Após se hospedarem na casa de Jabu de unicórnio que os recebeu bem o bastante em sua pequena casa, Kim e Kouga só esperavam a recuperação do amigo para logo partirem seu rumo. Porém, a recuperação de Souma era algo um pouco “demorado”, já que ele não estava conseguindo andar direito.

Já era de noite quando Kouga notou a ausência de Kim, foi então que ele resolveu procurá-la. Por sorte, ela não havia ido tão longe, só estava pensativa em um canto não querendo chamar tanta atenção.

– Quando eu era criança... Minha mãe costumava á contar-me sobre cada estrela que compõe nossas constelações protetoras. – Por um momento o rosto, aparentando alguns cortes na região da boca pareceu iluminar-se ao falar da mãe.

– Sempre quis ter uma mãe. – O garoto fitou o chão com um olhar triste. Não era tão fácil não conhecer á mãe aos dezesseis anos de idade, muito menos não tê-la por perto para consolá-lo nos momentos mais difíceis.

– Eu a perdi com seis anos... – Contou ainda com o olhar perdido ao admirar o céu repleto de estrelas. – A tiraram de mim. – Por fim, o olhar dos dois encontrou-se, como se cada um pudesse ler os sentimentos um do outro.

– Nunca pensei que fosse dizer isto mas... Eu te entendo. – Ele continuou olhando-a com os olhos á brilhar assim como o luar que iluminava toda floresta. – O Souma é meu melhor amigo. Eu só não queria.. – E em vez de discussão ela apenas o beijou.

“Ela me beijou?! Eu... Só posso estar louco. “

– Você fala demais. – Disse calmamente, afastando-se do rapaz ainda assustado.

– E-E-Eu acho... Que... – Kouga coçou a cabeça ainda completamente vermelho. – Vou ficar com o Souma lá dentro. – Conseguiu dizer finalmente, respirando fundo para não gaguejar.

A morena apenas assentiu vendo Kouga praticamente correr em direção á casa que estava á poucos metros deles.

“Como previsto, está tudo dando certo...” Pensou satisfeita, exibindo um sorriso perverso.

Ω Ω Ω

– O-Oi... – Disse Kouga para o amigo acordado ainda deitado á cama, tentando manter-se calmo.

– O que aconteceu com você? – O ruivo perguntou de uma vez, notando que algo havia acontecido.

– Não vai acreditar... – Ele baixou os olhos, mordendo os lábios para não rir da situação em que passara segundos atrás. – A Kim me beijou. – Souma contraiu-se na cama de modo nada amigável, com o cenho franzido em pura zanga.

– E aí cara? – Kouga não pareceu perceber á inquietude do amigo, e continuou a contar o que houvera entre ele e Kim.

– Eu não... – Ele amassou o lençol em sua volta ao apertá-lo com força; baixou os olhos castanhos e respirou fundo.

– Souma... O que... – Agora sim, a inquietude do garoto era notável.

– Por que está falando dela todas as horas?! Enquanto eu estava inconsciente você contava-me seus gloriosos fatos que você passava com ela... Você falava de uma maneira como se ela fosse à melhor coisa do mundo... Ela quase me fez perder minha vida. – O ruivo fechou os olhos tentando manter-se firme.

– Ela te salvou! – Protestou Kouga. Não estava acreditando no que ouvira de seu melhor amigo que ultimamente andava tão calado, evitando causar problemas. Porém, mal sabia ele o sentimento que batia realmente em seu coração.

– Cale a boca! – Gritou, controlando as malditas lágrimas que ameaçavam cair. E foi então que ele olhou diretamente para o rosto de seu amigo em sua frente, olhando-o pasmo.

– Será que tudo que passamos juntos não serviu de nada?! Kim não é quem você realmente pensa quem é! Escute-me Kouga... Ao menos uma vez... – Souma segurou o braço de Kouga com força para que ele olhasse-o diretamente em seus olhos.

– Quem é você para falar da Kim?! – Praticamente berrou Kouga, indignado. O ruivo á sua frente, respirou procurando calma.

– Você nunca percebe não é? - Sua voz saiu completamente trêmula, mas foi o suficiente para Kouga calasse a boca. O jovem cavaleiro encarou os olhos castanhos profundos, tentando ler as emoções confusas que eles transmitiam. Havia um toque de medo e desespero nas íris escuras, juntamente com uma determinação de fogo – no fundo, no fundo, ele sabia que tinha algo mais.

– Eu não queria fazer com que você ficasse mal, é só que...

– Kouga... – Fitou o rosto do rapaz confuso em sua frente. - Eu te...

