse Bruno.

Para mim, aquilo foi como uma ordem, e assim que Alana deixou o quarto, entreguei-me novamente a um sono sem sonhos.


POV – Steve


Amanhecia e as palavras de minha conversa nada agradável com Alana rodopiavam pela minha cabeça enquanto andava pela floresta, com o garoto ao meu lado.


- Como sabe que deve confiar em mim? – perguntei.

- Sei que não vai fazer nada de mal. – sorriu cruelmente.

- Como pode ter tanta certeza?

- Por que se o fizer, eu MATO seu amigo.


Pensava muito em Carla e por mais que tentasse desviar as lembranças toda vez que me voltavam à mente, não conseguia.

Aquele momento; o da escolha, fora um dos mais difíceis de toda a minha história, de um lado tinha Bruno ferido e inconsciente, do outro a professora que se perdera entre as árvores numa tentativa – na minha opinião – inútil de salvar o filho de Selena.

E mesmo após o difícil dilema, Bruno e eu ainda corríamos perigo. A velha Alana, fora uma espécie de anjo, caído do céu para nos ajudar; por pouco tempo. Logo, descobri que não era uma velhinha tão agradável assim.

Em primeiro lugar: Alana não pensava antes de falar. O que lhe vinha à mente, dizia, sem medo das consequências. Perspicaz e ágil de pensamento fizera perguntas, cuja resposta já devia ter deduzido e fizera análises profundas de mim. Nunca havia me sentido tão inspecionado na vida. Em segundo lugar: Ela viera com um papo muito estranho de que eu devia lhe retribuir o favor.


- E como seria essa... Retribuição? – fiz um sinal de aspas com os dedos médios de cada mão.

- Há algum tempo, provavelmente um mês – fez uma pausa de um segundo, antes de continuar. – Um grupo tem nos... Digamos, atrapalhado.

- Atrapalhado? Ok continue.

- Meu neto... – sinalizou para o garoto corpulento sentado em uma cadeira a alguns metros. Brincava com o punhal, aparentemente distraído, mas talvez ouvisse a conversa, pois Alana baixou a voz. – Não morávamos apenas ele e eu quando isso tudo começou. A mãe e o tio dele, os meus dois filhos... Foram levados de nós por outro grupo de sobreviventes.

- Quantos? – resolvi ser direto.

- Quantos o quê?

- Quantas pessoas fazem parte desse grupo.

- Aí que está o problema. O grupo de busca tem, aproximadamente, dez pessoas, mas suspeito que ao todo, eles tenham uns trinta homens, quarenta, no máximo. E todos muito bem armados.

Soltei um palavrão, seria impossível.


Estávamos a quase um quilômetro da cabana, na direção contrária a rodovia, quando o garoto murmurou algo e parou.

- O que você disse? – perguntei.

- Eu disse que chegamos. – repetiu ele, irritado.

“Chegamos... Aonde?” pensei, mas não verbalizei a pergunta.

Estávamos em uma parte de floresta em que os troncos eram mais fortes e o estado natural das coisas parecia mais preservado, um animal de pelos marrons moveu-se em um galho muito acima de onde me posicionava.

- Bem, vou dar uma olhada nas coisas lá de cima; pode seguir em frente se quiser. Tem um riacho logo à frente, podemos combinar de nos encontrarmos lá em dez minutos.

- Lá de cima? – perguntei e fui ignorado. Obviamente o garoto não gostava de mim, talvez fosse pelo pequeno fato de eu quase ter matado sua vó; como se isso fosse motivo para me odiar!

Observei, enquanto o menino testava a resistência de um tronco, quando encontrou o que procurava, habilmente começou a escalá-lo.

- Nada mal... Garoto, tem um nome?

- Não, não. Sou um número. Pode me chamar de sessenta e três. – respondeu cínico. Identifiquei o toque de amargura em sua voz e não gostei nada.

Decidi ignorá-lo e dei as costas, podia continuar chamando-o de “garoto”, ou quem sabe “pivete”, para irritá-lo...

- Daniel, mas prefiro que me chamem de Dan – disse ele em algum lugar atrás de mim.

- Ok, Daniel.

Prossegui na caminhada, e por um tempo, achei que estava seguindo a trilha errada, mas então ouvi o som de água corrente próxima. A essa altura, o sol estava a pino no céu; se tivesse um relógio, ele provavelmente marcaria sete ou oito da manhã.

Grato pela água fresca me ajoelhei de frente para o riacho e quase provei o líquido, porém, considerei: E, se um infectado tivesse passado ou até mesmo morrido naquela água? O que seria de mim caso isso tivesse acontecido? Como não sabia a resposta para aquelas questões me contentei em, apenas, lavar o rosto.

Sem nada para fazer, sentei à margem do riacho e fiquei olhando a leve correnteza levar um galho para além da minha vista. A tranquilidade do momento fez meus olhos pesarem por um instante.

E, no seguinte, eles estavam alertas, sobressaltados. Ouvira uma voz? Provavelmente. Ou será que fora um sonho?

- STEVE! – chamou. – STEVE!

A voz tinha uma entonação de desespero; era Daniel. Fiquei alarmado, pois sabia que a morte dele seria a morte de Bruno.

Retrocedi todo o avanço da forma mais rápida que pude enquanto minha cabeça era assaltada por preocupações. Zumbis? Pessoas?  E importava? Eram ambos ameaças em potencial.

Quando cheguei ao local onde havia deixado o garoto, constatei que ele não estava em perigo, na verdade, a causa dos gritos parecia ser o binóculo pelo qual ele observava preocupado.

- Que foi garoto?

- Aquela mulher que estava com vocês, antes...

- Espera! Quer dizer que você já vinha nos espionando?

- Bem, sim, mas não importa. Então, aquela mulher que você abandonou... Ela parece estar em perigo agora.

- Eu não...

- Não a abandonou? – completou ele. – Chama aquilo de quê? Você a deixou pra trás! Isso não se faz...

- Não quero ouvir lição de moral – interrompi. – Que tipo de perigo?

- Ela está desmaiada. Totalmente exposta. Devia aju...

Sem agradecer ou prolongar o assunto, deixei o local.

Mantenha-se firme, Carla!, pensei.

Após poucos minutos de correria, já respirava com dificuldade, a garganta seca e as pernas ameaçando me fazerem tropeçar. Apenas o desespero e a culpa, mantinham-me seguindo em frente.

Eu nunca me perdoaria se chegasse tarde demais. 


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Notas finais do capítulo

Desculpem ter ficado tudo junto assim, o site está bugando.... Assim que puder, concerto!