The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 16
O Cômodo


Notas iniciais do capítulo

Sempre que eu tiver tempo vou estar escrevendo... Mas tá difícil encontrar tempo.

Espero que gostem!



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POV – Victor


Precisávamos nos apressar.


Observei desesperadamente enquanto os primeiros ratos começavam a nos flanquear, os olhos ágeis de um vermelho sangue fitando-nos com atenção.

– Meu Deus! – repetia Ana incessantemente em meus calcanhares.

– Vai mesmo precisar dele se não correr. – respondi, o que a fez se calar por alguns instantes.

Claire arfava pesadamente ao meu lado, tentando acompanhar o ritmo treinado e minha alta resistência a atividades físicas. Porém, um rato saído de sabe-se lá onde, pulou sobre Claire, que gemeu de aflição e tropeçou nos próprios pés.

– Claire! – o grito da outra menina preencheu o túnel.

– Vá na frente, não pare de correr! Eu vou voltar para pegá-la!

A garota obedeceu com certa relutância, disparando com ainda mais empenho pela água negra e suja.

Refiz a curva mal iluminada e encontrei Claire debatendo-se na água poluída, tinha vários ratos sobre si, enquanto lutava para manter outros afastados. Por um momento, apenas encarei-a; a luta dos cabelos castanho-claros esvoaçando contra os roedores... Aquilo lembrava-me de um tempo que eu vivia para esquecer.


– Por que tenho que ficar com ela, papai? – perguntou ela.


– Porque ela é sua babá e porque tenho que trabalhar, sabe disso, filha.

– Não posso ficar sozinha?

– Só tem sete anos, claro que não pode.

Esse era um dos motivos.

Não podia me arriscar a perdê-la. Não poderia me descuidar... Novamente.

– Ok, pai. – disse e, seu rosto tornou-se desapontado por alguns segundos, antes de voltar à expressão alegre de sempre - Tia Júlia! – chamou – Vem dizer tchau pro papai.

Minha filha subiu as escadas quando viu a mulher descendo. Um aperto passou por meu peito, mas ignorei-o, isso sempre acontecia quando estava indo para o “trabalho”. Porém, dessa vez era diferente. Um aviso. Nunca mais veria minha filha, pelo menos não com vida.

Olhei a mulher que seria sua babá por hoje. Tinha uma beleza escondida por trás dos óculos de grau e dos livros de dever de casa da faculdade.

– Bom trabalho. – desejou, timidamente.

– Obrigado e... Cuide dela. É meu bem mais precioso.

– Pode deixar, sei disso.

Ah, e como sabia.


Esmaguei o primeiro com a bota direita, ele emitiu um guincho agudo e morreu com um espirro de sangue contaminado.


Ainda mais nojentos e podres do que os zumbis, pensei.

– Anda, levanta! – gritei para Claire enquanto puxava-a para o abrigo dos meus braços.

– Obri...

– Tudo bem com você? – indaguei; ambos corríamos em um ritmo mais rápido do que antes – Se machucou? Morderam você?

– Ei, ei! – gritou ela, desprendendo-se de mim – Estou bem!

Continuamos a corrida desesperada em silêncio, até mesmo porque estávamos ofegantes demais para falar qualquer coisa.

– Onde está, Ana? – perguntou Claire, aflita.

– Não sei, mandei que seguisse à frente, mas...

Meu pé vacilou para dentro de um buraco mediamente fundo, encoberto pela água. Perdi o equilíbrio e caí, sendo amparado por Claire e pela lateral úmida do túnel.

– Mais cuidado! – aconselhou.

– É o seguinte! Eu tenho um plano para nos tirar daqui, mas só vai funcionar se me obedecer sem hesitação.

Ambos olhávamos nervosos, a aproximação dos ratos.

– Fale.

Olhando-a fixamente, tirei a granada do bolso.

– Céus...

– Corra Claire! O máximo que puder, o mais longe que conseguir! Encontre Ana e cheguem a salvo. – ordenei, entregando a ela o molho de chaves da casa.

