The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 2
Tentada


Notas iniciais do capítulo

Estou adorando escrever essa história.
Espero que gostem desse capítulo.



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POV – Claire


Meu único consolo é saber que as pessoas que nos abandonaram provavelmente estão mortas.



Se alguém perguntasse a essas pessoas, por que elas fizeram o que fizeram elas iriam dar uma desculpa esfarrapada, do tipo: Tinha parentes doentes para cuidar ou Não sabia que as crianças iam ficar necessitadas, mas a verdade é que essas pessoas tiveram medo, achavam que não iríamos sobreviver e talvez não sobrevivamos mesmo, mas não iremos abandonar a luta.


Sou Claire Sankots, fui abandonada junto a outras crianças em um orfanato, as pessoas que um dia juraram cuidar de nós fugiram assim que a Infecção começou. Eu poderia ter seguido meu caminho também, junto a alguns que também se foram. Mas fiquei. Fiquei, pois sabia que era a diferença entre a vida e a morte para aquelas crianças.

Com apenas treze anos e já tinha tamanha responsabilidade. Antes da Infecção era taxada como encrenqueira e mal educada, porém agora era o exemplo a ser seguido por todos os jovens naquele lugar.

Uma mulher aparentemente não infectada corria em pânico cego pela rua, estava escurecendo, ela precisava se abrigar antes que os mortos ficassem totalmente ativos. Como havia notado em meus momentos de reflexão e observação pela janela, os infectados pareciam ser mais capazes de localizar e matar presas durante a noite do que ao longo do dia. Seus sentidos pareciam mais aguçados e até se locomoviam mais velozmente.

Assim que a vi, soube que aquela mulher estava perdida, era magra e não possuía muita resistência – porém o tipo de mulher que os homens achariam bonita –, seus cabelos esvoaçantes e o modo como olhava para trás frequentemente davam uma pista sobre o quão desesperada estava.

Fiquei surpresa com o tamanho da legião-zumbi que corria atrás dela. Eram centenas, a maior aglomeração deles que já tinha visto até então.

Com uma pontada de esperança vã esperei que ela sobrevivesse. Achasse algum atalho ou um trecho livre de zumbis, algum super-herói viesse magicamente do céu ou coisa parecida.

Nada disso. Um zumbi magro e sujo com sangue manchando pernas e o abdome – boa parte devia ser dele mesmo – puxou-a por trás, fazendo com que diminuísse um pouco a velocidade de corrida, o suficiente para que ele mordesse e levasse boa parte do pescoço dela. Ela gritou em agonia até ser silenciada pelo próprio sangue abrindo espaço pela sua boca para se derramar no chão. Pouco a pouco seu corpo foi sendo encoberto pelos zumbis que se agarravam a novidade da carne fresca.

– É terrível não é mesmo? – disse uma voz feminina próxima, me assustei ao ver Ana parada atrás de mim, também espiando pela janela.

– Ah, não deveria ver isso é... – comecei a afastá-la da janela quase inconscientemente, não gostava de ver as crianças traumatizando-se com os demônios soltos lá fora.

– Porque tenta me poupar do pior desse novo mundo? Acha que não aguento ver tudo isso? Acha que me poupando dessa vista aterrorizante está me protegendo? – Ana atacou. Ela tinha apenas dez anos, as vésperas de completar onze, mas era madura para a idade. Uma das poucas pessoas que não estava demonstrando pânico absoluto, surtando com isso ou entrando em depressão. Estava sofrendo e com medo, mas não em pânico a ponto de perder a calma ou fazer alguma besteira.

– Só não quero que fique traumatizada, ok? – comecei a dizer, mas Ana já desviara a atenção para fora da janela novamente. – Ela os atraiu até aqui, não é mesmo? Droga de mulher, não podia morrer em outro lugar?

– Não há lugar bom de se morrer.

– Há sim, um lugar que não coloque ninguém em perigo, se estiver em um local assim, pode morrer a vontade.

– ANA!

– Qual é? Acha que só você pode ter raiva acumulada aqui nesse lugar? Acha que só você tem vontade de sobreviver aqui?

Dei um tapa em seu rosto, meio sem pensar e seus óculos voaram alguns metros.

– É assim que você resolve tudo, não é mesmo?

Ela disse e foi para outro cômodo.

Nunca fora muito amiga dela, na verdade nunca quis sequer ter qualquer proximidade com ela, mas no momento era a pessoa que demonstrava mais força ali.

E tinha razão, a moça atraíra os zumbis para nosso orfanato. O prédio em si tinha dois andares, o primeiro era onde havia a recepção e a cozinha, e no segundo ficavam os quartos e banheiros. No primeiro dia, trouxe toda a comida que podia ser mantida fora da geladeira para cima e logo em seguida, tranquei todas as portas, janelas e acessos entre o primeiro e segundo andares, pois sabia que os zumbis arrombariam as portas da recepção logo.

O acesso principal para o nosso andar eram as escadas, porém entre as escadas e nosso forte improvisado, havia uma portinhola de madeira que antes servia para que não pudéssemos nos empreitar para o primeiro andar durante a noite, tranquei-a e por enquanto estávamos seguros.

Como disse antes, os zumbis ficam mais ativos durante a noite e devem ter sentido nosso cheiro no orfanato, pois após devorarem a mulher direcionaram-se para a tarefa de entrar em nosso orfanato.

Se aquele incidente com a mulher tivesse ocorrido durante o dia, jamais teríamos sido rastreados.

– Escutem. – chamei a atenção de todos ali – Preciso que fiquem quietos e não fiquem se mexendo muito.

– Os zumbis entraram aqui? – Robb com apenas oito anos perguntou.

Um pequeno burburinho começou antes que eu os interrompesse.

– Não, os zumbis não entraram, mas eles estão perto! Se não ficarem quietos eles entraram aqui e nos matarão. Entenderam? – eu não era a melhor pessoa para lidar com crianças.

O som de vidro estilhaçando chegou até nós, várias crianças entraram em desespero ao mesmo tempo, eram cerca de vinte com idades entre cinco e onze anos, bom que não tinha que cuidar de nenhuma criança menor, pois senão já teria os abandonado.

Quando o som de passos desengonçados pôde ser ouvido, aquela possibilidade que me atormentava desde que havíamos sido encurralados ali me deixou mais tentada do que nunca.

E se eu simplesmente os abandonasse?


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Notas finais do capítulo

Comentem o que acharam sobre a história e ainda mais importante o que estão achando em relação a personagem principal??
Obrigado por lerem até aqui.