Jogo de Espiões escrita por Angel_Nessa
Pelo vidro do carro, embaçado pelo orvalho da noite, eu vi o dia clarear.
- Eu estou com fome! – reclamou Naruto colocando a mão sobre o estômago.
- Eu também!
Naruto limpou o vidro com a manga da blusa e olhou de um lado a outro do bosque a nossa frente.
- Acho que vou ter que buscar alguma coisa por aí.
- Eu te ajudo – ofereci-me de pronto.
- Seu tornozelo está machucado – disse ele apontou o tornozelo machucado.
Eu ergui meus ombros e logo os abaixei soltando um largo suspiro.
Eu não podia me movimentar, meu tornozelo estava bem inchado e doía bastante.
- Eu vou ver o que encontro – disse Naruto sorridente – Você fica no carro.
Não havia como discordar. Nós não podíamos passar muito mais tempo sem nos alimentar.
- Tome cuidado, Naruto.
Ele desceu do carro e foi até o porta-malas provavelmente em busca de alguma caixa ou ferramenta.
- Veja Sakura tem um monte de comida no porta-malas! – gritou assim que abriu o porta-malas.
Imaginei que o dono do carro devesse ter posto a comida ali na intenção de sair da cidade. Graças a ele, nosso café da manhã foi garantido.
Naruto sentou-se a meu lado e juntos partilhamos alguns pães e leite. Nunca a comida me pareceu tão saborosa.
Após nosso “café da manhã”, nós ficamos em silêncio olhando o exterior do carro e escutando o cantar dos pássaros. Estávamos cercados por árvores, e parecia não haver o menor sinal de civilização por perto; eu estava tranqüila por estarmos num lugar protegido. Eu evitei olhar para Naruto por um bom tempo, até que senti a mão dele tocar a minha mão que estava sobre minha coxa. Ele não disse nada, apenas segurou minha mão bem firme.
O tempo passava tranquilamente, e naquele lugar afastado parecia-me que a guerra havia ficado bem longe. Nós esperávamos o crepúsculo para que pudéssemos voltar à estrada, não queríamos nos arriscar numa viagem em plena luz do dia. Em silêncio eu desejava que o crepúsculo nunca chegasse, ou que pelo menos pudéssemos voltar a viver juntos naquele apartamento de Moscou.
No começo da tarde, Naruto estava bem impaciente com a forçosa espera.
- Eu vou explorar por aí – ele disse endireitando-se no banco do carro.
Eu o encarei surpresa.
- Está maluco? Como pretende sair andando por aí sem conhecer nada?
Naruto esboçava uma expressão de preocupação.
- Temos que encontrar um caminho seguro para cruzar a fronteira.
- É perigoso ficar andando nesse lugar... – eu tentei adverti-lo.
Naruto olhou para mim tentando sorrir.
- Não vou me afastar do carro e qualquer problema eu ainda tenho a minha arma.
- Idiota! Acha que um revolver é eficiente contra fuzis e metralhadoras?
Uma coisa eu havia aprendido do tempo que passei com Naruto, quando ele queria fazer alguma coisa, nada o impedia de fazê-lo.
- Eu terei cuidado.
Assim que Naruto sumiu por entre as árvores, eu decidi olhar meu tornozelo. Eu não queria ficar mexendo nele na frente dele, pois não o queria preocupar.
Sem a atadura, eu tentei movimentar o pé e apesar da dor aguda eu consegui mexe-lo, um sinal de que não houve rompimento do osso; no entanto, havia uma séria lesão que me impedia de usá-lo para sustentar meu corpo. Eu voltei a amarrar a atadura em volta do tornozelo deixando o pedaço de madeira encostado a minha panturrilha como apoio.
Não demorou a que Naruto voltasse.
- Sakura, tem um rio logo à frente – ele gritou enquanto se aproximava do carro.
Eu abri a porta do carro. Pude escutar o som de águas correndo a curta distancia dali.
- Leve-me até lá – eu pedi a ele.
Apesar das baixas temperaturas o clima estava gostoso. Naruto me carregou nos braços até que chegássemos ao rio. O lugar era maravilhoso.
O rio que cortava o bosque tinha águas cristalinas e em sua margem havia crescido uma grama rasteira, o fraco sol que brilhava incidia seus raios nas águas do rio fazendo-o brilhar.
- Naruto, coloque-me sentada perto do rio.
Mesmo que me olhando com uma expressão curiosa no rosto, ele fez o que eu pedi sem questionamentos.
Eu sentei na grama próxima a margem do rio, bem devagar eu fui me arrastando até chegar à beira do rio, retirei meu sapato e a atadura.
- Sakura, o que está fazendo? – perguntou Naruto curioso.
