Souls escrita por Beffs


Capítulo 5
Capítulo 5




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            Joe ainda duvidava do que tinha acabado de acontecer. Olhar o espanto de Lea não ajudava em nada. Outras coisas ainda o faziam piorar, sendo a principal delas a misteriosa voz em sua cabeça.

            - Como você fez isso? – Perguntou Lea parecendo estar realmente interessada na resposta do garoto.

            - Acho que sou eu que devo te perguntar como fiz isso. Também preciso perguntar qual o motivo de você querer me matar... – Retrucou agitado.

            - Eu nunca quis te matar, nenhuma flecha disparada iria acertar algum ponto vital. O máximo que aconteceria era você se machucar, mas você se recuperaria.

            - Qual o motivo disso, o que foi que eu te fiz?

            - Nada, são só os procedimentos padrões. Essa e a maneira mais fácil de ensinar um médium a controlar sua força vital. Foi assim que você parou a minha flecha. Seus instintos o fazem se defender a qualquer custo numa situação de morte iminente, por isso que você usou sua força vital mesmo sem saber como, foi o seu corpo lutando pela sobrevivência. Mas eu nunca esperava que você fosse destruir minha flecha.

            - Como assim não esperava?

            - Você é meu primeiro aluno, mas vou tentar te explicar pelo que ouvi. O que normalmente acontece quando o aluno enfrenta um treinador que utiliza armas de longa distancia é, ou o aluno para o projétil ou ele o desvia. Nunca foi relatado casos da destruição de um.

            - O que você fez no seu?

            - Meu treinamento foi diferente, meu treinador era usuário de armas de curta distancia, uma garra no caso, eu parei a investida dele quando ele perfurou minha barriga, fiquei no hospital por três dias. Quando você controla sua força vital sua recuperação fica incrível. Mas isso não vem ao caso. Como está a sua mão?

            - Foi só superficial, não foi nada...

            Continuaram conversando por um tempo, nada demais, Lea só queria acalmar o garoto para continuarem o treinamento. O problema era que ela, apesar de transparecer calma, estava extremamente nervosa. Logo o seu primeiro aluno faz algo impressionante, deixando-a sem saber o que fazer, literalmente.

            Não sabia se relatava tal acontecido a Ordem ou se guardava segredo. As palavras daquela pessoa vinham a sua cabeça por diversas vezes. Elas diziam: “Não confie tanto assim na ordem.”. Qual o motivo dela falar isso. Decidiu que não valeria a pena continuar pensando nisso, não tinha informação o suficiente para julgar aquelas palavras ou julgar a Ordem. Tinha medo de julgar as palavras, principalmente pela hora e pela maneira que elas foram ditas.

            Estava presa em seus pensamentos, e estava com medo que o seu aluno, seu primeiro aluno, percebesse algo, não queria transpassar nenhuma insegurança, não com o que ele enfrentaria ao acabar seu treinamento, não com a vida que escolheram para ele. Não podia, no entanto, negligenciar suas decisões graças ao seu extremo nervosismo. Decidiu então não fazer nada ainda, não comunicar a Ordem. Esperaria até sentir-se calma o suficiente para tomar uma decisão racional, e só, não julgaria ninguém, ainda.

            - Pronto para começar o treinamento real, novato?

            - Como assim, eu ainda tenho que treinar, achei que fosse isso e pronto, quantas situações de quase morte eu tenho que passar?

            - Exagerado! Relaxa e vem comigo.

            Atravessaram o salão e entraram numa sala que parecia um deposito. Quando a arqueira acendeu a luz, Joe viu que aquilo era, de fato, um deposito, era o deposito mais completo que ele já vira em sua vida. Tinha exatamente de tudo naquele lugar. A garota riu da expressão que ele fez quando viu a sala e pediu para ele acompanha-la.

            Chegaram em uma sala menor, Lea pediu para Joe ficar em um lugar especifico do centro da sala e acendeu as luzes. Existia, nessa sala, exatamente um modelo de arma para cada arma criada na história. O garoto entendeu exatamente o motivo de estarem ali, e ficou um pouco aliviado.

            - Vamos novato, hora de escolher sua arma. O segredo para não errar é não escolher. Deixe que a arma te escolha.

            Joe duvidou grandemente do que a arqueira falou. Ela parecia confortável demais com o arco para ter deixado o arco escolhe-la. O problema é que ele não fazia ideia de que arma escolher. Tentou dar ouvidos a garota e olhou para cada arma, esperando alguma conexão, todavia não foi exatamente o que aconteceu.

            - Você sabe o que escolher, pense. – Disse a voz em sua cabeça.

