The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 20
À Pilha


Notas iniciais do capítulo

Ei, capítulo novo, povo!!
Tenho tido pouco tempo para TUDO, nesses últimos dias, não só escrever. Tenho tentado manter minhas leituras em ordem - sim, eu leio, "O Jovem Sherlock Holmes" no momento -, minhas leituras de fics(Extremamente atrasadas) e... Já deu pra entender, não é mesmo?
Mas prometo não tornar a demorar com o próximo capítulo, creio que até terça-feira vocês terão um novo capítulo para apreciar - assim espero, que apreciem.
Enfim, depois de muito falar: Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/331373/chapter/20

POV – Ana

Definitivamente, eu não entendia aquele aparelho.

Depois de esticar as antenas, dar leves batidas na sua lateral e xingar bastante, eu esperava que o pequeno rádio funcionasse, nem que fosse apenas por consideração ao meu esforço.

Esse negócio deve estar de brincadeira com a minha cara! Pensei, revoltada.

Era como estar de volta ao orfanato dos tempos antes da Infecção. Entediada. Quase podia ouvir Donna, uma senhora ríspida e implicante, de cabelos curtos e pretos que, davam lugar aos fios cinza da idade, e olhos cruéis, sapateando pelo corredor.

A luz acesa machucava meus olhos, até então, presos na escuridão. Inutilmente, cobri a face com a manta, ciente da movimentação ao meu redor. Encolhida, quis passar despercebida.

Os olhos treinados de Donna não deixaram de notar que, em meu beliche, apenas Miranda, uma garota três anos mais velha, com pele negra e cabelos encaracolados, mexia-se.

- Ana, preguiçosa, vai ficar deitada para sempre, é? Vai querer atrasar os outros, mesmo? – atacou Donna com sua voz áspera. As meninas mais velhas a chamavam de Chicote, por causa dessa característica.

- Não me sinto bem. – respondi, com a voz fina de uma garota de oito anos amedrontada.

- E só por isso vai ficar aí, de moleza? – lançou-me um olhar cético – Não vou cuidar de você no horário de aula, mocinha! Isso é trabalho daquela vaca da sua professora... Eu duvido até que ela tenha diploma. Burra.

Fiquei tentada a defender minha professora, mas sabia que Donna odiava-a, aliás, nunca vira Donna sendo simpática com ninguém, a não ser com os financiadores e as mulheres da cozinha que lhe ofereciam cigarros.

- Mas, eu não me sinto bem!  – argumentei, entrando em desespero, porque Donna não acreditava em mim.

- Ok, se não quer ir para a escola, tudo bem. Mas, vai me ajudar com a casa hoje.

Minha barriga, que doía terrivelmente, se contorceu diante daquilo.

Quis discordar, mas o maxilar cerrado, os braços cruzados e o pescoço esticado de Donna, me mantiveram quieta. A mensagem era clara: Não discorde e não espere nada de bom, vindo de mim.

Naquele dia, arrumei as camas, varri o chão e não tomei o café da manhã.

Donna... Em que situação estaria àquela velha? Provavelmente morta. Não, provavelmente, não. Ela tinha de estar morta! Tantas pessoas boas haviam morrido, não seria justo que ela tivesse sobrevivido; não aquela mulher, tão ruim quanto o próprio demônio.

Dizem que guardar mágoas não é um ato muito cristão, mas ser cruel com uma criança também não é; eu tinha o direito de querer esfolar Donna.

Pensava em tudo isso, quando o radinho ganhou vida. A princípio, apenas o chiado de uma estação abandonada.

Estiquei a antena ao máximo e comecei a girar o botão para sintonizar novas frequências, enquanto subia sobre o sofá da sala de estar bem organizada.

- Não há nada. – murmurei, desesperançada, após alguns demorados instantes.

Estava quase jogando o rádio longe, quando uma voz masculina falou:

- ...com toda essa loucura que se tornou o mundo, precisamos cada vez mais, uns dos outros...

Mal podendo acreditar, estava dividida entre chamar Claire ou ficar em silêncio, para ouvir o resto da transmissão.

A voz soava confiante:

- Temos comida! Abrigo, contra essas coisas! Temos total controle! Nenhum infectado.

