The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 18
Quase Tarde Demais


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo ficou um pouco parado, mas é essencial para os rumos da história.

Boa leitura, não se esqueça do review(para incentivo da minha pessoa) e quem sabe algo mais(indireta para "Recomendação") hehe

Espero que gostem ^^



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POV – Claire


Se a tristeza tivesse um som, esse som com certeza seria o da chuva que rebentava contra as janelas do apartamento.

Naquele momento, sentia-me a pior pessoa do mundo, ou do que restara dele.

Falhara com Ana e as crianças por não ter conseguido voltar a tempo, e agora falhara comigo mesma, ao deixar Victor como um cadáver fumegante no túnel escuro.

Quando seu rosto, minutos antes de morrer, passou pela minha mente; não tentei controlar as emoções, que fluíram livremente pela face, na forma de lágrimas.

Era uma noite negra e tempestuosa, vez ou outra um relâmpago cruzava o céu ou um morto cambaleava na frente do apartamento, mas nada, além disso.

A visão de um morto cambaleando, agora era algo comum. Em um passado não tão distante, isso me causaria medo ou repulsa, provavelmente os dois; porém, a essa altura, era algo a que já me habituara.

Minha respiração irregular embaçou o vidro à minha frente. Não há mesmo o que ver, pensei. Talvez devesse sair do meu posto de vigia – desnecessário, com as fortificações da casa – na janela do segundo andar e voltar a mais uma torturante tentativa de dormir. Na mais recente, desistira após sonhar com o corpo de Peter avançando, em seus primeiros passos como zumbi.

Soquei o parapeito da janela para dar vazão à frustração que dominava cada átomo presente em meu corpo. Em pensar que, por um momento quase desistira da luta. Quase me entregara aos mortos. Quase deixara de ser eu, Claire Sankots.

Prometi a mim mesma; aquilo jamais se repetiria. Não depois dos sacrifícios de Victor e das crianças, não depois de ver o brilho no olhar de Ana e a confiança que depositava nela...

– Claire? Ainda acordada? – indagou Ana, de um ponto qualquer no corredor atrás de mim.

– Minhas tentativas de dormir resultaram em... Adivinhe só? Nada.

– É, as minhas também... – disse ela, a voz falhando no final da frase – Como que alguém consegue manter a mente sã no meio de tudo isso?

– Não consegue. Qualquer um que tenha sobrevivido até agora, com certeza não está são.

Ela respirou fundo e, por um momento, nós duas permanecemos em silêncio.

– Foi horrível, sabe? – começou ela e a princípio não entendi – Uma verdadeira carnificina...! Agarrei as poucas crianças que pude e levei-as todas para o quarto. Mas eles entraram.

– Ana... você sabe que não precisa contar...

– Vi cada uma delas sendo despedaçada e a única coisa que pude fazer foi recuar, quando percebi que tudo estava perdido.

– Ana, para! – aproveitei que ela se calara por um instante para tentar interromper a narrativa terrível.

– Eu só sobrevivi, porque consegui atravessar a janela do quarto a tempo de ficar criticamente equilibrada, do lado de fora, longe das mãos sangrentas.

– Quanto tempo? – perguntei assombrada.

– Horas intermináveis até que você e o tal homem chegassem.

Ao fim do relato seus olhos estavam fechados; talvez, em uma tentativa de conter as lágrimas que escorriam pelo seu rosto.

– Sinto muito que tenha passado por tudo sozinha. Deve ter sido desesperador.

Ela abriu os olhos e ergueu o olhar. Encarou-me com uma expressão de amargura.

– Juro, Claire, que se um dia colocar as mãos no desgraçado que criou todo esse inferno... – começou, referindo-se ao vírus que resultara na Infecção – Ele irá sofrer! Pagar com o próprio corpo e alma!

O jeito com que Ana falou aquelas palavras deixou-me arrepiada. Sabia por experiência própria que a raiva e a sede de vingança tinham poder sobre uma pessoa, de uma maneira que nenhum outro sentimento, nem mesmo o amor mais fraternal, podia igualar. Raiva e sede de vingança mantêm uma pessoa viva, mas também a consomem.

