Souls escrita por Beffs


Capítulo 2
Capítulo 2




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Novamente encontrava-se na imensidão sombria, porém podia se mover, podia reagir. Olhou para suas mãos e nada encontrou, estava novamente indefeso. Desesperado, percorria o local procurando qualquer sinal de segurança, qualquer coisa que poderia o ajudar. Encontrou algo naquele vazio, entretanto, o que encontrou não o agradou nem um pouco. Viu a luz, crescendo, tomando forma. Assumiu a forma de lobo, um lobo gigante feito de algo que lembrava fogo. Decidiu correr, imaginava que tudo aquilo era um sonho, mas alguma coisa o dizia que não era somente um. Avançava com todas as suas forças, mas o esforço parecia ser em vão, o lobo alcançava-o com facilidade. Um movimento em falso e Joe se viu caindo de encontro ao chão. Virou-se para encará-lo e tudo o que enxergou foi uma explosão de chamas.

            Perplexo e ainda tentando entender o que acontecera, olhou instintivamente para o lado e lá estava ela. Cabelos escuros e presos, olhos castanhos, estatura média, arco empunhado, expressão séria. Não sabia quem era ela, muito menos o que ela fazia ali em seu sonho. Tinha ainda a estranha impressão de já tê-la visto anteriormente. Lembrou-se, ela se parecia com a possível alucinação do terraço, examino-a e percebeu que ela já armava outra flecha em seu arco. Olhou ao seu redor e nada viu, tomou consciência que aquela flecha era direcionada a ele mesmo. Viu um sorriso se formar na boca da garota que disse um momento antes de disparar:

            - Bom dia novato...

            Abriu os olhos, estava deitado em sua cama, dolorido e suado. Permanecia aterrorizado pela tamanha realidade de seus sonhos. Vários dos conflitos em sua mente pioravam, era impossível parar de pensar em tudo o que acontecia. Decidiu lidar com tudo isso da maneira de sempre, reprimiu tais pensamentos e tomou seu rumo normal.

            Por algum motivo do qual não entendia, Joe falhava em todas as tentativas de acessar seu mundinho particular, estava atento, e neste exato momento ele não desejava estar.

            Estava tão atento que começou a ver o que não existia, ou o que até a poucos dias atrás acreditava que não existia, via animais que desapareciam após alguns passos, via pessoas com feições demoníacas, algumas possuíam olhos de cores anormais a humanos comuns, ou com heterocromia, com tons vermelhos e brancos.

            Via demônios e via anjos, via monstros e também criaturas mitológicas. Não sabia no que acreditar, decidiu não acreditar em nada, e continuou sem deixar se levar pelas imagens distorcidas e bizarras a sua volta. Tão grande sua capacidade de ignorá-los que eventualmente desapareceram.

            Estava dormente, passou pelo dia como se o mesmo nunca existira. Caminhou pelo rotineiro caminho de volta enquanto tentava manter a calma, fitava o chão para evitar qualquer tipo de contato visual com o mundo, qualquer contato que poderia significar perigo. Sentiu então um calafrio percorrer seu corpo, um instinto até então atrofiado, escondido. Levantou os olhos e não viu ninguém, exatamente ninguém. A rua estar vazia essa hora do dia era ridiculamente incomum, era improvável e algo que nunca deveria acontecer. Olhou para o lado e viu um homem, estranhamente bem trajado. Percebeu se tratar do mesmo homem com quem se encontrara na noite anterior, no beco. Quis correr, porém suas pernas não funcionavam, estavam congeladas devido a grandes descargas de medo que percorriam toda a extensão de seu corpo.

            Caiu. Parado no chão se desapegou da vida, desistiu de tentar manter a sua. Abriu os olhos olhando pela ultima vez o céu, olhou então para o monstro que o perseguia e o observava enquanto se aproximava. Encostou sua cabeça no chão e, ao desfocar a vista, viu um vulto passar por cima de si. Curvou-se assustado necessitando ver o que acontecera.

            Vira um pássaro atacando o tal homem, fazia barulho e voava freneticamente ao redor do monstro, investindo quando tinha chance. Joe percebeu que aquela era provavelmente a melhor hora para escapar, mas suas pernas ainda não haviam recuperado suas funções.

            Os sons de passos vindos de trás de si ecoaram em sua cabeça, ouviu então uma voz feminina:

            - Shu...

            O pássaro ao ouvir a voz, parou as investidas e voou de encontro a ela, Joe olhou na mesma direção e viu a garota de seus sonhos. O pássaro manteve-se sobrevoando em torno dela até ela sacar seu arco, um arco longo, com aproximadamente a metade do seu tamanho. Ao empunhar a arma, o animal pousou em seus ombros, e imediatamente os olhos dela mudaram de cor, partiram do azul até desbotar completamente em um branco profundo, ainda mantendo traços enegrecidos separando a íris do globo ocular.

            Puxou a corda de seu arco, e ao fazê-lo uma seta de luz foi criada pelo movimento. Um tiro, certeiro, fora o suficiente para acabar com o monstro, tornando-o pó.

            - Quem é você? – Perguntou Joe.

            - Por enquanto eu não devo responder a sua pergunta – Disse a garota fitando-o com os olhos brancos. – Venha, não há tempo para explicações agora. Preciso que você mantenha a calma e me acompanhe.

            A garota mal terminou de falar quando o céu acima de suas cabeças começou a rachar. Ela estendeu sua mão para Joe, que aceitou a ajuda e juntos foram andando como se nada acontecesse em torno deles. Joe estava realmente assustado, mas andar de mãos dadas com aquela garota misteriosa o trazia muita segurança. Não sabia por que, acreditava ser por causa do incrível arco que ela carregava.

            O mundo começou a cair, literalmente. A garota, por algum motivo, não se assustava. Poucos segundos após as peças rachadas do céu caírem, elas se dissolveram completamente, revelando outro céu, pairando no mesmo lugar em que o os pedaços estavam. Joe olhou a sua volta e viu que andava cercado de uma multidão, a qual segundos atrás não estava ali.

            - Relaxa novato, eu consigo sentir seu desconforto sem esforço algum. – Disse a garota, Joe suspeitava que ela segurara um risinho. – Daqui a pouco eu explico tudo para você, só me acompanhe.

            Joe se perdeu rapidamente durante os poucos minutos que caminharam. A garota não parou um segundo e ele via que ela se mantinha atenta o tempo todo, desviando o caminho quando achava necessário. O garoto não entendia o porquê de tanta atenção e tanto silencio, nem o motivo pelo qual ela não poderia explicar o que vinha acontecendo naquele momento. Suas duvidas estavam lhe corroendo.

            Ao entrarem em um prédio, Joe sentiu algo estranho, como se tivesse cruzando uma barreira. A garota soltou um leve riso e o pediu para que a seguisse. Entraram no elevador e foram direto para o terceiro andar. Abriu um dos apartamentos e convidou-o para entrar.

            O apartamento era simples, a entrada parecia ser a sala, tinha um sofá pequeno, uma mesinha de centro e uma televisão presa a parede. Ela foi o guiando até à cozinha, que era pequena e aconchegante, pegou umas bolachas e jogou-as na mesa. Apontou uma cadeira e pediu para ele se sentar.

            - Espero que você esteja pronto, o que você vai ouvir aqui não vai ser fácil de engolir. Está preparado? – Disse a garota com um sorriso malicioso em seus lábios.


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