The Hikers Dead - Infecção escrita por Gabriel Bilar


Capítulo 13
Pacatos Matadores


Notas iniciais do capítulo

Bem,esse capítulo é MUITO especial!!!

Estou postando-o no dia do meu aniversário o/ e comemorando os quase 50 reviews da história! Sem falar na Recomendação que recebi essa semana, então dedico esse capítulo a você Ludias, obrigado por acompanhar a história desde o começo :D

Obrigado também a Carolina Banhos, minha amiga que revisou esse capítulo!



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POV – Bruno


O carro passava pela avenida a 110 km/h.

Carla tentava se fazer ouvir acima do ruído do vento, enquanto indicava o caminho para mim; Steve que estivera dirigindo antes, estava agora enroscado em si mesmo, tirando um cochilo no banco de trás.

– Acha que vamos encontrá-los? – indagou ela pela milionésima vez, referindo-se aos seus pais.

– Mas é claro que vamos! – respondi com convicção, pois acreditava mesmo que iríamos encontrá-los... vivos ou mortos.

Em poucos instantes, chegamos a um congestionamento. Diversos carros irregularmente parados bloqueavam o caminho até Shareguil, a cidade dos pais de Carla.

– Temos de atravessar isso tudo? – suspirou Steve, recém-desperto.

– Não precisam, sabem disso. – murmurou Carla.

– Claro que precisamos. Vamos resgatar seus pais!

– Eles provavelmente estão mortos! – gritou com toda a raiva que conseguiu empregar à voz – Que chances um casal de idosos tem com tudo isso acontecendo? – comentou ela, soturna.

– Tenha fé... – começou Steve.

– Não tenho fé, desde o momento em que vi meu namorado sendo devorado na porta da escola onde trabalho, pelos meus próprios alunos! – interrompeu ela.

– Ok, já chega. – interferi - Estamos longe da cidade?

– Nem um pouco. Apenas esse último pedaço de avenida e sairemos nas ruas principais da cidade.

Entreguei a Carla uma faca afiada fácil de ser manejada, uma lanterna – caso algo que nos prendesse ali até o alvorecer, acontecesse – e um pequeno machado que poderia ser útil tanto em arremessos quanto em golpes diretos.

– Por que não posso ter uma arma de fogo?

– Olha, não me leve a mal, mas... Não quero atrair atenção desnecessária para nós. Entende?

Ela assentiu carrancuda e avançou entre dois carros prata.

– Melhor ficarmos de olho nela. – falei para Steve.

– Eu, ein! Quem tem de olhar tudo nela aqui é você! – declarou ele e riu.

– Engraçadinho. É melhor que ela não te ouça; sabe que andei ensinando alguns golpes para ela.

Nesse momento, o alarme de um carro disparou nas proximidades. Ao meu lado, ouvi Steve prendendo a respiração, esperando pela origem do que quer que tivesse acionado o sistema do automóvel.

Um deles pulou na direção de Steve, saído de trás de um carro vermelho. Sem escolhas, abati-o ainda no ar, sangue infectado respingando em toda a roupa de Steve, que gemeu de repulsa.

Sem parar para avaliar os trapos sangrentos dele, disparei na mesma direção por onde fora Carla, ouvindo o tempo todo uma série de grunhidos grotescos e desconexos próximos. Sem precisar de nenhum aviso, sabia que os infectados estavam ali.

– Ah, droga! CARLA!? – berrei.

Foi quando o ronco de um motor pode ser ouvido. Quem mais estaria ali?

Porém, deixei isso em segundo plano, enquanto tentava conter a multidão doente que avançava na minha direção. Steve me ajudava, mas nossos esforços pareciam inúteis! Cada um deles que caía era substituído por outros dois.

– Precisamos sair daqui. – gritou Steve acima do barulho das balas e cabeças explodindo.

– Não vou deixá-la!

– Ela já está... – começou ele - por alguma ironia do destino ou coisa parecida, Steve nunca conseguia completar suas frases -, mas o ronco, agora mais profundo e grave parecia estar próximo, vindo da esquerda...