– Rapazes! – Um loiro entrou no quarto, fazendo com que Kouga levanta-se da cama de forma desajeitada com uma tremenda duvida, agora, na cabeça.

– Jabu?! Ér... Oi... Eu só... – Sem ao menos o garoto notar, já estava ficando com as bochechas rosadas. Mesmo assim, sacolejou o rosto tentando voltar ao normal.

– Vim saber como o Souma está. – Ele disse, analisando o ruivo ainda deitado á cama.

– Eu estou bem... – Respondeu Souma. – Já consigo me mover. – Contou á Jabu movimentando sua perna enfaixada.

– Ótimo! – O loiro comemorou com um sorriso no rosto, como quem dissesse “Finalmente longe destes pirralhos!”

– Partiremos amanhã cedo. – Escutaram uma voz feminina pronunciar por trás deles.

– S-S-Sim. – Concordou Kouga forçando um sorriso ao vê-la. Jabu apenas assentiu retornando á sala, que deste a vinda de Souma estava dormindo, pulando de tanta felicidade por dentro.

E então com olhares desconfiados, todos voltaram para suas “camas”.

Ω Ω Ω

O sol mal havia aparecido e os berros já eram notáveis na casa de Jabu.

– Será que você não poderia pelo menos nos dizer em que direção fica o templo de Atena?! – Já era a milésima vez que Kim perguntara a mesma coisa ao loiro. Algo que a estava irritando-a profundamente.

– Já disse... – Murmurou Jabu. – Eu os ajudei. Agora, vocês terão que me ajudar também. Caso contrário, não haverá informações senhorita.

– Mas você era um CAVALEIRO DE ATENA! – Rebateu a garota, nervosa.

– Sim, eu fui. Mas você... – Ele a fitou. – Eu realmente não sei se é uma verdadeira amazona de Atena... Que põe a vida de seus amigos em risco. Não é Kim?!

“O que ele está dizendo?! Imbecil... Não sabe nem quem sou para tratar-me assim.” Avaliou Kim, em tamanha ira diante de Jabu.

– Nós sabemos lavar pratos. – Kouga intrometeu-se na conversa, empurrando a morena de cima de Jabu antes que algo ocorresse. O que a fez fuzilá-lo com o olhar por ter realizado tal feito.

– E como sabemos! – Resmungou Souma ao lembrar-se do castigo que pagara por aprontarem com outros alunos em Palaestra.

– A questão é que vocês não lavarão pratos para mim... – Um alívio foi instantâneo nas costas de Kouga e Souma. – Trata-se de uma simples missão.

– Simples missão... Ah claro! – O ruivo revirou os olhos.

– Se vocês atravessarem a floresta, encontrarão um vilarejo. Completamente abandonado, mas não deixa de ser um. – Divertimento percorria a voz do loiro. – Há algumas os moradores estão deslocando-se por conta dos ataques sofridos por cavaleiros de Hades. Bem... Se vocês conseguirem baní-los de lá, receberão o mapa em que eu usava quando cavaleiro para chegar até o santuário de Atena.

– Feito. – Decidiu Kouga, olhando para Souma que assentiu em uma forma de concordância.

– Não está nada feito! – Como sempre, Kim não estava concordando.

– Escuta... Você não quer ia ao santuário?! – Perguntou Souma, elevando sua voz. - Então aceite os obstáculos. Não temos culpa se você sempre teve tudo na mão. Nem tudo é tão fácil como você pensa...

– Desde quando você está dando lição de moral as pessoas? – Provocou novamente, balançando os ombros em uma pose de descaso que contradizia com suas emoções.

– Vocês dois! – Meteu-se no meio novamente Kouga. – Vamos esmagá-los e voltaremos. Nós três! Ouviram?!

– Devo dizer “Boa sorte” cavaleiros... E que Atena esteja com vocês. – Desejou Jabu.

– Não comigo. – Kim resmungou mais para si própria, dando as costas para os três na sala. – Vocês vem comigo ou não?! – Ela olhou-os já um pouco distante, esperando-os para partir.

Ω Ω Ω

Passadas e mais passadas sobre á terra barrenta após a chuva que os três levara. Não estava fácil conviver com Kim e Souma juntos ao mesmo tempo, os dois pareciam que iriam atacar um ao outro á qualquer instante. E bem, o trabalho de babá realmente não cairia muito bem em Kouga.

– Vocês tem certeza que estamos indo para o lado certo? – O ruivo perguntou de uma vez, já exausto.

– Foi o que o Jabu disse. – Respondeu Kouga ainda arfando pelo cansaço.