Submergi meu pé na água. A água estava tão fria que parecia que agulhas estavam sendo enfiadas em minha carne, agarrei-me a grama para suportar a dor sem gritar.
- Meu tornozelo está muito inchado, estou tentando aliviar a dor – expliquei-lhe com calma, reprimindo ao máximo uma expressão de sofrimento.
- Na água? – perguntou-me Naruto um pouco confuso.
- Não é a água que é benéfica, é o frio. Como eu não tenho gelo, estou usando água fria mesmo.
Naruto me olhou admirado.
- Você sabe muitas coisas de medicina.
- Eu fui treinada para sobreviver a qualquer coisa – eu disse num tom jocoso – Sobreviver até mesmo a essa missão.
Naruto não riu da minha aparente piada, seu rosto permaneceu sério.
- Hey, por que essa cara?
Naruto sentou-se ao meu lado.
- Nada.
Naruto não quis me contar o que lhe afligia, mas eu acreditava entender sua preocupação com o meu bem estar.
- Vamos voltar de trem – eu disse enquanto olhava as águas do rio correr.
- Trem?!
- Sim, foi como eu vim para aqui. Eu ainda tenho algum dinheiro comigo, podemos voltar de trem; apenas temos que chegar até a estação.
- Não podemos voltar para Budapeste.
- Não digo a estação de Budapeste, há outras estações de trem antes de Budapeste.
- Então Vamos voltar em trem!
Naruto não demorou a concordar comigo.
Eu queria poder voltar para Nova Iorque, já estava cansada daquela missão. Eu não queria voltar para Moscou.
Pensar a respeito de voltar fez-me lembrar de algo que me causou um aperto no coração.
- Naruto... – havia um nó em minha garganta, eu mal conseguia falar – Você vai ficar mesmo aqui?
Naruto não desviou o olhar de meu rosto. Notei que seus olhos oceânicos estavam vazios e sua voz saiu baixinha, quase como um sussurro.
- Eu tenho que ficar... A minha missão não terminou
Eu agarrei em seu casaco e puxei-o contra meu corpo, isso o fez me olhar com espanto.
- Você não sabe como essa missão é perigosa?!
Naruto olhou-me com seriedade e nessa hora um arrepio passou por minha espinha
dorsal. Minhas mãos soltaram o casaco dele.
- Sakura, você vai voltar para os Estados Unidos - Naruto segurou meu braço fazendo meu corpo ficar totalmente voltado para ele; meu tornozelo latejou, mas eu agüentei a dor sem gemer ou reclamar – Sakura essa missão não é mais sua.
- Eu sou sua parceira – retruquei sem saber o que de fato deveria dizer – Se você ficar, eu fico também! – eu estava decidida a não abandoná-lo.
Naruto abaixou a cabeça e fixou seu olhar no pedaço de grama que estava entre nós.
- Eu não quero que nada aconteça com você, Sakura.
Quando Naruto voltou a erguer sua cabeça vi que seus olhos oceânicos estavam claros e iluminados. Eu não me deixei comover por sua preocupação, eu estava realmente zangada por sua teimosia em ficar.
- O que vai fazer? Invadir a fábrica? – perguntei-lhe com um leve tom de ironia na voz.
- Eu sou o único que conhece a fábrica, eles precisam de mim.
Quando eu questionei Naruto a respeito de invadir a fábrica eu não imaginei que as intenções dele fossem essas mesmo. Eu puxei meu braço para junto de meu corpo.
- Você... Você está machucado.
Naruto riu.
- Não é um machucado sério, você mesmo disse isso.
O fato de Naruto ter rebatido meu argumentado para ele não ficar fez-me ficar ainda mais zangada. O sangue fervia em minhas veias.
- Idiota. O que pretende? Quer acabar morto?
Naruto beijou meus lábios suavemente, dando pouca importância ao que eu dizia.
Eu senti que poderia resolver essa situação se entregasse a Naruto o microfilme com as fotos da cápsula; bastava apenas eu realizar um movimento para salvar a vida dele e iniciar a Terceira Guerra Mundial.
Eu afastei meu rosto e o beijo se desfez. Eu não podia ceder em minha raiva.
- Se pretende ficar para morrer, saiba que eu não vou ser sua viúva! – eu usava as palavras de forma severa.
Naruto parecia entender que meu ralho era uma tentativa desesperada de fazê-lo voltar comigo para a América.
- Sakura, essa bomba de nêutrons é muito perigosa; ela pode destruir um exército sem destruir nenhum prédio – Naruto quis me fazer entender quão importante era seguir com a missão - As vidas das pessoas de nosso país estão em risco.