Uma moto irrompeu na nossa direção, quase atropelando Steve e eu. O piloto usava capacete e parecia desorientado, mas não hesitou em atropelar os primeiros zumbis que tentaram arrancá-lo da moto.

Ao desacelerar, o piloto demonstrou falta de prática, caindo da moto e aterrissando com um baque surdo no asfalto manchado de sangue. Sorte sua estar usando capacete, pensei.

– Venha! – agarrei o piloto pelo braço e arrastei-o para longe dos zumbis, havia algo familiar nele... ou melhor, nela!

– Carla! – Steve reconheceu-a primeiro, tinha os braços arranhados, mancava um pouco e seus cabelos castanho-avermelhados encontravam-se em perfeita desorganização.

– Vai me explicar tudo isso depois. – disse com raiva e num impulso agarrei o braço dela – Agora vamos!

Ela soltou-se teimosa e me encarou, seu desafio não se manteve, pois os contaminados estavam próximos de agarrá-la.

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Conseguimos despistá-los algumas ruas depois, entrando em uma loja de conveniência destruída e saindo pelos fundos, em um beco escuro tomado de corpos inertes parcial ou totalmente devorados.

O cheiro que exalava deles era insuportável, mas ao invés de retrair-se, Carla aproximou-se dos corpos podres. Agachou-se e murmurou uma oração frente a um deles, em especial. Era uma mulher magra e rígida – até mesmo na morte –, de cabelos negros raiados de cinza, metade de seu rosto fora arrancado, as pernas eram tocos sangrentos e as tripas estavam derramadas ao seu lado. Carla chorou por ela, até ser abraçada por Steve, que gentilmente retirou-a de cima do corpo. Mais tarde ficaria sabendo que a mulher fora vizinha de Carla na infância.

Cruzamos as ruas sinistramente isentas da presença humana, apressados. Estávamos um tanto quanto vulneráveis. Tínhamos todas as armas conosco, distribuídas entre mim e Steve, pois não sabíamos se o carro ainda iria estar lá quando voltássemos. Na verdade, planejávamos roubar outro carro para continuar a partir dali.

Enfim, chegamos a uma casa de dois andares, varanda e sacada pintadas em um tom tranquilo desbotado de salmão.

– É aqui. – sussurrou Carla, sua voz falhando no fim da frase.

A porta de madeira estava trancada e não tive escolha, a não ser arrombá-la com um chute.

Um cheiro forte de café dominava o ambiente mal ventilado. Estava escuro e o sol da tarde quase não penetrava as grossas cortinas.

– Cuide dela. – pedi a Steve e parti na frente para explorar a casa.

O mais silenciosamente possível, andei pela casa de paredes brancas e novas. Pelo menos isso pintaram, pensei.

Após uma boa verificada, identifiquei o primeiro andar como vazio.

– Por enquanto nada. – informei a eles, que estavam apreensivos.

Carla fez uma cara de frustração, que conteve e, então disse:

– Procure no andar de cima. – ela foi seca e objetiva, estava obviamente aborrecida comigo.

– Claro, é pra já! Versão apocalíptica de Hitler. – respondi no mesmo tom.

Mas, subi as escadas e procurei pelos pais dela. Nenhum sinal deles... Então vi. Um quarto, com porta fechada. Girei a maçaneta lentamente, com medo do que quer que houvesse ali. O cômodo estava trancado por dentro!

Novamente, sem escolha, arrombei a porta e deparei-me com uma cena horrenda. Os pais de Carla, ambos senhores de idade considerável, estavam deitados na cama de casal; os lençóis manchados permanentemente de sangue. A mulher tinha uma bala simetricamente colocada em sua testa e o marido segurava uma arma apontada para a própria boca. Um pacto de morte, percebi.

– Carla! – gritei relutante – Encontrei seus pais.

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Não quis deixar que ela visse a cena terrível, quis apenas explicar a ela o que acontecera. Mas Carla passou por mim e foi direto ao quarto, onde ficou parada por dois minutos sem esboçar qualquer reação. Em choque, talvez.

Nós – Steve e eu – observamos a cena de longe, até que fosse o momento certo de interferir.

– Vamos embora. – disse Carla, abalada, porém decidida – Sei onde há uma loja de armas e... seria bom dar uma passada lá.

