The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar
Notas iniciais do capítulo
Sempre que eu tiver tempo vou estar escrevendo... Mas tá difícil encontrar tempo.
Espero que gostem!
POV – Victor
Precisávamos nos apressar.
Observei desesperadamente enquanto os primeiros ratos começavam a nos flanquear, os olhos ágeis de um vermelho sangue fitando-nos com atenção.
– Meu Deus! – repetia Ana incessantemente em meus calcanhares.
– Vai mesmo precisar dele se não correr. – respondi, o que a fez se calar por alguns instantes.
Claire arfava pesadamente ao meu lado, tentando acompanhar o ritmo treinado e minha alta resistência a atividades físicas. Porém, um rato saído de sabe-se lá onde, pulou sobre Claire, que gemeu de aflição e tropeçou nos próprios pés.
– Claire! – o grito da outra menina preencheu o túnel.
– Vá na frente, não pare de correr! Eu vou voltar para pegá-la!
A garota obedeceu com certa relutância, disparando com ainda mais empenho pela água negra e suja.
Refiz a curva mal iluminada e encontrei Claire debatendo-se na água poluída, tinha vários ratos sobre si, enquanto lutava para manter outros afastados. Por um momento, apenas encarei-a; a luta dos cabelos castanho-claros esvoaçando contra os roedores... Aquilo lembrava-me de um tempo que eu vivia para esquecer.
– Por que tenho que ficar com ela, papai? – perguntou ela.
– Porque ela é sua babá e porque tenho que trabalhar, sabe disso, filha.
– Não posso ficar sozinha?
– Só tem sete anos, claro que não pode.
Esse era um dos motivos.
Não podia me arriscar a perdê-la. Não poderia me descuidar... Novamente.
– Ok, pai. – disse e, seu rosto tornou-se desapontado por alguns segundos, antes de voltar à expressão alegre de sempre - Tia Júlia! – chamou – Vem dizer tchau pro papai.
Minha filha subiu as escadas quando viu a mulher descendo. Um aperto passou por meu peito, mas ignorei-o, isso sempre acontecia quando estava indo para o “trabalho”. Porém, dessa vez era diferente. Um aviso. Nunca mais veria minha filha, pelo menos não com vida.
Olhei a mulher que seria sua babá por hoje. Tinha uma beleza escondida por trás dos óculos de grau e dos livros de dever de casa da faculdade.
– Bom trabalho. – desejou, timidamente.
– Obrigado e... Cuide dela. É meu bem mais precioso.
– Pode deixar, sei disso.
Ah, e como sabia.
Esmaguei o primeiro com a bota direita, ele emitiu um guincho agudo e morreu com um espirro de sangue contaminado.
Ainda mais nojentos e podres do que os zumbis, pensei.
– Anda, levanta! – gritei para Claire enquanto puxava-a para o abrigo dos meus braços.
– Obri...
– Tudo bem com você? – indaguei; ambos corríamos em um ritmo mais rápido do que antes – Se machucou? Morderam você?
– Ei, ei! – gritou ela, desprendendo-se de mim – Estou bem!
Continuamos a corrida desesperada em silêncio, até mesmo porque estávamos ofegantes demais para falar qualquer coisa.
– Onde está, Ana? – perguntou Claire, aflita.
– Não sei, mandei que seguisse à frente, mas...
Meu pé vacilou para dentro de um buraco mediamente fundo, encoberto pela água. Perdi o equilíbrio e caí, sendo amparado por Claire e pela lateral úmida do túnel.
– Mais cuidado! – aconselhou.
– É o seguinte! Eu tenho um plano para nos tirar daqui, mas só vai funcionar se me obedecer sem hesitação.
Ambos olhávamos nervosos, a aproximação dos ratos.
– Fale.
Olhando-a fixamente, tirei a granada do bolso.
– Céus...
– Corra Claire! O máximo que puder, o mais longe que conseguir! Encontre Ana e cheguem a salvo. – ordenei, entregando a ela o molho de chaves da casa.