– Eu disse que ele não era confiável! – Kim andava de um lado para outro, deixando os dois tontos ao acompanhá-la.

– Mas... Mas... – Ouviu-se um muxoxo vindo do rapaz, que balançou a cabeça tentando livrar-se da tontura momentânea. – Jabu não mentiria para nós. Mentiria? – Questionou em meio á dúvida.

– Não olhe para mim! – Disse de uma vez o ruivo, levando as mãos para cima em forma de rendição.

– Se nós morrermos aqui, eu mato você Kouga! – Ameaçou apontando para o rapaz, que praguejava mentalmente pela situação em que os três se encontravam. Sujos, sem dinheiro, e perdidos.

“Maldito Jabu!”

– Pessoal... - Tentou alertar Souma, balançando o braço de Kouga ao seu lado. – Acho que temos companhia. –

– Ora... Ora... – Escutaram uma voz grave dizer. – Finalmente te achamos... Kim de Pégaso. - Ele verdadeiramente riu com arrogância desmedida e sem motivos de Kouga, ao tentar proteger a garota. Balançando a cabeça de um lado para o outro com resignação, pegou o braço bronzeada do ruivo e puxou-o para longe, empurrando também Kouga.

– Você... Você é um dos suditos de Hades! – Finalmente ela disparou quando o quebra cabeça encaixou-se.

– Venha conosco.... – O homem á sua frente, vestindo apenas peças pretas, ofereceu-lhe a mão. A voz rouca em um tom tão sarcartisco que enviou um arrepio na espinha da garota.

– Está atrapalhando meu caminho. – Rosnou em resposta, ignorando a mão estendida á sua frente com um olhar de desdém.

– Pelo visto terei de chamar meus colegas de trabalho. – Diversão percorria pela voz do serviçal de Hades, com o rosto ainda não visível por conta da sombra momentânea. Em um estalo de dedos, os diversos demônios os cercaram, agarrando Souma e Kouga por trás, ameaçando cortar-lhes a gargante com suas garras.

– Kim... – Gemeu Kouga, com os braços torcidos para trás, totalmente imobilizado pelo demônio que soltava gargalhadas ao ter as garras em seu pescoço, juntamente como o de Souma.

– Covarde... Você é um covarde! – Ela berrou, encarando o homem á sua frente. Foi então, que o mesmo retirou sua capa das costas jogando-a no chão, juntamente com o chapéu exibindo seu rosto. Os cabelos em uma cor viva em um quase azul, balançaram de acordo com o vento.

– Afrodite?! – Os olhos dos jovens arregalaram-se.

“Ele estava morto... Morto! Isso não é possível.” Todos estavam em completo choque.

– Não se preocupe, eu mesma faço questão de mandá-lo novamente para o tártaro. – Em frações de segundos, a armadura de Kim já estava reequipada, pronta para o combate. Afrodite, soltou um “tsk” e riu de forma debochada.

– Vamos ver se uma amazona de bronze é pário para mim. – Desafiou o cavaleiro experiente á Kim, destravando sua armadura.

– Morra! - O tom agressivo foi seguido de uma tentativa de uma série de socos através do golpe utilizado pela garota, fazendo seu cosmo queimar em fúria. Afrodite, que desviou com facilidade com um sorriso debochado no rosto.

– Como esperei... – Ele disse, calmamente. – Já lutei com Seiya de Pégaso... Vocês são todos iguais. – Apontou para Kouga de forma desdenhosa.

– Mas você?! Eu posso sentir seu cosmo das trevas... Você nunca se comparará ao verdadeiro cavaleiro de Pégaso. Não é atoa que você é o Pégaso negro. – Kim voou para cima do cavaleiro, atribuindo-lhe chutes, murros e ponta pés. A técnica usa pela garota “Meteoro de Pégaso” não era o suficiente para atingir Afrodite totalmente, já que o mesmo era bastante.

– ROSAS PIRANHAS! – Atacou Afrodite, fazendo a garota cair soltando um grito de dor. Mesmo com a armadura, ela já sangrava pelo ataque recebido de seu adversário. Já que este ataque requerido por Afrodite, ela capaz de corroer tudo á sua frente.

Ainda caída ao chão, procurou levantar-se antes que Afrodite atacasse-a novamente.

A batalha continuou, Kim sempre investia no ataque porém sempre era atingida por Afrodite em relação á sua defesa.

“Afrodite já sabe qual golpes usarei... Ele é bem mais forte que eu...” Kim raciocinou, apoiando-se em uma das árvores. “Há não ser que eu descubra seu ponto fraco...” Pensou, limpando o líquido vermelho que escorria de sua boca com o dorso da mão.