Outra voz, porém, contrariou a primeira. A voz da vez era feminina.

- Desiste, cara, está falando com os mortos. – ralhou – Tinha que ser uma ideia do Henri... Não vai dar em nada.

- Faça o favor de ficar quieta. – disse a primeira voz e, em seguida, informou: – Essa ignorante que me roubou o microfone é a Milla. Desculpem a falta de fé dela.

- Não tem ninguém te ouvindo...  – disse a mulher que devia ser Milla, em tom de deboche.

- Por hoje, chega pessoal. Voltarei logo. Assim que puder.  E, não se esqueçam: Platinun Shopping, podemos e vamos...

Totalmente concentrada nas vozes do rádio, não pude evitar o sobressalto que me atingiu, quando um grande estrondo, vindo do andar superior, ecoou pelo apartamento. Meu coração foi à boca e o rádio, tão precioso, escapou da posição precária entre meus dedos.

- NÃO! – protestei inutilmente, agarrando o que restara do rádio espatifado contra o assoalho – Não. Não. Não. MERDA!

Esmurrei o sofá, ao meu lado, frustrada. Aquilo não podia ter acontecido. Não agora, que eu havia descoberto uma estação, transmitindo uma promessa aos sobreviventes.

Pisando duro, avancei pelas escadas, a fúria aumentando a cada milissegundo, visando descobrir o que “sacrificara” o meu aparelho.

Encontrei Claire, com uma arma de fogo em mãos, mirando através da janela, nos zumbis lá em baixo.  

- Você ficou maluca? – acusei – Atirando neles, vai chamar atenção! Era tudo o que precisávamos, não é mesmo?

Ela me ignorou; continuava atirando, mesmo que a maioria dos tiros acertasse mãos, pés e tronco, ao invés do que realmente importava: as cabeças.

- PARA! – segurei a mão que atirava e a torci, na esperança de livrá-la da arma. – O que deu em você?

- Você não entende, me solta! – ordenou.

- Não! – resisti, mas Claire me empurrou bruscamente, para o lado. Caí por cima de uma mesinha de madeira, mas não sofri nenhum dano grave; diferentemente da mesa, que se curvou e permaneceu assim mesmo depois do impacto.

- Ana... – disse, ofegante – É ele. Victor... sobreviveu.

- Como é? – berrei assombrada – Não pode ser! Aquele túnel... O lugar explodiu, cara!

- Escute, não sei como, mas é ele. – apontou para um sujeito maltrapilho, vestindo os restos de uma camiseta branca... parcialmente queimada.

- Deus do Céu!

- Tome. – ela passou a arma para mim – Continue atirando. Eu vou buscá-lo.

- Mas, Claire...! Se sair também vai morrer.

Olhando para o homem destroçado, tive um mau pressentimento.

POV – Claire

Apressada, desci as escadas. Tinha um revólver e duas facas afiadas, faltava-me apenas o molho de chaves.

Senti passos atrás de mim na escada.

- Ana, precisa continuar ajudando-o! Volte para a janela!  – gritei frenética.

- Não preciso fazer nada. E nem você. – Sua tranquilidade ao dizer aquilo, deixou-me chocada.

- Ele me salvou! Duas ou mais vezes... E, a você também! Não podemos abandoná-lo, assim! Pense no quanto deve ter sido difícil para ele chegar até aqui. Ferido; cansado... Agora, Ana, me entregue as chaves. – exigi.

Relutantemente, ela tirou o molho dos bolsos e jogou para mim.

- Volte. Viva e inteira, de preferência. – disse a mim, e pude ver as lágrimas lutando para sair, por trás dos óculos.

Meus dedos se atrapalharam um pouco com a fechadura, mas logo, quando consegui destrancar a porta, atravessei-a em completo desespero.

O homem loiro não parecia em nada com o salvador que me ajudara tantas vezes antes. Seu rosto sangrava em diversos pontos, sua perna parecia ferida e os zumbis aglomeravam-se no seu redor, claramente vencendo a disputa. 

Tentei gritar, mas o som ficou preso em minha garganta; então, resolvi que iria agir.