- E você quer ser o herói delas? – perguntei irônica e ao mesmo tempo brava – Quer uma bandeira americana em seu caixão?
- Eu tenho que cumprir a missão – a voz dele mostrava a sua seriedade.
- A CIA não se importa com o que pode acontecer com você, mas eu me importo – gritei em desespero.
- A CIA tenta proteger nosso país...
Naruto defendeu sua agência e isso me irritou ainda mais.
- Proteger nosso país a custa da vida de seus agentes? – retruquei nervosa – Meus pais trabalharam para a CIA! Até o dia que um homem veio a minha casa – lágrimas caíram de meus olhos – Me dizer que meus pais estavam mortos e que eles não podiam ir buscar os corpos deles porque era muito arriscado.
- Sakura, não chora, tá?
Naruto limpou minhas lágrimas com as pontas dos dedos.
- Eles abandonaram meus pais, e nem se preocuparam comigo – em minha mente eu revivia o traumatizante momento do anuncio da morte de meus pais – A CIA nunca se importou se eu iria morar num orfanato ou no Central Park.
- Seus pais trabalharam na CIA?
A raiva e a irritação que eu sentia deram lugar a tristeza que rapidamente tomou todo meu corpo.
- Por que acha que eu odeio tanto a CIA? Não sabe como foi difícil aceitar que você era um agente da CIA.
Eu retirei minha corrente e abri o pingente cilíndrico, o microfilme com as fotos da cápsula e dos documentos caiu na palma de minha mão.
- Aqui está a informação que a CIA quer. Eu não quero um agente da CIA na minha porta dizendo que você não vai voltar mais para mim... Eu não suportaria viver isso novamente.
Naruto olhou-me pasmado.
- Sakura, esse microfilme...
- É o original, o que eu joguei na lareira estava vazio.
- Você estava com ele esse tempo todo?! – Naruto ficou bem surpreso.
- Sim. Eu não pretendia entregá-lo a CIA porque se o fizesse lhes daria um motivo para iniciar a guerra contra a União Soviética.
- Por que não o destruiu?
Senti-me incomodada com a pergunta de Naruto.
- Não interessa, o microfilme está aqui!
Os olhos de Naruto tentavam procurar a resposta dentro dos meus.
- Pare de me olhar dessa maneira! – eu o repreendi – Pegue logo esse microfilme e entregue para a CIA.
- Você não quer isso, não é?
Eu não queria entregar a CIA o microfilme com as fotos, mas também não queria que a CIA tirasse de mim mais uma vez quem eu amava.
- Se CIA colocar as mãos no microfilme, os Estados Unidos atacarão a União Soviética e uma nova guerra começará. Uma guerra maior do que a vivemos em Budapeste.
Naruto dobrou meus dedos fechando minha mão sobre o microfilme.
- É melhor guardar isso num lugar seguro.
- Não tem mais utilidade para mim – eu abaixei a cabeça como se fosse uma criança prestes a contar aos pais uma travessura que fez – Eu pretendia usar o microfilme para chegar até o Nagato.
Senti os dedos de Naruto pressionarem mais forte a minha mão.
- Queria tanto assim chegar até o Nagato?
Eu ergui a cabeça e encarei os olhos de Naruto que me condenavam.
- Ele matou meus pais, queria minha vingança a qualquer custo – eu tentei justificar-me.
Naruto soltou a minha mão.
- Você precisa voltar para casa – rebateu-me Naruto mostrando-se incomodado por saber de minhas intenções de uso do microfilme.
Eu olhei brava para Naruto, eu não pretendia partir sem ele.
- Eu não vou voltar para os Estados Unidos sem você! – rebati nervosa - CIA, KGB, Hungria... Até o FBI! Acha que eles estão brincando em Moscou?!
- FBI! – repetiu Naruto surpreso – O que o FBI tem a ver com isso?
Eu mordi meu lábio inferior, eu havia falado demais.
- Sakura, o FBI também está na missão?
Eu tirei meu pé da água e peguei a atadura.
- Quero voltar para o carro.
Naruto segurou em meus ombros.
- Sakura, o FBI está na União Soviética?
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
nota da autora:
Em meio a raiva e o desespero Sakura acaba mencionando o fato do FBI estar em Moscou, e agora não tem como mentir a respeito disso.
As grandes revelações do cap foram: saber que os pais da Sakura trabalhavam para a CIA, isso explica o fato dela não gostar de agências governamentais de espionagem, assim como a enorme preocupação dela com Naruto; e a confirmação que o microfilme com as fotos não foi destruido, pois a Sakura pretendia usa-lo para se aproximar de Nagato.
Espero que estejam curtindo a fic
AGUARDO REVIEWS!!