- Acho que estou... – Disse o garoto, temendo o pior.

            - Esqueça os conceitos que tem sobre a realidade, sobre o mundo e sobre a vida. Eles, com toda a certeza, são mentiras. – Falou a garota que perdeu o sorriso e assumiu uma expressão séria. – A realidade que você acredita ser a única e ser absoluta não passa de uma mera dimensão entre varias outras. Os “fantasmas” que você anda vendo são seres de outras dimensões, uma em particular, mas eu chego nisso depois, que conseguem cruzar as barreiras interdimensionais. Ironicamente eles são chamados de espíritos, mas não são almas nem nada. Se você morre, você morre e pronto, não existe segunda vida, não existe céu, não existe nada. Morreu acabou. Chamamos eles de espíritos pela aparência que assumem quando chegam aqui, seus corpos ainda estão instáveis e nessa fase mal causam problemas ao nosso lado. Nem sempre suas aparências lembram a aparência humana.

            Joe já estava tendo problemas em acreditar em tudo o que a garota falava, mas depois de tudo o que estava vivenciando, tinha um pedacinho do seu ser que desejava que tudo o que ele estava escutando fosse, de fato, verdade. Assim poderia provar a si mesmo que não estava enlouquecendo.

            - Os espíritos, para se manter nessa dimensão, devem absorver força vital. A própria força de vida dos seres humanos. Para isso se aproveitam de alvos fáceis, como pessoas indefesas ou gente como nós, médiuns, que possuímos uma força vital maior que outras pessoas e, quando não sabemos de nossa situação, somos atraentes pela facilidade de nos capturar.

            - Como você sabe que eu sou um desses, como é o nome mesmo, médium? – Perguntou Joe, atônito.

            - Você vê pessoas estranhas na rua, você viu minhas flechas, você viu Shu e, principalmente, você foi capaz de entrar em uma outra dimensão.

            - Oi? Pode me explicar isso direito? Quando eu entrei em outra dimensão?

            - Você não andou sonhando por esses dias, sonhos que você duvida que sejam apenas sonhos? Eu não apareci por lá mesmo sem você me conhecer? Você não viu a rua vazia na hora de pico e, depois que eu matei aqueles espirito, o céu não quebrou e tudo voltou ao normal?

            - Você quer dizer que eles me levaram pra outra dimensão para sugar minha vida e conseguir continuar por aqui? É isso mesmo?

            - Sim, é basicamente isso. O que mais me surpreendeu foi o tanto que seu subconsciente conseguiu lutar antes de eu te encontrar. Enfim, nós, médiuns, possuímos um trabalho, um dever a ser cumprido, e esse dever é encontrar outros de nós e ensina-los a se defender. O único problema é que por algum motivo, as barreiras que separam a nossa dimensão da dimensão Lifariana foi enfraquecida.

            - Ok, espera só um segundo. Primeiro, o que é Lifariana e segundo, qual é a minha participação nisso?

            - A dimensão Lifariana, Lifaria para facilitar, possui criaturas horrendas. São, em sua grande maioria, humanoides e, graças a ultima guerra dimensional, alimentam um ódio contra os humanos e a nossa dimensão. Algo relacionado com a derrota que tiveram pelos médiuns da época. O chefe da Ordem nunca me explicou direito sobre a guerra, mas não importa, o importante é que os médiuns são os únicos em nossa dimensão com a capacidade de invocar ou destruir espíritos. Como as barreiras enfraqueceram, uma dezena de Lifarianos estão entrando aqui. Com a sua entrada, iniciam-se os assassinatos de inocentes, muitos deles. A maioria das noticias foram destruídas pela ordem. Assim, devemos lutar para conter essa invasão.

            Ao terminar essas palavras, a garota se levantou e sussurrou algumas palavras de olhos fechados. Quando acabou de dizê-las, um circulo branco, contendo alguns símbolos incomuns, surgiu em seus pés. A garota abriu os olhos e encarou os olhos do menino, o que o fez estremecer. Ouviu-se um chiado e o cômodo se encheu de luz, quando o garoto pode enxergar novamente, viu que havia uma águia voando ao redor da menina, quando ela pousou nos ombros da garota, seus olhos ficaram branco e, de certa forma, aterrorizantes.

            - Meu nome é Lea, médium da Ordem. – Apontou para o pássaro e começou a dizer. – Esse é Shu, da dimensão asmodiana, ele é meu espirito guia.

            Lea então relaxou, o circulo de luz branca que estava sobre seus pés sumiu. O pássaro voou para a mesa e os olhos da garota voltaram ao normal.

            - Eu, Lea, ofereço a ti meus serviços de treinadora, prometendo ensinar-te a protege-vos contra qualquer infortúnio. Ofereço-te proteção enquanto não possas se proteger. Ofereço-te informação para que conheças contra o que lutas. Peço a ti somente uma coisa em troca, peço que me ajude na luta contra nossos inimigos. Novato, qual é a tua resposta?

            - É... uh... é... aceito?

            - Vamos, novato, preciso de uma resposta certa. Seja homem, por favor.

            - Aceito. Pra que tudo isso?

            - São só formalidades. Agora, qual seu nome, garoto?

            - Joe...

            - Bom, Joe, você agora faz parte da Ordem e eu devo explicações sobre como tudo funciona. Mas já está ficando tarde, durma aqui em casa hoje, estamos em um local cheio de encantamentos de proteção. Você com certeza sentiu algo estranho ao cruzar a porta desse edifício. E sim, magia existe, mas ela funciona de maneira diferente de como você deve imaginar. Está tarde, amanhã continuamos nossa conversa.

            Joe não percebeu, mas o tempo voara. Já era tarde da noite quando saíram da cozinha. Lea guiou-o para o quarto de hóspedes, onde já havia uma cama preparada. Indicou onde ficava cada coisa no quarto e então partiu para o seu próprio. Ele ainda estava relutante, com medo de dormir depois de tudo que ouvira, mas lembrou-se do que a garota dissera quanto ao prédio estar cheio de encantamentos de proteção. Tirou suas roupas e se deitou na cama. Fechou seus olhos e, pela primeira vez em dias, dormiu tranquilamente.