– Victor...

– Eu vou ficar bem, mas caso não fique... Precisa ir embora daqui para fazer valer a pena.

Agarrei duas armas de fogo e um facão curvo, o restante das armas entreguei a ela.

– Não vai sobreviver! – afirmou.

– Espere-me em casa.

E com isso, vi-a se afastar, enquanto os primeiros ratos subiam pela calça molhada.

– Malditos! – gritei e puxei o pino da granada. Arremessei-a o mais longe possível na direção dos ratos.

Fogo e água escura voaram sobre mim.


POV – Ana



Uma explosão sacudiu o lugar.


Caí sobre um joelho, amedrontada. Estava desorientada e sem forças para seguir em frente.

Ouvi o som de algo chapinhando na minha direção. Agarrei o cabo da faca com ainda mais força, os nós dos dedos ficando, com certeza, brancos.

A ansiedade me matava por dentro, enquanto aguardava a aproximação do que quer que fosse.

Quase apunhalei a sombra escura que pairou sobre mim durante um momento, até perceber que era Claire.

– Oh, Claire! Quase me matou agora! E, uhn... cadê ele? – com “ele”, queria dizer, Victor.

Ela fez um movimento desanimado com a cabeça.

– Droga. – resmunguei, triste pelo que acontecera ao desconhecido – Essa... explosão tem algo a ver com ele?

Claire assentiu tristemente.

– Certo... – comecei; estava pronta para reconfortá-la a respeito de Victor, mas então vi.

Mesmo em chamas, alguns roedores infectados vinham em nossa direção, a maioria certamente morrera, mas outros pareciam bem vivos.

– Merda! – dissemos Claire e eu, em uníssono.

Logo, corríamos de novo pelo túnel. Esta parecia a única coisa que fazíamos nos últimos tempos.

Correr, fugir dos zumbis, correr, matar zumbis quando não havia escapatória...

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Já estávamos totalmente arranhadas, encharcadas e cansadas, quando alcançamos um bueiro seguro.

Os ratos haviam sido despistados há algum tempo, perderam o interesse, ou talvez, o nosso rastro.

O bueiro por onde saímos era próximo à casa de Victor. Em poucos minutos, Claire e eu passávamos a chave pela porta reforçada de madeira.

Nos deparamos com um ar parado de casa mal arejada e uma sala espaçosa que fora projetada para causar o efeito contrário.

– Uhn... Legal aqui. – comentei, agarrando um livro da estante. Corri os olhos pela capa, era uma ficção e parecia ser interessante. Apoiei o livro na estante, fora do seu lugar, quando reparei o silêncio súbito de Claire.

Virei-me e encontrei-a parada, fitando o vazio do carpete marrom da sala de estar.

– O que foi? - indaguei.

Claire fungou.

– É só que... Ele me salvou diversas vezes nesses últimos dias e, no final, o salvamento exigiu um sacrifício grande demais dele.

Se ele quis se sacrificar, você não tem que se sentir culpada, pensei, mas realmente disse:

– Olha, eu sei que a situação é difícil e que você se sente culpada, mas... As pessoas tem que se ajudarem umas as outras em tempos como esse e foi o que ele fez. Cumpriu a própria missão.

Claire olhou-me tristemente e percebi o quanto ela precisava de um momento a sós.

– Vou dar uma olhada por aqui. – avisei e abandonei o cômodo principal, levando as chaves comigo para abrir os cômodos.

A casa era mesmo linda, possuía um andar com salas e um escritório, além de uma escada que levava ao segundo andar, o andar dos quartos.

Estava subindo as escadas quando notei algo, um último cômodo esquecido no primeiro andar. Curiosa, resolvi investigá-lo.

Aproximei-me da porta envernizada e pressionei a maçaneta. Trancada.

Testei, durante alguns segundos as chaves que tinha a disposição, até constatar algo estranho.

Não havia chave para aquele cômodo.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Merece um comentário ou uma recomendação?

Não perca os próximos capítulos!!