Ainda não havia caído à ficha, ou então ela estava em choque.

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A loja de armas possuía um acervo considerável, apesar de boa parte de seu estoque já ter sido levada. Estava até começando a acostumar-me com o cheiro de corpos em decomposição, afinal, estava por todos os cantos.

A loja de armas, denominada de “Cold Blade” estava atulhada de corpos, alguns de infectados e outros... Bem, os cidadãos pacatos da cidade de Shareguil pareciam ter virado matadores de uma hora para outra. E eu não os culpava. Não, devidas às circunstâncias. Quem não virasse um matador, não teria chances.

Silenciosamente, Carla agarrou um cinto recheado de facas de arremesso e colocou-o diagonalmente sobre o peito.

– Essas coisas são difíceis de atirar, sabia?

– Estou determinada a aprender. – respondeu, friamente.

Decidi respeitar seu espaço, ela realmente passara por muita coisa nas últimas horas. Mas se continuasse daquela maneira, eu teria de tomar providências.

Steve e eu pegamos o resto da munição da loja e guardamos nas mochilas, não sabíamos quanto tempo durariam as que ganhamos da organização, então, de qualquer forma, era melhor garantir.

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Carla chorara muito nas últimas horas. Aninhada no peito de Steve, agora encontrava tranquilidade em um sono merecido... Ou não. O modo como tremia e se mexia incomodada, indicavam que seus sonhos não eram exatamente tão tranquilos.

Steve meio- dormira até agora. Fechava os olhos e, em seguida abria-os para espiar a estrada e as fazendas que passavam pela janela.

– Não precisa dormir? – perguntou ele.

– Talvez. – respondi, tentando em vão, reprimir um bocejo.

– E o combustível?

– Está acabando, mas temos litros e litros de reserva no porta-malas, pelo que vi. A pessoa que era dona desse carro estava mesmo disposta a fazer uma viagem longa.

– Ótimo. A propósito, saberia me dizer... Ah, esquece. Não tem mais importância.

– Fale. O que ia perguntar?

– Ia perguntar que horas são. Mas percebi que isso não importa mais. Não nesse mundo.

– Bem, o sol está nascendo. Devem ser umas sete horas da manhã. Mas como disse: Não importa.

Steve sorriu, mas sua expressão desfez-se.

– Vi movimento no mato. Alguém nos observando sorrateiramente.

Desviei meus olhos treinados para onde Steve apontava e vi que tinha razão. Havia algo ali. Parei o carro.

– Bruno. Melhor seguirmos em frente.

– Fica calmo, provavelmente não é nada.

Desci, empunhando uma submetralhadora 9 mm.

Um garoto de aproximadamente dezessete anos saiu correndo. Era rápido e conhecia bem a região, tornou-se inalcançável para minha mira em poucos segundos.

– Viu isso? – perguntei, sentando-me novamente no banco do motorista.

– Vi e não gostei nada.

– Porque paramos? – indagou Carla, bocejando ao se levantar.

– Um garoto no meio do mato. Nada de mais. Não é mesmo, Steve?

– Sim, nada de mais. – concordou ele, relutante.

Um arrepio percorreu meu corpo ao agarrar o volante novamente e seguir em frente. Devia ter seguido a sensação... Hoje sei disso.

Poucos minutos depois, um grupo grande de pessoas carregando pás, machados, tacos de beisebol e outras armas entrou em nosso caminho.

– Entreguem tudo! Agora. – uma velha vestindo trapos imundos gritou, levava uma enxada nas mãos e tinha um olhar determinado no rosto.

– Se não saírem do caminho. Vamos atropelar todos vocês! – gritou Steve em resposta.

– Ah, é mesmo? Tragam-na!

O grupo de pessoas começou a dividir-se em dois. Abriam espaço para alguém ou algo passar.

Carla viu primeiro e gritou, horrorizada. Uma mulher pálida com uma corda no pescoço era empurrada para frente e em seus braços, um bebê recém-nascido.

– Atrevem-se a nos atropelar agora? – provocou a senhora.

A mulher, chorando, olhou suplicante em nossa direção.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Ansioso pela opinião de vocês.