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Ana limpava os óculos, estirada no sofá, quando desci para o café da manhã. Parecia bem, enquanto eu estava um caco.

– Conseguiu dormir?

– Nem cheguei perto. – admiti.

Ficou silenciosa por um instante, apenas passando a flanela ao redor das lentes. Quase prevendo o que ela ia dizer, comecei a andar na direção da cozinha.

– O que temos para o café?

– Provavelmente pão, queijo e com alguma sorte: ovos.

– Afinal de contas, as coisas não mudaram tanto assim.

– Com exceção de um bando de zumbis famintos correndo atrás de nós em cada esquina, não mudou nada, mesmo. – debochei.

Ana ignorou aquilo; ao invés de responder, prosseguiu animada:

– Ei, achei uma coisa interessante!

– Pelo visto você também não dormiu muito.

Ana lançou-me um olhar cético que durou apenas um instante; seu rosto estava iluminado de empolgação enquanto pulava do sofá e curvava-se sobre uma mesa repleta de papéis de todas as cores.

Sem muito ânimo para continuar ali, vasculhando as coisas de Victor com Ana, esperei o momento certo e saí do cômodo.

Na cozinha, encontrei pão e queijo, como esperava, mas nada de ovos. Não que realmente os quisesse.

– Ah, você está ai! – Ana alcançou-me. Levava na mão direita um aparelho que devia ser a causa de toda àquela agitação – Achei um rádio à pilha em boas condições de uso.

– Um rádio? E funciona? – respondi, pouco interessada no assunto.

– Funcionaria se houvesse algo ou alguém operando as estações de rádio.

Mais uma tralha inútil, pensei, mas o tempo provaria que estava errada.

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Era fim de tarde; a luminosidade do sol irradiava imponente, pela janela desprotegida do segundo andar. Ao contrário do que acontecia no nível abaixo, este tinha as janelas totalmente livres da proteção das tábuas; era ideal para observar o movimento – literalmente, morto – das ruas. Sentada em uma cadeira de madeira, com as pernas flexionadas contra a parede e uma arma de fogo sobre o corpo, era exatamente o que fazia. Vez ou outra, apenas para me distrair, praticava mira nos zumbis abaixo, sem nunca atirar.

Em algum lugar lá embaixo, Ana bocejou, entediada. Compreendia a garota, era exatamente como me sentia; porém, preferia estar entediada a estar com a adrenalina no ponto máximo, lutando contra um bando de infectados.

Infectados. Infectados. E infectados. Apenas o que havia visto até então; nenhum sinal de vida.

Minha mente estava imersa em preocupações. Estávamos realmente seguras ali? Devíamos seguir viagem? E, haveria um destino seguro para onde seguir viagem?

Novamente, a hipótese que eu pensava descartada passou por minha cabeça. Suicídio. Uma prática tão abominável em outros tempos, agora soava como um convite.

Não, Claire, não pense uma coisa dessas! Briguei comigo mesma.

A situação era difícil, mas eu esperava superar. Eu tinha...

Algo entrou em meu campo de visão, captando a atenção, imediatamente.

No início da rua, um infectado ensanguentado interrompeu sua caminhada pouco natural, de repente, olhou na direção do apartamento e, em seguida, para os demais mortos espalhados a sua frente.

– Ele não é um zumbi comum... – murmurei, sozinha.

No momento que disse isso, os outros também passaram a agir de maneira estranha. Não pareciam acolher o novo zumbi em seu bando.

Infectados atacando infectados? Esse comportamento ia contra tudo o que havia visto até agora. Estariam eles tão desesperados por carne, a ponto de comerem uns aos outros?

Tirei os pés da parede e aproximei-me ainda mais da janela. A cena curiosa aguçando os sentidos quase dormentes do meu corpo.

O primeiro infectado continuou avançando para os demais. Semicerrando os olhos, percebi que seus dedos agarravam-se com força ao redor de um objeto, que não identifiquei no primeiro momento.

Então, a coisa em suas garras cintilou e dei-me conta do que era. Uma faca.

Aquelas criaturas, porém, não guardavam facas.

Quase tarde demais percebi que olhava um humano. Quase tarde de mais reconheci alguém que julgava morto.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? :)

Obrigado por ler.