– Victor...
– Eu vou ficar bem, mas caso não fique... Precisa ir embora daqui para fazer valer a pena.
Agarrei duas armas de fogo e um facão curvo, o restante das armas entreguei a ela.
– Não vai sobreviver! – afirmou.
– Espere-me em casa.
E com isso, vi-a se afastar, enquanto os primeiros ratos subiam pela calça molhada.
– Malditos! – gritei e puxei o pino da granada. Arremessei-a o mais longe possível na direção dos ratos.
Fogo e água escura voaram sobre mim.
POV – Ana
Uma explosão sacudiu o lugar.
Caí sobre um joelho, amedrontada. Estava desorientada e sem forças para seguir em frente.
Ouvi o som de algo chapinhando na minha direção. Agarrei o cabo da faca com ainda mais força, os nós dos dedos ficando, com certeza, brancos.
A ansiedade me matava por dentro, enquanto aguardava a aproximação do que quer que fosse.
Quase apunhalei a sombra escura que pairou sobre mim durante um momento, até perceber que era Claire.
– Oh, Claire! Quase me matou agora! E, uhn... cadê ele? – com “ele”, queria dizer, Victor.
Ela fez um movimento desanimado com a cabeça.
– Droga. – resmunguei, triste pelo que acontecera ao desconhecido – Essa... explosão tem algo a ver com ele?
Claire assentiu tristemente.
– Certo... – comecei; estava pronta para reconfortá-la a respeito de Victor, mas então vi.
Mesmo em chamas, alguns roedores infectados vinham em nossa direção, a maioria certamente morrera, mas outros pareciam bem vivos.
– Merda! – dissemos Claire e eu, em uníssono.
Logo, corríamos de novo pelo túnel. Esta parecia a única coisa que fazíamos nos últimos tempos.
Correr, fugir dos zumbis, correr, matar zumbis quando não havia escapatória...
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Já estávamos totalmente arranhadas, encharcadas e cansadas, quando alcançamos um bueiro seguro.
Os ratos haviam sido despistados há algum tempo, perderam o interesse, ou talvez, o nosso rastro.
O bueiro por onde saímos era próximo à casa de Victor. Em poucos minutos, Claire e eu passávamos a chave pela porta reforçada de madeira.
Nos deparamos com um ar parado de casa mal arejada e uma sala espaçosa que fora projetada para causar o efeito contrário.
– Uhn... Legal aqui. – comentei, agarrando um livro da estante. Corri os olhos pela capa, era uma ficção e parecia ser interessante. Apoiei o livro na estante, fora do seu lugar, quando reparei o silêncio súbito de Claire.
Virei-me e encontrei-a parada, fitando o vazio do carpete marrom da sala de estar.
– O que foi? - indaguei.
Claire fungou.
– É só que... Ele me salvou diversas vezes nesses últimos dias e, no final, o salvamento exigiu um sacrifício grande demais dele.
Se ele quis se sacrificar, você não tem que se sentir culpada, pensei, mas realmente disse:
– Olha, eu sei que a situação é difícil e que você se sente culpada, mas... As pessoas tem que se ajudarem umas as outras em tempos como esse e foi o que ele fez. Cumpriu a própria missão.
Claire olhou-me tristemente e percebi o quanto ela precisava de um momento a sós.
– Vou dar uma olhada por aqui. – avisei e abandonei o cômodo principal, levando as chaves comigo para abrir os cômodos.
A casa era mesmo linda, possuía um andar com salas e um escritório, além de uma escada que levava ao segundo andar, o andar dos quartos.
Estava subindo as escadas quando notei algo, um último cômodo esquecido no primeiro andar. Curiosa, resolvi investigá-lo.
Aproximei-me da porta envernizada e pressionei a maçaneta. Trancada.
Testei, durante alguns segundos as chaves que tinha a disposição, até constatar algo estranho.
Não havia chave para aquele cômodo.
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