            Ele já estava ficando estressado com essa voz, mas como ela já tinha o ajudado antes, decidiu, mais uma vez, dar ouvidos a ela. Buscou em suas memórias algo que assemelhasse a uma arma, uma metáfora talvez. Lembrou-se imediatamente de como tudo aquilo começou, do primeiro sonho que teve. No sonho ele estava empunhando uma espada, pensou que aquilo só podia se tratar de um sinal, uma premonição quem sabe. Olhou em volta e encontrou o tal modelo de espada, andou em direção a ela e a segurou. No momento em que fez isso se sentiu bem. Teve, assim, a certeza que fizera a escolha correta.

            - Uma katana? Boa escolha, novato. Guarde essa ai e venha comigo, tenho algo para te mostrar.

            Ela levou-o de volta para o depósito, pesquisou algo num computador que estava ali ao lado e invadiu os corredores cheios de tudo o que se pode imaginar. Ela guiou-o até a estante de katanas, onde o fez escolher uma para si. Ele decidiu que iria escolher aleatoriamente, não se importava com estética, no entanto, quando viu uma bainha vermelha, não teve duvidas que aquela era dele, não sabia como e não sabia por que, mas sabia que era dele.

            - Agora que você tem a sua arma que a verdadeira diversão vai começar... – Disse a garota com aquele sorriso malicioso que aterrorizava o garoto. – Mas eu tenho coisas a fazer agora, e eu não sei utilizar uma katana. Vou te deixar aqui por alguns dias, tem comida o suficiente para um exército aqui. Quando voltar eu quero que você esteja um pouco bom com isso.

            Nem deu chances para o garoto reclamar, Lea se encaminhou para a porta onde entrou, abriu-a e viu o vazio que simbolizava o universo entre as dimensões. Levantou sua mão e concentrou sua força vital. O tecido entre as dimensões tornou-se a se rasgar e a garota foi capaz de atravessar, abandonando o garoto do outro lado para que ele realizasse seu treino.

            Pegou seu celular e discou para um numero que conhecia bem. Esperou levemente impaciente pela resposta do outro lado da linha.

            - Funerária Santo Descanso, em que posso ajudar? – Falou a voz do outro lado da linha.

            - Corta esse papo, Lucca, você sabe muito bem quem é... – Falou a garota impaciente.

            - Calma, lindeza, você sabe que são as normas... – falou a voz tentando ser compreensiva, ao mesmo tempo que tinha um tom que a enojava.

            - Tá, certo. Odeio essa maldita senha. Socorro tem um espirito me seguindo, não estou pronta para morrer, meu nome é Lea, estou em frente ao armazém 5366, preciso de ajuda. Feliz agora? – Perguntou seca.

            - Sim, muito! – Disse a voz escondendo um riso. – Estou abrindo uma porta bem a sua frente.

            Quando a garota desligou seu celular, esperou por algo que já estava acostumada a esperar, e como odiava esperar por aquilo. Dessa vez, pelo menos, teve sorte, pois segundo após já foi capaz de ver o ar se rasgando à sua frente. A distorção foi tomando proporções maiores, até ter ser pouco maior que a altura da garota. A porta, como era chamada, tinha a forma triangular e, quando ela se tornou como uma janela, refletindo o outro lado, a garota já sabia que podia atravessar.

            Lea amava e odiava aquele lugar com todas as suas forças, amava, pois lá se sentia segura, fora lá que ela conhecera aquela pessoa. Mas foi naquele lugar que foi julgada injustamente, foi naquele local onde fora injustiçada. Ela, entretanto, não podia se dar ao luxo de pensar nisso a todo o tempo, estava lá por um motivo e não sairia enquanto não cumprisse aquilo.

            Aproximou-se da recepção para calorosas boas-vindas.

            - Bem vinda à dimensão da Ordem, minha cara Lea. – Disse o garoto que estava sentado na recepção.

            - Não me enche, Lucca, você sabe o que eu vim fazer aqui...

            - Onde está a Lea divertida e assustadora que eu conheci. Cadê a minha linda?

            - Fugiu um pouco. Desculpe-me, Lucca, estou com a cabeça cheia, outra hora a gente se fala. Será que eu já posso entrar?

            - Pode sim, ele já está te esperando. Esperarei ansioso pelo dia em que você volte a ser quem você é. – Concluiu Lucca tirando sarro da menina que era, sem sombra de duvidas, uma amiga muito próxima.

            Lea acenou para o garoto e encaminhou-se para a sala. Tinha que falar com aquele homem, mas não decidira ainda exatamente o que contar. Percebeu, contudo, que não havia mais tempo. Estava parada em frente à porta dele.


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