Agarrei pelos ombros um infectado e o virei na minha direção, com um bom golpe da faca, destruí seu olho esquerdo. Sem remorsos, parti para o próximo, uma mulher baixa de cabelos dourados e olhos que um dia foram azuis, mas que agora estavam pontilhados pelo vermelho, indicando que estava infectada. Cortei a garganta da mulher, o sangue espirrando na minha roupa e manchando-a ainda mais.

Estava dando conta dos contaminados até que um deles pulou sobre mim, derrubando-me no asfalto; a essa altura, Victor estava vagando entre a consciência e a inconsciência e não podia fazer nada. Os olhos da criatura se fixaram nos meus, olhos de um tom vermelho brilhante que sobrepujava o pouco que restara do verde.

- Saia de cima de mim! – berrei, enquanto desferia uma cabeçada na direção do monstro. Senti e ouvi seu nariz estalando com o impacto, mas a criatura não parou. Continuava sobre mim, amassando pernas e braços contra o asfalto. Eu estava totalmente imobilizada.

Os olhos vermelhos aproximavam-se cada vez mais de mim, a fome insaciável por carne era a única coisa que importava, era o que comandava o momento.

Fechei os olhos, preparando-me para a dor de ser rasgada por dentes e garras, quando um som preencheu tudo ao meu redor. Foi como se o tempo parasse por um instante e quando voltei a mim, estava coberta de sangue infectado; o tiro havia sido disparado tendo como alvo a cabeça da coisa, mas atingira seu peito. Não era o suficiente para matá-lo, porém, dava-me uma chance de reagir.

Chance que eu não desperdicei.

A faca, caída a alguns centímetros, de repente encontrou-se com a minha mão direita. Sem pensar demais, cravei a arma na boca do zumbi e impulsionei-a, até o cérebro.

Levantei-me e olhei na direção de onde presumi que o milagre viera e encontrei Ana, parada na porta do apartamento. Atirava loucamente e a maior parte dos tiros errava seu alvo, mas não importava, pois, um daqueles projéteis me salvara.

Havia, agora, alguns poucos zumbis sobre Victor e eles estavam sendo retardados pelos tiros de Ana. Por um momento, permiti que meu peito se enchesse de alívio, mas então, vi mais deles se aproximando pela visão periférica. Mantinham um andar lento e confuso; pernas e braços feridos, arrastados como se nada fossem.

Com alguma interferência divina, consegui destroçar os últimos zumbis – dessa vez utilizando a arma de fogo –, antes que os outros estivessem perto o suficiente para representar uma ameaça significativa.

- Vamos, Victor! Reaja. – gritei, pois, sentia pela primeira vez o peso do seu corpo. Todos os músculos do corpo adulto eram demais para mim.

Sacudi o homem de cabelos loiros manchados pela fuligem, sem esperar uma verdadeira reação. Quando seus olhos abriram-se e encontraram os meus, tive um momento de grande surpresa.

- Cl...Claire? Nunca pensei que fosse vê-la de novo. – declarou ele, emocionado, apesar do momento não ser nada adequado para isso.

- Muito menos eu! – rebati, tão feliz quanto ele – Mas, Victor, se quiser continuar comemorando e se quiser... continuar vivo, é melhor que entremos... Tipo: AGORA!

Ele não se opôs, apesar da fraqueza do seu estado físico – e talvez mental –, ele se colocou de pé e ajudado por mim, começou a caminhar até seu apartamento.

Garanti nossa retaguarda com o revólver – cansada de desferir golpes diretos. Pareceram levar séculos, até Ana nos puxar para dentro e trancar a porta bruscamente.

Acomodava Victor no sofá, quando percebi as luzes sendo apagadas.

- Que diabos pensa que está fazendo, Ana?

- Não acha que já não fizemos barulho demais? Claire, aquelas coisas nos viram... Vão tentar entrar aqui, com certeza. Temos agora duas opções: Lutamos contra elas e eliminamos de vez a ameaça, coisa que até poderíamos tentar fazer se seu amiguinho aí não estivesse inconsciente ou; podemos ficar em silêncio e torcer, para que elas percam o interesse. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Aproveitem para dizer nos reviews, o que estão achando da história até agora.
Os personagens estão bem construídos? Falta alguma coisa? Tem sugestões para melhorar a história?
Obrigado por dedicar um tempinho para ler a história!